• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico-Writer and physician

Paulo Rosenbaum

Arquivos da Tag: Democracia grega

Holocausto Subliminar

29 quinta-feira nov 2012

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antiamericanismo, antijudaismo, antisemitismo, Democracia grega, hegemonia e monopólio do poder, Irã, Israel, judaísmo, justiça, liberdade, tribalismo

Holocausto Subliminar 

 

“O oráculo decreta o destino, o filósofo torce contra si mesmo, esperando que suas previsões fracassem”   

 

Em meio aos assuntos que dominaram a mídia nas últimas semanas está a aberta e escandalosa demonização de Israel: um eufemismo covarde para incluir judeus sem mencioná-los. Trata-se de um claro sinal de que há algo sistêmico em curso. A ONU fez a partilha da ex-colônia britânica e outorgou a dois povos, dois Estados. Como se trata de uma das regiões que mais mudou de mãos na história, não se deve olvidar o pesado passado colonial, que trai a confiança mútua entre as partes, ambas responsáveis pelo desperdício de preciosas possibilidades de acordo. A questão Palestina, portanto, é apenas a tecla da vez. Para alimentar preconceitos e ideologias, como Sartre escreveu, sempre se pode inventar algum álibi.  

 

Temos que encarar o recente cessar fogo como um epílogo de uma guerra bem maior, cujo enredo está entrelaçado com a crise econômica mundial, a explosão de violência e o holocausto subliminar.

Aos poucos, abandona-se, de lado a lado, a ênfase na solução por dois Estados. Na auto-armadilha bem montada, os bem pensantes criaram impasses para si mesmos: como exorcizar Israel e defender o Hamas ou o Hezbollah sem conceder espaço aos argumentos fundamentalistas? Há muito tempo, na palestina do sul, a luta do califado da retidão já não é só contra o Estado Hebreu. Há, portanto, uma espécie de estatuto moral duplo. Se, de um lado, há consenso que após o 11 de setembro a islamofobia seja inaceitável, de outro, a aversão aos judeus tem sido “naturalizada”, normatizada e regulamentada. A banalização é o primeiro passo ao conformismo. Basta espiar as redes sociais, as manchetes e o escandaloso aumento de ataques “espontâneos” contra judeus na Europa. Da construção lingüística, às imagens super exploradas, Israel vem figurando nos textos e nas charges como agressor, belicoso, hostil, quase uma entidade macabra. São conclamações ao ódio, retocadas como análise política imparcial. Não importa como se mova, para onde e com quem se mova estará, a priori, errado.

 

Uma campanha, sim, dessas publicitárias, que conta até com o apoio de nomes de peso, como intelectuais americanos, europeus e latino americanos. Eles emprestaram seus nomes a uma causa e compraram e foram comprados pela ideia de que um Estado Moderno, democrático, com população de 7.9 milhão de pessoas, multiétnico, incluindo quase 1.6 milhões de árabes-israelenses, pode ter seu direito à existência cassado. Não adianta espernear, evocar paranoia conspiratória ou bufar! É isso mesmo: estamos diante de um tentame de deslegitimização do Estado de Israel. Os doutores chegaram à conclusão que ele não merece mais respirar.

 

Como eutanásia e pena de morte são coisas sérias, caberia entender como alcançaram, depois de meia dúzia de cervejas, este brilhante veredicto. Só o inverno da razão explica como mentes iluminadas concebem execrar um Estado e como isso passou a ser não só aceitável, como politicamente correto.  

 

Por aqui, o governador do Rio Grande do Sul subsidiará um fórum para discutir a questão palestina. É mais que sintomático que não tenham convidado ninguém ligado à Israel. Todos fazem parte do time das convicções absolutas, das ideias acabadas, cabeças formatadinhas. E por que dariam voz à outra versão dos fatos? Mais um palanque para insuflar a demonização do outro lado. Aberrações que o centralismo partidário e o aparelhamento do Estado brasileiro tornaram possível. A proposta viola explicitamente os termos da constituição federal, que não só reconhece o direito à existência de Israel e da criação de um estado Palestino, como proíbe a incitação ao ódio religioso, étnico e racial. E, para satisfação dos que prezam guerra, tentam minar o convívio impar e pacífico que árabes e judeus têm por aqui. A esquerda senil, incluindo a ideológica diplomacia brasileira, vai sendo movida pelo dominante e pré-escolar sentimento de antiamericanismo.

 

Mais um bom exemplo de como monólogos podem ser travestidos de diálogos numa suposta democracia.

 

Sob a cegueira antissionista o mundo parece solidário com organizações que, enquanto escolhem deliberadamente civis como alvos, vestem gravatas e negociam com a diplomacia internacional. São neo-terroristas. Quem os apóia, incluindo os senhores catedráticos, deveria rezar à noite para que seus pedidos jamais sejam atendidos. O risco é acordar com pesadelos lembrando Foucault defendendo o aitolá Khoumeini. Diante desse irrefletido apoio o que será do Oriente Médio com o eventual triunfo do fundamentalismo? O quem nos espera com a aplicação literal das leis religiosas ao modo talibã? Como ficarão as democracias, os tribunais, os direitos das mulheres, das minorias, dos muçulmanos moderados, das comunidades cristãs? Como assistiremos a conversão à espada dos “infiéis” das outras etnias?

  

Na verdade, o que hoje incomoda nos judeus contemporâneos é não mais poder confundi-los com a aura de povo vitimizado pela história, os nômades apátridas, eternamente perseguidos e oprimidos. Agora há um país cujo vigor é, em si, a própria mensagem do “nunca mais”. O que hoje estimula o atavismo antissemita enraizado pelo mundo, é que diferentemente de todos os períodos nos últimos dois milênios, Israel existe e resiste militarmente a sua imediata eliminação, como propõem explicitamente em suas “cartas constitucionais” o regime iraniano e todas suas filiais, Hamas, Hezbollah, Jihad Islâmica e Al Quaeda. 

 

Sim, tudo mudou e pouco teve a ver com a primavera árabe. Se antes o acordo era varrer os párias que atrapalhavam o desenvolvimento europeu, agora o defeito intolerável nos judeus, simbolizados pelo Estado de Israel, é sua força, e, a missão, destruí-los primeiro simbolicamente, depois sua nação e, se possível, com o aval da indiferença do mundo, levar a cabo a solução final.

 

Não vai acontecer. O mais provável é que depois do inverno da razão, o tempo mude para dias mais amenos, com trovoadas e pancadas ocasionais, num novíssimo e refrescante verão do mundo.

 

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”.

 

paulorosenbaum.wordpress.com

 

 

 

Para o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/29/holocausto-subliminar/
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/29/holocausto-subliminar/

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A civilização que não se pergunta. 

08 quinta-feira nov 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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alcoolismo, anestesia psíquica, cidadania, civilização que não se pergunta, Democracia grega, drogadição, drogas, drogas ilegais, eleição e criatividade, era geral da indelicadeza, IDH, idiossicrasias, maieutica, método talmudico, medicalização da vida, sentido da criação, sociedade e sujeito, Socrates, taxas de suicídio, tratamento alcoolismo, tratamento drogas

A civilização que não se pergunta.

O genial sistema tutorial celebrizado por Sócrates, mas já presente em tradições mais ancestrais como no ensino talmúdico e em escolas orientais, jamais foi superado por nenhum outro método pedagógico. A maiêutica (do grego maieutikos – fazer nascer as ideias) é a arte de instigar o aluno a formular conceitos latentes e estabelecer conexões com a realidade mediante uma sequência dialética de questões. Desde então ela passaria a ser virtude mais interessante que dar as devidas respostas. Num mundo tensionado por imediatismos e pelo saber I-pédico, esta forma de raciocinar perdeu força. Estamos em falta com o professor ateniense especialmente, se considerarmos que esta forma de educar custou-lhe a vida.

Tem sido a praxe política tentar achar respostas antes de formular questões. Sem perguntas, as respostas nos fazem errar. Internações compulsórias decididas às pressas, blitzes contra drogas diante da pandemia que se instalou no país, o clamor nacional pela construção de mais hospitais, planos de seguro saúde oferecidos aos milhares. Tudo isso está acontecendo, sem que se discuta o que é saúde para a sociedade? Para que e para quem vivemos? De onde vem tamanha insatisfação?

O que fazendo com nossas vidas? Quais são e como as questões políticas nos afetam? Às vezes, vale dizer, muita vezes, a ponto de nos fazer adoecer. E para que sofremos tanto? Por que este ou aquele se sagrou vencedor? Apesar de viver numa comunidade, não construímos igualdade ou solidariedade. Não é só a violência cotidiana que impede que vivamos em paz, ainda que ela seja uma forma de cassação branca da cidadania, hoje instaurada em pleno vigor.

A dificuldade de encontrar o saudável torna nossas vidas isoladas e apartadas. O obstáculo encontra-se espalhado numa vida pulverizada, redigida pela matéria e pautada por necessidades dispensáveis. Assim como a especulação financeira do capitalismo acionário reduz as perspectivas de produção, a vida ganha menos valor quando não há pelo que lutar.

As maiores taxas de suicídio do mundo estão surpreendentemente localizadas nos países escandinavos, o mesmo sítio onde se concentra o maior índice de países com IDH elevado. O paradoxo está posto. O isolamento, a solidão e uma vida sem tribulações parecem nos levar ao tédio crônico, enquanto a insegurança, a instabilidade e a falta de perspectivas nos conduzem às portas da depressão. Para um e para outro, a solução pregada será majoritariamente medicinal, induzida por fármacos psicoativos legalizados, drogas ilegais ou o bom e velho álcool.

Os médicos e terapeutas são os elementos que recebem, no varejo, todas essas mazelas sociais. É lá que as pessoas se queixam, isso quando há tempo hábil para que os cuidados formulem frases inteiras. Aquilo que os políticos tentam saldar no atacado, entram como sujeitos únicos nos hospitais, nos ambulatórios, nas clínicas do SUS e nos consultórios privados. Nota-se uma espécie de praga psíquica generalizada que faz com que 70% dos clínicos gerais (dados de 2005) prescrevam psicofármacos com incrível regularidade.

Sempre fica uma ponta de dúvida se a humanidade enfim reconhece que caiu, e, deprimida, precisa ter suas demandas aplacadas por drogas.

Há qualquer originalidade nesta resposta?

Claro que em suas mais variadas formas, as substancias também cumprem seu papel social, ritualizador, catártico, relaxante. Como se vê, reiteradamente precisamos de analgesias psíquicas. É possível aceitar que a divisão entre drogas e ilícitas e ilícitas é arbitrária, mas será que a solução é liberar as ilícitas? Proibir as lícitas? Os estudos só são ambíguos e contraditórios para quem não sabe que absolutamente todos os fármacos e substâncias medicinais e alimentares deste planeta apresentam intrinsecamente, vantagens e desvantagens. Depende quem usa, para que usa, quanto usa. Precisamos saber quem é o sujeito, conhecer suas idiossincrasias, para só depois, talvez, saber por que requisita a carteirinha de usuário.

O ponto de inflexão aqui é que a medicina e as terapêuticas buscam – e na maior parte das vezes malogram – minimizar o sofrimento humano. E precisamos pensar se a sociedade, da forma como está sendo constituída, permite que sejamos. Que sejamos sujeitos. O problema central é tentar minimizar o sofrimento numa sociedade que o exalta. Ah não? O que achamos da ideia de matar um leão por dia? Como nos sentimos sob ameaça? O que significa viver, permanentemente, sob competição? Como reagimos ao deparar com tantas disparidades econômicas? E que tal, destreinados que estamos para a predação, a sensação compulsória de viver na selva?

A resposta só pode ser outra pergunta: como chegamos a isso?

Pois esta é uma civilização que não pode deixar que os cidadãos exerçam suas individualidades. A peste emocional circula tal qual uma doença altamente infecciosa. Sim, há um contágio metafórico, e ele não só existe como invade tanto quanto os microrganismos patogênicos mais perigosos. Essa é uma civilização que não se pergunta. Ela se ergue mesmo em cima de seres anônimos que não podem, nem querem mais se exercitar como sujeitos. Mas é claro que há um custo alto por tamanha impossibilidade ou renuncia. Quem não exerce a criatividade e sua própria arte paga.

Buscar um lugar ao sol, sair do anonimato, fazer circular nossas ideias, e contar com a benevolência da expressão, são as proteções viáveis na era geral da indelicadeza.

Mais do que nunca, precisamos da salvaguarda das artes para que a criação faça sentido. Ou não?

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

Paulorosenbaum.wordpress.com

Para acessar link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/08/a-civilizacao-que-nao-se-pergunta/

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Psicologia do cheque em branco 

01 quinta-feira nov 2012

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Brasilia atual, colapso da segurança, Democracia grega, desilusão com a política, Eleições 2012, fadiga de material, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, manipulação, mensalão, milícias, nordeste, postes, postes e bonecos infláveis, regime presidencialista concentrador, segurança pública, significado de justiça, violencia

Psicologia do cheque em branco

Jornal do Brasil Paulo Rosenbaum

Numa dessas extraordinárias ironias da vida, a grande prova de que o ex-ministro vitorioso em São Paulo falhou na principal tarefa educacional que é promover o raciocínio crítico, foi sua própria eleição. Nada contra ele, mas tivessem os habitantes do estado mais populoso da nação sido realmente instruídos e treinados na arte de discernimento, não teriam passado um cheque em branco a um preposto do grande chefe. Reconheçam-se seus méritos, que mais desta vez, saiu-se bem na arte da prestidigitação. A República é o atual parque de diversões do grande comandante, que agora elege bem mais que postes: cria bonecos infláveis que enche ou esvazia conforme a veneta.

Somos obrigados a admitir que a paixão por partidos lideres e celebridades façam parte de um mesmo processo psicológico, que merece reflexão e muito estudo. A grande mensagem desta eleição, é, infelizmente, uma má notícia. Estamos diante da consolidação da hegemonia personalista. Há quem dê de ombros. Parece sem importância que neófitos apareçam do nada e ganhem as eleições. Mesmo assim, as implicações são trágicas. Captem o significado profundo e a arbitrariedade dessa concentração de força. Com as vontades pessoais, e as vinganças saciadas, quais serão os próximos apetites?

Como tudo apresenta outro lado, o estrondoso fracasso do partido governante no Norte-Nordeste mostra que o Brasil é mais complexo e inapreensível do que se planejava. É o risco que se corre ao reduzir um país tão plural. Mas, o que não foi considerado não é a corrupção mais ou menos generalizada, e sim a reafirmação de que o assalto aos cofres nacionais serviu a “causa maior”. Segundo essa lógica, ela é, de uma só vez, garantia, aval, indulto e endosso. É essa convicção de que as leis devem se adaptar aos propósitos pseudo salvacionistas, que caracteriza a Brasília atual

A redução do eleitor a um elemento amorfo do curral eleitoral é um fenômeno antigo. Mas quando a política manipula as massas e violenta as regras do jogo ai enfrentamos uma nova ameaça. Isso é mais que a representação, é a face concreta, substantiva e presente do mal. Para quem se arrepia, outra versão: o oposto do bem público. A gula centralizadora se revela na enorme concentração de impostos drenados ao Planalto, enquanto os municípios esmolam verbas.

Esta entidade abstrata chamada Estado, sob regime presidencialista concentrador, favoreceu as aventuras dos políticos contemporâneos. O objetivo final é um só: tornar as pessoas presas do medo. Quando milhões de reféns têm a resistência vencida e o vencedor impõe suas estratégia aos vencidos, duas posturas emergem: fanatismo e descrença.

Os fanáticos podem degenerar facilmente para hordas protofascistas (como as que agrediram as pessoas que protestavam contra os condenados no dia da eleição) e carta branca aos radicais entusiasmados pelo crédito eleitoral conquistado. Enquanto os descrentes são uma resposta desesperada ao panorama sórdido que enxergam pela frente. O resultado prático é mais engajamento para aloprados e afastamento, decepção e esgotamento para os demais. O diagnóstico de “fadiga de material” e os “ventos de mudança” são duas polaridades desse mesmo problema.

Quem não quer mudança? Mas, e se for para pior? A maior abstenção desde 1998 — e vai crescer — registra este momento histórico. Como pensava Arnold Toynbee: “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”. Mas uma breve analise da realidade mostra que faz todo sentido: para que votar se os melhores são sempre preteridos em função dos mais ardilosos?

Atropela-se, se for preciso mata-se, vale qualquer negócio para chegar ao sucesso. E não é assim por aí no mundo? Na raiz das cifras da abstenção recorde há uma desilusão com a política, pois esperava-se que fosse uma atividade completamente diferente do mundo dos negócios privados que conhecemos. A expectativa, nem sempre consciente, era de que os políticos tivessem a chama sagrada, o velho espírito dos sacerdotes. A diferença, ingenuamente deduzíamos, não poderia estar só no dinheiro publico, muito menos se usado para fins privados.

Em nossas anacrônicas construções mentais, a política tinha que ser e ter um ideal maior, uma lição de abnegação, um exemplo de altruísmo, o jogo limpo. Caretice nossa. Não é nada disso. A real é que ali se concentram os interesses mais materiais, os tipos mais egoístas, as raposas mais espertas, e às vezes a moeda não é só papel moeda, mas poder. Muito poder.

Retire-se o dinheiro e distribua-se melhor o poder com descentralização de impostos, e veremos decrescer o desvio, o mal feito, e o incomparável descalabro com as contas públicas. Mas isso vai contra a “causa”, não faz parte da estratégia. A gravíssima falta de segurança (60 mil assassinatos em um ano, mais que muitas guerras civis) e o renascimento de milícias partidárias truculentas que desrespeitam as normas jurídico-institucionais, toleradas pelo poder central, representam bem os impasses que nos aguardam mais à frente.

A menos que a educação vingue para valer, para sair do imbróglio, precisaremos contar com um grande golpe de sorte.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

paulorosenbaum.wordpress.com

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O Sequestro do Estado

25 quinta-feira out 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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açao penal 470, anomia, autocracia, cala boca, centralismo partidário, Democracia grega, Eleições 2012, elites, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, instituições financeiras, Julgamento Mensalão, justiça, manipulação política, mensalão, o pobre, pobres, poder absoluto, política, regimes, sequestro do Estado, significado de justiça

O Sequestro do Estado

Autocracia, do grego, autokráteia – força própria, poder absoluto.

Estudos econômicos recentes apresentaram realidades paradoxais. Se por um lado no século XX as condições sócio-sanitárias avançaram, o fosso que separa a extrema pobreza da extrema riqueza aumentou muito e a crise mundial propagada veio para dar o golpe de misericórdia no abismo. Esta incapacidade crônica de resolver o apartamento entre os que podem comer e os que não gozam do direito de perguntar por que continuam famintos, representa bem o malogro da política globalizada como instituição. Mas há um perigo muito maior nessa vergonhosa calamidade. As cinzas tem potencial assustador para gerar lideres totipotentes, os quais, geralmente, ficam à frente de governos cínicos. Facciosos, auto referentes e boquirrotos, eles formam a nova elite politico-econômica. Não vieram de onde vieram, pequena burguesia ou da pobreza para mudar nada, apenas ocuparam um lugar que antes não lhes pertencia. O problema é que mimetizaram os valores que antes atacavam ferozmente e se tornaram versões aperfeiçoadas dos antigos algozes. Hoje manipulam os mais pobres exatamente como machistas usam as mulheres. O pobre vai de mão em mão, transformado em objeto, sem acesso a ser player do jogo capitalista, oprimido por impostos e feliz por subsistir na miséria. Seu único préstimo é sustentar a autoilusão de que o regime é feito para eles, e por um deles.
A verdade é que regimes totalitários costumam governar com as instituições financeiras, o grande capital acionário e as elites econômicas. Essa dupla miragem impõe à sociedade inteira um efeito colateral. A verdadeira calamidade é que o favorecimento de governos populistas (distingua-se populismo de governo popular) entorpece a capacidade crítica e permite o cala boca da maioria na surdina, sem alarde. Pudera, quem pode falar quando são 70 e tantos por cento de aprovação?
Para conseguir tudo isso foi preciso saciar a fome sem prover renda, substituir educação e melhores condições de vida pela subserviência ao paternalismo de Estado, desqualificação da educação superior, e abandono do critério de mérito e esforço para lograr a ascensão sócio cultural. São rebaixamentos que seduzem. Acabam atingindo a oposição que se viu obrigada a renunciar seu papel fiscalizador e/ou associar-se comportadamente para compor com o governo: assim nasceu a base alugada.
Pois então que respondam os prezados leitores: Em qual República do mundo uma cúpula partidária inteira é condenada por corrupção ativa e os mandatários passam incólumes e continuam se elegendo e aos cúmplices, como se a suprema corte estivesse batendo martelos no açougue? Em qual Pais do mundo o uso da máquina pública é abertamente colocada a serviço de candidatos do regime e não se ouve uma palavra de protesto, uma contestação, um pio? Em qual Nação contemporânea, diante de sucessivos escândalos envolvendo sinistros interesses públicos e privados, a situação cresce e a oposição míngua?

Cautela é vital. A razão mostra que nem todos os políticos podem ser equiparados e o fenômeno motivador da ação penal 470 é essencialmente pluripartidário.

Mas há uma diferença, a fundamental: quem ataca a justiça ou a protege.
Os primeiros acham que a lei é uma espécie de guarita, um apêndice governamental, que os cargos de confiança facultam impunidade e, caso derrotados, ainda podem aguardar o indulto. E existem aqueles poucos que sabem que a justiça é a garantia, a única, que nos assegura os direitos individuais, liberdade e equidade. Confundir estes dois tipos e dizer que “são todos iguaizinhos” é embarcar na cortina de fumaça e fazer troça da constituição, como aliás farão os réus e seus padrinhos a partir de domingo a noite, assim que as urnas forem lacradas. Tudo devidamente acobertado por parcela da comunidade intelectual que agora arma a difamação do único poder atualmente independente da República, o Judiciário.

Como exercício de antecipação isso nos deveria fazer pensar que, se nada for feito, em qual tipo de ditadura nos transformaremos adiante.

Ao sequestrar o Estado, esse governo avança lentamente para aplicar os devidos torniquetes contra a liberdade de expressão, como já anunciaram os falcões do partido. O pedido de resgate já não interessa, preferem se apoderar da vítima para sempre. De servidor do povo, o Estado passou a se servir dele para consolidar seu projeto político monológico. O povo somos todos nós, ELES a nova elite, fazendo caixa pelos mais variados motivos. Recomenda-se o recentemente divulgado vídeo com a impressionante entrevista de Hélio Bicudo para entender melhor de quanto se trata. O mensalão foi apenas um detalhe dessa sofisticada maquinação, que não fica nada a dever às táticas dos regimes mais truculentos e autoritários. A julgar pela inércia, o Pais ainda não está pronto para ser passado a limpo, teremos que aguardar outro julgamento, o histórico, para saber a distancia que estivemos da autocracia.

O consolo? Passa por um velho princípio da física, a lei a gravidade. Neste mundo todos os corpos são irresistivelmente atraídos ao solo e tendem à queda, se é que não serão derrubados antes!

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”(Ed. Record)

Paulorosenbaum.wordpress.com

Para acessar link do JB use:

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/10/25/o-sequestro-do-estado/

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Cabeça de eleitor e eficiencia excessiva

13 quinta-feira set 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Ana de Hollanda, autoregulação, cabeça de eleitor, capitalismo acionário, capitalismo da globalização, centros de pesquisas e pesquisadores independentes, deficit público, Democracia grega, dia da libertação do eleitor, eficiencia excessiva, em quem eles votam, novela política, organismo e política, politicos e autenticidade, porque eles votam, Richard Stone, Richerd Stone, tecnomedicina, University Cambridge

Cabeça de eleitor e eficiência excessiva

Desde a fundação da democracia grega um mistério perdura: o que afinal se passa na cabeça do eleitor?

Não se pode prever como cada um vota, mas hoje em dia existem rastreamentos — tracking eles chamam — que capturam tendências e movimentos eleitorais com irritante precisão. Como será que conseguem? Como sondam mentes tão oscilantes e indecisas? Certo, há voto consolidado, fiado e até o cabresto de transferência: uma espécie de aberração moderna que induz o eleitor a votar em quem alguém indica.

Temos uma presidente e agora ex-ministros que querem o posto. Pode até ser que um ou outro estivesse preparado para a função, mas por que sempre aparentam desconforto? Lembram muito aqueles marionetes que gostariam de se livrar dos ventríloquos mas já esqueceram como é a própria voz. As vezes, o único mérito foi ter sido ungido pelo chefe e convencido pela claque de robôs. Depois é que chega a dificuldade em se manter nas próprias pernas e a indisfarçável e humilhante co-dependencia do criador. Desta vez o preço do apoio foi a cabeça de Ana de Hollanda, autosuficiente demais.

Recentemente economistas da Universidade Cambridge sentenciaram o capitalismo como o melhor sistema econômico inventado pelo homem. A ressalva é que é importante: não estão se referindo ao capitalismo dos últimos 30 anos. Esse capitalismo recente, chamado de ”acionário”, é feito para beneficiar uma parcela mínima das pessoas. Financista, protecionista e autorreferente ele faz parte de uma corruptela, um desencaminhamento do pensamento econômico. E assim é porque o que o regula não é a busca por sistemas de produção que se retroalimentam. O que o capitalismo da globalização busca é a satisfação do capital de curtíssimo prazo, a verdadeira obsessão dos acionistas de tempo real.

Retomando ideias de Richard Stone, premio Nobel de economia de 1984, suspeita-se que estamos sendo vítimas de excesso de eficiência. Sim é isso mesmo! Em outras palavras seria preciso colocar “areia” na engrenagem do sistema para que este freasse o ritmo frenético. A ideia é boa, senão revolucionária, porque vai no contrafluxo das ordens do dia: alta lucratividade, eficácia, azeitamento da máquina, em uma frase, mais de tudo.

Em resumo, é como se fosse necessário uma moderação que interrompa o excesso de imediatismo. Já que ele se revelou um monstro fora de controle. Como se precisássemos saber menos para deixar que o tempo ajeite as coisas antes de muda-las à toque de terabites por segundo.

A analogia com o corpo também faz sentido. Se a cada oscilação metabólica fizéssemos intervenções, muito provavelmente não duraríamos até o fim da adolescência. Numa sociedade inundada por informações on-line aumenta o perigo do intempestivo.

É preciso deixar que opere uma lei pouco conhecida – inclusive por parte da tecnomedicina — chamada de autoregulação. Conceito em decadência já que temos a ilusão de que é o instante que nos coloca no topo do observatório.

O que isso tem a ver com a primeira parte do artigo? É numa era como essa onde se requer máxima eficácia como premissa de sucesso que nos acomodamos com a exigência dos imediatismos políticos.

Controle a inflação gerando mais déficit público. Aumente o consumo sem desenvolver serviços e infraestrutura. Deixe que a segurança pública colapse. Ressuscite a máxima do “centrão”: é dando que se recebe. São as regras de ouro no manual do mau gestor. Aderir aquele que promete mais vantagens no curtíssimo prazo. É assim que votamos guiados pelo estomago, orientados pela náusea, e as vezes só para impedir que lá cheguem aqueles que nos parecem repulsivos. O eleitor vive com a corda no pescoço e com as mãos sobre o nariz.

A maior parte daqueles que deveriam nos representar perdem ou já perderam as marcas de identidade. Viraram personas, máscaras públicas descartáveis que usam a cada quatro anos. Farsa que teve inicio nas leis de exceção do regime militar e que se prolonga neste prólogo de democracia.

O problema é que haveria formas para escolher com menos inexatidão nossos representantes. Como câmeras abertas 24 horas em cima dos candidatos seriam politicamente inviáveis, a outra perspectiva seria propor debates surpresa. Sem regras previamente conhecidas dos assessores. Escolhido um ambiente inusitado teriam que mostrar quem são e como pensam apartados de seus progenitores políticos. Para a maioria deles seria um desastre. Infortúnio de uns, sorte de todos nós!

Esta obrigação à autenticidade seria uma data memorável: o dia da libertação do eleitor.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”(Ed. Record)

paulorosenbaum.wordpress.com

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Emancipação sem adaptação: a vez dos perdedores!

09 quinta-feira ago 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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adaptação, advogados censores, Darwin, darwinismo social, Democracia grega, desigualdade, emancipação, escravocrata, mensalão, pódio, perdedores


Emancipação sem adaptação: a vez dos perdedores!

O julgamento do mensalão (agora que os advogados censores do PT querem impedir a palavra ela passa a ser a única que merece menção) vem despertando paixões e discussões. Talvez o mais importante esteja sendo a oportunidade para discutir a desigualdade dos cidadãos perante a lei.

A opinião pública não espera que o embate principal deste julgamento fique entre técnica jurídica e discursos empolados. O verdadeiro jogo está sendo jogado nos vestiários, entre uma documentadíssima e consistente ação cívica versus um novo triunfo da onipotência do Estado contra seus cidadãos.

Adivinhem quem tem mais força?

Numa cultura de ganhadores leva quem tem mais cacife enquanto a igualdade morre todos os dias no documento constitucional. Mesmo assim, às vezes, vale a pena apostar no azarão e apreciar como os fracos podem surpreender.

Os políticos, cúmplices e funcionários do Estado estão acima da população. O fenômeno é mundial e nada novo: não somos iguais. Era exatamente a lógica dos fundadores das Olimpíadas. Na velha Grécia de 2.500 anos atrás, a democracia não só previa como considerava imprescindível a lógica escravocrata. Para entender talvez tenhamos que retroceder à época em que a espécie humana engatinhava.

Para Darwin, a travessia histórica da evolução das espécies culminava em sistemas progressivos de adaptação. Os mais adaptados sobrevivem e triunfam para procriar e prevalecer sobre os demais. Os outros…bem os outros são os outros, quem mandou não seguir a cartilha? Dois séculos depois, para além dos estereótipos, achados científicos mostraram que, do ponto de vista biológico, as espécies continuam evoluindo.

Finalmente chegamos à nossa contemporaneidade atípica onde a pergunta muda de direção: o que significa evolução para além da biologia?

Ficamos impressionados pela força, velocidade, e agilidade e respectivos
records e medalhas, enaltecidos por locutores dos feitos olímpicos.
A luta do atleta contra seus próprios limites faz do ouro
devida recompensa. Daí virá pódio, hino, superação triunfal,
glória e os contratos de publicidade.

Nesta lógica, a cultura do vencedor representa no mundo prático,
a bandeira da evolução.

A atmosfera pop que hora nos governa pensa poder esnobar a cultura,
e escarnecer da opinião pública, assim como o político sem méritos
se imagina o marco zero da nação. Mais comum que seja só o zero.

Como nada é linear se houve um ganhador é porque muitos, necessariamente, perderam.
Ter isso em mente é amadurecer. O que está em jogo hoje é uma espécie de repetição do momento histórico de eclosão da contracultura. Ali uma geração atormentada diante da mesmice dos modelos políticos, guerras e desesperança, resolveu virar a mesa e criar um front pacifista e anti establishment. O novo apareceu e os hippies se inscreveram na história. Não só os valores eram contestados, mas a vida ela mesma se voltava para existir fora dos cânones estipulados na mídia, pelos políticos e a moral da época.

Hoje vivemos condições análogas aquelas dos anos 60, a mesma desesperança, o mesmo ceticismo, a mesma dualidade estúpida entre ideologias envelhecidas. Tudo agravado pela crise financeira mundial e o embrutecimento dos valores éticos.

Há uma aspiração de retomada das tradições espirituais – precocemente descartadas pelos esclarecimentos científicos – assim como uma sensação generalizada de que algo precisa mudar se quisermos uma versão melhorada deste mundo. Nada de polir o discurso introduzindo a frase mágica “em nome das próximas gerações”. Tudo é para nós mesmos, aqui e agora. Chegou a hora de chocar, radicalizar para assumir certa marginalidade, de preferência que nos faça redescobrir a honra da dissonância, da oposição e da discórdia.

Sem estabelecer essa urgência, a inércia vencerá a necessidade e, mais uma vez, o conformismo será a desculpa para a mesmice que nos assola. Talvez devamos começar desobedecendo a critérios de vitória aos quais fomos condenados, e que, sob a batuta da educação formal, virou doutrinação social. Como o sentido da vitória se esgota chegou a vez dos perdedores. Muito provavelmente, teremos que redescobrir sozinhos o valor das tradições às quais pertencemos e reafirmar que não só há valor na derrota e na depressão nossa de cada dia, como elas são as maiores responsáveis pelo amadurecimento que nos fará gritar o “não” e desadaptar-se.

Emancipação é se insurgir contra os destinos previamente traçados por outros, em nosso nome. Por isso mesmo, para uma filosofia libertadora só há um sentido, obrigatório, o da contra mão.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. Autor de “A Verdade Lançada ao solo (Ed. Record)”

Paulorosenbaum.wordpress.com

Para comentar, acessar o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/08/09/emancipacao-sem-adaptacao-a-vez-dos-perdedores/

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O mito da boa causa: a lógica do mensalão e a ameaça à democracia.

01 quinta-feira mar 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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advogados, centralismo partidário, Democracia grega, ditadura, etica na politica, mensalão, Platão, Socrates

O mito da boa causa: a lógica do mensalão e a ameaça à democracia.

O povo brasileiro mistura ingredientes paradoxais: malícia para a vida quotidiana e desconcertante ingenuidade política. Mas não é preciso ser gênio para perceber que se a sociedade não se mobilizar – como fez recentemente em outras votações – terá que engolir uma grande armação.

Percebe-se forte movimentação nos bastidores do julgamento do mensalão, o processo político-institucional mais documentado da história republicana. Com muito custo, advogados dos réus tentam limpar o rastro de sujeira que seus clientes deixaram enquanto se arranjavam para conquistar, manter e ampliar o poder no início da era Lula.

Menos previsível que o ato do poder ávido e corruptor é a lógica que o inspirou. E ainda inspira! O óbvio merece ser relembrado: um dos pilares axiológicos da democracia é a moderação/controle que o poder legislativo deveria exercer sobre os demais. O mensalão – que prossegue com réus em julgamento, malgrado impunes — foi apenas um plano desmascarado como crime eleitoral. O gravíssimo é que prossiga incólume, ainda que com outras características.

Comprar apoio de deputados para governar, usando supersalários ou acordos secretos que fomentam o clientelismo é ameaça séria ao Estado democrático. Nostálgicos do poder absoluto, essa turma quis ressuscitar a versão tropical do centralismo partidário, vale dizer, modelar a máscara para uma neo ditadura.

Incrível, mas até aqui a lógica tem sido bem sucedida. Flagrados no crime eleitoral, se sustentaram com malabarismos e composições curiosas para o partido que monopolizou o slogan “ética na política”. Terminaram na mesma vala comum da maioria dos moralistas: ética para os demais!

Hoje, nós os gatos escaldados, enxergamos que o telhado de vidro existe e é coletivo.
Nesse caso especifico do mensalão a justiça do País tem uma dívida especial com os cidadãos, que vai muito além do sistema de penalidades que o sistema jurídico costuma aplicar para dar consistência ao estado de direito. O que está em disputa é a manutenção ou interrupção do aval para jogo perigoso dentro da área.

Quem detém poder sempre pode mudar as regras do jogo, e a sociedade que se ajoelhe diante das arbitrariedades. Mas não lutamos justamente contra o arbítrio que caçou a voz da sociedade e o Brasil durante décadas? Se houver condescendência com o “mito da boa causa” a próxima vítima será a democracia.

Para ver o texto completo acesse o link do JB:
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/03/01/o-mito-da-boa-causa-a-logica-do-mensalao-e-a-ameaca-a-democracia/

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