• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico-Writer and physician

Paulo Rosenbaum

Arquivos da Tag: Israel

Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal do Nordeste

10 quarta-feira ago 2016

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Adam Kadmon, Adam Mondale, bolsa literária, céu subterrâneo, ficção, Israel, Marhpelá, significado de justiça

Uma jornada com destino às origens

Tendo como contexto o universo judaico, Paulo Rosenbaum apresenta um “herói acidental” em busca de suas raízes

Jerusalém é o lugar onde o personagem central de “Céu Subterrâneo” busca suas origens

No duelo entre tradição e tecnologias, eclodem ao ser contemporâneo a imersão em dilemas como a integridade da memória e até mesmo o armazenamento destas pegadas, destas manchas espalhadas entre as gerações. Diante do infortúnio de pouco equilibrar tais dados sobre a próprias origem, resta a alternativa de investigar o passado. Uma busca com ares de incansável e cega jornada.

Encerrado neste contexto, o personagem Adam Mondale parte para este encontro pessoal e único. É pelos caminhos e passos de sua perspectiva ácida e atenta que “Céu Subterrâneo”, novo romance do médico e escritor Paulo Rosenbaum se enovela.

A cria fictícia de Rosenbaum aponta um psicólogo, judeu laico e desfilhado (e abstraído) de qualquer origem. Após perder o cargo de diretor em uma conceituada instituição brasileira, Mondale embarca no último voo para Jerusalém. Diante da personalidade plural e do interesse particular, o brasileiro é regido pelos mistérios que envolvem um antigo e irrecuperável negativo fotográfico.

Na mala do viajante e, consequentemente, leitores, estão digressões narrativas baseadas em episódios familiares: a esposa, os pais sobreviventes ao holocausto, a abominável Ditadura Militar brasileira, o desejo de ser escritor e a aposentadoria precoce responsável pela pausa estratégica no cotidiano.

Travessia

Porém, um fator dramático é adicionado à viagem optada por Mondale. Diagnosticado com uma córnea defectiva, o aspirante a investigador corre contra o tempo. A visão, por vezes comprometida, simboliza a descida do protagonista por um corredor de mistérios. Todos, em maior ou menor grau, sempre estaremos cegos ante o desconhecido.

É preciso bravura durante a hospedagem por um território obscuro. Para o também colecionador de câmeras antigas cada detalhe esmiuçado é uma vitória.

A investida individualíssima de Mondale é premiada com a presença de um interlocutor, o amigo Assis Beiras. Entre Brasil e Israel, em meio ao futuro que se demora e um passado cada vez mais distante, a jornada construída por Rosenbaum dispensa o auxílio de uma cronologia uniforme na narrativa. O romance começa com a inesperada visita de policiais israelenses que imediatamente confiscam o passaporte do viajante.

Em seguida, somos jogados dentro de um taxi em direção ao laboratório fotográfico capaz de revelar a misteriosa imagem do negativo. Nesse intervalo, eventos comuns a não nativos como a dificuldade de transporte, comunicação e até mesmo precárias condições do ponto de estadia permeiam a trama. Grande parte desse material resulta da experiência do autor em solo israelense, adquirida após bolsa literária de pesquisa.

Mondale, assim, se perde pelos segredos da gruta da “Makhpelá”. A pretensão é saber se existe realmente no local o “Túmulo dos Patriarcas”, e também do primeiro homem ou de seu protótipo, o “Adam Kadmon” (curiosamente o mesmo nome do protagonista). Estas são chaves pouco precisas colocadas na mesa para o leitor.

“Céu Subterrâneo”, de Paulo Rosenbaum, se destina ao mais profundo mistério que, sem findar, revela a verdade que diz respeito a todos. Muitas vezes, os dilemas tem origem em caminhos mal traçados. Nessa perspectiva, perder-se faz bem.

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/uma-jornada-com-destino-as-origens-1.1596916

Livro

Céu Subterrâneo

Paulo Rosenbaum

Perspectiva

2016, 254 páginas

R$ 49

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Resenha Crítica de Céu subterrâneo Por Cíntia Moscovith – Jornal Zero Hora

03 quarta-feira ago 2016

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, céu subterrâneo, Livros publicados, Na Mídia

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Adam Mondale, céu subterrâneo, Cíntia Moscovith, Editora Perspectiva, Israel, Jacó e Gita Guinsburg, Makhpelá, Resenha Crítica Literatura, Verdade lançada ao solo

Cíntia Moscovich: Debaixo da terra

A colunista escreve quinzenalmente no 2° caderno

01/08/2016 – 06h04min | Atualizada em 01/08/2016 – 06h04min
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Protagonizado por Adam Mondale, um autor em crise que ganha uma bolsa para viajar a Israel e escrever um romance, a trama se escora nos mistérios que envolvem a gruta de Makhpelá, o Túmulo dos Patriarcas da tradição judaica – daí o “céu subterrâneo” do título –, local que Abraão teria comprado para sepultar Sara e onde estariam enterrados o próprio Abraão, Isaac, Rebeca, Jacó e Lia.

Veja também:
Cíntia Moscovich: Vade retro
Cíntia Moscovich: A rotina do artista

De posse de um velho negativo de máquina polaroide, com o aluguel de um apartamento feito pela Internet, Mondale chega a Jerusalém numa madrugada fria e chuvosa. Ao procurar o endereço, se descobre enganado – e essa é a primeira peripécia da história. A partir daí, o livro se desenvolve em três planos: a aventura em Israel, a construção do romance e o descobrimento pessoal do personagem – inclusive de um misticismo rechaçado mas inescapável. Com tons kafkianos e metalinguísticos, a trama se apresenta com a cronologia alterada, cabendo ao leitor organizar a sucessão dos fatos no tempo.

Dono de uma prosa envolvente, embasada num extenso conhecimento da matéria, Rosenbaum, que é também autor de A verdade lançada ao solo (2010), cria um clima labiríntico, no qual a tensão é alimentada por cortes precisos e informações que surgem em momentos cruciais da narrativa.

Ademais das virtudes inerentes, Céu subterrâneo tem ainda a chancela de uma das respeitadas casas editoriais do país, que completa 50 anos sob o comando de Jacó e Gita Ginsburg. Responsável pela coleção Debates, a Perspectiva publica uma vastíssima gama de assuntos, tendo participado diretamente na formação intelectual (e afetiva) de todos os brasileiros que se debruçam sobre as humanidades. O selo é certeza de edições de qualidade – como é, sem dúvida, o caso de Céu subterrâneo.

http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2016/08/cintia-moscovich-debaixo-da-terra-7040569.html#

 

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Geração espontânea e terroristas avulsos (blog Estadão)

14 quarta-feira out 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Blog Estadão Rosenbaum, desonestidade intelectual e acusações de apartheid, geração espontânea e terroristas avulsos, Israel

Geração espontânea e terroristas avulsos

Quais as etapas que um sujeito deve percorrer entre entrar em seu veículo, escolher o alvo, acelerar contra este a uma velocidade significativa, abalroar uma ou mais pessoas, descer do veiculo e golpear à faca, adaga, lâmina ou machadinha até acabar com uma vida? Há um terrorismo exposto e um latente prestes a irromper. Quais as chances de que uma epidemia homicida atinja várias mentes sincronizadamente? Pois os cidadãos de Israel tem sido alvo de múltiplos e sistemáticos ataques terroristas. Os fatos, porém, tem sido expostos de uma forma surpreendentemente neutra. Sob as vozes monotônicas e testeiras eletrônicas da mídia televisiva, tem-se a impressão de que os ataques precisam ser naturalizados. Terroristas avulsos surgiriam às dezenas ao modo de geração espontânea. Ações terroristas ex-nihilo se propagam sob a ação de esfaqueadores em transes assassinos. Da forma como nos apresentam os eventos, a impressão é que, subitamente, uma parte dos palestinos e árabes israelenses — os perpetradores dessas ações contra alvos civis inocentes — tiveram, ao mesmo tempo, a mesmíssima inspiração. A sensação quase subliminar que se pode ouvir ao largo das transmissões é ambígua: “um horror”, e ao mesmo tempo “devem ter feito algo para merecer”.

Quem não reconhece que a raiz profunda desta e de outras crises passadas e futuras são os erros políticos recorrentes dos governantes israelenses e palestinos em achar uma solução para a tragédia que se abate sobre os dois povos? O perturbador é que parte significativa da mídia insiste em pulverizar os atos nitidamente terroristas como “sublevação legítima”, “insurgência política”, “resposta à ocupação”e, mais recentemente, o criativo “fúria contra a proibição de fiéis muçulmanos rezar na esplanada das Mesquitas”. A notória má vontade da mídia mundial com Israel e seus habitantes teria origem num antissemitismo latente? A desonestidade intelectual estacionada em acusações irresponsáveis como a de que ali vigora um “regime de apartheid”? Essa latência floresce irrigada a cada mínima gota. É como se um argumento subliminar estivesse a postos para ser sacado contra a mítica pré condenação judaica. Manchetes omissas diárias — sem contar as abertamente judeofobicas dos jornais árabes e iranianos — estampadas nas páginas de jornais terminam inculcando uma percepção completamente distorcida da realidade social e política da região.

Abundam questões territoriais, jurídicas e culturais em permanente disputa, mas quem é curioso ou cultiva um pouco de amor à análise política sabe que Israel é um dos países com maior liberdade religiosa e de gênero em todo o mundo, e, decerto, o mais multicultural entre as nações do oriente médio. E, com todos os defeitos inerentes implicados, uma democracia estável. Pois as pessoas deveriam também saber que o desenvolvimento econômico nos territórios palestinos está entre os maiores registrados na região e não é fortuito que a taxa de escolaridade por lá também seja bastante alta. Não há nada de fortuito ou coincidência mística que o novo ciclo de ataques tenham se iniciado alguns dias depois do discurso do presidente da autoridade palestina Mahmoud Abbas, quando declarou que considerava nulos os “acordos de Oslo”. É sintomático que o anúncio tenha sido feito num momento histórico no qual o relevância do conflito esteja em evidente declínio na agenda dos países ocidentais. Com tópicos quentes como guerra civil na Síria, estado islâmico, Ucrânia e fortes indícios da retomada de uma novíssima guerra fria, o imbróglio palestino-israelense não é mais prioridade para ninguém. Abbas captou a nova realidade e talvez tenha pretendido instrumentalizar uma escalada para recobrar a relevância perdida. Porém, a conclamação ao ódio e à indução ao terror, ainda que cifrada, é um novo e perigoso precedente na escala de equívocos políticos. No reino dos justificacionismos não há, nunca houve, solução para contendas. A busca pela pacificação é provavelmente um dos impulsos mais contra-instintivos em nossa espécie. Quando não existe ninguém realmente pensando em paz, o vazio pode vir como signo de guerra. Oxalá o futuro nos reserve menos lamentos e mais civilização.

Geração espontânea e terroristas avulsos

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Não reprisem Barbáries (Blog Estadão)

06 sábado jun 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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: antissemitismo, A Verdade Lançada ao Solo, Israel, Judeofobia, Leis raciais de Nuremberg, não reprisem barbáries, Universidade Federal de Santa Catarina, xenofobia

Não reprisem barbáries

Paulo Rosenbaum

05 junho 2015 | 13:20

barbariesantamariaXX

Merece ser lida com indignação a orientação contida no Memorando/Circular de número 02/2015, datado de 15 de maio de 2015 redigida pelo Reitor substituto da Universidade Federal de Santa Maria (RS) José Fernando Schlosser.  Junto com o documento que o antecede e assinado por três mãos, ele pede para ser informado da presença de discentes e/ou docentes israelenses no programa de pós graduação. Diz estar atendendo várias entidades representadas pelo “Comitê Santamarienense de Solidariedade ao Povo Palestino”.

Schlosser se perfila lado a lado aos mais rematados antissemitas da história, singularizando pessoas por sua origem. O ancestral ódio judeofóbico se instaura oficialmente em nossas faculdades pelas mãos deste indivíduo que, assim, em nome de minorias, supostamente, prejudicadas, advoga a xenofobia e toma a nuvem por Juno. Um real representante do universo acadêmico deveria defender as liberdades individuais e proteger seus pupilos em todas as circunstâncias, jamais promover segregação.

É evidente que seria preferível evitar concentrar a polêmica sobre um só nome. Porém foi pelas mãos do magnificentíssimo substituto que o manifesto federal mais recente na história de nossas instituições de ensino, abertamente judeofóbico, veio a público.

Claro que, mais uma vez, utiliza-se do desgastado álibi universal que pensa poder contornar o antissemitismo com a troca mágica de uma palavra por outra. O uso de “israelense” no lugar de “judeu” tem se tornado a marca de uma prática falsificadora na linguagem contemporânea. Se largamente usada, ainda é pouquíssimo denunciada, e menos ainda, acatada como o que realmente é: uma manobra semântica de disfarce para o preconceito judeofóbico.

Na verdade, por outros motivos e em contingencias históricas distintas, lembra uma das primeiras leis promulgadas em abril de 1933, que restringia o número e a atividade dos judeus em escolas e universidades alemãs. Como se sabe, a isso se seguiu a cassação, destituição e perseguição dos professores e alunos nas Universidades daquele País.

Um panfleto desta natureza seria compreensível como desculpa para iletrados e incultos, porém não deveria valer para quem chegou a conquistar qualquer título acadêmico como diz possuir o autor do referido libelo.

Parece ridículo, mas é necessário explicitar que solidariedade nenhuma, seja ao povo palestino, sírio, iraquiano ou ucraniano, justifica hostilizar, constranger, boicotar ou segregar povo de qualquer País, religião ou etnia. Oxalá que o reitor substituto estivesse isolado no protagonismo para reeditar perseguições que pensávamos superadas. Assim como os nazistas precisavam queimar livros para destruir o passado, a reflexão e o pensamento crítico, intelectuais e uma considerável quantidade de pessoas imagina que frente ao injusto, o ato de silenciar pode aceitar a classificação de neutralidade. O silencio tem uma carreira conhecida: se transforma em conivência, e, em rápida metamorfose, migrar para apoio tácito, é mera formalidade.

Para nossa perplexidade, há mais gente, supostamente esclarecida, que endossa essa discriminação. O que recentemente se ouviu de professores universitários é digno de perfilar entre as causas indefensáveis. O apoio à discriminação étnica macula muito mais do que a honra individual destes docentes, desabona a honestidade intelectual, último patrimônio do pensar. Ao acusar Israel de praticar um regime de apartheid e espalhar notícias deste tipo em redes sociais e em aulas magistrais estas caluniam um País e difamam um povo. Se demonizar um povo não é mais crime, o que seria?

É preciso reconhecer que essa versatilidade com as palavras obedeceu longo processo de amadurecimento. Entre nós, floresceu sob décadas de pregação de intolerância do lulopetismo, insuflada nos fóruns sociais da esquerda retrógrada — a direita truculenta, já suficientemente conhecida, não merece menção — que oportunamente eclipsa valores humanos fundamentais para defender causas. Em geral, uma ideologia, palavra de ordem ou fé sectária, que não podem ser contrariadas, não importa a aberração política que  impliquem.

Cria-se um ambiente no qual xenófobos, racistas e antissemitas ficam autorizados a escapar do armário e pregar suas diatribes. Para quem acha que tudo isso não passa de fantasia, basta lembrar do clima na franca e empolgante campanha de demonização de Israel na última guerra contra a milícia extremista Hamas.

Num mundo com superavit de paradoxos, alguém deveria ficar chocado com mais esta demonstração de decadência de nossas Universidades? Se não fossem por todos os outros motivos, pela infâmia. Para o que exatamente o Zoilo deseja ser informado de cidadãos israelenses do corpo discente e docente nas dependências da Universidade? A finalidade é clara ainda que inconfessável: expandir a propaganda de constrangimento. As guerras migram às propagandas, não é novidade. O fato novo aqui é a produção de um documento oficial que autoincrimina o professor pelo delito de racismo.

Se proibíssemos um habitante do País Z de vir e se quiséssemos impor sanções contra este sujeito em tempos de paz, teríamos que explicitar os motivos e fulanizar a escolha:  “Aquele sujeito prega intolerância”. “Este outro, defende a litigância entre povos”. “Este é um terrorista perigoso”.  Neste caso, vários de nossos políticos teriam que ser barrados ou banidos do ambiente acadêmico. Mas não se trata disso. Em seu ofício, o reitor e seus apoiadores suspeitam de qualquer habitante de Israel. Isto significa que todos eles merecem ser boicotados por serem israelenses ou judeus, o que, no fim e ao cabo, dá no mesmo e pouco importa. E o que dizer dos árabe-israelenses, drusos israelenses, cristãos israelenses, agnósticos e outras minorias fora do catálogo?

Considerando tudo, o inaceitável mesmo é o silencio da maioria. O silencio dos culpados significa a conivência maciça com uma segregação anunciada. Significa que estamos em terreno aberto e respaldado para a prática de arbitrariedades e generalizações inaceitáveis. Por que não realçar a paz e instigar o diálogo no lugar de bani-lo? Que tal um realce na inclusão? Que tal discutir o discutível e capinar a intolerância? Para aqueles que acham exagero o barulho que se faz em torno deste memorando, recomenda-se examinar melhor a história. Especialmente ênfase no estudo de períodos nos quais aparecem os primeiros indícios de legislação intolerante e discriminatória. Antes que nos submetamos à sua repetição é preciso começar a enxergar para além de uma historiografia superficial e baseada em boataria.

É nossa chance de prevenir a barbárie. Ou reprisa-la.

Escrito em coautoria com Floriano Pesaro

Tags: antissemitismo, apartheid, boicote, Gil e realce, Israel, judeofobia, judeofobia e antiisraelense, Leis raciais de Nuremberg, palestina, povo iraquiano, povo sírio, povo ucraniano, Show em Tel Aviv, Universidade Federal de Santa Maria, xenofobia

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Intolerância latente ( Blog Estadão)

13 quarta-feira ago 2014

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: antissemitismo, bias da mídia, diferença entre criticar Israel e ser antissemita, intolerancia latente, isaiah berlin, Israel, libelos de sangue, nazistas, terrorismo Hamás

Intolerância latente

Paulo Rosenbaum

quarta-feira 13/08/14

Antisemitism means “hating Jews more than is absolutely necessary. Antissemitismo significa: odiar judeus mais do que o absolutamente necessário. Isaiah Berlin Sou mais um que vai parodiar Tom Jobim, mas o refinado senso irônico de Isahiah Berlin não é mesmo para principiantes. Apresenta a eloquência dos que compreenderam que sempre haverá álibi para racionalizar a […]

Antisemitism means “hating Jews more than is absolutely necessary.

Antissemitismo significa: odiar judeus mais do que o absolutamente necessário.

Isaiah Berlin

Sou mais um que vai parodiar Tom Jobim, mas o refinado senso irônico de Isahiah Berlin não é mesmo para principiantes. Apresenta a eloquência dos que compreenderam que sempre haverá álibi para racionalizar a judeofobia. Alguns destes álibis são hilários, outros travestem a lógica com argumentos aparentemente plausíveis. Entre os diagnósticos instantâneos: “Estão vendo, é Gaza! É a direita no poder em Israel! A culpa é da política expansionista dos israelenses! O conflito não é ideológico, mas puramente político!”

Recente edição do “The Guardian” relatou em números, o aumento exponencial dos ataques antissemitas pelo mundo: só comparável ao período de ascenção dos nazistas ao poder. Só que isso foi em 2013. Evidentemente que a catarse de uma guerra acelera hostilidades latentes. Na semana passada, cemitérios pichados na Itália, turbas apedrejaram lojas de judeus em Marselha e Paris, e neonazistas se juntaram aos jihadistas e à extrema esquerda, para entoar conhecidos slogans antijudaicos em Berlin e Munique.

Em geral, as minorias são mais vulneráveis à intolerância como todos estamos testemunhando no impensável retrocesso da civilização no Iraque. Como ousam yazidis, cristãos, sufis, e outras tribos e etnias, subsistirem dentro de suas tradições, sem sucumbir à pressão do fundamentalismo que aspira ser dominante, e suprime as dissonâncias? Para além das escolhas religiosas, essa supressão é também cultural e simbólica. Se não, qual seria o motivo pelo qual os terroristas do Estado islâmico tenham se dado ao trabalho de destruir a tumba de Jonas dentro de uma mesquita histórica?

Cenário e alianças podem mudar dramaticamente. Nas palavras do ministro das relações exteriores da Arábia Saudita, o conflito agora não é mais entre árabes e israelenses. Judeus, assim como outras minorias, são alvos ancestrais desses sentimentos, especialmente sob maiorias controladas por tiranos. É quando o “ódio suficiente” referente à ironia de Berlin, sai do controle, o excedente escapa, e as intolerâncias podem explodir em paz.

Trata-se do velho pretexto infinito, do álibi universal, da licença poética para perseguir, que, subsiste, intacta, nos grotões da ignorância, nos porões inconscientes e sobretudo na linguagem. Dos libelos de sangue medievais – agora repetidos nas escolas infantis pelos terroristas do Hamás – ao affair Dreyfus, do arianismo aos campos de extermínio, os vagões podem ter mudado, trens e trilhos são, rigorosamente, os mesmos.

Por outro lado, não é razoável acusar quem critica Israel neste ou em outros conflitos, como necessariamente antissemita. Mas o viés persistente que aponta quem se defende como algoz, o bias da mídia, e o tom usado pela legião de juízes parciais, são ingredientes que acabam metamorfoseando a crítica martelante em ação antissemita involuntária.

A persistente tentativa de deslegitimar um Estado é o prenúncio para inviabilização do povo que o habita. No tabuleiro geopolítico do Oriente Médio é comum reputar o Estado hebreu como a única peça sobressalente. Entretanto, é fato que a maioria dos Estados nacionais só se agruparam como os conhecemos, durante o século XX. E por que com este País haveria de ser diferente? A difusão parcial dos eventos históricos pode ajudar a explicar, ainda que não justifique, boa parte da notória má vontade quando a pauta é Israel.

Tags: antissemitismo, bias da mídia, diferença entre criticar Israel e ser antissemita, intolerancia latente, isaiah berlin, Israel, libelos de sangue, nazistas, terrorismo Hamás

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E se hoje acordássemos ninguém? (Blog Estadão)

30 quarta-feira jul 2014

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Armagedon, eventos religiosos, fissão nuclear, história recontada, Israel, Mídia

E se hoje acordássemos ninguém? Nem ilhas nem continentes, religiosos, materialistas ou céticos. E se não nos dividíssemos entre nacionalistas, anarquistas ou fundamentalistas? E se não fôssemos cabos eleitorais das guerras, candidatos ou nações? E se não houvesse mundo algum? E se não estivéssemos separados por fronteiras? E se os países fossem mais que mercados? As pessoas mais que contribuintes? E se considerássemos que ninguém é traidor ou aliado? E se a paz não precisasse de transfusões? E se não precisássemos defender ou atacar? E se nem as utopias correspondessem à realidade? Não por serem beatificas, ideais, finais. Porque a terra não finda. Porque não há Armagedon, apocalipse ou término para o que mal começou. A menos que passemos a adorar a ideia. A menos que os homens passem a viver por nada. E se a vida não estivesse concentrada na sobrevivência? E se ela estivesse entre todos e espalhada? Se recuperasse o significado? Tingiria outros universos? Alcançaria outros estágios de energia? E se os papeis dos jornais formassem pontes? A se a mídia instruísse? E se negássemos todos os marcos? Todas as datações? E se os símbolos criassem comunidades? E se as datas recusassem reduções? E se o tempo não fosse marcado por eventos religiosos, revolução francesa, 100 anos da primeira guerra mundial? E se o Big Bang não mantivesse a expansão? E se não reduzíssemos tudo à nada? E se respeitássemos a singularidade? E se hoje fosse o aniversario do cosmos? E se a gravidade fosse suspensa? E se o sol descesse, a supernova decantasse e a anã ganhasse um azul? E se agora, neste segundo, zerássemos tudo? Assim mesmo, do nada. E se a fissão nuclear ficasse obsoleta? E se o marco zero fosse absoluto? Nada de políticos: imagino oxigenação, ressignificação dos ofícios humanos, fim das tramas. E se passássemos a contar tudo de novo? A história recontada, nova. Outra história. Quando foi a última vez que sentamos e conversamos? E se fosse essa a primeira vez que ouvíssemos nossas vozes? E se nascêssemos?

http://blogs.estadao.com.br/conto-de-noticia/e-se-acordassemos-ninguem/

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Insanidade Coletiva

28 quinta-feira nov 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antisemitismo, Armas nucleares iranianas, Dissuasão, Ditador do Irã, Irã, Israel, tribalismo, violencia

Coisas da Política

Hoje às 06h00

Insanidade coletiva

Paulo Rosenbaum – médico e escritor 

É evidente que o recente triunfo diplomático do comandante em chefe dos EUA nasceu fracassado. Num conflito crônico e ancestral não se fortalece um lado, sem oferecer contrapartida aos que saem enfraquecidos. A glória é sempre efêmera, mas é possível que esta dure menos ainda. A paz alcançada com Teerã é apenas um exemplo da nova pax americana, débil e fracamente dissuasiva.

Desembaraçados e gastos os recursos — os 8 bilhões que Teerã conseguiu descongelar —aquele país ficará tentado a demonstrar que não está interessado em ser permanentemente controlado pelo Ocidente perverso, nem mesmo por sua própria população. O padrão de envolvimento do Irã mudou desde a revolução de Khomeini. Diretamente enfronhados na guerra civil da Síria e com braços armados em toda a região, especialmente no Iraque, os persas estão assumindo importante papel estratégico e expansionista no Oriente Médio.

Que sejamos poupados dos críticos ideológicos que querem equiparar a colonização multinacional xiita com os problemas  israelo-palestinos. Por mais dificuldades e radicalismos que se enfrente, estamos mais próximos de um Estado binacional para israelenses e palestinos do que qualquer arrefecimento no imperialismo de Teerã. Os primeiros terão muitos percalços, guerras regionais e conflitos de fronteiras agora e mais à frente, mas são guiados por um pragmatismo secular que, mesmo respeitando as tradições, sabem que só as soluções de Estado podem trazer paz e prosperidade.

Por sua vez, o regime dos aiatolás se autointitula teocrático e só obedece à ideologia do fanatismo teleológico: impor padrões uniformes de comportamento para os demais. Isso se chama “califado da retidão”.

A diferença, portanto, é enorme.

A velha demonização mútua entre Ocidente versus teocracia xiita ou sua modalidade laica, a Coreia do Norte — se acusando de ser “eixos do mal”— tem um efeito degenerativo nas relações internacionais.

Se ambos estiverem certos em suas premissas, só teremos o mal para nos atender. Mas mesmo no mais grosseiro maniqueísmo há diferenças. Há males que podem ser rastreados, impressos e divulgados. Assim como há aqueles que estão restritos às planilhas insanas de gente convencida de que está sob a influencia de um Poder Superior e, portanto, plena razão em sua lógica de destruição. A bomba nuclear sob comando e guarita da Guarda Revolucionária é um desastre em si, já que eles consideram seriamente seu uso.

Exemplos de pactos que adiaram os problemas, temos vários na avaliação retrospectiva de busca de supremacia de povos sobre  povos. Talvez este acordo não seja exatamente um “erro histórico”, como o classificou o premier israelense.

Destarte, evitar matanças e selvageria talvez ainda seja o único bem universal. Pena que nem isso seja mais consenso.

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/11/28/insanidade-coletiva

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Insignificâncias do mal

07 quarta-feira ago 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antijudaismo, antisemitismo, Hannah Arendt, hegemonia e monopólio do poder, Israel, justiça, mercado financeiro, nazistas, política, Von Trotta

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Dezenas de artigos, análises e conversas de rua depois, o filme de Margarethe Von Trotta sobre a filósofa Hannah Arendt, ainda não foi devidamente esmiuçado. O filme é cinematograficamente bom sob a presença cênica de Barbara Sukowa impecável no papel principal. O acerto está também na inserção de trechos originais dos debates que representaram uma das batalhas jurídicas essenciais para a compreensão do século XX. Mesmo assim, as vicissitudes superam as virtudes deste longa metragem.

A impressão que fica é que não se executou uma obra da sétima arte, mas defesa de tese com recursos filmográficos. A diretora e o roteirista, Pam Katz, parecem ter privilegiado um enfoque que, além de vez por outra lançar condenações veladas ao sionismo, buscaram expurgar a ansiedade de consciência que ainda paira sobre o papel coletivo dos alemães durante o III Reich

E se da arte não se deve esperar completude, pode-se sim exigir honestidade intelectual no trato das ideias.

Um dos mais comandantes do alto escalão nazista, Adolf Eichmann, foi capturado em Buenos Aires em 1960 pelo serviço secreto israelense. Ironicamente, quem casualmente o identificou na capital argentina foi um judeu alemão idoso e cego, ele mesmo vítima sobrevivente da juventude hitlerista. A pauta central do filme é o julgamento em Jerusalém do homem que teria arquitetado a “solução final” – o projeto de eliminação sistemática dos judeus europeus.

Determinada a defender as idéias contidas em seu “As Origens do Totalitarismo” a filósofa decidiu assistir o julgamento de Eichmann como correspondente do New York Times e redigiu artigos para publicação na revista New Yorker.

Para ela, toda cúpula nazista não era, necessariamente, composta por monstros, pervertidos ou aberrações da psicopatologia e o depoimento mecânico e sonso de Eichmann aos juízes israelenses pode ter ajudado a ludibria-la quanto à natureza de alguém, que em uma entrevista em 1957 a um ex-companheiro, já se definia como “um idealista”. Contrariamente às acusações da época, em momento algum Arendt o absolve, investe na relativização da grandiosidade autoral do criminoso. O teórico nazista era apenas um caso fortuito de mediocridade existencial, venial, sediço, frívolo, anódino, ridículo. Este tipo de insignificância era chamada nos séculos precedentes de dez réis de mel coado. Dessa perspectiva, o gerenciamento do mal poderia ser exercido por qualquer um contra qualquer um. A verdade empírica é de que não foi qualquer um nem contra qualquer um. O extermínio foi ditado por sujeitos contra outros sujeitos.

Ler mais no Blog do Estadão “Conto de Notícia”

http://blogs.estadao.com.br/conto-de-noticia/

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10 quarta-feira jul 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Livros publicados

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A Verdade Lançada ao Solo, Angelina Jolie, antijudaismo, antisemitismo, assessoria, democracia, Israel, judaísmo, justiça, Literatura, livros, política

ROSENBAUM, P. . Verdade Lançada ao Solo. Rio de Janeiro: Record, 2010. 588p.;  Saiba mais: Editora Record

ROSENBAUM, P. ; LAMA, L.  FRANCO, P. P. . O Nome do Cuidado – “Care among us”. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009. v. . Saiba mais: Ateliê Editorial

ROSENBAUM, P. . Novíssima Medicina (ethos do Cuidado). 1. ed. São Paulo: Organon, 2008. v. 1. 224p . Saiba mais: Editora Organon

ROSENBAUM, P. . Entre Arte e ciência: Fundamentos Heremenêuticos da Medicina Homeopática. 1. ed. São Paulo: Hucitec, 2006. v. 1. 277p .

ROSENBAUM, P. . Homeopatia, Medicina sob medida. São Paulo: Publifolha, 2005. v. 01. 160p . Saiba mais: Publifolha

ROSENBAUM, P. . Medicina do Sujeito. Rio Janeiro: Luz Menescal, 2004. v. 01. 250p. Saiba mais: Organon

ROSENBAUM, P. (Org.) ; LUZ, M. T. (Org.) . Fundamentos de homeopatia para estudantes de medicina e de ciências da saúde . 1a. ed. São Paulo: Roca, 2002. v. 01. 462p .

ROSENBAUM, P. . Homeopatia:medicina interativa, história lógica da arte de cuidar. 1a. ed. Rio de Janeiro: Imago, 2000. v. 01. 194p . Saiba mais: Editora Imago

MURE, B. (Org.) ; ROSENBAUM, P. (Org.) . Patogenesia Brasileira. 1a. ed. São Paulo: Roca, 1999. v. 01. 410p .

ROSENBAUM, P. . Miasmas, saúde e enfermidade na prática clínica homeopática. 1a. ed. são Paulo: Roca, 1998. v. 01. 456p .

ROSENBAUM, P. . Perguntas e Respostas em Homeopatia. 2a. ed. São Paulo: Roca, 1996. v. 01. 140p .

ROSENBAUM, P. . Homeopatia e Vitalismo, um ensaio acerca da animação da vida. 1a. ed. São Paulo: Robe, 1996. v. 01. 205p .

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Para além do Ghetto

02 quinta-feira maio 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antijudaismo, antisemitismo, Irã, Israel, judaísmo, justiça, revisionistas do holocausto, significado de justiça, utopia

Para Além do Ghetto

Para Além do Ghetto

Para além do Ghetto

Me chamo…meu nome não é relevante. O que importa é explicar porque tive que voltar. Esta é a terceira ou quarta vez. Geralmente venho com uma missão pontual, desta vez, múltipla. Nos últimos tempos lembro de ter visto artigos e comentários sobre nós, judeus que comandaram a luta contra os nazistas no episódio conhecido como “levante do Ghetto de Varsóvia”. Depois de tanto tempo, não sei bem se estou vivo ou não, a última coisa que lembro foi ter sido espetado no ombro esquerdo por uma baioneta e, se realmente estava morto, posso afirmar que dói. Muito.

Aqui também há burocracia mas tudo vai na velocidade da luz. Essa última viagem foi decidida quando percebemos que as palavras vêm sendo distorcidas. Seria bom informar a estas pessoas que mudam o sentido das palavras que a corrupção começa e termina pela linguagem.

Acompanho religiosamente os jornais e as críticas sobem até nós. Israel têm sido demonizado de todos os lados, sob a complacência de boa parte da mídia do mundo. Revivi as cenas de 1939. Na época sabíamos exatamente de onde provinham os patrocínios. Quem será que financia a campanha desta vez? Dizem que a culpa é dos próprios judeus (já ouvi ontem e anteontem) mas, pelo que li, ninguém aponta para a complexidade real do problema.

Dizem que a culpa é da direita. Mas nada mudou nas acusações e hoje o poder político pertence ao centro. Aqui em cima analisamos tudo e contamos com a máxima diversidade. Uma crença compartilhada, que virou unanimidade: todos aqui acreditam nos homens.

Outra coisa que chama a atenção é que andam dizendo que os judeus não precisam de uma nação: “eles se dispersaram pelo mundo”. É verdade e o exílio involuntário trouxe coisas positivas para nós e os povos com os quais convivemos. O pessoal da administração sempre fala disso com alegria. Isso não significa que um povo não tenha direito a uma terra.

Corrijam se eu estiver errado, mas a partilha feita em 1947 constituiu dois estados, um para nós, outro para os primos árabes. Qual é o problema então? Me sopram que assim que a divisão foi estabelecida os radicais nos atacaram. E isso se repetiu várias e várias vezes. Estou virando e revirando os jornais e parece que há mais de 60 anos as tentativas para encontrar a estrada da paz falharam. Não pode ser verdade. Quem sabota? Quando as duas partes mais interessadas só teriam a ganhar com paz e estabilidade, sim, alguém está sabotando!

A solução seria “paz em troca de terras”. Então fomos ao arquivo morto e revisamos tudo. Parece que um dos lados exige – está em sua constituição — que o Estado de Israel deixe de existir para começar a negociar. Até para nós, daqui do outro lado, há limites para o ceticismo. Trata-se de uma piada, não?

Depois, mais recentemente, o ditador da Pérsia afirma que o holocausto é uma invenção e duas a três vezes por semana solta frases como vamos “varrer Israel do mapa”. Agora quer a bomba atômica. Isso mexeu até com a cúpula aqui por cima. O pessoal ficou realmente aflito e a correria aumentou nos últimos tempos.

Quando decidimos pegar em armas em Varsóvia era para não morrer como mosquitos esmagados. Era uma situação limite. Uns poucos contra a massa que exigia nossa eliminação. Na escala de guerras justas (aqui é proibido usar esse termo) estaria entre as 10 primeiras. Sabíamos do extermínio em massa, deliberado, sistemático e impiedoso. Sim, aquilo era mesmo um genocídio. Mas qualificar o que está acontecendo entre israelenses e palestinos, usando a mesma palavra é uma imoralidade. Claro que daqui de cima nosso apoio aos patrícios não é incondicional. Não gosto de ver um povo como o meu, historicamente oprimido, fazer papel de opressor. Mas avisem para parar com esta bobagem de esquerda e direita. Eu, que já cantei a Internacional com a mão no peito posso garantir. É verdade que nós ainda temos o idealismo espiritual de esquerda, aquele que quer justiça social e fraternidade sem esquecer de Deus nem da paz. É que com ele tão por perto isso não é uma escolha, simplesmente acontece. Com o perdão da insinuação — pode pegar mal — vocês também vão experimentar. Posso confrontar as decisões e fazer objeções ao que está acontecendo por lá, mas há iletrados que estão usando equivalências entre nós e os nazistas. Merecem um belo puxão de orelha. Há limites até para os mortos. Falam que estamos “murando por dentro” o País. Minhas fontes dizem que foi uma medida provisória para se proteger dos ataques de gente que queria explodir qualquer um. Agora chamam isso de terror? Eu sei que fizemos das nossas contra os ingleses e quem usou isso como arma está errado, não importa quando nem onde. Aqui em cima a regra é clara e expressa pelo próprio Criador. Por ordens dele aqui não há propaganda, e ninguém doutrina ninguém. A única exceção são placas visíveis em todo lugar e em todos os idiomas: viva e deixe viver.

Eu já desci outras vezes. Uma delas foi para ver os alemães virem até a Rua de Mila e desmaiar quando se deram conta do que fizeram com nosso bairro em Varsóvia. Voltei para ver as máquinas e buldozeres dos poloneses demolirem nossas casas. As ruínas viraram pó. Uma das poucas vezes na vida que gritei em desespero, mas ninguém ouvia. Eles demoliram tudo. Ali morri mais uma vez. Precisávamos daquelas ruinas. A preocupação constante por aqui é com o futuro — não porque temos vontade de sofrer com as recordações, mas sim ficar mais alertas para o que está ao alcance de vocês evitar. Uma última mensagem que o povo daqui pede: que eu esclareça a palavra genocídio. É uma palavra que não existia em nossa época. Foi criada a partir de tudo que se viu durante a tentativa de nos exterminar embora outros povos também experimentaram. Um compatriota juntou a palavra genós (do grego tribo ou raça) e caedere (do latim, matar, assassinato).

Sinto, mas a administração solicita minha presença e aqui brincamos muito, menos com o tempo. É que Ele já se cansou de assistir o papelão que fazemos. Como a paciência dele é infinita torço para resolvermos já as brigas. Aqui estão todos de acordo com a exortação de ser um só povo. O consenso é de que isso só será possível quando reconhecermos o valor da pluralidade e a identidade de cada uma das tribos.

Sinceramente, M.I. I.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. Publicou “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed Record)

o link para a publicação no JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/05/02/para-alem-do-ghetto/

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