• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico

Paulo Rosenbaum

Arquivos da Tag: Eleições 2012

Oposição substituta

04 quinta-feira jul 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ Deixe um comentário

Tags

A Verdade Lançada ao Solo, artigo, aspirações impossíveis, assessoria, centralismo partidário, confiança, democracia, Dilma, Eleições 2012, hegemonia e monopólio do poder, plebiscito, voto distrital

No pronunciamento todos botavam fé. Nunca as palavras foram tão importantes. Como dizia um muro de Paris em 1968 : chega de atos, queremos palavras. É isso. Até os muros falam quando há vida nas ruas. Isso significa que havia uma chance de reconciliação. O poder poderia se reinventar e, a depender do encaixe e do discurso, esclarecer todos, a maioria, ou uns poucos. As 21hs, fala sério, era para restabelecer o diálogo – não cooptar com concessões de linhas de crédito, propor reformas oportunistas, ou medidas de escopo e alcance paliativos. Aí mora o ilegítimo. Falou o que lhe mandaram. E quem manda? Quem assopra a brasa lá dentro? Quem sabota os esforços para aprender a pilotar durante o voo em apuros? Ou alguém duvidava do despreparo político? Há enorme lastro de dúvidas, mas é certo que as ondas embarcam de outra maré. Estão lá dentro, de molho, na agua estagnada.

O ministros já fizeram sua lista de acusados, só faltou o veredito. Apedrejaram a oposição, a burguesia, jornalistas, a fração belga da Belindia, os sem representação, uma minoria. E o que seria da democracia sem a voz das minorias? Daí ousaram pular para imputações menores, num varejo pueril e que reforça o diagnóstico do clima da capital: cinismo institucional pleno. O poder é, neste momento, a reação em seu pior momento. Aquele instante, quando se está saindo das cordas, e como barata tonta distribui ganchos no ar.

Leia mais: Estadão

Compartilhe:

  • Imprimir
  • Mais
  • Tweet
  • WhatsApp
  • Telegram
  • Pocket
  • Compartilhar no Tumblr
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Da contra hegemonia

21 quinta-feira fev 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ Deixe um comentário

Tags

autocracia, bbc, centralismo partidário, chico mendes, democracia, Eleições 2012, gente boa, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, ingenuidade politica, justiça, liberdade, marina silva, minorias, partido rede, poesia, seiva, sustentabilidade

 

Da contra hegemonia

Não sei se o nome do novo quase partido está correto, nem sei se o que precisamos é de sustentabilidade, ou mesmo de redes. Na verdade basta de redes. Mas que seja.

O input de Marina Silva para criar o novo partido é o único (sim, negrito) fato novo na politica brasileira em muitos anos. Ouvi no hotel um grupo de brasileiros “se a BBC noticiou em seu telejornal mundial deve ser importante”.

Mas a sensação externa, digo do senso comum, é de que ela tentará fazer um governo da pureza. Oxalá seja assim e algo ela deverá ao espirito extrativista de Chico Mendes que trás a marca da elasticidade ingênua e branca. Da seiva e da borracha. Já avisou que não aceita doação ao futuro partido de produtores de tabaco industrial e bebidas alcoólicas. Por isso fica-se dividido entre o sarcasmo e a apreciação de um heroísmo descabido. Mas não será o descabido o essencial para resgatar o sagrado das coisas publicas? Talvez tenhamos que reavaliar o que é ou não é absurdo, e inverter a lógica que nos guiou até aqui.    

Admirável, ainda que insustentabilidade de forcas politicas não subsidiadas pelo capital, deu no que deu. No Brasil recente o subsidio entrou depois para garantir que quem quer que fosse o vencedor teria os habituais privilégios e regalias.

Voltando a ela e seu partido, não a pessoa, mas as forças sociais que ela representa. Elas são as realmente dignas de nota. E mais ainda por ela  estar em condições de, se não vencer o pleito, pelo menos vai desbalancear seriamente a arquitetura politica em curso.

Como já fez há pouco, impedindo que o partido governista levasse as eleições presidenciais no primeiro turno. O impacto deste fenômeno e os desdobramentos com sua abstenção posterior ainda merecem analises mais extensas.

Agora, as condições são muito distintas

Marina aglutina hoje muito mais do que os descontentes, petistas frustrados e a multidão anônima que acha ela com cara de “gente boa”,como se ouve por ai.

Ela aglutina credibilidade. Item escasso no mercado da (des)confiança mundial. E associa a ela o tema abandonado nas últimas gestões, o meio ambiente. Tandem poderoso. Pois a força que ela cria pode fazer varias trajetórias: sucumbir ás necessidades e acordos que convém ao triunfo eleitoral (o autentico revolucionário sempre padecerá da síndrome do dia seguinte aquele em que se chega ao poder) ou manter a arrogância da independência.

 

A arrogância pode ser uma virtude se ela esta ajustada a um objetivo generoso, só que em politica costuma ser fatal.

As perspectivas reais de sucesso estão, todavia, longe de serem boas, já que o outro lado esta carregado de gente que faz muito bem feito. Por isso Marina é uma quimérica contra perspectiva. Ainda que um sonho, suas aspirações e ingenuidade (piora quando ela procura demonstrar sagacidade politica) são a verdadeira bandeira que podem levar o Pais a um palmo acima.

Não se faz a mínima ideia de quais seriam suas equipes de governo nem se seu partido teria força para conduzir a desburocratização e a as reformas necessárias para que os projetos sociais não murchem na praia. Nem como lidar com gente bem mais agressiva e violenta que a indústria dos produtos alcoólicos e do tabaco.

Escolheram um nome tampão para o partido (espero) ate que surja algo melhor. Mesmo assim vale apoiar para ver se saímos da jogatina polarizada entre os mesmos de sempre e aqueles que fingiram não serem os mesmos de sempre.

Pode não dar na BBC, vale esperar as próximas ediçóes. O inédito sempre tem um gosto da mudança.

 

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)  

Paulorosenbaum.wordpress   

Compartilhe:

  • Imprimir
  • Mais
  • Tweet
  • WhatsApp
  • Telegram
  • Pocket
  • Compartilhar no Tumblr
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

O que não enxergamos?

15 quinta-feira nov 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ 1 comentário

Tags

anomia, centralismo partidário, centros de pesquisas e pesquisadores independentes, Eleições 2012, indicadores, justiça, liberdade, mensalão, Obama, poesia, riscos, significado de justiça

O que não enxergamos?

As doses fortes do STF e as sentenças no prelo deixam a sensação de que a justiça foi bem feita. As penas altas fizeram alguns festejar o início de uma nova era. Como figura pública, o ministro Barbosa emerge como novo e intempestivo fator.

Passei incólume pela euforia. Talvez porque as narrativas não alcançaram ou discutiram o que realmente importa: a agressão à democracia. Claro, eles não eram malfeitores comuns, as intenções eram as melhores possíveis, fazer prevalecer o que acreditavam ser o melhor para todos. Não compravam deputados, tentaram é calar qualquer voz dissonante. Mas, se eles derem licença, preciso dizer que eu, como muitos, não tem claro que o isso deles é o melhor. Se bem esclarecida, a maioria também recusaria o “melhor para todos” goela abaixo, e o trocaria por um punhado de liberdade para discordar.

Então descubro que a incapacidade de vibrar com sentenças judiciárias não decorre só da natureza melancólica e deprimente dos fatos, mas de perceber, em todo canto, que a ideologia triunfa sobre ideias e assim vai inutilizando e desconstruindo o diálogo, a nossa grande chance de sair dessa furada.

Pergunto-me se eles realmente perderam? Talvez aqui paire a grande ilusão, pois no final das contas, a lógica do mensalão deu certo! Isso porque parte significativa da esquerda prefere se esconder atrás dos justificacionismos que exercer a autocrítica. Se com a direita a tese geral era o pornográfico “benefícios privados, riscos públicos”, a moda agora é “por melhores indicadores sociais, vale a pena até matar.”

É a sórdida mistura dessas duas lógicas que triunfa no Brasil contemporâneo, e não só na política.

Por isso, nada espantoso que tenhamos pena de morte de policiais decretada a partir de celulares de presídios de segurança máxima, ações desastradas que tentam estancar a sangria das chacinas diárias entre traficantes, milicianos e organizações criminosas e o espetacular resultado final: os habitantes das cidades sem saber a quem recorrer e como se defender da ausência de regras. Em caso de dúvida, perguntem ao Ministro da Justiça! Lembremo-nos que muitos réus foram avalizados por votação, e permanecem cultuados nas seitas às quais pertencem. Eles não são vilões solitários, tampouco os autonomeados mártires, como costumam se apresentar.

Será que estamos sendo conservadores? Injustos? Há alguma chance de encarar como justo o que os réus fizeram diante das circunstâncias históricas? Vale breve recapitulação.

Engatinhávamos na democracia e, de joelhos, assistimos Tancredo Neves desabar um dia antes da posse. O que nos aconteceu ali? O medo de que toda conquista das diretas, e o direito de escolher nossos representantes fosse, mais uma vez, adiado. Isso até que a junta militar decidisse se estávamos ou não maduros para votar. No palitinho, ganhamos um voto de confiança dos generais. E o que fizemos com nossa liberdade? Com ajuda da mídia elegemos Collor, e, com a ajuda da grande mídia corrigimos o equívoco. Em seguida, o intelectual FHC, um benévolo luxo inédito que nos permitimos, depois de longo período de obscuridade. O País avançou, as instituições se fortaleceram, apesar da má vontade da oposição petista da época. E foi esse avanço mais a essencial estabilidade da moeda que permitiu que Lula levasse a eleição seguinte. Triunfo importante para os trabalhadores, novos avanços e surpresa: alguma esperança republicana com a civilizada manutenção das conquistas dos governos anteriores. Mas eis que o candente núcleo político decidiu que precisava da hegemonia, e, inspirado em esquema pré-existente, do qual quase todos os outros partidos já haviam se beneficiado, montou o mais ousado e maciço assalto à República de todos os tempos. Aí veio a briga pelo espólio e as denúncias de Jefferson. O governo balançou e não caiu graças às ameaças de dossiês que, de parte à parte, geraram pânico entre os políticos e seus financiadores. A República, amedrontada, desmontaria. Será?

Aqui é possível afirmar: precisamos enxergar que ainda NÃO vivemos em pleno estado democrático de direito e nem gozamos de liberdade ampla geral e irrestrita, já que democracia sem diálogo não passa de ditadura com voto.

Ninguém é 100% em nada, muito menos honesto ou desonesto. Mas há uma linha- tabu, que não deve ser ultrapassada: decência e transparência com a coisa pública. E esqueçam arrependimentos: por paixão, ganância e poder, eles fariam tudo de novo embrulhados na bandeira de uma doutrina anacrônica e rançosa, que já não atende mais às sociedades do mundo.

Direita e esquerda falharam, falham e falharão, levando, junto com suas experiências caóticas, centenas de milhões ao buraco e aos divãs.

Alguém precisa inventar nova direção. Talvez nenhuma!

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

Paulorosenbaum.wordpress.com

Para assessar o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/15/o-que-nao-enxergamos/

Compartilhe:

  • Imprimir
  • Mais
  • Tweet
  • WhatsApp
  • Telegram
  • Pocket
  • Compartilhar no Tumblr
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Psicologia do cheque em branco 

01 quinta-feira nov 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ 1 comentário

Tags

Brasilia atual, colapso da segurança, Democracia grega, desilusão com a política, Eleições 2012, fadiga de material, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, manipulação, mensalão, milícias, nordeste, postes, postes e bonecos infláveis, regime presidencialista concentrador, segurança pública, significado de justiça, violencia

Psicologia do cheque em branco

Jornal do Brasil Paulo Rosenbaum

Numa dessas extraordinárias ironias da vida, a grande prova de que o ex-ministro vitorioso em São Paulo falhou na principal tarefa educacional que é promover o raciocínio crítico, foi sua própria eleição. Nada contra ele, mas tivessem os habitantes do estado mais populoso da nação sido realmente instruídos e treinados na arte de discernimento, não teriam passado um cheque em branco a um preposto do grande chefe. Reconheçam-se seus méritos, que mais desta vez, saiu-se bem na arte da prestidigitação. A República é o atual parque de diversões do grande comandante, que agora elege bem mais que postes: cria bonecos infláveis que enche ou esvazia conforme a veneta.

Somos obrigados a admitir que a paixão por partidos lideres e celebridades façam parte de um mesmo processo psicológico, que merece reflexão e muito estudo. A grande mensagem desta eleição, é, infelizmente, uma má notícia. Estamos diante da consolidação da hegemonia personalista. Há quem dê de ombros. Parece sem importância que neófitos apareçam do nada e ganhem as eleições. Mesmo assim, as implicações são trágicas. Captem o significado profundo e a arbitrariedade dessa concentração de força. Com as vontades pessoais, e as vinganças saciadas, quais serão os próximos apetites?

Como tudo apresenta outro lado, o estrondoso fracasso do partido governante no Norte-Nordeste mostra que o Brasil é mais complexo e inapreensível do que se planejava. É o risco que se corre ao reduzir um país tão plural. Mas, o que não foi considerado não é a corrupção mais ou menos generalizada, e sim a reafirmação de que o assalto aos cofres nacionais serviu a “causa maior”. Segundo essa lógica, ela é, de uma só vez, garantia, aval, indulto e endosso. É essa convicção de que as leis devem se adaptar aos propósitos pseudo salvacionistas, que caracteriza a Brasília atual

A redução do eleitor a um elemento amorfo do curral eleitoral é um fenômeno antigo. Mas quando a política manipula as massas e violenta as regras do jogo ai enfrentamos uma nova ameaça. Isso é mais que a representação, é a face concreta, substantiva e presente do mal. Para quem se arrepia, outra versão: o oposto do bem público. A gula centralizadora se revela na enorme concentração de impostos drenados ao Planalto, enquanto os municípios esmolam verbas.

Esta entidade abstrata chamada Estado, sob regime presidencialista concentrador, favoreceu as aventuras dos políticos contemporâneos. O objetivo final é um só: tornar as pessoas presas do medo. Quando milhões de reféns têm a resistência vencida e o vencedor impõe suas estratégia aos vencidos, duas posturas emergem: fanatismo e descrença.

Os fanáticos podem degenerar facilmente para hordas protofascistas (como as que agrediram as pessoas que protestavam contra os condenados no dia da eleição) e carta branca aos radicais entusiasmados pelo crédito eleitoral conquistado. Enquanto os descrentes são uma resposta desesperada ao panorama sórdido que enxergam pela frente. O resultado prático é mais engajamento para aloprados e afastamento, decepção e esgotamento para os demais. O diagnóstico de “fadiga de material” e os “ventos de mudança” são duas polaridades desse mesmo problema.

Quem não quer mudança? Mas, e se for para pior? A maior abstenção desde 1998 — e vai crescer — registra este momento histórico. Como pensava Arnold Toynbee: “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”. Mas uma breve analise da realidade mostra que faz todo sentido: para que votar se os melhores são sempre preteridos em função dos mais ardilosos?

Atropela-se, se for preciso mata-se, vale qualquer negócio para chegar ao sucesso. E não é assim por aí no mundo? Na raiz das cifras da abstenção recorde há uma desilusão com a política, pois esperava-se que fosse uma atividade completamente diferente do mundo dos negócios privados que conhecemos. A expectativa, nem sempre consciente, era de que os políticos tivessem a chama sagrada, o velho espírito dos sacerdotes. A diferença, ingenuamente deduzíamos, não poderia estar só no dinheiro publico, muito menos se usado para fins privados.

Em nossas anacrônicas construções mentais, a política tinha que ser e ter um ideal maior, uma lição de abnegação, um exemplo de altruísmo, o jogo limpo. Caretice nossa. Não é nada disso. A real é que ali se concentram os interesses mais materiais, os tipos mais egoístas, as raposas mais espertas, e às vezes a moeda não é só papel moeda, mas poder. Muito poder.

Retire-se o dinheiro e distribua-se melhor o poder com descentralização de impostos, e veremos decrescer o desvio, o mal feito, e o incomparável descalabro com as contas públicas. Mas isso vai contra a “causa”, não faz parte da estratégia. A gravíssima falta de segurança (60 mil assassinatos em um ano, mais que muitas guerras civis) e o renascimento de milícias partidárias truculentas que desrespeitam as normas jurídico-institucionais, toleradas pelo poder central, representam bem os impasses que nos aguardam mais à frente.

A menos que a educação vingue para valer, para sair do imbróglio, precisaremos contar com um grande golpe de sorte.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

paulorosenbaum.wordpress.com

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/01/psicologia-do-cheque-em-branco/

Compartilhe:

  • Imprimir
  • Mais
  • Tweet
  • WhatsApp
  • Telegram
  • Pocket
  • Compartilhar no Tumblr
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

O Sequestro do Estado

25 quinta-feira out 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ 1 comentário

Tags

açao penal 470, anomia, autocracia, cala boca, centralismo partidário, Democracia grega, Eleições 2012, elites, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, instituições financeiras, Julgamento Mensalão, justiça, manipulação política, mensalão, o pobre, pobres, poder absoluto, política, regimes, sequestro do Estado, significado de justiça

O Sequestro do Estado

Autocracia, do grego, autokráteia – força própria, poder absoluto.

Estudos econômicos recentes apresentaram realidades paradoxais. Se por um lado no século XX as condições sócio-sanitárias avançaram, o fosso que separa a extrema pobreza da extrema riqueza aumentou muito e a crise mundial propagada veio para dar o golpe de misericórdia no abismo. Esta incapacidade crônica de resolver o apartamento entre os que podem comer e os que não gozam do direito de perguntar por que continuam famintos, representa bem o malogro da política globalizada como instituição. Mas há um perigo muito maior nessa vergonhosa calamidade. As cinzas tem potencial assustador para gerar lideres totipotentes, os quais, geralmente, ficam à frente de governos cínicos. Facciosos, auto referentes e boquirrotos, eles formam a nova elite politico-econômica. Não vieram de onde vieram, pequena burguesia ou da pobreza para mudar nada, apenas ocuparam um lugar que antes não lhes pertencia. O problema é que mimetizaram os valores que antes atacavam ferozmente e se tornaram versões aperfeiçoadas dos antigos algozes. Hoje manipulam os mais pobres exatamente como machistas usam as mulheres. O pobre vai de mão em mão, transformado em objeto, sem acesso a ser player do jogo capitalista, oprimido por impostos e feliz por subsistir na miséria. Seu único préstimo é sustentar a autoilusão de que o regime é feito para eles, e por um deles.
A verdade é que regimes totalitários costumam governar com as instituições financeiras, o grande capital acionário e as elites econômicas. Essa dupla miragem impõe à sociedade inteira um efeito colateral. A verdadeira calamidade é que o favorecimento de governos populistas (distingua-se populismo de governo popular) entorpece a capacidade crítica e permite o cala boca da maioria na surdina, sem alarde. Pudera, quem pode falar quando são 70 e tantos por cento de aprovação?
Para conseguir tudo isso foi preciso saciar a fome sem prover renda, substituir educação e melhores condições de vida pela subserviência ao paternalismo de Estado, desqualificação da educação superior, e abandono do critério de mérito e esforço para lograr a ascensão sócio cultural. São rebaixamentos que seduzem. Acabam atingindo a oposição que se viu obrigada a renunciar seu papel fiscalizador e/ou associar-se comportadamente para compor com o governo: assim nasceu a base alugada.
Pois então que respondam os prezados leitores: Em qual República do mundo uma cúpula partidária inteira é condenada por corrupção ativa e os mandatários passam incólumes e continuam se elegendo e aos cúmplices, como se a suprema corte estivesse batendo martelos no açougue? Em qual Pais do mundo o uso da máquina pública é abertamente colocada a serviço de candidatos do regime e não se ouve uma palavra de protesto, uma contestação, um pio? Em qual Nação contemporânea, diante de sucessivos escândalos envolvendo sinistros interesses públicos e privados, a situação cresce e a oposição míngua?

Cautela é vital. A razão mostra que nem todos os políticos podem ser equiparados e o fenômeno motivador da ação penal 470 é essencialmente pluripartidário.

Mas há uma diferença, a fundamental: quem ataca a justiça ou a protege.
Os primeiros acham que a lei é uma espécie de guarita, um apêndice governamental, que os cargos de confiança facultam impunidade e, caso derrotados, ainda podem aguardar o indulto. E existem aqueles poucos que sabem que a justiça é a garantia, a única, que nos assegura os direitos individuais, liberdade e equidade. Confundir estes dois tipos e dizer que “são todos iguaizinhos” é embarcar na cortina de fumaça e fazer troça da constituição, como aliás farão os réus e seus padrinhos a partir de domingo a noite, assim que as urnas forem lacradas. Tudo devidamente acobertado por parcela da comunidade intelectual que agora arma a difamação do único poder atualmente independente da República, o Judiciário.

Como exercício de antecipação isso nos deveria fazer pensar que, se nada for feito, em qual tipo de ditadura nos transformaremos adiante.

Ao sequestrar o Estado, esse governo avança lentamente para aplicar os devidos torniquetes contra a liberdade de expressão, como já anunciaram os falcões do partido. O pedido de resgate já não interessa, preferem se apoderar da vítima para sempre. De servidor do povo, o Estado passou a se servir dele para consolidar seu projeto político monológico. O povo somos todos nós, ELES a nova elite, fazendo caixa pelos mais variados motivos. Recomenda-se o recentemente divulgado vídeo com a impressionante entrevista de Hélio Bicudo para entender melhor de quanto se trata. O mensalão foi apenas um detalhe dessa sofisticada maquinação, que não fica nada a dever às táticas dos regimes mais truculentos e autoritários. A julgar pela inércia, o Pais ainda não está pronto para ser passado a limpo, teremos que aguardar outro julgamento, o histórico, para saber a distancia que estivemos da autocracia.

O consolo? Passa por um velho princípio da física, a lei a gravidade. Neste mundo todos os corpos são irresistivelmente atraídos ao solo e tendem à queda, se é que não serão derrubados antes!

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”(Ed. Record)

Paulorosenbaum.wordpress.com

Para acessar link do JB use:

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/10/25/o-sequestro-do-estado/

Compartilhe:

  • Imprimir
  • Mais
  • Tweet
  • WhatsApp
  • Telegram
  • Pocket
  • Compartilhar no Tumblr
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Populismo blindado e Maquiavel

18 quinta-feira out 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ Deixe um comentário

Tags

aspiração totalitária, centralismo partidário, democracia, eleição em São Paulo segundo turno, Eleições 2012, fins justificam os meios, hegemonia e monopólio do poder, manipulação, maquiavélico, Maquiavel, niccolò machiavelli, política, polis, populismo blindado, segundo turno, silencio premiado, vale tudo, voto útil

Populismo blindado e Maquiavel

Diz-se que tudo que entra na linguagem popular tem razão de ser. Quem já não ofendeu alguém usando a palavra “maquiavélico” ? Mas será que estamos fazendo jus ao filósofo Niccolò Machiavelli (1469-1527)?

Sua famosa frase é mal citada e pessimamente instrumentalizada por políticos de todas as grandezas. Raramente a frase toda é contemplada em seu contexto: “Na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, contra a qual não há recurso, os fins justificam os meios.” Ouviram? “Contra a qual não há recurso”, isso significa que, nesse caso, teremos que aceitar resignados as arbitrariedades do príncipe e os meios que sua alteza julgar apropriados para nos governar.

O que está em jogo neste segundo turno das eleições é muito mais que a obvia antecipação da eleição presidencial de 2014: é a tentativa da atual administração federal de consolidar seu populismo blindado. É o atual estilo de governar na América Latina. É imperioso que a sociedade interponha recursos contra o príncipe.

O candidato do governo federal até convenceria como figura que se força à simpatia e a ingenuidade de um acadêmico que está para se tornar político, mas o caso é outro quando se analisa suas companhias. O problema é que ele se tornará mero instrumento nas hábeis mãos de quem o alçou até lá. Nesse caso, o morubixaba já declarou que faturar em sampa é “questão de honra”. Ora, nenhum pleito deveria ser, por definição, questão de honra, pois a política além de ação coletiva, quando colocada a serviço dos caprichos pessoais já degenerou num absolutismo plebiscitário.

Por isso mesmo há que se questionar o famoso aforismo positivista de que “contra fatos não há argumentos.” Há. Muitos. O primeiro deles é que um eventual triunfo do candidato do governo federal em São Paulo representaria a consagração do jeito vale-tudo de fazer política. O que torna a reflexão sobre o mensalão mais assustadora é que ele pode se universalizar e portanto legitimar-se como praxe política. Obviamente, nem todos no partido tem essa índole, mas é público que para os chefes esse é o caminho.

Sim, há uma política baseada em vingança e lealdade revestida com silencio premiado que lembra a lei do bico calado das organizações criminosas. Nesse sentido, estamos todos comprados, comprados pelo sucesso, pela economia acelerada, pelas benesses que o estado promete, pelas vagas no ensino superior, pelo acesso ao consumo.

O problema na verdade é que eles ainda consideram o pais um regime de exceção e o sistema, digno de ser derrubado. Acordem! Encontrar soluções passando por cima das leis é a verdadeira conspiração contra a democracia, não importando os resultados finais. O suborno portanto não vem só da corrupção ativa dos políticos, mas de nossa submissão alienada aos critérios que nos tem sido enfiados garganta abaixo. Diz-se nos fóruns internos do partido que vão “tocar fogo” no país para exorcizar as condenações. Claro, isso será assim que passar as eleições, já que as pesquisas mostram que a esmagadora maioria das pessoas entrevistadas, de todas as classe sociais, acham que as condenações foram justas, que o governo federal esteve envolvido, que gostariam que a impunidade diminuísse. Também já se ouve, à boca pequena, que haverá pressão sobre a presidenta para indultar os réus. Se isso realmente acontecer, a fogueira subirá ao status de incêndio de grandes proporções.

É contra esta lógica que a percepção da opinião pública resiste e aos poucos está aprendendo a se defender.

Assim mais uma vez pode se repetir o fenômeno do voto útil em São Paulo, não exatamente contra o ex-ministro da educação mas contra tudo que ele representa, contra quem governará por ele ou com ele, tanto faz. Isso não significa que seu oponente tenha a coalização dos sonhos ou um candidato modelo, mas qual é a alternativa? O problema é que em São Paulo, quiçá no Brasil, sempre foi assim.

O pragmatismo pode funcionar para as alianças e conchavos mas não solucionam questões vitais da cidade. Quando questionados, eles dizem que nada disso interessa e dá-lhe refrão: tiramos milhões da miséria! Aplausos e nada mais que a obrigação do Estado com a justiça social. Mas o que isso tem a ver com crimes comuns, corrupção e aspiração totalitária?

Para fazer uma política justa e alcançar o bem estar que atinja todos, o foco deveria estar nas cidades, no dia a dia dos bairros, dos espaços públicos, na reunião da periferia com o centro. Isso, infelizmente, não acontecerá. Ganhe quem ganhar, as ações serão todas dirigidas e pensadas considerando outro foco, o plano nacional, a maldita rampa.

Uma lástima para os habitantes da polis que, mais desta vez, terão que esperar a vez. Fossem os políticos realmente republicanos não enxergariam mandatos como questão pessoal, nem o poder como instrumento arrivista.

O tênue consolo vem do futuro. À revelia do poder, a opinião pública brasileira amadurece com suor e lágrimas, e é com toda essa umidade que a corrosão da blindagem virá antes do que se pensa.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo ”Ed. Record.

Paulorosenbaum.wordpress.com

Para acessar link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/10/18/populismo-blindado-e-maquiavel/

Compartilhe:

  • Imprimir
  • Mais
  • Tweet
  • WhatsApp
  • Telegram
  • Pocket
  • Compartilhar no Tumblr
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Ética? Vê se se enxerga!

11 quinta-feira out 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ Deixe um comentário

Tags

Aristóteles, Últimas Notícias, ética, Comportamento, definição de ética, Eleições 2012, ethos, filosofia, hegemonia e monopólio do poder, mensalão, moralidade pública, morubixaba, recall, Reflexões, significado de justiça, voto distrital

Ética? Vê se se enxerga!
Segundo os dicionários de filosofia “ética” significa “ciência que tem por objeto a apreciação que se aplica na distinção entre o bem e o mal”. Como há confusão de um dicionário para outro, recorri a Aristóteles e cheguei ao que mais se aproxima duma visão contextualizada: “ação que os homens exercem uns sobre os outros”. A palavra grega ethiqké, na raiz etimológica, estudo da moral. Deriva da palavra ethos, que significa “caráter ou ética”. Contudo, é bom que se saiba que ela nunca foi um ingrediente natural, e, por isso, diz-se que a ethiké arete (a virtude ética) se conquista pelo hábito.

Fomos criados com cegueira seletiva, aquela que interdita o reconhecimento dos nossos próprios preconceitos. Os outros, claro, é que não tem ética. Aliás, também só outros têm ideologias, ideias fixas e vícios.

Em miúdos, é licito roubar para doar aqueles que precisam mais do que nós? É ético encarcerar um famélico que para prover sua família, surrupia pão? É perfeitamente legal, mas será justo que um bando de partidos loteie cargos públicos para se perpetuar no controle? Está de acordo com a moralidade pública que a administração, seja lá qual for, finja respeitar a opinião pública para, na sequencia da votação ungi-la com pacotes que trazem arrocho, inflação e impostos? É ético que qualquer um trate a coisa pública como coisa sua, ainda que o termo mais apropriado seja cosa nostra? É compatível com a moral num pais com pacto federativo, que a coalização governante esprema, com retenção de verbas, as unidades federadas que não rezarem na sua cartilha? Faz sentido uma política baseada no ódio?

O gabarito com as respostas ainda não saiu.

O fato é que é difícil cumprir as exigências para ser ético, é preciso cultivar um refinado senso de decência. Já que ninguém se regenera lá dentro, o homem público deveria, a priori, ser honesto. A verdade é que a moral e, particularmente, a moralidade pública nunca teve os alicerces tão relativizados.

A palavra pula fácil da boca, ela é a bandeira, mas também o lugar onde os acusadores se enrolam. Bastardeada, a ética virou mote e agora a moda é bater no peito e dizer que nunca se locupletou, não recebeu denúncia e é sujeito exemplar. Está claro que a esquerda perdeu o rumo – a direita nunca o teve, mas também nunca disse que tinha — e ética passou a ser sinônimo de “fazer bem feito” independente das alianças e apropriações indevidas que se fez e se faz da coisa pública.

E quem fiscaliza os abusos? Decerto não será a recém demissionária comissão de ética da presidência da república. Há dois caminhos, aquele em curso, vale dizer, o que exige progressiva judicialização da política. Ou, o outro, exigir mais dos mecanismos democráticos como, por exemplo instituir “recall”, voto distrital, rediscutir a proporcionalidade no parlamento.

Sem novos ares o interesse em escolher representantes esmorece. Fez com que mais de 25 milhões de pessoas anulassem ou se abstivessem nesta última eleição. Fenômeno subestimado pelos analistas profissionais, mas talvez exatamente ai, a mensagem mais contundente do último pleito: estamos todos de saco cheio da mesmice, da farsa, da caretice, da farra. Não se trata de sacar nomes novos do colete como é a praxe do morubixaba que conta com a conivência e aplausos dos idólatras.

Estivemos por um fio de distância da hegemonia absoluta, e as instituições, reagindo à desconstrução, recuperaram a voz. Alentador, mas vamos controlar as ilusões. Só o fortalecimento da opinião pública, maior vigilância sobre o poder e uma mídia insubmissa, pode nos ajudar no longo aprendizado que é o treino do discernimento.

Provavelmente, a dimensão mais importante de toda essa discussão não esteja em julgar o mundo ou resgatar valores. Voltando para Aristóteles: afinal qual tipo de ação estamos exercendo uns sobre os outros?

Talvez haja uma premissa: ser ético é poder se enxergar!

Paulo Rosenbaum é médico e escritor, é autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

paulorosenbaum.wordpress.com

Para acessar o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/10/11/etica-ve-se-se-enxerga/

Compartilhe:

  • Imprimir
  • Mais
  • Tweet
  • WhatsApp
  • Telegram
  • Pocket
  • Compartilhar no Tumblr
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Castas à brasileira.

26 quinta-feira jul 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ Deixe um comentário

Tags

centralismo partidário, Eleições 2012, hegemonia e monopólio do poder, justiça, justiça e saúde, mensalão, política

Castas à brasileira

Jornal do Brasil Paulo Rosenbaum

As histórias das pessoas sensibilizam não exatamente pela narrativa de como sofrem, mas como cada uma resiste ao sofrimento. Essa resistência (desisti de “resiliência” depois da apropriação indevida que a psiquiátrica fez do termo) já é uma forma de cura que, às vezes, transcende cuidados médicos. Pois vejam dois exemplos de problemas que misturam medicina, justiça e aberração. A lei é para todos, pois não? Somos iguais perante a legislação? Então por que uma moça negra, trabalhadora doméstica, de aproximadamente 35 anos que teve o pé direito amputado em função de um tumor maligno não consegue se aposentar, e outros conseguiram o benefício por terem perdido a unha num torno mecânico? É um problema de peritagem? De organização sindical? Da capacidade de tumultuar um posto do INSS? Por que a classe política tem foro especial enquanto o policial federal não conseguiu obter a tempo a escolta antes de ser fuzilado em Brasília? Por que até os juízes estão sendo acossados ao julgarem gente poderosa conforme convém ao poder? O demagógico não é comparar eventos aparentemente distantes como esses, mas fingir que não são pertinentes. Estão todos interacionados.

A reforma do Código Penal ainda em trâmite só é bem-vinda se vier com determinação da sociedade para modificar as condições de sua aplicabilidade e minimizar a separação das castas nacionais. O sistema de castas à brasileira é aquele que separa não pela etnia ou por um tribalismo metafísico mas por extratos de poder. Numa blitz policial, o cidadão liberado quis saber qual o motivo de ter sido tão desrespeitado durante a revista, e a resposta foi: “Agora a gente trata pobre e rico tudo igual”. Pois esse é o medo, a regra ficou clara, serão todos maltratados.

É impossível contemporizar e duro admitir: a web é um lixão aberto ao ciberspaco. Diverte, distrai e há até pérolas resgatáveis, mas constam como exceções à regra. A legislação mudará para tentar enquadrar os crimes virtuais, resta saber se funcionará. Circulam pelo esgoto eletrônico sideral, além das calúnias e golpes, textos e correntes que para serem classificados sob este rótulo precisariam melhorar muito. Algumas merecem resgate: pedidos de volta dos “bons tempos” do regime militar, mensalão como conspiração arquitetada pela CIA, volta da censura com controle da mídia, educação formal dispensável, vírus da Aids fabricado por laboratórios farmacêuticos (essa até que poderia ser crível, mas para outras patologias), a mudança do clima como invenção das indústrias de ar condicionado, de fato o bestialógico é assustador. Mas o que causa espanto é que aparentemente perdemos a virtude — nesta altura é o que é — da perplexidade. O saudoso Millôr dizia que imprensa é oposição, o resto é capitulação. Espanta ver quantos capitularam e se acomodaram nos braços do subsidio estatal.

Escandalizei-vos já.

Sim, o mensalão (desculpem, é força do hábito), vale dizer, a lógica por detrás da “ação penal 470” sobrevive Brasil afora, com seus impunes tentáculos cheios da grana fácil dos contribuintes, travestida de “liberação de verba”, “medidas provisórias” e “emendas parlamentares”. Só mesmo “trouxas legalistas” ainda acham que não vale a pena sucumbir aos dez por cento. Acontece que eles são a maioria da população. Mesmo com o beneficio da dúvida, diante de tantas injustiças não era para um país redemocratizado estar de ponta-cabeça antes de se aposentar? A justificativa corrente “mas isso tudo ocorria também em governos anteriores” perdeu o prazo de validade. Se de fato ocorria, o que estamos esperando para evitar a recorrência?

Temos 200 milhões de técnicos de futebol e talvez a metade disso de analistas políticos amadores. Muitos admitem o medo de fazer comentários críticos em público — como confidenciou o funcionário de uma universidade — porque poderiam dedurá-lo e lhe cortariam o ponto ou a bolsa. O patrulhamento já era uma realidade, a novidade é o monitoramento virtual.

Por que os intelectuais adotaram o silêncio defensivo como forma de não se comprometer com os esculachos na República? A omissão da crítica intelectual — nome correto: “constrangedora cooptação“ — passou do ponto. Esperava-se muito mais da inteligência nacional. As vozes ouvidas são tímidas e em sua maioria coro de enaltecimento à gestão federal, puxa-saquismo, no velho idioma. Como Arthur Schopenhauer pedira em sua época, uma comissão da verdade merecia ser constituída também para avaliar porque assuntos e pessoas realmente vitais passaram a ser irrelevantes, enquanto a superficialidade arrivista tornou-se hegemônica.

O amortecimento coletivo chegou ao insuportável e à beira do ponto de ebulição, agora terá que escolher de qual lado do abismo ficará.

A sociedade sairá triunfante porque, diante da parada dura que é o tamanho do fosso, ninguém mais pode se dar ao luxo de escolher errado.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”. (Ed. Record)

Para acessar e comentar use o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/07/26/castas-a-brasileira/

Compartilhe:

  • Imprimir
  • Mais
  • Tweet
  • WhatsApp
  • Telegram
  • Pocket
  • Compartilhar no Tumblr
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...
Artigos Estadão
Artigos Jornal do Brasil

https://editoraperspectivablog.wordpress.com/2016/04/29/as-respostas-estao-no-subsolo/

Entrevista sobre o Livro

aculturamento Angelina Jolie anomia antiamericanismo antijudaismo antisemitismo artigo aspirações impossíveis assessoria assessoria de imprensa assessoria editorial atriz autocracia autor autores A Verdade Lançada ao Solo açao penal 470 blog conto de noticia Blog Estadão Rosenbaum Censura centralismo partidário centros de pesquisas e pesquisadores independentes ceticismo consensos conto de notícia céu subterrâneo democracia Democracia grega devekut dia do perdão drogas editora editoras Eleições 2012 eleições 2014 Entretexto entrevista escritor felicidade ao alcançe? Folha da Região hegemonia e monopólio do poder holocausto idiossincrasias impunidade Irã Israel judaísmo justiça liberdade liberdade de expressão Literatura livros manipulação Mark Twain masectomia medico mensalão minorias Montaigne Obama obras paulo rosenbaum poesia política prosa poética revisionistas do holocausto significado de justiça Socrates totalitarismo transcendência tribalismo tzadik utopia violencia voto distrital
Follow Paulo Rosenbaum on WordPress.com

loading Cancelar
Post não foi enviado - verifique os seus endereços de e-mail!
Verificação de e-mail falhou, tente novamente
Desculpe, seu blog não pode compartilhar posts por e-mail.
%d blogueiros gostam disto: