• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico-Writer and physician

Paulo Rosenbaum

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A arte de truncar diálogos

03 sábado maio 2014

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A Verdade Lançada ao Solo, autocracia, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, liberdade, manipulação, significado de justiça, violencia

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Jornal do Brasil

Sábado, 3 de Maio de 2014

Coisas da Política

Hoje às 06h00

A arte de truncar diálogos

Paulo Rosenbaum  –  médico e escritor

Mais uma vez  a cultura do escândalo no país das acusações. Todos na retranca. Acusa-se governo, oposição, e as elites. Há muita gente atrasada, mas elas estão distribuídas em todas as classes sociais.  E o desperdício de energia só para saber se a CPI seria exclusiva da Petrobras? Enquanto tudo merece apuração, o que se vê são mais cortinas de fumaça. Parece que o jogo político vem se tornando completamente autorreferente. Sinal grave num país que tem urgências e contas improrrogáveis para acertar.

Nas ruas tardoanarquistas, piromaníacos revanchistas, guerrilhas saudosistas. Não estão, nunca estiveram propensos à disposição dialógica. Estão confortáveis com a simplificação: “bons e maus”.  Mas é claro: reforma política à la carte. Todos surdos para a sociedade berrando: chega! Ninguém mais pode levar a sério a língua solta, a fanfarronice, o gogó demagógico, o surto ideológico., o oportunismo marketológico. O culto à personalidade gera pelo menos um efeito colateral: figuras que se recusam a encarar que seu ciclo e tempo findaram. Talvez isso explique o desespero, o apelo à violência, o discurso hostil, o empirismo tosco.

Precisamos nos livrar da dívida permanente, aquela que  mantém pessoas reféns do Estado. A democracia foi projetada exatamente para que as pessoas se emancipem e não sejam subjugadas pelo poder abusivo. O Estado de Direito funciona para que a maioria e as minorias convivam, e sejam mutuamente protegidas. Vivemos em plena inversão: Estado mínimo nos interesses máximos, Estado máximo nas prioridades fúteis.

A ridícula polarização entre direita e esquerda é uma forma de não encarar os verdadeiros desafios da cidadania. Dividir a política entre conservadores e revolucionários é uma forma de condenar à invisibilidade todas as categorias intermediárias.

Para avaliar gente que quer os cargos políticos, dois critérios contam: criatividade e capacidade para apresentar soluções. A eleição bem que poderia decretar extintos autocratas e carismáticos persuasivos. Aquela turma que costuma eleger-se e aos seus protegidos, sem o menor tino prático para conduzir a administração.

A inadimplência do Estado para com a sociedade não é financeira, é moral.

Ninguém duvida que a redução para o embate ideológico puro é manobra anestésica. Acaba beneficiando o mal feito, os acordos lesivos aos interesses públicos, a condução equivocada na escolhas das verdadeiras necessidades.

Uma jovem democracia pode se submeter a tantas pressões sociais sem que as instituições tenham encontrado o ponto de solidez e amadurecimento necessárias para isso? Miremos outros exemplos pelo mundo.

É necessário romper a linha que trunca o debate político para além da nostalgia revolucionária e da imaturidade reacionária.

A agenda do país agradece.

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2014/05/03/a-arte-de-truncar-dialogos-2/

 

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Senhor de Baraço e democracia – Blog Estadão

15 sábado fev 2014

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autocracia, democracia, hegemonia e monopólio do poder, liberdade, manipulação, mensalão, significado de justiça, utopia, violencia

Conto de noticia
Conto de Notícia, Paulo Rosenbaum
15.fevereiro.2014 21:11:09

Senhor de baraço e democracia

 

Democracia líquida

Eles ainda acreditam em Stalin, eu duvido de mim mesmo. Eles têm convicção, nós oscilamos. Vivem dizendo que os outros não prestam, enquanto é óbvio que a maioria tem valor. Segundo eles, quem se opõe é cara de pau desalmado. E o espírito lá sobrevive sem contrapontos? Em suas governanças, desavenças asseguram o poder. Pregam que arredar pé é sinal de fraqueza. Como nada está garantido, é necessário apreciar quando o vacilo está coberto de cautela. Naturalizar os abusos não desconfigura a aberração e nem é porque estão vendidos que somos compráveis. Eles tratam, preferimos cuidar. Eles se ocupam em dividir o que estava em vias de unificação. Melhor compartilhar a ditar os consentimentos. Eles discriminam, nós assumimos as preferências. Manipulam a esquerda, usam a direita. A gente não se anima mais com alinhamentos, nem lado algum. Enquanto criam alardes, apreciamos a reserva. Diante da agitação, recolhimento. Euforia, atenção. Porrada, delicadeza. Improviso, algum planejamento. Destempero, circunspecção. Oportunismo, justiça. Balas de borracha, pneus para boiar. Dossiês secretos, arquivos abertos. Dedo em riste, aperto de mãos. Personalismo, ideias. Destempero, diálogo. Estratégia, convívio. Maniqueísmo, aceitação dos contrastes.

Autocracia, democracia.

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A República não é o Partido – Blog “Conto de Notícia”

24 domingo nov 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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A República não é o Partido, abolição do conflito de interesses, centralismo partidário, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, justiça, manipulação

 A República não é o Partido

Uma temerária cascata toma conta da República.  A nova oligarquia política nos impinge dias em que a tríade clássica da democracia – independência de poderes, respeito à livre expressão e governo exercido para todos — está suspensa por decreto. A desenvolta ação envolve agora mais do que uma adesão acrítica aos companheiros de causa. Não há mais inibição no atropelo da legislação, unilateralmente aboliu-se o tópico “conflito de interesses”. Para obter produtos políticos, desmoralize-se o outro poder. Acusem o juiz, esqueçam a ordem das coisas, acionem isqueiros perto das instituições. Se for para intensificar o domínio da coisa pública borrem a constituição. E se for pelo poder, aí então, aplique-se o tal golpe imobilizador do vale tudo.

Sim, até para eles existem limites. A República não é o Partido.

Se a trama era refundar o Estado precisavam antes combinar com os eleitores.

Quando agentes governamentais agem aberta e corporativamente sob o pretexto que for, para desqualificar opositores e críticos. Quando o poder imagina que o diálogo com a sociedade é um detalhe desprezível. Quando as forças que poderiam coibir os abusos estão amedrontadas ou desmoralizadas pelas gavetas, chegamos nas bordas de um temível retrocesso.

Os cofres podem estar abarrotados de dossiês, e só a justiça pode discernir a verdade dentre calúnias e litigâncias oportunistas. Nem que seja por causas humanitárias, merecemos todos mais isenção e seriedade. 

Nossas cabeças não aguentam mais picotar papel.     

Para comentar use o link do Blog do Estadão

 http://blogs.estadao.com.br/conto-de-noticia/o-republica-nao-e-o-partido/

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Peçamos o inconcebível

22 quinta-feira ago 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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centralismo partidário, embargos, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, justiça, manipulação, significado de justiça, STF, utopia

  • Ainda que o gigante pareça estar em crise de narcolepsia e a economia em turbulência, perdura a necessidade de acreditar que nossa jovem democracia avance.  Mais que isso, a fé se tornou um imperativo.

Justiça seja feita. Nos últimos 20 anos conseguiu-se expressivo aumento do IDH da maioria dos municípios brasileiros. Malgrado o país tenha melhorado em muitos aspectos, especialmente na desigualdade social — ainda uma das 10 piores do mundo — não se conseguiu (coletivo, todos nós) inculcar na elite, nos dirigentes e na própria população uma das qualidades essenciais da democracia. Aqui há, sim, um principismo: que assumamos as responsabilidades.

Sem esta qualidade viveremos em solavancos e de sustos. Revolucionar valores tem a ver mais com o mundo que valoriza qualidades do que com o que os grupos escrevem em suas plaquetas. Curioso é que parecem todos as favor. Se não há ninguém contrário às  mudanças, o que estamos esperando?

Mas, e se as regras que permitiriam o resgate da cidadania estiverem cercadas pelas catracas do atraso e de um anacrônico sistema cartorial? E se  a burocracia continuar a engessar a liberdade? Sair por aí contestando sem foco, sem direção e especialmente sem princípios não é saída, é escapatória autoilusória.

Crescer não significa abandonar ambições e expectativas, nem a derrocada da utopia que nunca chegou. O amadurecimento tem a ver antes com enfrentar as consequências dos próprios atos. Não que seja fácil ingressar no mundo adulto, mas é o que podemos exigir dos que postulam e ocupam cargos públicos.

Sejamos sensatos, peçamos o inconcebível, quem sabe conquistamos o plausível?

Os anarquistas que depredam as vias públicas são a antítese da revolução

A maturidade ensina que a demolição prematura de instituições que apenas começavam a funcionar depois da redemocratização do país é o resultado de grave erro de avaliação. Na era do tempo real, sem verdadeiros pactos pelo consenso a governabilidade inexiste ou tem prazo de validade vencido precocemente. Não basta ter a soma dos votos e a maioria. Quando com um clique se convoca uma marcha pelas redes sociais, ninguém pensa no alcance prático disso. O protesto, que era manifesto, que era resistência, que era indignação coletiva, vem adquirindo uma autonomia escusa. E, como se sabe, a violência costuma ser o braço armado do autoritarismo.

Não porque existem vândalos. Os anarquistas que depredam as vias públicas pensam ser revolucionários vem a calhar. Servem bem para construir repúdio por mudanças e mostrar quão pior pode ser. São, portanto, a antítese da revolução. Incorporaram-se à reação porque a sua preocupação está em mostrar força e negar qualquer tipo de poder. Ao mesmo tempo, investem-se de um poder maior, e fazem das multidões um aríete contra qualquer um. Dominados pelo narcisismo primitivo que distorce as imagens e os espelhos, não se enxergam assim. Mas não passam de reacionários perturbados. E eles não estão sós. Por trás dos mascarados que roubam e depredam está uma inimputabilidade inconsequente que o poder, com a anuência da sociedade, vem se outorgando. Pois, não se trata de uma outra via autoritária quando se criam foros privilegiados, justiça inacessível e/ou subordinada?  Quando ficam evidentes os critérios seletivos para o que se costuma chamar “igualdade de oportunidades”?

Para cada autêntico beócio predador que se infiltra nos protestos há um correspondente que se esconde na vidraça blindada das autoridades, dos palanques, no palavreado autocongratulatório e nos discursos de posse. Trata-se da dupla face, ambas igualmente injustificáveis e daninhas. Só que  enquanto uma é televisionada, a outra permanece privativa em circuito fechado.

E como a filósofa ensinou: quando se perde a autoridade, alguém há de clamar pelo autoritarismo.

Coisas da Política – Jornal do Brasil

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Pacto e Jogo Vital

27 quinta-feira jun 2013

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democracia, hegemonia e monopólio do poder, jogo vital, justiça, manipulação, mensalão, movimento ônibus, pacto politico, pobre nova classe media, significado de justiça, voto distrital

Pacto: do latim pactum, origem; pascisci, particípio passado de pactus, concordar

Um pacto não é uma ordem. Um pacto não nasce de um desejo voluntarioso. Um pacto não pode ser firmado com condições, pressões ou sob armistícios frouxos. Um pacto também nunca é ditado ou decretado. Um pacto não é legitimo, a menos que esteja na plataforma dos consensos. Pactos não são conchavos.  Um pacto é o oposto de um acordo entre lobistas, a antítese de uma união em detrimento do bem público. O pacto rejeita o oportunismo Um pacto não é poesia (ainda que a partir dele algum verso possa acontecer).

Pactos são destinos compartilhados. Políticas de legitimação. O pacto favorece a atitude republicana e coloca na defensiva quem rejeita o entendimento. O pacto é um tratado que tira a prerrogativa do partidarismo. Pactos promovem acordos intersubjetivos. Ressonâncias acordadas. Pacto são diálogos que fluem na tentativa de compreender a interlocução. Pactos têm poder autêntico: combatem miséria, fome e opressão. Pacto é um arranjo, não é uma negociata. Pacto é consentimento, não acomodação. Pacto exige a presença de muitos. Pacto é um conluio entre vozes, conciliação. Pacto é cachimbo de paz.

Pactos têm poder autêntico: combatem miséria, fome e opressão

Quando ouvimos que era chegada a hora do pronunciamento, havia uma expectativa e uma tensão que poucas vezes se viu no país. Havia alguém no comando? Quem estava governando? Hiatos assim jogam contra a República.  Todos aguardaram, queriam sentir e, se possível, experimentar qual era a mensagem. A maioria bufou um “ahh!!”. O gol perdido, uma chance desperdiçada, ou uma grande esperança que nunca se concretiza. Sim, o povo é crédulo. Sim, as pessoas têm as melhores intenções de envolver-se nos pactos, mas não acatá-los sem compreendê-los. Sim, todos reconhecem que, gostemos ou não, há um jogo que foi jogado, e as regras devem valer até que se criem novas regras, ou o fim do tempo regulamentar.

Pobre nova classe média, sem poder carimbá-la e com medo de perdê-la eleitoralmente, políticos e intelectuais se inquietam no afã de tachá-la com precisão. É difícil etiquetar o novo. E talvez eles estejam certos em silenciar mais uma vez. E se a nova classe busca, através da intuição, um caminho que ninguém percorreu? E se não for direita nem esquerda, para desespero dos maniqueístas da taxionomia?

Há um jogo sendo jogado, e as pessoas não querem mais participar como  expectadoras, figurantes ou como equipe dos bastidores. Acabou-se o tempo em que se contemplava o rio sem querer provar da correnteza. A batalha é clara: que sejamos aceitos como protagonistas. Os principais, se não falha a memória. A quem mais o Estado deve obedecer?

Mas é claro que se compreende por que tanto empenho.  Não se trata de simples campeonato ou Copa do Mundo; trata-se do jogo vital. O presente e o futuro de todos depende do desenrolar deste jogo vital. E ninguém mais aguenta ver árbitros oniscientes nem jogadores passivos. Só podemos ser otimistas — e acreditar no grande teste para avaliar o estado de nossa democracia — se mantivermos o clima de paz. Quem não quer viver sem violência? Sem a miséria degradante das crianças? Sem a estupidez em vigor? Quem não declararia amor a uma cidade sem guerras civis abafadas pelas distorções da estatística? Quem não deseja que o vizinho não sofra as mazelas que sofremos? Quem não se sentiria melhor com florestas, índios e habitats protegidos e seguros? Quem não se inclinaria diante de um político ou estadista que abandonasse os privilégios e, como qualquer um de nós, cumprisse os deveres do cargo?

Quem não se inclinaria diante de um político que abandonasse os privilégios e, como qualquer um de nós, cumprisse os deveres do cargo?

A chacoalhada foi geral. Não abalou só a classe política. O tremor intencional fez acordar a esperança de que não precisamos ser anônimos, sujeitos ocultos, ou zumbis que aceitam qualquer coisa.

Houve uma mudança de degrau. A mudança que se impõe não é por mais, agora é por melhor, mais digno, mais justo.

E os efeitos colaterais? Não há substância, em matéria médica ou sociológica, que não os apresente. Pois a transformação é também contra a tirania velada do tal “formador de opinião”. O autoritário, cantor, astro ou famoso que indica seu sucessor pode estar entrando em decadência.

A autoeducação amplia muito a visão. Enfim, se enxerga com muito mais clareza a inconsistência quando somos mal dirigidos ou governados, e como é possível inverter os ritmos que antes pareciam ser nosso único destino.

Veja a matéria no Jornal do Brasil

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Irretocável Política

16 quinta-feira maio 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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açao penal 470, autocracia, centralismo partidário, centros de pesquisas e pesquisadores independentes, democracia, educação política, governo federal, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, manipulação, medidas provisórias, mensalão, odeio a classe média, política como risco à saúde, propaganda eleitoral, significado de justiça, silência dos intelectuais

Jornal do Brasil

Quinta-feira, 16 de Maio de 2013

Coisas da Política

Hoje às 06h46

Irretocável política

O escalpo político eleitoral a céu aberto durante as votações das Medidas Provisórias, onde emendas multimilionárias são negociadas pelo governo federal, usando dinheiro dos contribuintes para pagar votos dos representantes do parlamento, poderia ter muitos nomes. Voto em cambolhada de grelos.

Quem acompanha noticiários políticos – que tragam tarjas de advertência “ risco à saúde” – já deve ter abandonado de vez a ilusão da lógica, da coerência e de um processo civilizatório. Ainda que o barco esteja sendo mantido na superfície e a economia dê sinais de tímida estabilidade, o maior problema do País é, de longe, a política.

A cerimonia de beija-mão do vice governador de SP contra o anel presidencial só desnuda toda fragilidade. Avolumam-se as tentativas e arranjos partidários para, numa frente inédita, desestabilizar o STF. Há gente graúda e muito capital disponível para apostar que, se tudo der certo, um novo julgamento será provocado e, desta vez, o placar os favorecerá. É como jogar partidas tantas vezes quanto for preciso até que o resultado favoreça o time perdedor.

Esgotados todos os recursos, já não se trata de ser contra ou a favor do que o Supremo decidiu, o que está sendo jogado agora está em outro campo, muito mais perigoso que o veredito da Corte. O que entra na balança é a lisura e autonomia de poder das instituições. Lula acaba de verbalizar que não existe político irretocável. Ninguém nem de longe sonharia com tal aberração. O que interessa é o que seu discurso ocultou. Travestido na língua fácil, a verdadeira afirmação, o mote de seu partido e da frente que os apoia: Políticos são esses aqui mesmo! Aceitem, ou, danem-se e engulam. E para dar o toque final alguém lá da mesa fez um voto de “ódio à classe média”. Curioso.

A estratégia do marketing do PT – apoiado em extensas pesquisas qualitativas – fez fundir a imagem do ex-presidente com a presidenta em quadros de meia tela que ora se sobrepunham e deslizavam de lado, sempre se alternando em nobres promessas. No show: “Você que já tem sua casinha, seu carrinho, seu computador agora terá muito mais…” A farsa teve um extra inédito. A inclusão de um surpreendente texto de propaganda. Agora entre outras benesses ofertadas para quem continuar votando no Partido estava “doutorado no exterior”? Com o triunfalismo barato do uso do diminutivo e fazendo usufruto da estabilidade conquistada também às custas dos governos anteriores, o ex-presidente, como de hábito, joga todos os méritos da fartura em si mesmo e em sua claque. E aproveita para caluniar a mídia como a grande criadora de fantasias. A imprensa livre cria conceitos impossíveis e monstruosos, como políticos ideais, amantes da ética, respeito à coisa pública.

Inverter a conspiração é rigorosamente a repetição de uma estratégia eleitoralmente vitoriosa. Eles se fazem passar por vítimas, não são os perseguidores ou os agentes do mal feito. Inegável, eles são mesmo imbatíveis.

O trágico não se restringe ao momento, mas ao que isso significa em termos de educação política. Não é só repisar as mentiras até que passem como verdades, o que buscam é o aperfeiçoamento progressivo dos vícios. Essa sedução anestesia e funciona bem para o que se presta. De tanto apanhar vamos ficando insensíveis e desinteressados. Daí à generalização é um passo. A imagem de que todos os políticos bebem da mesma taça, vai ganhando materialidade. Gerações vindouras ou os tomarão como exemplo (afinal é só isso que conhecem do mundo político) ou refluirão às suas vidas privadas já que “não tem conserto mesmo”.

Um desserviço à República. E o plano era esse. Explicitar que o sistema foi criado para sustentar o vício.

Sob o profundo desprezo que têm pela opinião pública, os governantes do País abusam da ideologia negacionista. Não há descontrole das finanças, não há epidemia de violência, não há conflito de interesses e tudo bem que o público e o privado estejam de mãos dadas. A novidade está na tranquilidade. Impunidade baseada em evidencias, por suposto. Enquanto amigos da corte nunca estiverem tão protegidos e subsidiados, todos nós nos tornaremos alvos fáceis do arbítrio. Não é delírio. Aconteceu na Venezuela, na Argentina, na Bolívia, no Equador. Operações cala boca e dossiês podem estar sendo preparadas para fazer cortina de fumaça aos capiangos. Nosso crime? Testemunhar a distorção, calculada e seletiva, no uso das leis e das regras constitucionais.

O expressivo silêncio dos intelectuais, a esta altura uma afasia, continua inexplicável.

Estamos por conta. Minha aposta é que não passarão.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/05/16/irretocavel-politica/

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Déficit de discernimento

21 quinta-feira mar 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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anomia, autocracia, centralismo partidário, democracia, felicidade ao alcançe?, hegemonia e monopólio do poder, impostos, manipulação, mensalão, significado de justiça, utopia

Déficit de discernimento.

 

Segundo os cosmólogos, muito provavelmente existem inimagináveis dimensões simultâneas, antimundos e universos paralelos ao nosso. Para simplificar vamos ficar no aqui e agora. Quantas coisas nos parecem insólitas, absurdas ou só incríveis, isso num único dia? Dezenas? Centenas?

 

Costumamos sentir a estupefação nas entranhas, porém é dentro das cabeças, aparentemente desconectadas do restante do organismo, que a estranheza é sempre  racionalizada para simular certa normalidade. Decerto acionamos algum mecanismo de defesa. Estamos fazendo nada mais que domesticar o non sense de modo que ele integre naturalmente a paisagem do dia a dia.

 

Começo pela saúde. Há programas no ministério da saúde que oferecem assistência e tratamentos gratuitos para varias patologias (gratuito até que é bem bolado, soa como se tudo fosse fruto de caridade e o Estado não tivesse deveres para com os cidadãos).

 

Mas ai de qualquer um de nós que se aventurar a ter uma doença rara.  Simplesmente o estado não cobre os custos decorrentes da doença. É que muitas “não estão na tabela” de reembolso do SUS. Juízes solidários têm sido a salvação dessas pessoas. Eles vêm emitindo liminares que obrigam o Estado e/ou os planos de saúde a cobrir os caríssimos custos destes tratamentos. Isso se repete, à indecência, sob muitas condições clínicas menos comuns. Aliás, a vida parece nos forçar ao que é comum, a ficar na média, e essa normatividade por decreto se estende ao adoecimento.

 

Para complementar o tour pelo país do inacreditável, pode-se visitar a política. Correntes da psicologia acreditam  que a fonte de muitos dos nossos males é oriunda da auto-sabotagem. Em condições normais os doutores poderiam ter razão. Não estanmos em condições normais e desconfio que estamos mesmo diante da temporada de erros estúpidos sequenciais. Dia desses foi a vez do ministro da fazenda (tentava explicar ao jornalista incrédulo porque temos impostos de primeiro mundo com serviços de quarto) que disse literalmente, está gravado: “os serviços públicos no Brasil são bons”. Como assim bons? Sabe-se que 9 entre 10 governantes tomam o brasileiro por um idiota funcional, mas tenha dó. Fossemos um país de opinião pública consistente ele e outros já teriam caído.

 

Mas são setenta e lá vai pedrada de aprovação. Perdemos a noção, só pode ser este o diagnóstico.

 

Pode-se discordar das críticas, mas avalie criteriosamente a sequencia de disparates: PIB em queda livre, volta da inflação e agora o loteamento cala-boca com feira de cargos públicos.

 

Afinal, o que significa esta aliança pela governabilidade defendida pela mandatária geral? Digo, o que isso representa na prática? Em uma palavra, em suas próprias, ela pediu lealdade. Ao governo, às suas aspirações, exigências e demandas. Mas ao colocar em postos chaves gente que tem um passado tenebroso ou inconsistente quem está traindo quem? Os eleitores parecem ser as únicas vítimas de adultério por aqui. Isso enquanto gente condenada tem fundos e subsidios partidários para sair país afora tentando desmoralizar o STF, adolescentes matam e entram por um punhado de  semanas em programas de ressocialização, homicidas perigosos tem penas curiosas e ganham liberdade mais cedo que estelionatários e viciados em drogas.

 

Se é que isso consola, a deficiência de autocrítica é mundial. A commoditie, escassa, parece ter se escondido no subsolo do reino dos caras de pau. Esses mesmos que vemos todos os dias nos telejornais. Não se sabe bem onde está a tal da sustentabilidade, nem gente capaz de liderar sem assumir ares monárquicos.

 

Todos os políticos parecem passar por uma metamorfose instantânea assim que o sufrágio termina. Pode ter origem na psicopatologia, mas o mais provável é que não há, nem nunca houve algo para ser transformado. Eles sempre foram o que são. O que se passa é que nós todos sofremos de um insanável déficit de discernimento.

 

Tudo que testemunhamos no universo do poder é puro palco a céu aberto onde os atores brincam de dramaturgia de décima. Fingem que governam, enquanto nós, que somos governados. 

 

Chegou a hora de mexer no roteiro. Os mesmos clichês e a mesmíssima ópera em cartaz por tanto tempo provocam exaustão da platéia e já há gente tomando coragem para ensaiar vaias construtivas.

 

As vozes ainda não escaparam, mas gritos isolados já foram avistados lá no front.    

  

Paulo Rosenbaum é medico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”(ed. Record)

 

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Liberdade para que?

24 quinta-feira jan 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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abolição da autocensura nas redes sociais, aspirações impossíveis, Censura, censura velada, centralismo partidário, centralização de informação, centralização de poder, centros de pesquisas e pesquisadores independentes, controladores, Debate público, educação no século XXII, felicidade ao alcançe?, franquia, hegemonia e monopólio do poder, imprensa livre, intelectuais independentes, intlectuais alinhados com o poder, jogo democrático, José Arthur Gianotti, liberdade para que?, manipulação, mensalão, moral e bons costumes, opor, política, significado de justiça

Liberdade para que?  

 

Ninguém negará que a mídia precisa ser mais democrática – e democratizada – para incluir os sem voz e as grandes parcelas da população ainda marginalizadas, mas o projeto em orquestração na mesa dos controladores nada têm a ver com este escopo. Sob o argumento de que as redes de comunicação operam através dos oligopólios a proposta é substitui-la por monopólio de Estado.

 

Os milionários esquemas de subsidio estatal para a mídia favorável (nas três esferas) e os torniquetes possíveis aplicados às outras é só a parte visível do jogo. O controle da imprensa significa, na prática, coibir o debate público –  já de má qualidade – uma vez que só a liberdade de expressão permite que os cidadãos  possam se posicionar para investigar, cobrar e, quando for o caso, se opor ao Estado.

 

Missão longe do alcance de uma imprensa submissa. Como o objetivo final é a liberdade controlada, a finalidade última da regulamentação é dirigir o país contando com informações filtradas.

 

Neste sentido, estamos muito próximos de uma censura velada!        

  

O primeiro interessado em deter a informação é o próprio poder. A hegemonia passa pela centralização. Mas há um produto muito além do poder em jogo quando se trata de concentrar informações. A liberdade só pode ser exercida com a aquisição do conhecimento que passa pelo exercício da crítica. Sem ela a liberdade é uma franquia das cúpulas, dos consensos de gabinete, um slogan abstrato.

 

Uma equipe eleita decide o que pode e o que não pode? Mas eles não foram eleitos para isso, ou foram? Isso é que não está nada claro no jogo democrático atual. As regras. Depois que se ganha a eleição tudo pode virar qualquer coisa. Para isso deveria valer os direitos constitucionais

 

Não se enganem, há uma dosimetria oculta que rege nossa liberdade.. Para ser conciso: o projeto de regulamentação da imprensa, é, na verdade, uma ameaça direta à democracia. É urgente organizar a sociedade para que o cerceamento à livre expressão não encontre guarita no argumento de “controle social”.

 

Como nos faremos ouvir? Como ler jornais quando tudo estiver sob o filtro impermeável do Estado? Podemos usar o spam, a panfletagem, instrumentalizar melhor a ilusão revolucionária das redes sociais. No mundo eletrônico ocidental ainda inexiste censura e não é difícil perceber que a autocensura encontra-se completamente abolida.  

 

E quem dará aval para os projetos de controle estatal da mídia? O pessoal da moral e dos bons costumes? Assim eles poderiam eleger os livros, peças, filmes e biquínis que vamos ver.  Os executivos dos partidos políticos (base aliada ou não). A explicação é simples: estão mordidos com a última pesquisa sobre a decadência dos partidos. E tudo que contraria políticos é gerado na imprensa livre. 

 

E quanto aos intelectuais e a estrutura universitária? Estão divididos entre os que são pela lealdade ideológica ao governo e os independentes. Estes últimos são uma categoria em decadência porque ninguém quer subsidiar gente isolada muito menos premiar a autonomia. A emergência dos conservadores é uma resposta, equivocada, a uma esquerda que vêm sofrendo isquemias no núcleo duro. Os conservadores também não funcionam porque suas perspectivas são basicamente alimentadas de nostalgia. Sonham com uma ordem e um status quo que nunca existiu no cenário politico. Nas TVs ou nos jornais notem que sempre começam com expressões de saudosismo e terminam suspirando pela volta das leis marciais.

 

Quanto à estrutura universitária vale lembrar da antiga tese do filósofo José Arthur Gianotti de que a Universidade é subsidiada para não funcionar. “Funcionar” no sentido de produzir a mentalidade critica e autocritica que tanto nos faz falta. Claro que existem nichos que funcionam. Na base do voluntarismo e de ações sociais importantes, grandes camadas de pessoas foram resgatadas da marginalização nas últimas administrações. Não é o suficiente. A educação e o investimento maciço em ensino não ousaram para além das formalidades como a de “colocar mais gente no ensino superior”. Salários dos professores e estímulo à pesquisa ainda são ridículos para o nosso PIB. O processo pedagógico parou no século XIX enquanto precisávamos de inspirações do XXII. Há uma fadiga generalizada no jeito de fazer e lidar com as coisas públicas.   

 

Tudo isso seria pior sem liberdade. Sem ela, como falaríamos de tudo isso?

 

Aproveite para chiar agora, pode não haver segunda chance.

 

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”(Ed. Record)

 

Paulorosenbaum.wordpress.com

 

 

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/01/24/liberdade-para-que/

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O Indefensável

10 quinta-feira jan 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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açao penal 470, aspirações impossíveis, autocracia, autocritica, Base aliada, centralismo partidário, constituição, direita e esquerda, Genoíno, gozo, hegemonia e monopólio do poder, livrarias, manipulação, Mao, mensalão, mundo interior, posse e mandato, PT, resistencia à tirania, significado de justiça, utopia

O Indefensável

Será que nos lembraremos deste momento? Onde estávamos nós diante da onda de cartas à redação, artigos, suspiros em mesas de bares e murros nas mesas nos restaurantes? E o que fizemos nos aeroportos, em postos de gasolina, em cinemas e lanchonetes? Há relatos de editores bufando em redações e palavrões em livrarias. Sim, ele tomou posse. Sim, disse que com a consciência tranquila.

Mas repare que os clamores moralizantes pelo Pais afora pode produzir um efeito paradoxal. A revolta coloca um julgamento essencialmente justo, sob a suspeição de ser um indutor de justiça selvagem. É claro que é falso. Mas ao contrário deles somos adeptos da autocritica. As reações não estão descalibradas? Os cidadãos são guardiões simbólicos da justiça, não seus sócios ou gerentes executivos.

A dignidade agora é uma refeição que se come crua e com as próprias mãos? Que alívio que não se queimam mais culpados em praça pública, um horror, não é mesmo? Hoje, basta execrá-los, aplique-se o bullying autorizado e vamos lá, até as últimas consequências.

Precisamos recusar o ridículo clima de escárnio generalizado contra quer que seja. Ainda que estejamos protegendo escarnecedores. Ainda que a postura civilizada se estenda ao partido mais intolerante do continente. Ainda que seja gente que, a depender do contexto, nos executaria. Não importa. Não é por bom mocismo. Não tem nada a ver com o politicamente correto. É por princípio! Por ele é que devemos garantir a todos, condenados ou não, o gozo das prerrogativas e o esgotamento dos recursos legais. Não era isso mesmo que até a antevéspera pedíamos? Que todos fossem iguais perante a lei? Para o bem e para o mal? Será que é porque às vezes queremos leis, e, às vezes, exigimos exceções?

Quem se importa se ele foi ingênuo, omisso, instrumentalizado ou só culpado? Tanto faz se a serenidade ostensiva revele indiferença à opinião pública. E por que o espanto? A marca registrada desse governo não é exatamente o desdém raivoso por todos que discordam?

Neste sentido, que tal dar exemplo? Vamos ser regidos pela cabeça e não pelo ventre. A Republica baseada em ventre geralmente acaba vertendo as próprias entranhas. Aquela governada pela cabeça pode ter milhões de defeitos, ainda assim, o dano é bem menor.

Deixemos que os juízes e a constituição se encarreguem dos salvadores da nação. Durante a revolução cultural chinesa havia um canto obrigatório nas escolas: “O camarada Mao ama mais cada um de vocês do que os seus pais”. Claro que os amava, assim como todos os libertadores das massas dizem amar.

Além disso, todos evocam em sua defesa o processo socrático, malgrado ignorem o conselho vital dali derivado: só temer a própria consciência. Mas, para isso, teriam que confrontá-la, e isso, a ideologia não perdoa.
A maturidade consistente vêm sem revolução, desce até nós através da educação e da cultura. Saberemos que chegou quando rejeitarmos a onipotência dessas pajens coletivas. Notem que eles dependem do culto à personalidade para viver. Viver às nossas custas. Nos amam tanto, nos querem tão bem, que, para facilitar as coisas, personificaram o Estado. Isso não é esquerda, isso não é direita, a rigor isso não é nada, a não ser usurpação das instituições.

Você que ainda consegue dormir tranquilo e preza a liberdade, melhor guardar vigília. É questão de tempo até que impliquem com quem não se curva. E a resistência à tirania pode ser o último reduto da ética.

O trágico está em não termos conseguido nos livrar de líderes totalitários disfarçados de paizões. Está em nosso histórico comportamento infantil que alimenta expectativa de lideranças infalíveis. É com esse messianismo laico que lentamente submergimos a América Latina no leque de caudilhos.

Se ouvíssemos a voz sussurrante da história: República alguma deu certo com projetos personalistas! Se não desfulanizarmos a Republica, ela é quem fará isso conosco. Poupemos energia para o que conta: votos amadurecidos nas próximas eleições, correção dos equívocos que temos colocado no poder, e, por último, mas mais importante: ocupe-se de si mesmo. E do que mais nos ocuparíamos?

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”(Ed. Record)

Paulorosenbaum.wordpress

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Psicologia do cheque em branco 

01 quinta-feira nov 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Brasilia atual, colapso da segurança, Democracia grega, desilusão com a política, Eleições 2012, fadiga de material, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, manipulação, mensalão, milícias, nordeste, postes, postes e bonecos infláveis, regime presidencialista concentrador, segurança pública, significado de justiça, violencia

Psicologia do cheque em branco

Jornal do Brasil Paulo Rosenbaum

Numa dessas extraordinárias ironias da vida, a grande prova de que o ex-ministro vitorioso em São Paulo falhou na principal tarefa educacional que é promover o raciocínio crítico, foi sua própria eleição. Nada contra ele, mas tivessem os habitantes do estado mais populoso da nação sido realmente instruídos e treinados na arte de discernimento, não teriam passado um cheque em branco a um preposto do grande chefe. Reconheçam-se seus méritos, que mais desta vez, saiu-se bem na arte da prestidigitação. A República é o atual parque de diversões do grande comandante, que agora elege bem mais que postes: cria bonecos infláveis que enche ou esvazia conforme a veneta.

Somos obrigados a admitir que a paixão por partidos lideres e celebridades façam parte de um mesmo processo psicológico, que merece reflexão e muito estudo. A grande mensagem desta eleição, é, infelizmente, uma má notícia. Estamos diante da consolidação da hegemonia personalista. Há quem dê de ombros. Parece sem importância que neófitos apareçam do nada e ganhem as eleições. Mesmo assim, as implicações são trágicas. Captem o significado profundo e a arbitrariedade dessa concentração de força. Com as vontades pessoais, e as vinganças saciadas, quais serão os próximos apetites?

Como tudo apresenta outro lado, o estrondoso fracasso do partido governante no Norte-Nordeste mostra que o Brasil é mais complexo e inapreensível do que se planejava. É o risco que se corre ao reduzir um país tão plural. Mas, o que não foi considerado não é a corrupção mais ou menos generalizada, e sim a reafirmação de que o assalto aos cofres nacionais serviu a “causa maior”. Segundo essa lógica, ela é, de uma só vez, garantia, aval, indulto e endosso. É essa convicção de que as leis devem se adaptar aos propósitos pseudo salvacionistas, que caracteriza a Brasília atual

A redução do eleitor a um elemento amorfo do curral eleitoral é um fenômeno antigo. Mas quando a política manipula as massas e violenta as regras do jogo ai enfrentamos uma nova ameaça. Isso é mais que a representação, é a face concreta, substantiva e presente do mal. Para quem se arrepia, outra versão: o oposto do bem público. A gula centralizadora se revela na enorme concentração de impostos drenados ao Planalto, enquanto os municípios esmolam verbas.

Esta entidade abstrata chamada Estado, sob regime presidencialista concentrador, favoreceu as aventuras dos políticos contemporâneos. O objetivo final é um só: tornar as pessoas presas do medo. Quando milhões de reféns têm a resistência vencida e o vencedor impõe suas estratégia aos vencidos, duas posturas emergem: fanatismo e descrença.

Os fanáticos podem degenerar facilmente para hordas protofascistas (como as que agrediram as pessoas que protestavam contra os condenados no dia da eleição) e carta branca aos radicais entusiasmados pelo crédito eleitoral conquistado. Enquanto os descrentes são uma resposta desesperada ao panorama sórdido que enxergam pela frente. O resultado prático é mais engajamento para aloprados e afastamento, decepção e esgotamento para os demais. O diagnóstico de “fadiga de material” e os “ventos de mudança” são duas polaridades desse mesmo problema.

Quem não quer mudança? Mas, e se for para pior? A maior abstenção desde 1998 — e vai crescer — registra este momento histórico. Como pensava Arnold Toynbee: “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”. Mas uma breve analise da realidade mostra que faz todo sentido: para que votar se os melhores são sempre preteridos em função dos mais ardilosos?

Atropela-se, se for preciso mata-se, vale qualquer negócio para chegar ao sucesso. E não é assim por aí no mundo? Na raiz das cifras da abstenção recorde há uma desilusão com a política, pois esperava-se que fosse uma atividade completamente diferente do mundo dos negócios privados que conhecemos. A expectativa, nem sempre consciente, era de que os políticos tivessem a chama sagrada, o velho espírito dos sacerdotes. A diferença, ingenuamente deduzíamos, não poderia estar só no dinheiro publico, muito menos se usado para fins privados.

Em nossas anacrônicas construções mentais, a política tinha que ser e ter um ideal maior, uma lição de abnegação, um exemplo de altruísmo, o jogo limpo. Caretice nossa. Não é nada disso. A real é que ali se concentram os interesses mais materiais, os tipos mais egoístas, as raposas mais espertas, e às vezes a moeda não é só papel moeda, mas poder. Muito poder.

Retire-se o dinheiro e distribua-se melhor o poder com descentralização de impostos, e veremos decrescer o desvio, o mal feito, e o incomparável descalabro com as contas públicas. Mas isso vai contra a “causa”, não faz parte da estratégia. A gravíssima falta de segurança (60 mil assassinatos em um ano, mais que muitas guerras civis) e o renascimento de milícias partidárias truculentas que desrespeitam as normas jurídico-institucionais, toleradas pelo poder central, representam bem os impasses que nos aguardam mais à frente.

A menos que a educação vingue para valer, para sair do imbróglio, precisaremos contar com um grande golpe de sorte.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

paulorosenbaum.wordpress.com

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