Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico

Paulo Rosenbaum

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Ousadia para ouvir

20 quinta-feira jun 2013

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açao penal 470, anomia, centralismo partidário, impunidade, justiça, mensalão, ousadia para ouvir, por um retorno a natureza sem partido verde, tribalismo, tribunais revolucionários, utopia, violencia

Enquanto a inflação volta e a crise econômica se instala, o mercado de opiniões opera em franca oscilação. O que se condena hoje exalta-se amanhã, e vice-versa. Os analistas se desencontram. A coerência e a verdade vão ao sacrifício. Uma coisa parece estável: a tentativa de encontrar culpados pela crise. Ela transitou entre governo federal, globo, políticos de Brasília, gastos da Copa, insegurança e omissão do Estado em assuntos vitais. Ninguém tem razão sozinho. Não se pode ter a tentação de achar que tudo é problema oriundo da inoperância petista. E quanto a essa oposição que engoliu tanto sapo e só agora soluça? Tímida, amedrontada e estudando os benefícios da desorganização. Não tão rápido nem tão simples. E os votos desta moçada? Onde foram despejados? Há poucos meses, sufragaram esses mesmos que agora são contestados.

O problema é que o poder e os poderosos chamaram para si e magnetizaram a ira quando tripudiaram com postes eleitos sem luz própria, com medidas duras de autoacobertamento, e, principalmente, pela arrogância escancarada à luz do dia. Só há uma saída: cultivar a ousadia de ouvir. As ironias e o sarcasmo como que foram se liberando, e não passaram despercebidos pelos homens e mulheres comuns que agora marcham.

Sabe quem pode ter decifrado fração importante destes nós? Sob o incômodo exercício da função de máxima autoridade judiciária da República,  Joaquim Barbosa afirmou que os partidos no Brasil eram “de mentirinha”. Talvez pudesse não ter dito isso sendo quem é, e representando o que representa. Mas julguem por vocês mesmos mediante observação das ruas. Aquela verdade inconveniente não continha mais que mero fundinho de razão? Muita gente — a maioria que assistiu ao desenrolar das discussões no STF — gritava “sem partido, sem partido”. É inegavelmente um novo fenômeno social, que vai gerar implicações políticas adiante.

E agora? Espera-se civilidade e respeito, sem dúvida. Mas por que temos a sensação de que o poder público está se omitindo? Medo das massas? Aflição pela sangria de votos já em curso? Para garantir a integridade dos manifestantes e das cidades estamos testemunhando um colapso paralelo. O estado de direito ainda deve ou não prevalecer numa democracia? Cidadãos podem aplaudir, mas não querem ser acuados pela liberdade dos outros. É para esperar os tribunais revolucionários? Para quando? Vai ter fórum privilegiado para quem apoiou?

Pode-se perguntar como fica o direito dos que não se manifestaram?   Vinte e dois hospitais nos arredores da Paulista não têm podido funcionar adequadamente e em outras capitais mais gente ficou sitiada. Alguém contabilizou? Alguém sabe o que isso significa para as famílias com parentes internados? Estão se lixando? Um detalhe? Ah, isso é coisa de burguês? Mas o risco de se aglutinar é esse mesmo. Perder a individualidade, abandonar-se à transcendência horizontal, e, com isso, esquecer do motivo que, em última análise, nos impeliu às ruas: opor-se ao massacre do sujeito.

Deveríamos sempre lembrar que, em qualquer causa justa, renunciar à delicadeza é o princípio do fim.

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/06/20/ousadia-para-ouvir/

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Irretocável Política

16 quinta-feira maio 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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açao penal 470, autocracia, centralismo partidário, centros de pesquisas e pesquisadores independentes, democracia, educação política, governo federal, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, manipulação, medidas provisórias, mensalão, odeio a classe média, política como risco à saúde, propaganda eleitoral, significado de justiça, silência dos intelectuais

Jornal do Brasil

Quinta-feira, 16 de Maio de 2013

Coisas da Política

Hoje às 06h46

Irretocável política

O escalpo político eleitoral a céu aberto durante as votações das Medidas Provisórias, onde emendas multimilionárias são negociadas pelo governo federal, usando dinheiro dos contribuintes para pagar votos dos representantes do parlamento, poderia ter muitos nomes. Voto em cambolhada de grelos.

Quem acompanha noticiários políticos – que tragam tarjas de advertência “ risco à saúde” – já deve ter abandonado de vez a ilusão da lógica, da coerência e de um processo civilizatório. Ainda que o barco esteja sendo mantido na superfície e a economia dê sinais de tímida estabilidade, o maior problema do País é, de longe, a política.

A cerimonia de beija-mão do vice governador de SP contra o anel presidencial só desnuda toda fragilidade. Avolumam-se as tentativas e arranjos partidários para, numa frente inédita, desestabilizar o STF. Há gente graúda e muito capital disponível para apostar que, se tudo der certo, um novo julgamento será provocado e, desta vez, o placar os favorecerá. É como jogar partidas tantas vezes quanto for preciso até que o resultado favoreça o time perdedor.

Esgotados todos os recursos, já não se trata de ser contra ou a favor do que o Supremo decidiu, o que está sendo jogado agora está em outro campo, muito mais perigoso que o veredito da Corte. O que entra na balança é a lisura e autonomia de poder das instituições. Lula acaba de verbalizar que não existe político irretocável. Ninguém nem de longe sonharia com tal aberração. O que interessa é o que seu discurso ocultou. Travestido na língua fácil, a verdadeira afirmação, o mote de seu partido e da frente que os apoia: Políticos são esses aqui mesmo! Aceitem, ou, danem-se e engulam. E para dar o toque final alguém lá da mesa fez um voto de “ódio à classe média”. Curioso.

A estratégia do marketing do PT – apoiado em extensas pesquisas qualitativas – fez fundir a imagem do ex-presidente com a presidenta em quadros de meia tela que ora se sobrepunham e deslizavam de lado, sempre se alternando em nobres promessas. No show: “Você que já tem sua casinha, seu carrinho, seu computador agora terá muito mais…” A farsa teve um extra inédito. A inclusão de um surpreendente texto de propaganda. Agora entre outras benesses ofertadas para quem continuar votando no Partido estava “doutorado no exterior”? Com o triunfalismo barato do uso do diminutivo e fazendo usufruto da estabilidade conquistada também às custas dos governos anteriores, o ex-presidente, como de hábito, joga todos os méritos da fartura em si mesmo e em sua claque. E aproveita para caluniar a mídia como a grande criadora de fantasias. A imprensa livre cria conceitos impossíveis e monstruosos, como políticos ideais, amantes da ética, respeito à coisa pública.

Inverter a conspiração é rigorosamente a repetição de uma estratégia eleitoralmente vitoriosa. Eles se fazem passar por vítimas, não são os perseguidores ou os agentes do mal feito. Inegável, eles são mesmo imbatíveis.

O trágico não se restringe ao momento, mas ao que isso significa em termos de educação política. Não é só repisar as mentiras até que passem como verdades, o que buscam é o aperfeiçoamento progressivo dos vícios. Essa sedução anestesia e funciona bem para o que se presta. De tanto apanhar vamos ficando insensíveis e desinteressados. Daí à generalização é um passo. A imagem de que todos os políticos bebem da mesma taça, vai ganhando materialidade. Gerações vindouras ou os tomarão como exemplo (afinal é só isso que conhecem do mundo político) ou refluirão às suas vidas privadas já que “não tem conserto mesmo”.

Um desserviço à República. E o plano era esse. Explicitar que o sistema foi criado para sustentar o vício.

Sob o profundo desprezo que têm pela opinião pública, os governantes do País abusam da ideologia negacionista. Não há descontrole das finanças, não há epidemia de violência, não há conflito de interesses e tudo bem que o público e o privado estejam de mãos dadas. A novidade está na tranquilidade. Impunidade baseada em evidencias, por suposto. Enquanto amigos da corte nunca estiverem tão protegidos e subsidiados, todos nós nos tornaremos alvos fáceis do arbítrio. Não é delírio. Aconteceu na Venezuela, na Argentina, na Bolívia, no Equador. Operações cala boca e dossiês podem estar sendo preparadas para fazer cortina de fumaça aos capiangos. Nosso crime? Testemunhar a distorção, calculada e seletiva, no uso das leis e das regras constitucionais.

O expressivo silêncio dos intelectuais, a esta altura uma afasia, continua inexplicável.

Estamos por conta. Minha aposta é que não passarão.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/05/16/irretocavel-politica/

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O Indefensável

10 quinta-feira jan 2013

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açao penal 470, aspirações impossíveis, autocracia, autocritica, Base aliada, centralismo partidário, constituição, direita e esquerda, Genoíno, gozo, hegemonia e monopólio do poder, livrarias, manipulação, Mao, mensalão, mundo interior, posse e mandato, PT, resistencia à tirania, significado de justiça, utopia

O Indefensável

Será que nos lembraremos deste momento? Onde estávamos nós diante da onda de cartas à redação, artigos, suspiros em mesas de bares e murros nas mesas nos restaurantes? E o que fizemos nos aeroportos, em postos de gasolina, em cinemas e lanchonetes? Há relatos de editores bufando em redações e palavrões em livrarias. Sim, ele tomou posse. Sim, disse que com a consciência tranquila.

Mas repare que os clamores moralizantes pelo Pais afora pode produzir um efeito paradoxal. A revolta coloca um julgamento essencialmente justo, sob a suspeição de ser um indutor de justiça selvagem. É claro que é falso. Mas ao contrário deles somos adeptos da autocritica. As reações não estão descalibradas? Os cidadãos são guardiões simbólicos da justiça, não seus sócios ou gerentes executivos.

A dignidade agora é uma refeição que se come crua e com as próprias mãos? Que alívio que não se queimam mais culpados em praça pública, um horror, não é mesmo? Hoje, basta execrá-los, aplique-se o bullying autorizado e vamos lá, até as últimas consequências.

Precisamos recusar o ridículo clima de escárnio generalizado contra quer que seja. Ainda que estejamos protegendo escarnecedores. Ainda que a postura civilizada se estenda ao partido mais intolerante do continente. Ainda que seja gente que, a depender do contexto, nos executaria. Não importa. Não é por bom mocismo. Não tem nada a ver com o politicamente correto. É por princípio! Por ele é que devemos garantir a todos, condenados ou não, o gozo das prerrogativas e o esgotamento dos recursos legais. Não era isso mesmo que até a antevéspera pedíamos? Que todos fossem iguais perante a lei? Para o bem e para o mal? Será que é porque às vezes queremos leis, e, às vezes, exigimos exceções?

Quem se importa se ele foi ingênuo, omisso, instrumentalizado ou só culpado? Tanto faz se a serenidade ostensiva revele indiferença à opinião pública. E por que o espanto? A marca registrada desse governo não é exatamente o desdém raivoso por todos que discordam?

Neste sentido, que tal dar exemplo? Vamos ser regidos pela cabeça e não pelo ventre. A Republica baseada em ventre geralmente acaba vertendo as próprias entranhas. Aquela governada pela cabeça pode ter milhões de defeitos, ainda assim, o dano é bem menor.

Deixemos que os juízes e a constituição se encarreguem dos salvadores da nação. Durante a revolução cultural chinesa havia um canto obrigatório nas escolas: “O camarada Mao ama mais cada um de vocês do que os seus pais”. Claro que os amava, assim como todos os libertadores das massas dizem amar.

Além disso, todos evocam em sua defesa o processo socrático, malgrado ignorem o conselho vital dali derivado: só temer a própria consciência. Mas, para isso, teriam que confrontá-la, e isso, a ideologia não perdoa.
A maturidade consistente vêm sem revolução, desce até nós através da educação e da cultura. Saberemos que chegou quando rejeitarmos a onipotência dessas pajens coletivas. Notem que eles dependem do culto à personalidade para viver. Viver às nossas custas. Nos amam tanto, nos querem tão bem, que, para facilitar as coisas, personificaram o Estado. Isso não é esquerda, isso não é direita, a rigor isso não é nada, a não ser usurpação das instituições.

Você que ainda consegue dormir tranquilo e preza a liberdade, melhor guardar vigília. É questão de tempo até que impliquem com quem não se curva. E a resistência à tirania pode ser o último reduto da ética.

O trágico está em não termos conseguido nos livrar de líderes totalitários disfarçados de paizões. Está em nosso histórico comportamento infantil que alimenta expectativa de lideranças infalíveis. É com esse messianismo laico que lentamente submergimos a América Latina no leque de caudilhos.

Se ouvíssemos a voz sussurrante da história: República alguma deu certo com projetos personalistas! Se não desfulanizarmos a Republica, ela é quem fará isso conosco. Poupemos energia para o que conta: votos amadurecidos nas próximas eleições, correção dos equívocos que temos colocado no poder, e, por último, mas mais importante: ocupe-se de si mesmo. E do que mais nos ocuparíamos?

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”(Ed. Record)

Paulorosenbaum.wordpress

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A responsabilidade nasce dos sonhos.

22 quinta-feira nov 2012

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açao penal 470, anomia, antiamericanismo, antijudaismo, antisemitismo, arianos, autocracia, centralismo partidário, centros de pesquisas e pesquisadores independentes, ceticismo, consensos, corrupção genética, fascismo, governo de coalizão, hegemonia e monopólio do poder, Kadhafi, Leis de Nuremberg, livro marrom, livro verde, livro vermelho, manipulação da razão, Mao, mensalão, nazismo e marketing político, nazistas, prosa poética, significado de justiça, terceiro Reich, tribunais de exceção, utopia, virada humanista, Willian Butler Yeats

A responsabilidade nasce dos sonhos.

 

 Por que um dos julgamentos mais importantes da história contemporânea aconteceu em Nuremberg? E por que ao processo que envolveu os genocidas nazis foi selado sob o nome de “tribunal de exceção”? A cidade era uma escolha simbólica, e os fatos, sem paralelo na história contemporânea. Em 1935, naquele histórico sítio alemão, foram editadas as leis raciais e de “proteção do sangue” que inauguraram um dos períodos de sombra da humanidade. Sancionadas pelo chanceler eleito e pelos ministros do interior e da justiça a promulgação daquela legislação tornou-se prova de que a manipulação da razão pode tomar destinos equivocadíssimos, mesmo na democracia. Se esta razão vier escoltada por alguma ideologia então, é mesmo para tremer e esperar pelo pior, sempre! Dito e feito!

 

Se índios, negros e outras etnias não tem alma porque os respeitaríamos rezava o consenso dos juízes da Inquisição. Por que povos inferiores devem ter os mesmos direitos que brancos europeus civilizados, reafirmavam os higienistas. Medições de crânios, a chamada “craniometria” dos cientistas que trabalharam pela e para a ideologia nazista apresentaram suas “evidencias empíricas”: o encéfalo dos não arianos “era menos evoluído e tendia à degeneração”. Os arianos, “intrinsecamente superiores”, representavam a “raça pura, de ascendência sem vícios ou corrupção genética”. Era o apogeu político da eugenia, uma doutrina que embora encontrasse raízes pré-existentes nas ciências naturais, tomou corpo e se fortaleceu graças à causa organizada pelo terceiro Reich. Foi assim que profissionais liberais especialmente médicos, pequenos comerciantes, o grande capital e professores universitários da Alemanha começaram a achar que poderiam acertar as contas com a humilhação decorrente do tratado de Versalhes e se safar da crise econômica com hiperinflação do final nos anos 20.

 

Finalmente, os juízes se prestaram ao papel e começaram a definir novas regras para a sociedade alemã: judeus, ciganos, homossexuais, negros, doentes mentais, mestiços – e alguém se lembrou de incluir gente politicamente desviada – mereciam tratamento especial. O cólume desta arquitetura, todos sabem, resultou no maior drama da história ocidental e, provavelmente, o mais sistemático e sem paralelo massacre da história recente. 

 

A ideologia ariana forçou os cofres do Estado alemão a desembolsar milhões para divulgar e patrocinar a doutrina do Führer, e ali, muitos dizem, o berço da mentira como indústria e, portanto, do marketing político moderno. Centenas de milhões do opúsculo raivoso de Hitler circularam e não possuir um exemplar de “Mein Kampft” tomado como séria ofensa ao Estado. A palavra nazista originária de nazional sozialism – literalmente nacional socialista, diferentemente de matizes à direita e à esquerda do fascismo, comporta uma designação precisa. Trata-se de um termo em franca vulgarização, que tem evocado banalmente o mal genérico e universal. A linguagem não costuma trair. Hoje em dia, se bobear, qualquer porteiro mal educado, jornalista independente ou sujeito crítico corre o risco.

 

Quando o Estado, centralizado em poucas cabeças, obriga todos os outros a segui-las, e há obediência civil, está aberta uma trilha ao abismo. Na lista de aberrações, temos o livro vermelho de Mao, o livro verde de Khadafi, a obra marrom de Pol Pot, fora as outras tonalidades de muitos outros. O mínimo múltiplo comum é que todos eles se auto-intitulam salvadores; sim, claro, de si mesmos. Pois nascem, crescem e morrem com um só objetivo, narcísico, o culto à própria personalidade.

 

Pulo para o nada sóbrio relatório do diretório do partido governista acusando o STF de “tribunal de exceção” e comparando ambos, processo e julgamento, aos procedimentos nazistas. Dado o respaldo popular e apoio maciço aos juízes deixaram para emitir a nota depois das eleições. Professores universitários e jornalistas decanos emprestaram suas habilidades e estilos à causa, dando os retoques finais ao documento. É aqui que nos perguntamos se a isso chamam honestidade intelectual?

 

Bastou para a enxurrada de pseudo-artigos na web, e na grande, média e minúscula imprensa, classificando o julgamento da ação penal 470, “erro jurídico rotundo”. Depois espalharam rumores e insinuações gravíssimas contra a corte jurídica e o procurador geral da República. Além das calúnias, exageros retóricos e grotesca falta de acurácia terminológica esses dirigentes partidários ficaram devendo às novas gerações uma versão verossímil dos fatos.

 

Poderiam ter afirmado, por exemplo, que as penas foram desproporcionais, que as provas deveriam ser mais consistentes, e até esbravejar para discordar da decisão do tribunal. Aliás, ninguém duvidaria que fosse esse o papel do partido. Infelizmente, veio a imprecisão panfletária, a palavra de ordem, a conclamação das massas, o intransigente desrespeito à constituição. Já que uma virada humanista e um governo de coalização parecem alternativas impensáveis, o único e involuntário aspecto favorável da ação dos dirigentes do partido hegemônico talvez tenha sido acelerar sua decadência.

 

Os magnatas do poder podem estar se aposentando coletivamente. Que durmam bem e nem precisam mais mandar notícias. Não custa sonhar que nos novos postos de trabalho, gente mais crítica e mais disposta a ir além do sectarismo ranzinza, assuma responsabilidades e conceda nada além do que deveriam ser nossos direitos naturais: plena cidadania e direito à vida.

 

Viajei, sei que viajei! Mas, como escreveu o poeta irlandês Willian Butler Yeats, é nos sonhos que começa a responsabilidade.  

 

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

 

paulorosenbaum.wordpress.com.br 

 

para o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/22/a-responsabilidade-nasce-dos-sonhos/

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O Sequestro do Estado

25 quinta-feira out 2012

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açao penal 470, anomia, autocracia, cala boca, centralismo partidário, Democracia grega, Eleições 2012, elites, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, instituições financeiras, Julgamento Mensalão, justiça, manipulação política, mensalão, o pobre, pobres, poder absoluto, política, regimes, sequestro do Estado, significado de justiça

O Sequestro do Estado

Autocracia, do grego, autokráteia – força própria, poder absoluto.

Estudos econômicos recentes apresentaram realidades paradoxais. Se por um lado no século XX as condições sócio-sanitárias avançaram, o fosso que separa a extrema pobreza da extrema riqueza aumentou muito e a crise mundial propagada veio para dar o golpe de misericórdia no abismo. Esta incapacidade crônica de resolver o apartamento entre os que podem comer e os que não gozam do direito de perguntar por que continuam famintos, representa bem o malogro da política globalizada como instituição. Mas há um perigo muito maior nessa vergonhosa calamidade. As cinzas tem potencial assustador para gerar lideres totipotentes, os quais, geralmente, ficam à frente de governos cínicos. Facciosos, auto referentes e boquirrotos, eles formam a nova elite politico-econômica. Não vieram de onde vieram, pequena burguesia ou da pobreza para mudar nada, apenas ocuparam um lugar que antes não lhes pertencia. O problema é que mimetizaram os valores que antes atacavam ferozmente e se tornaram versões aperfeiçoadas dos antigos algozes. Hoje manipulam os mais pobres exatamente como machistas usam as mulheres. O pobre vai de mão em mão, transformado em objeto, sem acesso a ser player do jogo capitalista, oprimido por impostos e feliz por subsistir na miséria. Seu único préstimo é sustentar a autoilusão de que o regime é feito para eles, e por um deles.
A verdade é que regimes totalitários costumam governar com as instituições financeiras, o grande capital acionário e as elites econômicas. Essa dupla miragem impõe à sociedade inteira um efeito colateral. A verdadeira calamidade é que o favorecimento de governos populistas (distingua-se populismo de governo popular) entorpece a capacidade crítica e permite o cala boca da maioria na surdina, sem alarde. Pudera, quem pode falar quando são 70 e tantos por cento de aprovação?
Para conseguir tudo isso foi preciso saciar a fome sem prover renda, substituir educação e melhores condições de vida pela subserviência ao paternalismo de Estado, desqualificação da educação superior, e abandono do critério de mérito e esforço para lograr a ascensão sócio cultural. São rebaixamentos que seduzem. Acabam atingindo a oposição que se viu obrigada a renunciar seu papel fiscalizador e/ou associar-se comportadamente para compor com o governo: assim nasceu a base alugada.
Pois então que respondam os prezados leitores: Em qual República do mundo uma cúpula partidária inteira é condenada por corrupção ativa e os mandatários passam incólumes e continuam se elegendo e aos cúmplices, como se a suprema corte estivesse batendo martelos no açougue? Em qual Pais do mundo o uso da máquina pública é abertamente colocada a serviço de candidatos do regime e não se ouve uma palavra de protesto, uma contestação, um pio? Em qual Nação contemporânea, diante de sucessivos escândalos envolvendo sinistros interesses públicos e privados, a situação cresce e a oposição míngua?

Cautela é vital. A razão mostra que nem todos os políticos podem ser equiparados e o fenômeno motivador da ação penal 470 é essencialmente pluripartidário.

Mas há uma diferença, a fundamental: quem ataca a justiça ou a protege.
Os primeiros acham que a lei é uma espécie de guarita, um apêndice governamental, que os cargos de confiança facultam impunidade e, caso derrotados, ainda podem aguardar o indulto. E existem aqueles poucos que sabem que a justiça é a garantia, a única, que nos assegura os direitos individuais, liberdade e equidade. Confundir estes dois tipos e dizer que “são todos iguaizinhos” é embarcar na cortina de fumaça e fazer troça da constituição, como aliás farão os réus e seus padrinhos a partir de domingo a noite, assim que as urnas forem lacradas. Tudo devidamente acobertado por parcela da comunidade intelectual que agora arma a difamação do único poder atualmente independente da República, o Judiciário.

Como exercício de antecipação isso nos deveria fazer pensar que, se nada for feito, em qual tipo de ditadura nos transformaremos adiante.

Ao sequestrar o Estado, esse governo avança lentamente para aplicar os devidos torniquetes contra a liberdade de expressão, como já anunciaram os falcões do partido. O pedido de resgate já não interessa, preferem se apoderar da vítima para sempre. De servidor do povo, o Estado passou a se servir dele para consolidar seu projeto político monológico. O povo somos todos nós, ELES a nova elite, fazendo caixa pelos mais variados motivos. Recomenda-se o recentemente divulgado vídeo com a impressionante entrevista de Hélio Bicudo para entender melhor de quanto se trata. O mensalão foi apenas um detalhe dessa sofisticada maquinação, que não fica nada a dever às táticas dos regimes mais truculentos e autoritários. A julgar pela inércia, o Pais ainda não está pronto para ser passado a limpo, teremos que aguardar outro julgamento, o histórico, para saber a distancia que estivemos da autocracia.

O consolo? Passa por um velho princípio da física, a lei a gravidade. Neste mundo todos os corpos são irresistivelmente atraídos ao solo e tendem à queda, se é que não serão derrubados antes!

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”(Ed. Record)

Paulorosenbaum.wordpress.com

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Vale tudo, torcer e arbitrar 

02 quinta-feira ago 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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açao penal 470, conflito de interesses, justiça, mensalão, The Economist

Vale tudo, torcer e arbitrar

Em carreira meteórica o vale tudo se transformou no esporte mais popular no mundo. Dizem que superará o futebol. Sem julgamentos e longe das prospecções morais cabíveis, o vale-tudo é um perfeito símbolo dos nosso tempos.

Mas o vale tudo, que mudou de nome, se espalhou por toda parte. O símbolo do vale tudo é que as regras hoje favorecem o predador, quem cria o fato, o mais rico ou os milhões de “você sabe com quem está falando?”. Nesta nova versão da lei do mais forte isso equivale dar passagem para quem dá mais porrada, quem tem o joelho mais pontiagudo, e quem se adaptou melhor ao Coliseu das competições. A competição, dizem, tem sido o combustível do progresso.

Nos jogos temos que escolher um lado, e para escolhe-lo temos que torcer. Pouca importa que seja Fla-Flu, Gre-Nal Cor-San, olimpíadas, megasena ou a novela das 8, o fato é que todo mundo torce por alguma coisa.

Ouviu-se dizer que Dilma torce para que os acusados da “ação penal 470” sejam absolvidos. O PT torce para que seus candidatos não saiam prejudicados já que o projeto original continua. Isso já com a sociedade “avisada” de que se o julgamento for “político” a Central Sindical paralisará o país. Os réus, incluindo o acusado de ser co-mentor do esquema, torcem para que seus nomes pulem de réus para o hall dos mártires injustiçados. Os intelectuais de partido torcem para que tudo passe rápido a fim de que ninguém mais lhes cobre o silencio indevido. Os marquetólogos torcem pela grande borracha na mídia (já que a mordaça desta vez não colou). Os jornais sensacionalistas torcem por furos que escapem dos autos do processo, enquanto os advogados de defesa por brechas jurídicas e meios de desqualificar os consistentes relatórios do procurador geral. Os promotores torcem para que eles não as enxerguem. O homem comum torce para que se de um basta no assunto, de preferencia com alguma consequência que ele possa entender (80% das pessoas desconhece o significado do “mensalão”).

A oposição encurralada torce para que o processo não respingue sobre suas hostes. A imprensa paga pelo Estado pode se dar ao luxo de torcer discretamente enquanto, bem alimentada, ela cuida da guerra de dossiês. Os partidos nanicos torcem por sobras: com mais pressão da mídia, barganhas são trunfo extra nas negociações do horário eleitoral. O PMDB torce para ser esquecido e assim permanecer o mesmo: indefenestrável dreno no pescoço do Estado.

Os juízes torcem para que suas análises técnicas não sejam deturpadas. Para os apaixonados por causas, bem para esses não há mesmo muita saída. No julgamento mais relevante da história republicana qualquer condenação será tomada como golpismo conservador, toda absolvição, obrigação histórica.

Para nossa sorte a opinião publica brasileira é muito mais complexa do que as previsões do poder.

Como se vê estamos todos enrolados em bandeiras especialmente naquelas que não conseguimos enxergar.

Pois esse é o ponto mais perigoso na estrada da democracia.

Quando um arbitro julga ele não deve ser parte interessada e a isso convencionou-se chamar de ”conflito de interesse” Pois rapidamente um dos ministros superou o drama de consciência, tomou partido, e escolheu arbitrar. O problema, nesse caso, não está em como julgará, mas o equilíbrio de sua avaliação. O auto-julgamento requer um prumo milimétrico, instrumento para poucos, na balança entre legalidade e moralidade, lealdade e dever. A divisão é sutil, o impacto gigantesco. Agora é tarde, mas a análise deveria começar lá atrás quando o problema foi gerado, numa legislação equívoca, que prevê indicação de Juízes a partir dos lobbies e interesses do executivo.

Na cadeira magistral, especialmente instalada bem longe dali, repousa incólume a cabeça-mãe de todos os estratagemas adotados. Ela é a única que não torce porque para torcer seria necessário qualquer dúvida da vitória. E ela pensa que já ganhou. Está mais do certa que fez o que precisava fazer e que é assim que se governa (dai o pavor que a liberdade tem dos homens de convicção!) Estas certezas provem da crença em sua estrela, afinal seria muito improvável que alguém que comandou a deixasse cair. Esta cabeça não torce pela verdade, ela seria insuportável. Sem os dogmas, a verdade desabaria sob o peso de sua comprometida coroa.

Ainda que muitos ali sejam réus confessos, ninguém tem autoridade suficiente para lançar a primeira pedra, mesmo que pareçam muito distantes do arrependimento. Os críticos e gente onde a palavra ética ainda tem valor prático torcem por punições, os pragmáticos pela repatriação do dinheiro público desviado do Banco do Brasil. Aqueles que amam a Republica e a liberdade acima das causas, torcem pela pedagogia simbólica das eventuais penalidades, para ultrapassar o castigo e alcançar a reeducação. Vale dizer, afasta-los de vez da coisa pública.

Mesmo que a justiça tarde, cabe enxergar o mérito antecipado e a inconteste vitória de toda sociedade nesse julgamento; isso mesmo que os cabeças saiam da sala do STF impunes. Um julgamento desta natureza, inconcebível há alguns anos atrás, é, hoje, notável avanço institucional, conforme reconheceram os editorialistas do ˜The Economist”.

O papel das pessoas é facilitar o nascimento daquilo que não é espontâneo ou óbvio numa sociedade. Nem tudo vale e assim como na indução aplicada num experimento científico, nossa prerrogativa é viabilizar os sentidos para as coisas.

A escada é alta, a direção incerta, mas o passo foi dado: um degrau rumo à justiça.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É Autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)
Paulorosenbaum.wordpress.com

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