Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico

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O que não merece ser salvo? (Blog Estadão)

01 sábado ago 2015

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antijudaismo, antisemitismo, aversão ao governo, blog Estadão, Blog Rosenbaum, FHC, o que não merece ser salvo, propaganda que banaliza o holocausto

O que não merece ser salvo?

Paulo Rosenbaum

31 julho 2015 | 18:48

lideresXXX

Eles querem conversar? À vontade. Quem ainda é líder? Ouço que estamos a deriva, mas é mais. Bem mais. Embarcações extraviadas ainda costumam contar com timoneiro, um marujo senior, algum almirante aposentado. Nós não temos nada, nem contamos com ninguém. Somos passageiros encurralados em meio a uma epidemia de negação. Quem não sabe que o País sempre se desloca de crise em crise, de popa à proa, do melhor para o pior e vice versa? As instituições estão suportando. Até quando? E desde quando um Estado policial pode conviver com a democracia?

A aversão aos líderes que nos guindaram a essa anomia sem precedentes emerge de um outro ponto, não mapeado, mascarado, que nos assombra por outros motivos. Os defensores do indefensável se reuniram no clube Brasília. É que, de certa forma, suas vidas só fazem sentido na negação. A aversão aos que hora governam, com menção honrosa para o lulopetismo pela década de descuidos e desperdício de oportunidades, não é emocional, é científica. E a repulsa não vem de outro lugar a não ser do gênero de poder que emanaram. No exercício de uma tirania especulativa, que monitora até onde todos nós somos capazes de engolir.

Portanto, a inviabilidade deste governo não vem do DNA das elites. Não vêm da perda de privilégios. Não têm origem na ancestralidade oligárquica. Não brotou do preconceito de classe. Não se proliferou por geração espontânea nas redes sociais. Não é oriundo do labirinto de versões. Não se sustentou por perseguição moral. Não perdura pela luta entre patrões e empregados. E nem se espelhou em nada a não ser uma predisposição inata, programática e perseverante, uma quase aptidão, para a incapacidade ético-político-administrativa.

Mesmo sem um pingo de teoria conspiratória não é preciso muito para identificar a tentação de abandonar as pessoas à própria sorte torcendo para o pior, a saber, uma resposta dos oprimidos. Se preciso for sempre há o recurso de se convocar minorias violentas. Desorganiza-se o Estado. Para eles, o opressor que está atrapalhando e que pode colocar tudo a perder tem um nome: os valores da burguesia. O detalhe é que nem a mais eficiente técnica para provocar amnésia é capaz de apagar o superavit de bobagens de uma administração, que não pode, por uma questão de pele, nem pedir para sair, nem ficar onde está.

Tudo isso para agora, como resultado de todas as decisões equivocadas acumuladas, ver seus efeitos descerem à realidade e encontrarem o País às vésperas de um embotamento sem precedentes. Só que ninguém, nem os mais pessimistas, poderia prever que o mais repulsivo estava por vir.

Em meio a toda sórdida campanha mitômana a fim de evitar uma queda já consolidada, acaba de chegar, pela voz do líder decadente, uma comparação entre perseguição aos judeus pelos assassinos nazistas com crimes de natureza pecuniária e anti republicana liderados por consórcios que detém o poder há mais de 13 anos. Passou do ponto de não retorno!

FHC tem toda razão, existem coisas que não merecem ser salvas. Como meros súditos, ainda temos o direito de perguntar se há um lugarzinho qualquer no bote salva-vidas? Também serve rolha, isopor e boia.

Tags: blog Rosenbaum Estadão, conto de notícia, epidemia de negação, o que não merece ser salvo

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/o-que-nao-merece-ser-salvo/

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De @bengurion para @bibi (Blog Estadão)

26 segunda-feira jan 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Na Mídia

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A Verdade Lançada ao Solo, anti israelenses, antijudaismo, bibi, David Ben Gurion, inimigos públicos da humanidade, IPH, Marcha de Paris

26 janeiro 2015 | 14:07

debengurion

Bibi, na santa paz na qual me encontro hoje fui chamado às pressas. Amigo, esqueça memorandos e encare esta comunicação como um telegrama urgente. Não houve escolha: por aqui, quando te sacodem de madrugada, é como ser convocado. Enquanto era balançado me explicavam, amanhã faz 70 anos que as tropas russas libertaram o campo de extermínio de Auschwitz.

Vim mais para ouvir, mas se você abrir uma exceção, uns conselhos. Nossa extraordinária desvantagem na mídia não pode servir como desculpa. Não, não, nisso estamos de acordo, as críticas mais benevolentes, da esquerda à direita, amiúde mostram pouca, vale dizer, simpatia por Israel. São vícios do discurso. Não compreendo também, há algo de irracional, inexplicável, atávico e insondável. Até já perguntei para a chefia, mas parece que o assunto é altamente classificado. Vai entender. Mesmo assim, há sempre aquela parcela que merece um “por que?” A direita sempre foi o que foi. Por que essa cara? Não tem nada de indireta. Falo como um velho socialista olhando nos teus olhos. Não é provocação. Aliás, como esses pensadores esperam credibilidade se militam no lugar de manter o foco na análise? Você acha que é a propaganda? É possível. Comentava com os companheiros de nuvem, nunca, nem na época mais fértil da minha imaginação, poderia conceber o retorno de um clima tão hostil contra minorias. O mal que considerávamos superado foi reativado, separatismo, intolerância e xenofobias. Desta altura, terrorismo parece um termo desgastado, mudem para inimigos públicos da humanidade. Na sigla ficaria IPH.

A Europa não aprende? Os algozes se reciclam? Se o nazismo tem uma nova cara é preciso arrancar sua máscara. A liberdade de existir não deve preceder a de expressão? É claro que com o volume de agregados antissemitas e anti-israelenses tenho dificuldade em enxergar a distinção entre uns e outros. De acordo, é só ver o que acaba de acontecer na capital Argentina. Vergonhoso, mas auto evidente. Ao fim e ao cabo, dá no mesmo. Se estou fechado com sua posição? Confesso que oscilo, concordo e discordo de sua condução política.

É claro que vejo o risco e compreendo a agitação. Ninguém por aqui quer que Auschwitz e as outras fábricas de extermínio sejam só símbolos da tragédia. E garanto, nem aqui nem ai vamos esquecer o que aconteceu. Nunca. Mas é que vendo da perspectiva que tenho hoje, o mundo mal começou. Prefiro que o Shoah se transforme em espírito de recuperação para toda a humanidade. Lembra-se? Nenhuma palavra será a última, muito menos o principio de todas as outras. Dialética é assim mesmo, mas quem entende? Pois deveriam, imagine uma civilização com o espírito talmúdico?

Não deboche deste antigo batalhador. Temos defeitos como insistem em apontar, mas que tal fazer valer nossas virtudes? A principal delas, subvalorizada. Ou você conhece alguém com nossa capacidade de superação? Fica até chato, mas qual povo duvida tanto de tudo? Nós, que superamos o conceito de blasfêmia e heresia, escolhemos o bom humor. Há outro nome para questionar o universo e arguir até a palavra divina? Não ficamos tentando achar novos sentidos para cada palavra? Pode ser irritante, mas cada povo com suas idiossincrasias. Com elas é que fomos nos tornando mais tolerantes. O que torna um País único não são decretos ou exigências formais, mas capacidade de conversar. Você está enganado. Não sou nenhum ingênuo colega. Sei que fanáticos não tem conserto, mas que tal prevenir conversões em massa?

Nem perguntei, ainda há tempo? Sei que está trabalhando no discurso para o Congresso.

Mais um minuto, bem conciso. Falo do status quo do nosso povo em nossa terra, mas falo principalmente do mundo atormentado em que vocês vivem. Você só quer o bem do povo? É o que todos dizem. Mas e se não for suficiente? Você enxerga a situação como um todo? Sabe desarmar os espíritos? É só isso que interessa. Não, não quero saber de chips, nem das últimas tecnologias da defesa. Certo, certo, abaixo do equador fale como revertemos a crise hídrica usando o mar. Escute mais uns segundos. Não, não falo dos profetas hebreus, nem de religião, falo de cultura e de homens de Estado. Gente palpável no agora. Quantos pensaram estar mudando o mundo? Mas cá de longe dá para ver, a maioria só administrou um status quo indesejável. Quanto desperdício de biografia. Há muita gente interessada em entornar o caldo. Não sabe o que é isso? Você?

É evidente que todos aqui apreciamos e achamos mais do que justa sua participação na marcha de Paris, mas permite? Aqueles acenos do pessoal da linha de frente pegou mal: não cabe aclamação no luto. Agora posso dizer o panorama que vejo ? O caráter judaico da terra não pode, não deve, ser dado por decreto. O que? Não, não, [riso rouco] nem sonho mais com paz. Minha fantasia recorrente é convívio tenso, mas justo. No estilo do pedido de Amós. Não, não o profeta, o escritor. Dois Estados, lado a lado, sem falsas identidades. Paciência eu tenho de sobra. A chefia reclama todos os dias “quando vão perceber que o oxigênio vêm da atmosfera comum?” Já que ninguém vai mesmo sair dai, que tal tomarmos a iniciativa e estabelecer as condições para que cada um ocupe seu lugar. Sim, ao sol. Nunca ninguém conquistou corações e mentes com chumbo.

Dia desses, no meio da rodinha enquanto jogava xadrez com Isahiah Berlin, cometi mais um daqueles aforismos: a melhor defesa é o ataque, diplomático.

Minha estima e votos de sucesso,

Shalom,

David

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/de-bengurion-para-bibi/

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Insignificâncias do mal

07 quarta-feira ago 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antijudaismo, antisemitismo, Hannah Arendt, hegemonia e monopólio do poder, Israel, justiça, mercado financeiro, nazistas, política, Von Trotta

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Dezenas de artigos, análises e conversas de rua depois, o filme de Margarethe Von Trotta sobre a filósofa Hannah Arendt, ainda não foi devidamente esmiuçado. O filme é cinematograficamente bom sob a presença cênica de Barbara Sukowa impecável no papel principal. O acerto está também na inserção de trechos originais dos debates que representaram uma das batalhas jurídicas essenciais para a compreensão do século XX. Mesmo assim, as vicissitudes superam as virtudes deste longa metragem.

A impressão que fica é que não se executou uma obra da sétima arte, mas defesa de tese com recursos filmográficos. A diretora e o roteirista, Pam Katz, parecem ter privilegiado um enfoque que, além de vez por outra lançar condenações veladas ao sionismo, buscaram expurgar a ansiedade de consciência que ainda paira sobre o papel coletivo dos alemães durante o III Reich

E se da arte não se deve esperar completude, pode-se sim exigir honestidade intelectual no trato das ideias.

Um dos mais comandantes do alto escalão nazista, Adolf Eichmann, foi capturado em Buenos Aires em 1960 pelo serviço secreto israelense. Ironicamente, quem casualmente o identificou na capital argentina foi um judeu alemão idoso e cego, ele mesmo vítima sobrevivente da juventude hitlerista. A pauta central do filme é o julgamento em Jerusalém do homem que teria arquitetado a “solução final” – o projeto de eliminação sistemática dos judeus europeus.

Determinada a defender as idéias contidas em seu “As Origens do Totalitarismo” a filósofa decidiu assistir o julgamento de Eichmann como correspondente do New York Times e redigiu artigos para publicação na revista New Yorker.

Para ela, toda cúpula nazista não era, necessariamente, composta por monstros, pervertidos ou aberrações da psicopatologia e o depoimento mecânico e sonso de Eichmann aos juízes israelenses pode ter ajudado a ludibria-la quanto à natureza de alguém, que em uma entrevista em 1957 a um ex-companheiro, já se definia como “um idealista”. Contrariamente às acusações da época, em momento algum Arendt o absolve, investe na relativização da grandiosidade autoral do criminoso. O teórico nazista era apenas um caso fortuito de mediocridade existencial, venial, sediço, frívolo, anódino, ridículo. Este tipo de insignificância era chamada nos séculos precedentes de dez réis de mel coado. Dessa perspectiva, o gerenciamento do mal poderia ser exercido por qualquer um contra qualquer um. A verdade empírica é de que não foi qualquer um nem contra qualquer um. O extermínio foi ditado por sujeitos contra outros sujeitos.

Ler mais no Blog do Estadão “Conto de Notícia”

http://blogs.estadao.com.br/conto-de-noticia/

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Livros Publicados:

10 quarta-feira jul 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Livros publicados

≈ 2 Comentários

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A Verdade Lançada ao Solo, Angelina Jolie, antijudaismo, antisemitismo, assessoria, democracia, Israel, judaísmo, justiça, Literatura, livros, política

ROSENBAUM, P. . Verdade Lançada ao Solo. Rio de Janeiro: Record, 2010. 588p.;  Saiba mais: Editora Record

ROSENBAUM, P. ; LAMA, L.  FRANCO, P. P. . O Nome do Cuidado – “Care among us”. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009. v. . Saiba mais: Ateliê Editorial

ROSENBAUM, P. . Novíssima Medicina (ethos do Cuidado). 1. ed. São Paulo: Organon, 2008. v. 1. 224p . Saiba mais: Editora Organon

ROSENBAUM, P. . Entre Arte e ciência: Fundamentos Heremenêuticos da Medicina Homeopática. 1. ed. São Paulo: Hucitec, 2006. v. 1. 277p .

ROSENBAUM, P. . Homeopatia, Medicina sob medida. São Paulo: Publifolha, 2005. v. 01. 160p . Saiba mais: Publifolha

ROSENBAUM, P. . Medicina do Sujeito. Rio Janeiro: Luz Menescal, 2004. v. 01. 250p. Saiba mais: Organon

ROSENBAUM, P. (Org.) ; LUZ, M. T. (Org.) . Fundamentos de homeopatia para estudantes de medicina e de ciências da saúde . 1a. ed. São Paulo: Roca, 2002. v. 01. 462p .

ROSENBAUM, P. . Homeopatia:medicina interativa, história lógica da arte de cuidar. 1a. ed. Rio de Janeiro: Imago, 2000. v. 01. 194p . Saiba mais: Editora Imago

MURE, B. (Org.) ; ROSENBAUM, P. (Org.) . Patogenesia Brasileira. 1a. ed. São Paulo: Roca, 1999. v. 01. 410p .

ROSENBAUM, P. . Miasmas, saúde e enfermidade na prática clínica homeopática. 1a. ed. são Paulo: Roca, 1998. v. 01. 456p .

ROSENBAUM, P. . Perguntas e Respostas em Homeopatia. 2a. ed. São Paulo: Roca, 1996. v. 01. 140p .

ROSENBAUM, P. . Homeopatia e Vitalismo, um ensaio acerca da animação da vida. 1a. ed. São Paulo: Robe, 1996. v. 01. 205p .

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Para além do Ghetto

02 quinta-feira maio 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antijudaismo, antisemitismo, Irã, Israel, judaísmo, justiça, revisionistas do holocausto, significado de justiça, utopia

Para Além do Ghetto

Para Além do Ghetto

Para além do Ghetto

Me chamo…meu nome não é relevante. O que importa é explicar porque tive que voltar. Esta é a terceira ou quarta vez. Geralmente venho com uma missão pontual, desta vez, múltipla. Nos últimos tempos lembro de ter visto artigos e comentários sobre nós, judeus que comandaram a luta contra os nazistas no episódio conhecido como “levante do Ghetto de Varsóvia”. Depois de tanto tempo, não sei bem se estou vivo ou não, a última coisa que lembro foi ter sido espetado no ombro esquerdo por uma baioneta e, se realmente estava morto, posso afirmar que dói. Muito.

Aqui também há burocracia mas tudo vai na velocidade da luz. Essa última viagem foi decidida quando percebemos que as palavras vêm sendo distorcidas. Seria bom informar a estas pessoas que mudam o sentido das palavras que a corrupção começa e termina pela linguagem.

Acompanho religiosamente os jornais e as críticas sobem até nós. Israel têm sido demonizado de todos os lados, sob a complacência de boa parte da mídia do mundo. Revivi as cenas de 1939. Na época sabíamos exatamente de onde provinham os patrocínios. Quem será que financia a campanha desta vez? Dizem que a culpa é dos próprios judeus (já ouvi ontem e anteontem) mas, pelo que li, ninguém aponta para a complexidade real do problema.

Dizem que a culpa é da direita. Mas nada mudou nas acusações e hoje o poder político pertence ao centro. Aqui em cima analisamos tudo e contamos com a máxima diversidade. Uma crença compartilhada, que virou unanimidade: todos aqui acreditam nos homens.

Outra coisa que chama a atenção é que andam dizendo que os judeus não precisam de uma nação: “eles se dispersaram pelo mundo”. É verdade e o exílio involuntário trouxe coisas positivas para nós e os povos com os quais convivemos. O pessoal da administração sempre fala disso com alegria. Isso não significa que um povo não tenha direito a uma terra.

Corrijam se eu estiver errado, mas a partilha feita em 1947 constituiu dois estados, um para nós, outro para os primos árabes. Qual é o problema então? Me sopram que assim que a divisão foi estabelecida os radicais nos atacaram. E isso se repetiu várias e várias vezes. Estou virando e revirando os jornais e parece que há mais de 60 anos as tentativas para encontrar a estrada da paz falharam. Não pode ser verdade. Quem sabota? Quando as duas partes mais interessadas só teriam a ganhar com paz e estabilidade, sim, alguém está sabotando!

A solução seria “paz em troca de terras”. Então fomos ao arquivo morto e revisamos tudo. Parece que um dos lados exige – está em sua constituição — que o Estado de Israel deixe de existir para começar a negociar. Até para nós, daqui do outro lado, há limites para o ceticismo. Trata-se de uma piada, não?

Depois, mais recentemente, o ditador da Pérsia afirma que o holocausto é uma invenção e duas a três vezes por semana solta frases como vamos “varrer Israel do mapa”. Agora quer a bomba atômica. Isso mexeu até com a cúpula aqui por cima. O pessoal ficou realmente aflito e a correria aumentou nos últimos tempos.

Quando decidimos pegar em armas em Varsóvia era para não morrer como mosquitos esmagados. Era uma situação limite. Uns poucos contra a massa que exigia nossa eliminação. Na escala de guerras justas (aqui é proibido usar esse termo) estaria entre as 10 primeiras. Sabíamos do extermínio em massa, deliberado, sistemático e impiedoso. Sim, aquilo era mesmo um genocídio. Mas qualificar o que está acontecendo entre israelenses e palestinos, usando a mesma palavra é uma imoralidade. Claro que daqui de cima nosso apoio aos patrícios não é incondicional. Não gosto de ver um povo como o meu, historicamente oprimido, fazer papel de opressor. Mas avisem para parar com esta bobagem de esquerda e direita. Eu, que já cantei a Internacional com a mão no peito posso garantir. É verdade que nós ainda temos o idealismo espiritual de esquerda, aquele que quer justiça social e fraternidade sem esquecer de Deus nem da paz. É que com ele tão por perto isso não é uma escolha, simplesmente acontece. Com o perdão da insinuação — pode pegar mal — vocês também vão experimentar. Posso confrontar as decisões e fazer objeções ao que está acontecendo por lá, mas há iletrados que estão usando equivalências entre nós e os nazistas. Merecem um belo puxão de orelha. Há limites até para os mortos. Falam que estamos “murando por dentro” o País. Minhas fontes dizem que foi uma medida provisória para se proteger dos ataques de gente que queria explodir qualquer um. Agora chamam isso de terror? Eu sei que fizemos das nossas contra os ingleses e quem usou isso como arma está errado, não importa quando nem onde. Aqui em cima a regra é clara e expressa pelo próprio Criador. Por ordens dele aqui não há propaganda, e ninguém doutrina ninguém. A única exceção são placas visíveis em todo lugar e em todos os idiomas: viva e deixe viver.

Eu já desci outras vezes. Uma delas foi para ver os alemães virem até a Rua de Mila e desmaiar quando se deram conta do que fizeram com nosso bairro em Varsóvia. Voltei para ver as máquinas e buldozeres dos poloneses demolirem nossas casas. As ruínas viraram pó. Uma das poucas vezes na vida que gritei em desespero, mas ninguém ouvia. Eles demoliram tudo. Ali morri mais uma vez. Precisávamos daquelas ruinas. A preocupação constante por aqui é com o futuro — não porque temos vontade de sofrer com as recordações, mas sim ficar mais alertas para o que está ao alcance de vocês evitar. Uma última mensagem que o povo daqui pede: que eu esclareça a palavra genocídio. É uma palavra que não existia em nossa época. Foi criada a partir de tudo que se viu durante a tentativa de nos exterminar embora outros povos também experimentaram. Um compatriota juntou a palavra genós (do grego tribo ou raça) e caedere (do latim, matar, assassinato).

Sinto, mas a administração solicita minha presença e aqui brincamos muito, menos com o tempo. É que Ele já se cansou de assistir o papelão que fazemos. Como a paciência dele é infinita torço para resolvermos já as brigas. Aqui estão todos de acordo com a exortação de ser um só povo. O consenso é de que isso só será possível quando reconhecermos o valor da pluralidade e a identidade de cada uma das tribos.

Sinceramente, M.I. I.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. Publicou “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed Record)

o link para a publicação no JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/05/02/para-alem-do-ghetto/

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A inexistência dos outros

19 sexta-feira abr 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antijudaismo, impunidade, Israel, judeus no holocausto, justiça, liberdade, revisionistas do holocausto, significado de justiça, yom hashoah

A inexistência dos outros

Dia 07 de abril é o dia escolhido para homenagear as vítimas do holocausto. Como homenagear quem perdeu a vida para o nada? O argumento de revisionistas e ditadores beócios é que o massacre sistemático contra inocentes que começou com judeus e depois se estendeu às outras minorias, é um fiapo da história se comparado com outras tragédias resultantes da interação entre os homens.

É correto afirmar que outros genocídios já foram perpetrados em larga escala: milhões de índios, armênios, curdos, bósnios e ruandeses não sobreviveram para contar suas histórias. Mas aqueles que comparam guerras regionais e sazonais que acontecem em toda parte com massacres intensivos, movidos pelo ódio aos que destoam, não sabem do que falam. O extermínio seriado de crianças foi a grande originalidade nazista. Neste sentido, ele é obra única. Nada, absolutamente nada pode ser comparado ao infanticídio que produziu 1,5 milhão de crianças anuladas para sempre.

Foi o começo do começo e o fim do fim.

A datação do mundo deveria ser zerada a partir do yom hashoah (o dia das vítimas do holocausto) não porque uma tribo poderia ter sido extinta, nem pelos milhões de inocentes descolados de suas vidas, mas pela cassação da inocência, pelo abortamento completo e absoluto que, em nossa era, construiu a impossibilidade de sonhar. A paralisia que ensurdeceu o mundo, a inércia que nos fez e continua nos fazendo cúmplices. Pela humanidade que não conseguiu contornar o inevitável. É no abismo incessante que podemos enxergar o tamanho da terra que cobriu os corpos.

Mas não podemos mais só apontar para os carrascos uniformizados. Nem mesmo pleitear heroísmo póstumo para vítimas que jamais serão identificadas, sequer saberemos como existiram ou se existiram.

A cumplicidade silenciosa durará a eternidade. A civilização adernou e não há mais luz entre os assassinados pelo mal absoluto. A ausência dos mortos de fome, sede, frio, exaustão, selvageria ou abandono é quem acusa. Ainda que não haja equivalência moral entre um infanticídio sistemático e as explosões de violência dos conflitos e guerras, a tinta de ambos tem a mesma cor. É o carbono da indecência e da auto-predação. Chegamos enfim a era em que deverá ser reconhecida retrospectivamente como aquela que enfim assumiu a ideologia: inexistência do outro. O eu aglutinou todas as formas de existir e a conjugação nas várias pessoas não faz mais sentido. Tú e vós, além de ultrapassados, não merecem estar aqui. O nós virou desacreditada utopia ou só piada de salão.

Não foram só nazistas com seus milhões de fiéis e obedientes seguidores que pariram a sombra mas um mundo sem coragem que apresentou sua estampa frágil e manipulável. O nacional socialismo alemão demonstrou, definitivamente, o valor e o imperativo ético da desobediência civil como única saída, quando a civilização encontra-se sob risco.

Se sonhar é parte vital das nossas funções orgânicas e espirituais, quem tem o direito de colocá-la sob ameaça? De costurar nossas bocas com estopa? A inexistência do outro se tornou pressuposto, mais que isso exigência, mais que isso, o único dogma que restou. Mas ele só se tornou cabível e chancelado a partir dos eventos que tiveram lugar durante os anos que em que o holocausto foi executado.

Ninguém está se referindo a um processo que teve lugar em algum ponto distante e remoto na história. Faz só 75 anos e é prova que a violência ainda que adormecida, está ativa e à espreita. O lobo do homem ainda está vivo e se oculta nas brechas. Talvez seja injustiça com os lobos (raríssimos os relatos de ataques espontâneos de lobos contra o homem), ainda que viva na natureza de todos nós a fração bélica, que não hesita em predar.

Mas o que vai além de tudo, e, talvez mesmo o que mais impressiona é a capacidade humana de ir adiante sob o trágico. Devemos homenagear as vitimas enquanto reverenciamos o tino humano para prosseguir, andando sobre ruínas, sob ossos e vagando em campos devastados.

Homenagear vítimas de violência, em qualquer tempo e local, seria substituir a culpa coletiva por capacidade de renascimento.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada” (Ed. Record)

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Holocausto Subliminar

29 quinta-feira nov 2012

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antiamericanismo, antijudaismo, antisemitismo, Democracia grega, hegemonia e monopólio do poder, Irã, Israel, judaísmo, justiça, liberdade, tribalismo

Holocausto Subliminar 

 

“O oráculo decreta o destino, o filósofo torce contra si mesmo, esperando que suas previsões fracassem”   

 

Em meio aos assuntos que dominaram a mídia nas últimas semanas está a aberta e escandalosa demonização de Israel: um eufemismo covarde para incluir judeus sem mencioná-los. Trata-se de um claro sinal de que há algo sistêmico em curso. A ONU fez a partilha da ex-colônia britânica e outorgou a dois povos, dois Estados. Como se trata de uma das regiões que mais mudou de mãos na história, não se deve olvidar o pesado passado colonial, que trai a confiança mútua entre as partes, ambas responsáveis pelo desperdício de preciosas possibilidades de acordo. A questão Palestina, portanto, é apenas a tecla da vez. Para alimentar preconceitos e ideologias, como Sartre escreveu, sempre se pode inventar algum álibi.  

 

Temos que encarar o recente cessar fogo como um epílogo de uma guerra bem maior, cujo enredo está entrelaçado com a crise econômica mundial, a explosão de violência e o holocausto subliminar.

Aos poucos, abandona-se, de lado a lado, a ênfase na solução por dois Estados. Na auto-armadilha bem montada, os bem pensantes criaram impasses para si mesmos: como exorcizar Israel e defender o Hamas ou o Hezbollah sem conceder espaço aos argumentos fundamentalistas? Há muito tempo, na palestina do sul, a luta do califado da retidão já não é só contra o Estado Hebreu. Há, portanto, uma espécie de estatuto moral duplo. Se, de um lado, há consenso que após o 11 de setembro a islamofobia seja inaceitável, de outro, a aversão aos judeus tem sido “naturalizada”, normatizada e regulamentada. A banalização é o primeiro passo ao conformismo. Basta espiar as redes sociais, as manchetes e o escandaloso aumento de ataques “espontâneos” contra judeus na Europa. Da construção lingüística, às imagens super exploradas, Israel vem figurando nos textos e nas charges como agressor, belicoso, hostil, quase uma entidade macabra. São conclamações ao ódio, retocadas como análise política imparcial. Não importa como se mova, para onde e com quem se mova estará, a priori, errado.

 

Uma campanha, sim, dessas publicitárias, que conta até com o apoio de nomes de peso, como intelectuais americanos, europeus e latino americanos. Eles emprestaram seus nomes a uma causa e compraram e foram comprados pela ideia de que um Estado Moderno, democrático, com população de 7.9 milhão de pessoas, multiétnico, incluindo quase 1.6 milhões de árabes-israelenses, pode ter seu direito à existência cassado. Não adianta espernear, evocar paranoia conspiratória ou bufar! É isso mesmo: estamos diante de um tentame de deslegitimização do Estado de Israel. Os doutores chegaram à conclusão que ele não merece mais respirar.

 

Como eutanásia e pena de morte são coisas sérias, caberia entender como alcançaram, depois de meia dúzia de cervejas, este brilhante veredicto. Só o inverno da razão explica como mentes iluminadas concebem execrar um Estado e como isso passou a ser não só aceitável, como politicamente correto.  

 

Por aqui, o governador do Rio Grande do Sul subsidiará um fórum para discutir a questão palestina. É mais que sintomático que não tenham convidado ninguém ligado à Israel. Todos fazem parte do time das convicções absolutas, das ideias acabadas, cabeças formatadinhas. E por que dariam voz à outra versão dos fatos? Mais um palanque para insuflar a demonização do outro lado. Aberrações que o centralismo partidário e o aparelhamento do Estado brasileiro tornaram possível. A proposta viola explicitamente os termos da constituição federal, que não só reconhece o direito à existência de Israel e da criação de um estado Palestino, como proíbe a incitação ao ódio religioso, étnico e racial. E, para satisfação dos que prezam guerra, tentam minar o convívio impar e pacífico que árabes e judeus têm por aqui. A esquerda senil, incluindo a ideológica diplomacia brasileira, vai sendo movida pelo dominante e pré-escolar sentimento de antiamericanismo.

 

Mais um bom exemplo de como monólogos podem ser travestidos de diálogos numa suposta democracia.

 

Sob a cegueira antissionista o mundo parece solidário com organizações que, enquanto escolhem deliberadamente civis como alvos, vestem gravatas e negociam com a diplomacia internacional. São neo-terroristas. Quem os apóia, incluindo os senhores catedráticos, deveria rezar à noite para que seus pedidos jamais sejam atendidos. O risco é acordar com pesadelos lembrando Foucault defendendo o aitolá Khoumeini. Diante desse irrefletido apoio o que será do Oriente Médio com o eventual triunfo do fundamentalismo? O quem nos espera com a aplicação literal das leis religiosas ao modo talibã? Como ficarão as democracias, os tribunais, os direitos das mulheres, das minorias, dos muçulmanos moderados, das comunidades cristãs? Como assistiremos a conversão à espada dos “infiéis” das outras etnias?

  

Na verdade, o que hoje incomoda nos judeus contemporâneos é não mais poder confundi-los com a aura de povo vitimizado pela história, os nômades apátridas, eternamente perseguidos e oprimidos. Agora há um país cujo vigor é, em si, a própria mensagem do “nunca mais”. O que hoje estimula o atavismo antissemita enraizado pelo mundo, é que diferentemente de todos os períodos nos últimos dois milênios, Israel existe e resiste militarmente a sua imediata eliminação, como propõem explicitamente em suas “cartas constitucionais” o regime iraniano e todas suas filiais, Hamas, Hezbollah, Jihad Islâmica e Al Quaeda. 

 

Sim, tudo mudou e pouco teve a ver com a primavera árabe. Se antes o acordo era varrer os párias que atrapalhavam o desenvolvimento europeu, agora o defeito intolerável nos judeus, simbolizados pelo Estado de Israel, é sua força, e, a missão, destruí-los primeiro simbolicamente, depois sua nação e, se possível, com o aval da indiferença do mundo, levar a cabo a solução final.

 

Não vai acontecer. O mais provável é que depois do inverno da razão, o tempo mude para dias mais amenos, com trovoadas e pancadas ocasionais, num novíssimo e refrescante verão do mundo.

 

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”.

 

paulorosenbaum.wordpress.com

 

 

 

Para o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/29/holocausto-subliminar/
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/29/holocausto-subliminar/

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A responsabilidade nasce dos sonhos.

22 quinta-feira nov 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ 1 comentário

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açao penal 470, anomia, antiamericanismo, antijudaismo, antisemitismo, arianos, autocracia, centralismo partidário, centros de pesquisas e pesquisadores independentes, ceticismo, consensos, corrupção genética, fascismo, governo de coalizão, hegemonia e monopólio do poder, Kadhafi, Leis de Nuremberg, livro marrom, livro verde, livro vermelho, manipulação da razão, Mao, mensalão, nazismo e marketing político, nazistas, prosa poética, significado de justiça, terceiro Reich, tribunais de exceção, utopia, virada humanista, Willian Butler Yeats

A responsabilidade nasce dos sonhos.

 

 Por que um dos julgamentos mais importantes da história contemporânea aconteceu em Nuremberg? E por que ao processo que envolveu os genocidas nazis foi selado sob o nome de “tribunal de exceção”? A cidade era uma escolha simbólica, e os fatos, sem paralelo na história contemporânea. Em 1935, naquele histórico sítio alemão, foram editadas as leis raciais e de “proteção do sangue” que inauguraram um dos períodos de sombra da humanidade. Sancionadas pelo chanceler eleito e pelos ministros do interior e da justiça a promulgação daquela legislação tornou-se prova de que a manipulação da razão pode tomar destinos equivocadíssimos, mesmo na democracia. Se esta razão vier escoltada por alguma ideologia então, é mesmo para tremer e esperar pelo pior, sempre! Dito e feito!

 

Se índios, negros e outras etnias não tem alma porque os respeitaríamos rezava o consenso dos juízes da Inquisição. Por que povos inferiores devem ter os mesmos direitos que brancos europeus civilizados, reafirmavam os higienistas. Medições de crânios, a chamada “craniometria” dos cientistas que trabalharam pela e para a ideologia nazista apresentaram suas “evidencias empíricas”: o encéfalo dos não arianos “era menos evoluído e tendia à degeneração”. Os arianos, “intrinsecamente superiores”, representavam a “raça pura, de ascendência sem vícios ou corrupção genética”. Era o apogeu político da eugenia, uma doutrina que embora encontrasse raízes pré-existentes nas ciências naturais, tomou corpo e se fortaleceu graças à causa organizada pelo terceiro Reich. Foi assim que profissionais liberais especialmente médicos, pequenos comerciantes, o grande capital e professores universitários da Alemanha começaram a achar que poderiam acertar as contas com a humilhação decorrente do tratado de Versalhes e se safar da crise econômica com hiperinflação do final nos anos 20.

 

Finalmente, os juízes se prestaram ao papel e começaram a definir novas regras para a sociedade alemã: judeus, ciganos, homossexuais, negros, doentes mentais, mestiços – e alguém se lembrou de incluir gente politicamente desviada – mereciam tratamento especial. O cólume desta arquitetura, todos sabem, resultou no maior drama da história ocidental e, provavelmente, o mais sistemático e sem paralelo massacre da história recente. 

 

A ideologia ariana forçou os cofres do Estado alemão a desembolsar milhões para divulgar e patrocinar a doutrina do Führer, e ali, muitos dizem, o berço da mentira como indústria e, portanto, do marketing político moderno. Centenas de milhões do opúsculo raivoso de Hitler circularam e não possuir um exemplar de “Mein Kampft” tomado como séria ofensa ao Estado. A palavra nazista originária de nazional sozialism – literalmente nacional socialista, diferentemente de matizes à direita e à esquerda do fascismo, comporta uma designação precisa. Trata-se de um termo em franca vulgarização, que tem evocado banalmente o mal genérico e universal. A linguagem não costuma trair. Hoje em dia, se bobear, qualquer porteiro mal educado, jornalista independente ou sujeito crítico corre o risco.

 

Quando o Estado, centralizado em poucas cabeças, obriga todos os outros a segui-las, e há obediência civil, está aberta uma trilha ao abismo. Na lista de aberrações, temos o livro vermelho de Mao, o livro verde de Khadafi, a obra marrom de Pol Pot, fora as outras tonalidades de muitos outros. O mínimo múltiplo comum é que todos eles se auto-intitulam salvadores; sim, claro, de si mesmos. Pois nascem, crescem e morrem com um só objetivo, narcísico, o culto à própria personalidade.

 

Pulo para o nada sóbrio relatório do diretório do partido governista acusando o STF de “tribunal de exceção” e comparando ambos, processo e julgamento, aos procedimentos nazistas. Dado o respaldo popular e apoio maciço aos juízes deixaram para emitir a nota depois das eleições. Professores universitários e jornalistas decanos emprestaram suas habilidades e estilos à causa, dando os retoques finais ao documento. É aqui que nos perguntamos se a isso chamam honestidade intelectual?

 

Bastou para a enxurrada de pseudo-artigos na web, e na grande, média e minúscula imprensa, classificando o julgamento da ação penal 470, “erro jurídico rotundo”. Depois espalharam rumores e insinuações gravíssimas contra a corte jurídica e o procurador geral da República. Além das calúnias, exageros retóricos e grotesca falta de acurácia terminológica esses dirigentes partidários ficaram devendo às novas gerações uma versão verossímil dos fatos.

 

Poderiam ter afirmado, por exemplo, que as penas foram desproporcionais, que as provas deveriam ser mais consistentes, e até esbravejar para discordar da decisão do tribunal. Aliás, ninguém duvidaria que fosse esse o papel do partido. Infelizmente, veio a imprecisão panfletária, a palavra de ordem, a conclamação das massas, o intransigente desrespeito à constituição. Já que uma virada humanista e um governo de coalização parecem alternativas impensáveis, o único e involuntário aspecto favorável da ação dos dirigentes do partido hegemônico talvez tenha sido acelerar sua decadência.

 

Os magnatas do poder podem estar se aposentando coletivamente. Que durmam bem e nem precisam mais mandar notícias. Não custa sonhar que nos novos postos de trabalho, gente mais crítica e mais disposta a ir além do sectarismo ranzinza, assuma responsabilidades e conceda nada além do que deveriam ser nossos direitos naturais: plena cidadania e direito à vida.

 

Viajei, sei que viajei! Mas, como escreveu o poeta irlandês Willian Butler Yeats, é nos sonhos que começa a responsabilidade.  

 

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

 

paulorosenbaum.wordpress.com.br 

 

para o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/22/a-responsabilidade-nasce-dos-sonhos/

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As duas grandes religiões do mundo.

27 domingo nov 2011

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antiamericanismo, antijudaismo, antisionismo, as duas grandes religiões, pacifismo, paz anti natural, tribalismo

Relutei o quanto pude, mas Bernard Henri-Levy estava certíssimo em pelo menos uma percepção: as duas grandes religiões do mundo contemporâneo são laicas, o antiamericanismo e o antisionismo (eufemismo para judeofobia).

Não tenho a menor pretensão de totalizar uma análise das causas históricas que levaram a esse estado de cosias mas não me furto a evidenciar os efeitos da história. As evidencias são longas e impressionantes e um de seus efeitos é claro, a mídia eletrônica está sendo usada contra a paz.

Os ataques que venho recebendo só certificam que o caminho é esse mesmo.

Não moverei um micron da linha analítica que vendo adotando e não por apego ideológico, nem pela condição de judeu contemporâneo não alinhado com nenhum grupo ou escola, mas por uma teimosia fundamentada nas tradições monoteístas: a paz é o objetivo, mas a paz não é natural nos homens.

O tribalismo e o ódio entre grupos rivais, o preconceito racial, etnico ou social (não resistiriam a nenhuma análise) são atavismos que só serão superados se e quando a relação entre as pessoas mudar completamente de configuração ou de espirito, se se quer ser mais radical, enquanto isso não acontecer eles serão necessários para a maior parte das pessoas que se sentem assim pertecentes a uma ou outra tropa.

Este battle-field ou campo de batalha (que James Joyce reformulou como bluddel-filth, sangue sujo) só mostra certo fracasso da experiencia humana em conviver com o diverso e o contraditório.

Rezo para que isso mude.

Rápido.

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Corrupção na linguagem e a nova sombra do mundo

07 domingo ago 2011

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antijudaismo, banalização do Holocausto, corruptelas na linguagem antecipam a corrupção da vida real, nazistas em nossos dias, preconceito contra minorias

Corrupção na linguagem e a nova sombra do mundo

Jornal do Brasil – Publicado em 06/08/2011

Paulo Rosenbaum

Nos últimas semanas pudemos ler e ouvir gente abusando de vitupérios contra os semelhantes, mas, desta feita, os xingamentos tiveram uma peculiaridade: os supostos algozes ou desafetos eram chamados de nazistas. O mais recente envolveu um cineasta e o curador de um festival literário. Não é um caso encerrado porque, cedo ou tarde, isso se repetirá. Reprisemos, na ordem reversa, as cronologias de outros fenômenos emblemáticos: piadas beócias e degradantes vinculando trens de deportação aos campos e uma estação de metrô, cineasta em Cannes confessa simpatia por Hitler, estilista britânico se declara nazista em Paris, escritor luso usa a expressão para criticar o governo israelense. Teocracias e ditadores dizem abertamente que o país judaico deve ser eliminado, teses revisionistas aparecem, primeiro timidamente, depois ganhando surpreendente apoio, sugerindo que o extermínio e os campos de concentração eram invenções dos roteiristas de Hollywood. Como se vê, a língua está bem mais solta. Definitivamente, há algo de podre.

Leia o artigo completo em

http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/08/06/corrupcao-na-linguagem-e-a-nova-sombra-do-mundo/

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Artigos Estadão
Artigos Jornal do Brasil

https://editoraperspectivablog.wordpress.com/2016/04/29/as-respostas-estao-no-subsolo/

Entrevista sobre o Livro

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