• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

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Paulo Rosenbaum

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Os horizontes do justo (Estadão)

13 sábado abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Na Mídia

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Benoni, justiça, O Intermediário, significado de justiça, tzadik

Os horizontes do justo

Paulo Rosenbaum

04 julho 2016 | 11:56

Discordo, e não é só para contrariar o bom humor com que o notável Mario Vargas Lhosa finalizou sua coluna neste Estadão sobre os justos de Israel. Pelo que se vem falando sobre os dilemas contemporâneos de Israel — implicitamente ligado ao shoah e ao destino do povo judeu — o leitor corre o risco de imaginar que tudo pode ser condensado aquele único horizonte. Opressor contra vítima. Dominador e dominado. Segregador e segregado. Destarte, o mais estranho tem sido observar a redução de um conceito muito caro à humanidade — como é o caso do “justo de Israel” — ao guerreiro que se autodenuncia, o combatente que recusa a violência ou o homem que renega, por questões morais, toda hostilidade cometida por sua própria tribo. Justo tem sua raiz na palavra hebraica tzadik que por sua vez deriva da palavra tzedaká, cuja tradução apenas aproximada seria “caridade”. A estas características seria bom acrescentar outras, talvez mais relevantes, decerto mais próximas do conceito original. Ao menos estabelecer uma equivalência analógica. Há um conceito ampliado do justo de Israel,  pois há também o justo das Nações: é aquele que se aproxima da santidade. Aqui tomada menos em sua conotação transcendente, mas como sujeito que consegue atingir um estágio de conhecimento e separação que  o habilita a estabelecer um julgamento quase perfeito. São tão poucos e raros aqueles que logram alcançar este patamar que a axiologia foi obrigada a criar a categoria de “intermediário”. Uma espécie de pessoa que, incessantemente, busca a justiça — abarcando também o bastardizado conceito de “justiça social” — mas que, muito provavelmente, não a alcançará. Ao menos através de um modo acabado e idealizado.  Já o justo, de acordo com os critérios da hermenêutica é aquele que atinge o grau máximo de discernimento. Grau que nem sem sempre está de acordo com o que anuncia o senso comum. Esta é uma peculiaridade muito própria do justo; estar oculto e ser minoria entre as minorias. Por sua vez, o justo, quando chamado manifesta-se por inteiro, a contrapelo, enquanto outros preferem esconder-se na maré do senso comum. Nesta acepção, o justo sempre buscará a paz, sem no entanto desfazer-se do direito à existência e, principalmente, sem renunciar à autodefesa. O justo também não é nem um traidor nem alguém que se dispõe à autoimolação. De que valeria um justo sacrificar-se ofendendo as próprias balizas éticas? Um equânime que serviria apenas para o endosso de uma violência que não se cala? Israel não é um mar de rosas, muito menos um lugar perfeito. Se a opressão não é justiça, ceifar a vida de inocentes com ataques terroristas menos ainda. Se a ocupação é condenável e uma política colonialista um pesadelo, a resposta jamais será a prescrição de esfaqueamentos aleatórios. Há uma importante distorção na análise da desproporção. Disputas territoriais e questões étnicas tem sido cooptadas como uma causa que vitimiza apenas um lado. O supostamente mais fraco e indefeso. A tragédia, e ela existe, é sempre bilateral. Teorias socio-psicologicas se esforçam para explicar a preferência pelos fracos e indefesos contra a potencia que subjuga. Mas, uma vez conhecidas, eles não pode servir para endossar o álibi da demonização branca de toda uma sociedade. Há uma critica que oculta, sob o manto do discurso da igualdade, um viés repleto de preconceitos. Se o sionismo demanda ressignificação, isso nada tem a ver com as acusações genéricas e pouco fundamentadas que vem dominando a intelligentsia internacional e fomentando a irresponsavelmente a globalização da judeofobia. O discernimento e a honestidade intelectual exigem colocar as coisas nos seus devidos lugares. Uma delas é separar os elementos para analise impedindo a aglutinação que generaliza uma condição particular. Só um Estado com altíssimo grau de consciência permitiria que militares insatisfeitos deponham contra este mesmo Estado, e ainda sejam protegidos em seus direitos pela Suprema Corte, ainda que com algum grau de censura. Deste modo, o “justo de Israel” pode nem mesmo ser uma pessoa. Não sendo uma personalidade, o justo não deve estar onde se supõe que esteja. Pode estar encarnado numa entidade abstrata, numa consciência com grande impacto na realidade. Pode estar exatamente na natureza ímpar de um País que permite que todos, incluindo jornalistas e ex-militares insatisfeitos, possam se expressar. Isso é justo. Mais do que justo.

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/os-horizontes-do-justo/#

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Os horizontes do Justo (blog Estadão)

04 segunda-feira jul 2016

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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blog conto de noticia, direito à autodefesa, hermeneutica, justiça, Justiça social, justice in Israel, Mario Vargas Lhosa, redução de problemas complexos, shoah, Suprema Corte, tzadik, tzedaká

Os horizontes do justo

Paulo Rosenbaum

04 julho 2016 | 11:56

Discordo, e não é só para contrariar o bom humor com que o notável Mario Vargas Lhosa finalizou sua coluna sobre os justos de Israel neste Estadão. Pelo que se vem falando sobre os dilemas contemporâneos de Israel — implicitamente ligado ao shoah e ao destino do povo judeu — o leitor corre o risco de imaginar que tudo pode ser condensado aquele único horizonte. Opressor contra vítima. Dominador e dominado. Segregador e segregado. Destarte, o mais estranho tem sido observar a redução de um conceito muito caro à humanidade — como é o caso do “justo de Israel” — ao guerreiro que se autodenuncia, o combatente que recusa a violência ou o homem que renega, por questões morais, toda hostilidade cometida por sua própria tribo. Justo tem sua raiz na palavra hebraica tzadik que por sua vez deriva da palavra tzedaká, cuja tradução apenas aproximada seria “caridade”. A estas características seria bom acrescentar outras, talvez mais relevantes, decerto mais próximas do conceito original. Ao menos estabelecer uma equivalência analógica. Há um conceito ampliado do justo de Israel,  pois há também o “justo das Nações”: é aquele que se aproxima da santidade. Aqui tomada menos em sua conotação transcendente, mas como sujeito que consegue atingir um estágio de conhecimento e separação que  o habilita a estabelecer um julgamento quase perfeito. São tão poucos e raros aqueles que logram alcançar este patamar que a axiologia foi obrigada a criar a categoria de “intermediário”. Uma espécie de pessoa que, incessantemente, busca a justiça — abarcando também o bastardizado conceito de “justiça social” — mas que, muito provavelmente, não a alcançará. Ao menos através de um modo acabado e idealizado.  Já o justo, de acordo com os critérios da hermenêutica é aquele que atinge o grau máximo de discernimento. Grau que nem sem sempre está de acordo com o que anuncia o senso comum. Esta é uma peculiaridade muito própria do justo; estar oculto e ser minoria entre as minorias. Por sua vez, o justo, quando chamado, manifesta-se por inteiro, a contrapelo, enquanto outros preferem esconder-se na maré do senso comum. Nesta acepção, o justo sempre buscará a paz, sem, no entanto, desfazer-se do direito à existência e, principalmente, sem renunciar à autodefesa. O justo também não é nem um traidor nem alguém que se dispõe à autoimolação. De que valeria um justo sacrificar-se ofendendo os próprios balizamentos éticos? Um equânime que serviria apenas para o endosso de uma violência que não se cala? Israel não é um mar de rosas, muito menos um lugar perfeito. Se a opressão não é justiça, ceifar a vida de inocentes com ataques terroristas menos ainda. Se a ocupação é condenável e uma política colonialista um pesadelo, a resposta jamais será a prescrição de esfaqueamentos aleatórios. Há uma importante distorção na análise da desproporção. Disputas territoriais e questões étnicas tem sido cooptadas como uma causa que vitimiza apenas um lado. O supostamente mais fraco e indefeso. A tragédia, e ela existe, é sempre bilateral. Teorias sócio-psicologicas se esforçam para explicar a preferência pelos fracos e indefesos contra a potencia que subjuga. Mas, uma vez conhecidas, eles não pode servir para endossar o álibi da demonização branca de toda uma sociedade. Há uma critica que oculta, sob o manto do discurso da igualdade, um viés repleto de preconceitos. Se o sionismo demanda ressignificação, isso nada tem a ver com as acusações genéricas e pouco fundamentadas que vem dominando a intelligentsia internacional e fomentando irresponsavelmente a globalização da judeofobia. O discernimento e a honestidade intelectual exigem colocar as coisas nos seus devidos lugares. Uma delas é separar os elementos para análise impedindo a aglutinação que generaliza uma condição particular. Só um Estado com altíssimo grau de consciência permitiria que militares insatisfeitos deponham contra este mesmo Estado, e ainda sejam protegidos em seus direitos pela Suprema Corte, ainda que com algum grau de censura. Deste modo, o “justo de Israel” pode nem mesmo ser uma pessoa. Não sendo uma personalidade, o justo não deve estar onde se supõe que esteja. Pode estar encarnado numa entidade abstrata, numa consciência com grande impacto na realidade. Pode estar exatamente na natureza ímpar de um País que permite que todos, incluindo jornalistas e ex-militares insatisfeitos, possam se expressar. Isso é justo. Mais do que justo.

Tags: caridade e justiça social, do justo e da justiça, Do justo e razão da justiça, Elie Wiesel, Hebron, Israel, justice in Israel, justo das nações, Mario Vargas Lhosa, minorias, Suprema Corte, tzadik e tzedaká, tzedaká e tzadik

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Como se julgar? O que significa justiça?

04 sexta-feira mar 2011

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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a sombra, auto-julgamento, conceito de justiça na tradição judaica, hermeneutica juridica, justiça, justo que sofre, maniqueísmo, o que é ser justo?, significado de justiça, tzadik, vícios moralistas

Claro que aqui não se trata de dar definição como se estivessemos dentro de um compêndio de direito. O conceito de justiça (e portanto do ser justo) é um dos fundamentos da civilização moderna.

Será?

De uma perspectiva talmúdica estaríamos em outro campo. O justo é um advento não só poderoso como raro. São uns poucos justos no mundo. Muitos estão a procura-espera dessa justiça, mesmo que as vezes confundam justiça com hermenêutica jurídica ou jurisprudência.  Não. Isso não é aquilo.

A justiça na perspectiva judaica não é só uma terminologia para definir ética. A justiça não é feita por juízes ou tribunos, religiosos ou laicos. Não é dessa justiça que estamos falando. Falamos da justiça como eixo filosófico, como atitude, aquela que norteia a vida. Falo da justiça como o fundamento  poético (sim, estético também) que nos permite viver com liberdade.

Já que segundo o filósofo e rabino Schneur Zalman um tzadik (justo) é tão raro — somos apenas, quando muito, aspirantes à justos — que devemos nos conformar com a belíssima idéia de sermos “justos que sofrem”.

Sofremos porque não é possível aos seres humanos médios — aqueles que não nasceram com uma carga de santidade introjetada n”alma — escolherem a perfeição.

E pela santa imperfeição que sofremos. Mas sofremos porque aspiramos a justiça. A justiça  que, talvez, não esteja conosco, a justiça longínqua, inaccessível, a justiça que a vida — em suas gradações e tonalidades múltiplas — teria a potência de nos oferecer. Mas a potência não vira, necessariamente, ato. Deveras nunca.

Um dos papéis humanos é tentar fazer nascer o que não é espontâneo. Assim como numa indução em um experimento científico, a nossa prerrogativa é tentar viabilizar um sentido para as coisas, e isso é, já, um passo para a justiça.   

Assim, abandonando-se completamente e renunciando à inalcançável perfeição podemos voltar a pensar em nossos papéis. O papel de sujeitos que lutam para buscar a justiça nos sentidos interiores. Malgrado se perceberem brutais, omissos, mentirosos e espertos. E mesmo assim não se rendem à debilidade de uma análise maniqueísta. Não se flagelam, não se penitenciam, não  se entregam aos vícios  moralistas. Em outras palavras, — e aí está a genialidade pseudo-naive de Zalman —  somos obrigados a conviver com nossas sombras e a melhor notícia é que ela não precisa ser extirpada, eliminada ou sublimada. Ela deve ser assimilada no sofrimento já que somos os tais justos que sofrem. Os permanentes sêres intermediários. E os que sofrem (talvez só eles) saibam que precisamos sair da medíocre passividade na qual estamos todos metidos.

Se conseguirmos esta aspiração ela deve começar conosco. Somos justos, sequer razoáveis no julgamento particular em todos os dias defesa e acusação encarnam aquele papéis horrendos de sempre enxergar (alguns até pagos para isso) só um lado?

Não só não somos, como ficamos a espera de que jurados alienados e frequentemente hostis nos concedam a benesse do fôro privilegiado (nota- só há esta aberração no Brasil) ou a sentença máxima, geralmente definitiva.

Não se pensa em bondade, talvez nem caiba mais, mas em justiça.

Isso, só isso,  já seria uma enorme mudança no mundo prático.

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