• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico-Writer and physician

Paulo Rosenbaum

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VITALIDADE DO LIVRO 3-  Investigação sobre o estado da arte editorial – Rodrigo Lacerda (Blog Estadão)

03 domingo jul 2022

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VITALIDADE DO LIVRO 3-  Investigação sobre o estado da arte editorial

Entrevista com Editores – Paulo Rosenbaum

Conto de Notícia – Estadão

Dando prosseguimento às entrevistas de caráter multidisciplinar, convidamos o Editor Rodrigo Lacerda da Editora Record para uma entrevista aqui no Conto de Notícia- Estadão.

CN – Rodrigo, considerando que todas as estimativas eram de que até o final de 2021 esboçava-se alguma reação na economia e, hoje, às vésperas do segundo semestre de 2022 estamos diante de um cenário incerto ainda contabilizando os efeitos da paralisia induzida do comércio e seus impactos na sociedade. Como você analisa a crise gerada pela pandemia no mercado editorial brasileiro? 

RL-Por incrível que pareça, as dificuldades enfrentadas pelo mercado editorial antes da pandemia, de 2015 a 2020, foram muito maiores. A pandemia favoreceu a leitura, com as pessoas em casa e tendo mais tempo livre, temporariamente sem os deslocamentos pela cidade que a nossa rotina exige. Agora estamos ainda tateando o que será o “novo normal”, provavelmente algo intermediário entre a crise anterior e a grande surpresa positiva durante a pandemia.

Blog –  E quanto aos colegas editores e toda a cadeia de livrarias e distribuidoras, que tipo de relato tem chegado até você?                         

O que estamos vendo é uma recuperação muito bem-vinda das livrarias físicas, uma instância crucial para a saúde do mercado editorial.

Blog- Como atual publisher da  Editora Record o que os seus contatos e pares  do mercado interno e externo têm observado em relação ao comportamento e tendências do livro num futuro próximo? É possível traçar um panorama considerado as similaridades e diferenças do que houve aqui e nos demais países?

RL-Acho que a mais importante constatação é que ninguém mais fica se perguntando se o livro físico será extinto pelo e-book. Já é um alívio não ouvir essa discussão, a meu ver, fadada a terminar concluindo o óbvio: as duas coisas são complementares. Assim, apesar do crescimento constante das vendas de e-books, não há possibilidade à vista de o livro físico perder seu lugar. Outra tendência, ainda a se confirmar, é o crescimento dos áudiolivros, à medida que todos nos acostumamos a ouvir podcasts e demais conteúdos em áudio.

Blog– Temos hoje poucos veículos de divulgação especializados em literatura, e daqui em diante, feiras literárias e bienais de Livros, estão sendo reativadas depois de sofrer muitos revezes. Não seria importante repaginar a divulgação e recriar a tradição no marketing? Por exemplo, depoimentos de escritores na TV aberta, documentários, e trazer de volta os cadernos especializados nos grandes jornais? Ou te ocorre alguma ideia inovadora para incentivar o surgimento de novos leitores?

RL-Acho que todas as ideias citadas acima são ótimas, e não há dúvida de que seria muito positivo se houvesse mais cadernos e revistas especializados em livros espalhados por todo o país. Mas o que se percebe com frequência é o trabalho de marketing e divulgação das editoras ganhando força nas redes sociais, primeiro com book trailers e, sobretudo, com Instragram e Tik Tok. Nos três casos, o audiovisual vem ganhando muita força como forma de divulgação de livros.

Blog- Pelo que vários editores relataram, mesmo antes deste período atípico, o mercado editorial já estava em processo de transformação, buscando, talvez,  algum outro tipo de narrativa e gênero literário?  Poderia nos falar mais a respeito destas novas demandas? Serão Passageiras? Terão vida longa?  

RL-Eu não sei se eu diria transformação. Talvez expansão, ampliando seu leque de gêneros narrativos. Ou ondulação, com alguns gêneros antes em baixa agora em alta, e vice-versa. Sem dúvida as pautas políticas e identitárias estão muito fortes na literatura hoje, bem como os romances de fantasia, e às vezes uma bem-sucedida mistura das duas coisas. E isso não só no Brasil, no mundo inteiro. Acho que terão vida longa, sim, por que não teriam? Com sete bilhões de pessoas no mundo, há leitores para todo tipo de livro.

Blog- Na  sua opinião O “contexto recreativo” de algumas destes novos  (e velhos) estilos se contrapõem à assim chamada alta literatura? Podem ser complementares? Inter excludentes? Ou trata-se de uma discussão que considera obsoleta? Lembrando que o escritor e também prolífico editor, Lawrence Ferlinghetti, originalmente pertencente à tradição beatnik costumava dizer que dava preferência a um original experimental do que a um velho e conhecido estilo de escrita. Isso dito, há como conciliar o comercial com o experimental?  Outros editores expressaram opiniões análogas. Dito de outro modo, qual é o papel da moda na literatura? 

RL-Acho que há vários critérios para se avaliar a “qualidade” de um livro. Ela pode se ligar ao estilo do texto, ou às experimentações na estrutura narrativa, ou ao tema de fundo, ou à força emocional dos personagens, por exemplo. A moda pode impactar em todas essas esferas. Não acho que algo, por ser moda, é necessariamente pior, mas também não é necessariamente melhor. Às vezes certa característica que pôs um livro na moda pode cair em desuso, e aí ou ele fica como um retrato da época, o que também é importante, ou ele continua sendo lido por suas outras qualidades que antes ficaram abafadas pela moda.

Blog – Quais aspectos impactarão — ou já impactaram — o mercado editorial quando colocamos em perspectiva uma inevitável aceleração da revolução digital e seus instrumentos, tais como home office, webinars, leitura digital? Isso significa necessariamente uma modificação nos hábitos de leitura e consumo de livros? Imagina que tais mudanças serão permanentes? Ou teremos doravante um mercado híbrido? 

RL-Certamente, como falei, teremos um mercado híbrido. As lives sobre livros, por exemplo, são ótimas. Mas quem não sentiu uma certa saturação de lives durante a pandemia? Tudo tem seu momento, e o importante é aproveitar o melhor que cada mídia pode oferecer. Mas de uma coisa não se escapa: a leitura é um momento de introspecção, de mergulho numa dimensão particular, que depois pode e é compartilhada, mas que não dispensa o retiro intelectual anterior. E isso não é mau, acho que até que é muito importante nos dias de hoje, quando nossa atenção é fragmentada a todo momento, e a experiência mais lenta e silenciosa da leitura oferece um escape da algaravia acelerada do cotidiano.

Blog – Considera uma concorrência “quase desleal”a projeção de luz na avalanche de ofertas do streaming através das smart TVs e telas de alta definição? Requer apenas um controle remoto, e um assento confortável, enquanto a leitura , hábito de baixa adesão entre nós aqui no Brasil, envolve outros mecanismos de percepção e estimulo intelectual, e, seguramente, mobiliza outros recursos sensoriais. Por outro lado o problema talvez esteja mais na criação do hábito de leitura nas casas – pais leitores ensejam filhos leitores – e no ensino do que propriamente campanhas de marketing. 

RL-O maior obstáculo ao hábito da leitura não é tanto a oferta de material audiovisual pela TV, ou pelos canais de streaming, muito embora, claro, ela roube tempo que podíamos gastar lendo. Também se pode questionar o quanto a ficção audiovisual “roubou” o público da ficção escrita. Contudo, o maior obstáculo à difusão em larga escala do hábito de leitura é a educação que, no Brasil, já não vai bem há muito tempo e, durante a pandemia, regrediu ainda mais. Temos um problema de fundo que o país ainda não sabe como resolver. Mas, no geral, estamos vendo que a literatura é sempre capaz de mobilizar muita gente, seja nas redes sociais, nos clubes de leitura etc.

Blog – Quais foram suas experiências mais insatisfatórias e as mais gratificantes no trato direto com os escritores?

RL-Foram muitas, já estou nisso há 35 anos, desde os 17! Aqui mesmo, na Record, venho tendo ótimas experiências autor-editor, com grandes escritores como Antônio Torres, Nélida Piñon, Carla Madeira, João Almino, Márcio Souza, Sérgio Abranches etc. E, claro, a experiência preciosa de editar as novas edições de Carlos Drummond de Andrade, juntamente com os titulares da obra, seus netos, e o grande especialista drummondiano Edmílson Caminha.

Blog – Em uma sociedade cada vez mais dividida e dominada por controvérsias ideológicas não te preocupa a transposição deste conflito para a política editorial? Já está acontecendo: presenciamos uma literatura de corte ideológico? E o papel do editor não seria exatamente dar voz às várias tendências, atuando para evitar o hegemonismo, intelectuopolio ou censura? 

RL-Acho muito natural, e importante, que a literatura reflita as grandes questões do momento histórico em que é produzida. Nesse sentido, é natural que as controvérsias ideológicas se façam presentes no que estamos escrevendo e publicando hoje. O perigo é esta se tornar a única régua para avaliarmos se um livro é bom ou não, o que é um perigo real, pois no calor do debate político às vezes excessos são cometidos. Albert Camus, no ensaio filosófico “O homem revoltado”, diz que: “O diálogo, a relação entre pessoas, foi substituída pela propaganda ou a polêmica, que são duas formas de monólogo.” Então, vale a pena ficar atento.

Blog – Quais mensagens você deixaria para um escritor iniciante? E para os escritores veteranos?

RL-Para os iniciantes, eu diria que só vale a pena construir uma carreira de escritor, com todos os sacrifícios que ela implica, se realmente você tem a sensação de que sua vida sem isso ficaria sem sentido. Se não, você pode até escrever um ou dois livros, ou viver nas franjas do mundo literário-editorial, mas será difícil dedicar a vida à atividade em si de escrever. Ela é muito exigente, solitária e, em geral, mal remunerada. Para os veteranos não me arrisco a dizer nada, a não ser muito obrigado.

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“Navalhas pendentes à luz do paradigma indiciário” Resenha Por Antonio Sérgio Pitombo (Blog Estadão)

18 sábado jun 2022

Posted by Paulo Rosenbaum in Livros publicados

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Navalhas Pendentes

“Navalhas pendentes à luz do paradigma indiciário”

Resenha por Antonio Sergio Altieri de Moraes Pitombo*

Houve o tempo em que o romance policial era visto como literatura marginal. Apesar da origem francesa no ocidente, Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) foi o mestre a influenciar o gênero ao criar Sherlock Holmes e seu assistente Watson, em 1887, na obra A Study in Scarlet.

A razão aguçada de Holmes advém da admiração de Conan Doyle por Joseph Bell, seu tutor na Universidade de Edimburgo, hábil em fazer diagnoses a contar de evidencias mínimas.   

 Paulo Rosenbaum, médico e connoisseur de obras raras, arriscou-se nesse tipo de literatura em Navalhas Pendentes. Escreve em detalhes, nas primeiras páginas, o cenário de fato violento, por meio de diversas descrições de lugares onde o sangue se espalhou. Usa dos conhecimentos da medicina para convidar o leitor a entender sobre as manchas sanguíneas como um perito legista o faria. Trabalha com a noção dos indícios – conceito fundamental para o processo criminal contemporâneo.  

Logo aí, ele nos prende à leitura, a contar da convicção de que vamos compreender a ocorrência, não obstante as incertezas subjetivas de personagem, pessoa perdida frente à cena do pretenso crime.

Essa largada lembra a perspectiva de Robert Louis Stevenson (1850-1894) em The strangle case of Dr. Jeckyll and Mr. Hyde, mas o texto se desenvolve a trazer surpresas longes dos clichês, num entrelaçamento de fatos que nos capturam página a página.

A figura erudita do autor emerge no decorrer do texto, na medida em que referências o inserem na cultura judaica. Traz, aqui e ali, manifestações que nos levam a pensar na importância da literatura judaica, bem assim na força literária da Bíblia – aquele livro que Heine denominava de a “pátria portátil”.

Gosto da sabedoria do povo judeu transmitida pelo escritor, pois as contingências desse povo fizeram-na ter um colorido especial.  Nesta acepção de Salomon Resnick, se não há regionalismo homogêneo, existe uma forma de ver a vida diferenciada que decorre das vicissitudes que eles guardam em virtude da própria história.

Apaixonado por livros, Paulo Rosenbaum também perquire sobre ética e perspectivas do mercado literário, elucubrando sobre os métodos de se criarem best-sellers. Serão os bancos de dados, as redes sociais e as pesquisas de marketing que irão ditar o comportamento das personagens e os finais dos romances? E os plágios serão maquiados por combinações matemáticas que dificultem reconhecer as imitações de muitos textos?

Numa divisão agradável de capítulos, acaba-se por devorar Navalhas Pendentes sem esforço. Obviamente, o eu-leitor me fez pensar como advogado e, portanto, pus a me questionar, ponto a ponto, sobre o que, como e quais razões me levariam a defender aqueles que interagem na trama.

Evito ler romances policiais e ver filmes do gênero, graças ao cachimbo da profissão. Todavia, as primeiras páginas da obra me seduziram, ao refletir, mais uma vez, sobre a imputabilidade do agente na perpetração de crimes. Os mistérios do anímico continuam a me fascinar.

Os debates da ciência criminal sobre cognição e vontade no iter da consumação dos delitos, bem assim a relevância de se perquirir sobre o estado psíquico do autor do crime interessam tanto aos juristas como à literatura de Doyle, Stevenson e Rosenbaum. Porém, importam muito ao advogado – como eu – que observa a insensibilidade da Justiça Penal ao enfrentar o incompreensível de determinadas infrações criminais, em principal, as violentas.

Até onde realidade e ficção se apropriam uma da outra, não sei responder. Navalhas Pendentes me desafiaram a repensar sobre o quanto precisamos enxergar o indivíduo, por meio das tecnologias contemporâneas, sem desprezar a experiência do passado, ao investigarmos o ânimo de quem pratica o ato ilícito.

Podem se aceitar presunções quanto ao plano subjetivo daquele que se envolve num crime?  A resposta poderia se encontrar na criticada Escola Positiva de Lombroso, Garofalo e Ferri (séc. XIX), ou num sofisticado laboratório de universidade em Massachusetts.

Cultura do passado e da atualidade precisam nos auxiliar a ler tão belos romances e a evitar injustiças, assim como recorrentes preconceitos do sistema penal.    

* Advogado. Mestre e Doutor na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Pós-doutor no Ius Gentium Conimbrigae (Universidade de Coimbra).

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The Embassy of Brazil and CCB Tel Aviv are pleased to invite you to the launch of the book “Navalhas Pendentes”,

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The Embassy of Brazil and CCB Tel Aviv are pleased to invite you to the launch of the book “Navalhas Pendentes”, by Paulo Rosenbaum. The event will be held in Portuguese, on July 7, at 7:30 pm, at the Cultural Center of the Embassy of Brazil – Instituto de Cultura Guimarães Rosa – in Tel Aviv (CCB Tel Aviv, Rua Sderot Hen 57, 1st floor, Tel Aviv ). The conversation will feature a presentation by the author, reading of excerpts from his works, a lecture on the creative process and the relationship with the reader, and debate.

Paulo Rosenbaum is a writer and physician, with a doctorate and postdoctoral degree in Preventive Medicine (USP) and a dozen books published in this area. He is also an essayist, short story writer and columnist, with a regular column in the newspaper O Estado de São Paulo. In addition to Navalhas Pendentes (Caravana, 2021), he has also published A Verdade Lançada ao Solo (Record, 2010), Sky Céu Subterrâneo (Perspectiva, 2016), A Pele que nos divide  (Quixote, 2017).

שגרירות ברזיל ומרכז תרבות ברזיל בתל אביב שמחים להזמינכם להשקת ספרו של פאולו רוזנבאום, 

“Navalhas Pendentes” 

(סכיני גילוח תלויים – בתרגום חופשי). 

האירוע יתקיים בפורטוגזית, ב-7 ביולי, בשעה 19:30, במרכז התרבות של שגרירות ברזיל בתל אביב, 

שדרות ח”ן 57, קומה 1, תל אביב 

המפגש יכלול הצגה של המחבר, קריאת קטעים מיצירותיו, הרצאה על תהליך היצירה וקשרי הגומלין עם הקורא ודיון.

פאולו רוזנבאום, הנו סופר ורופא, בעל דוקטורט ופוסט-דוקטורט ברפואה מונעת מאוניברסיטת סאו-פאולו, שפרסם תריסר ספרים בתחום זה. רוזנבאום הוא גם מסאי, כותב סיפורים קצרים ובעל טור קבוע בעיתון אסטדו דה סאו-פאולו. לצד ספרו נבלייס פנדנצ’יס (הוצאת קרוון 2021), נמנים על פרסומיו גם הספרים הללו:

A verdade lançada em solo (Record, 2010), Céu subterrâneo (Perspectiva, 2016), A pele que nos divide (Quixote, 2017).

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Liberdade para quê: nunca houve censura virtuosa. (Blog Estadão)

26 quinta-feira maio 2022

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Liberdade para quê: nunca houve censura virtuosa. (Blog Estadão)

26 quinta-feira maio 2022

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Nao lutar contra a censura é lutar por mordaças. Censura nunca mais.

Paulo Rosenbaum

Liberdade para quê: nunca houve censura virtuosa.

Paulo Rosenbaum – médico e escritor

Reluto em republicar artigos e crônicas, mas existem determinadas fases que coincidem de tal forma crise e dimensão dos problemas que torna-se impossível deixar de se referir às reflexões pregressas.

A palavra censor tem várias acepções analógicas: crítico, detrator, repreensor, mas cai numa chave intitulada “Resultado do Raciocínio, de um lado, julgamento, de outro, obliquidade de julgamento. E finalmente aqueles que revelam espírito de parcialidade podem estar resumidos dentro da expressão latina “existimare unumquemque moribus suis”, isto é “julgar os outros por si” ou ainda “tomar as nuvens por Juno”.

Ninguém negará que a mídia precisa ser mais democrática — e democratizada — para incluir os sem-voz e as grandes parcelas da população ainda marginalizadas, mas o projeto em orquestração na mesa dos controladores nada tem a ver com este escopo. Sob o argumento de que as…

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Liberdade para quê: nunca houve censura virtuosa. (Blog Estadão)

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Liberdade para quê: nunca houve censura virtuosa.

Paulo Rosenbaum – médico e escritor

Reluto em republicar artigos e crônicas, mas existem determinadas fases que coincidem de tal forma crise e dimensão dos problemas que torna-se impossível deixar de se referir às reflexões pregressas.

A palavra censor tem várias acepções analógicas: crítico, detrator, repreensor, mas cai numa chave intitulada “Resultado do Raciocínio, de um lado, julgamento, de outro, obliquidade de julgamento. E finalmente aqueles que revelam espírito de parcialidade podem estar resumidos dentro da expressão latina “existimare unumquemque moribus suis”, isto é “julgar os outros por si” ou ainda “tomar as nuvens por Juno”.

Ninguém negará que a mídia precisa ser mais democrática — e democratizada — para incluir os sem-voz e as grandes parcelas da população ainda marginalizadas, mas o projeto em orquestração na mesa dos controladores nada tem a ver com este escopo. Sob o argumento de que as redes de comunicação operam através dos oligopólios, a proposta é substitui-la por monopólio de Estado.

Os milionários esquemas de subsidio estatal (nas três esferas) para mídias favoráveis  e os torniquetes possíveis aplicados às outras, as rebeldes, são apenas a parte visível do jogo. O controle da imprensa significa, na prática, coibir o debate público — já de duvidosa qualidade — uma vez que só a liberdade de expressão e a não desinformação permitem que os cidadãos possam se posicionar para votar, investigar, cobrar e, quando for o caso, se opor ao Estado.

Missão longe do alcance de uma imprensa submissa. Como o objetivo final é a liberdade  controlada, vale dizer domesticada, a finalidade última da regulamentação é dirigir o país contando com informações selecionadas e filtradas. Neste sentido, estamos muito próximos de uma perigosa censura velada!

Só há um grau maior do que a famosa polícia do pensamento prenunciada na ficção de Orwell, trata-se da polícia da linguagem. Os jornalistas integrantes de um diário paulista aceitaram compor a obscenidade auto intitulada “Jornalistas pela censura virtuosa” com o agravante covarde do anonimato. Estes amigos de Peniche, verdadeiros sicofantas da livre expressão perderam o juízo? Eis mais uma prova de que os supremacistas do pensamento, isto é, o totalitarismo avança, e será preciso mais do que discursos ilibados. Será necessária a mais corajosa veemência para resistir a uma aberração que mimetiza razão.

Lutamos contra a ditadura e a censura para sermos amordaçados dentro das redações? Agora não se chama “censura”, a novilíngua decretou que doravante chama-se “embargo” (sic). Tanto faz de qual lado virá o totalitarismo, sem um compromisso ético coletivo de repudia-lo não teremos muitas saídas. É empírico, observem a perpetuidade das ditaduras na América Latina e nos países africanos.

O primeiro interessado em deter a informação é o próprio poder. Afinal a hegemonia passa pela centralização. Mas há um produto muito além do poder em jogo quando se trata de concentrar informações. A liberdade só pode ser exercida com a aquisição do conhecimento que passa pelo exercício da crítica. Sem ela, a liberdade é uma franquia das cúpulas, dos consensos de gabinete, um slogan abstrato.

Uma equipe eleita decide o que pode e o que não pode? A divisão de poderes foi abolida? Mas eles não foram eleitos para isso, ou foram? Isso é que não está nada claro no jogo democrático atual. As regras. Depois que se ganha a eleição tudo pode virar qualquer coisa. Para isso deveriam valer mais os direitos constitucionais do que uma hermenêutica premida de desvio de finalidade.

Não se enganem, há uma dosimetria oculta que rege nossa liberdade. Para ser conciso: o projeto de regulamentação da imprensa (e atuais promessas de “embargo” “é, na verdade, uma ameaça direta à democracia). É urgente organizar a sociedade para que o cerceamento à livre expressão (mesmo que seja classificada como autocensura)  não encontre guarita no argumento de “controle social”. Como nos faremos ouvir? Como ler jornais quando tudo estiver sob o filtro impermeável do Estado? Podemos usar o spam, a panfletagem, instrumentalizar melhor a ilusão revolucionária das redes sociais. No mundo eletrônico ocidental a censura — sob o álibi da acusação de desinformação — está se fazendo cada vez mais presente.

E quem dará aval para os projetos de controle estatal da mídia? O pessoal da moral e dos bons costumes? Assim, eles poderiam eleger os livros, peças, filmes e biquínis que vamos ver.  Os executivos dos partidos políticos (base aliada ou não). A explicação é simples: estão mordidos com a última pesquisa sobre a decadência e confusão que reina nos partidos. E tudo que contraria políticos é gerado na imprensa livre.

E quanto aos intelectuais e a estrutura universitária? Estão divididos entre os que são pela lealdade ideológica à oposição. Estes últimos são uma categoria em decadência, porque ninguém quer subsidiar gente isolada, muito menos premiar a autonomia. A emergência dos conservadores é uma resposta, equivocada, a uma esquerda que vem sofrendo isquemias no núcleo duro. Os auto intitulados conservadores também não funcionam, porque suas perspectivas são basicamente alimentadas de nostalgia. Sonham com uma ordem e um status quo que nunca existiu no cenário político. Nas TVs ou nos jornais notem que sempre começam com expressões de saudosismo e terminam suspirando pela volta das leis marciais.

Quanto à estrutura universitária, vale lembrar a antiga tese do filósofo José Arthur Gianotti, de que a universidade é subsidiada para não funcionar. “Funcionar” no sentido de produzir a mentalidade crítica e autocritica, que tanta falta nos faz. Claro que existem nichos que funcionam. Na base do voluntarismo e de ações sociais importantes, grandes camadas de pessoas foram resgatadas da marginalização nas últimas administrações. Não é só insuficiente. É vergonhosamente insuficiente. A educação e o investimento maciço em ensino não ousaram para além das formalidades como a de “colocar mais gente no ensino superior”. Salários dos professores e estímulo à pesquisa ainda são ridículos para o nosso PIB. O processo pedagógico parou no século 19, enquanto precisávamos de inspirações do 22. Há uma fadiga generalizada no jeito de fazer e lidar com as coisas públicas.

É evidente que tudo isso seria muito pior sem liberdade. Há candidatos que nos ameaçam com sua suspensão. Há muitos que estrategicamente calam-se diante das ameaças e agora de forma inédita levantam a voz para no lugar de contestar fazer a apologia da temporada de mordaças justificacionistas. Não parece óbvio que, sem ela, a liberdade, jamais falaríamos de tudo isso?

Aproveite para chiar agora, amanhã pode não haver segunda chance.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record), ‘Céu Subterrâneo” (Ed. Perspectiva) e “Navalhas Pendentes” (Ed. Caravana)

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A Ciência Infusa da Maternidade (Blog Estadão)

08 domingo maio 2022

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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A Ciência Infusa da Maternidade

Paulo Rosenbaum

Publicado no Blog Estadão

 O Professor de Medicina Walter E. Maffei, nosso inesquecível mestre, costumava nos ensinar que “se a mãe não faz o diagnóstico, ninguém mais faz”. Para além da generalização lúcida do neuropatologista, o que Maffei queria realmente dizer com a provocação era trazer os médicos para um exercício de realidade e humildade: baixem a crista quando se trata de emitir pareceres peremptórios, definitivos, dogmáticos. Mas também, e principalmente, mostrar que há nas mães uma espécie de ciência infusa, esotérica, mística mesmo, que faz delas exímias diagnosticadoras.

Afinal, qual é o poder da maternidade?

Elas geralmente conhecem como ninguém, através de uma presciência jamais investigada, o estado da sua prole. Sabem, com antecipação o que os filhos estão pensando. Conhecem, nas minúcias, suas necessidades. Intuem, geralmente pelos olhos, olhar e linguagem, se há verdade no que dizemos. Também podem reconhecer se há algo alarmante, ou apenas dissipam o pânico. Todas estas qualidades são bem menos frequentes nos pais. Não se trata de uma exaltação do feminino em detrimento do masculino numa data artificialmente estipulada, mas de um exame excêntrico do que torna a maternidade um evento tão singular. A contribuição biológica masculina ao processo é limitada, se comparada ao longo período da gestação, amamentação, criação. Em toda a natureza, somos os mamíferos mais despreparados ao nascer. Escapamos do útero solitários, incapazes de nos defender. A dependência dos bebês humanos comparativamente com todos os outros animais é assustadora.

E há também algo além nesta desproporção: mães costumam ter a virtude da ubiquidade. Não se trata do fenômeno físico da bilocação (segundo o famoso experimento de Schrodinger um átomo pode estar em dois lugares ao mesmo tempo). Refiro-me ao fato de elas podem atender demandas múltiplas simultaneamente – as vezes infinitas – de todos, incluindo maridos, geralmente marmanjos carentes. Estes desdobramentos requerem uma habilidade que ultrapassa a dos equilibristas de pratos. E não se trata apenas da jornada dupla, tripla ou quadrupla de mães as quais, além de tudo, são chefes de suas casas, mas de conseguir manter e estruturar a família como tal. São elas o epicentro dos encontros, das reuniões, geradoras da unidade congregacional. Sem elas, além da inexistência da raça, provavelmente não existiria o conceito de irmandade, “brotherhood”. Neste sentido, o papel da maternidade deveria inspirar nos homens menos ciúmes e mais inveja. São elas que fazem questão das egrégoras. A contraprova trágica é que quando as mães se vão, as festas e encontros costumam minguar. Pelo menos até que novas mães peguem o bastão e liderem novamente.

Maternidade também se refere a um estado de apego visceral que sem os devidos cuidados pode se transformar em um vínculo simbiótico. Mas notem que mesmo uma simbiose não exagerada pode ser uma vantagem biológica e existencial: o estado de conexão umbilical das mães permite a empatia inata. Gera o amor incondicional e imotivado. Isso é, ao contrário da condição paterna elas não precisam se esforçar para adorar um fragmento que por 9 meses provisórios foi parte das entranhas. Assim, a emancipação das filiações sempre será mais dolorosa e a distância mais sentida. Por isso, as mulheres a inveja primordial da condição masculina é uma invenção tola que só poderia ter saído da cabeça de homens ressentidos.

O que afinal se compara ao orgulho, e até a soberba de poder mimetizar a função do Criador?

Se um dia houver paz, agradeçam antecipadamente às mães que conceberam e conceberão  — mas também às postiças, as que não conseguiram, aquelas que saíram de cena prematuramente —  serão elas as mais interessadas em preservar o mundo para os filhos.                                                                                                           https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/a-ciencia-infusa-da-maternidade

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Substitute Horizons – Language Mutation III

05 quinta-feira maio 2022

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Substitute Horizons – Language Mutation III

Yon Hazikaron and Yon Haatzmaut

Paulo Rosenbaum

Contrary to the preaching of the revisionists, testimony and witnesses are the only irrefutable documents of history. We hear, here and now, whether we like it or not, admitting it or not, that the long march of intolerance still has its voice guaranteed. Inside and outside national states. It is in individuals, it is found in institutions. One of the proofs of this bitter repetition is the obsessive metaphor with an anti-Jewish and anti-Zionist content that has been taking over speeches and narratives.

Now, in order to justify an operation, the proportion of the executioner’s “Jewish blood” and its equivalences is invoked. The propaganda machine includes a gigantic lapse in critical analysis on the part of the media. And now he dares to blame the victim for the aggression, as the ex convicted candidate confirmed in an interview with a once expressive American magazine. It is not just about the reckless use of language that has taken on alarming contours. It is to make it the opposite of the work of building freedom and justice. It is the perversion of meanings and perhaps a crime against decent literature. Not that it should become prescriptive, but that it should refrain from associating itself with ideological and dated perfidy.

It seems to persuade life that errors like this rule as rules against exceptions. Going forward, the evil evocation issued by politicians and leaders is anchored in fear. So it has been when they exhort demonization. News that spreads in the same common air and with the same ghostly vigor. It insinuates itself, as in recent waves of pestilence, through an invisible and indecipherable energy, despite being embarrassingly palpable. It is found in the unpalatable mouth of the foreign ministers and in the not very courageous didactics of the West. The West whose neutrality bounces off victims to end up housed in the solidarity vest of decision-making offices. That finds in the strategic omission the same devastation of the cities opened in recent wars.

Now we’ve all learned. Language is a wild cradle. Which in wartime leaves only meaningless furrows. The accusations against Israel usually come from generalizations, organized by the language that plots and confuses. Despite the artificial polysemy that the term has recently taken on in the mouth of historical anti-Semitism, the real Nazis and their ideological accomplices still know how to use it like few others. They come as erratic swarms to spread fanatical pollination among uncritical flowers. “You’re the Nazis” became a kind of alibi slogan guaranteed to carry out the actions that typified the Third Reich.

What then would our substitute horizon be? The one we still, astonished, have not seen. One that will replace promises of annihilation with processes of integration. Our people, that is to say, no people who are not a majority will henceforth accept relative amendments. Nor will it accept unjustifiable deaths. Will not accept manipulated charges. Sometimes the weekly rest, the Shabbat, is not enough to guide the rest, nor the mourning to train suffering.

Our substitute horizon? Stay adrift? Surrender to the passage of a time that does not progress? Capitulate before the sea of injustices and foreseeable calamities? Without an enormous load of objection to the volume of attacks, the future would indicate a repetition of a tragedy of Shoah proportions . And how should we act? contemplative? Adopting stoic imperturbability? Under a slow and majestic tread slip between the orange tiles of Jerusalem? Or in the intermittence of a faith that oscillates between sunrise and sunset? Between an unknowable sea that will never be completely crossed?

What do you offer me horizon? Beyond Nothing, beyond the promises of posterity? Of cordial acceptance of an unchosen fate? Or will it be another one of the enigmas that no one dares to scrutinize? What does the horizon reveal to us? The inappropriate calm of meaningless days? Or the certainty that everything is just the same experiences with the protagonists taking turns?

What can horizon tell us? That we are a mere stage for your performance? Today the ashes of an unsuspecting shroud rain down on us. And it doesn’t just wet the exhausted Jews My father was in the same storm. as well as all ancestral generations, and seem to claim it.

It is no longer a matter of tomorrow, the trance has imposed itself today, violent as only invisibility can provide. Vulnerability is a naughty aftermath. Trance is imposed by an arbitrary absence, hostage to a plague.

I predict it will not be common ground, or a life of unmotivated joy. Rather, you will weave a web of ties to create the feeling of ending. But what they didn’t count on is this little imponderable. We don’t really know to whom the horizon belongs. To us, who without the pretense of alignments are cohesive?. I know that you are not an oracle, nor can or should predict what we lack.

And that’s why we suspect that the fusion of horizons is just a chimera if the plumb isn’t laid out on flat ground. A fictional ending for those who expected reality. Why then does it still haunt us with hope, horizon? With expectations that will never arise and with promises betrayed by reality?

If I could risk it, I would answer that our vision has incorporated you without understanding what the big picture means. The one that will remove us from the vulgarity of common sense to show us a brand new belonging.

Without parties, without rigid foundations, in a malleable horizon that interposes its protection column. Which simply miraculously separates the tyrants from the righteous.

Elected, this would be the substitute horizon: who knows how we would know the spherical meaning of the word shalom?

That under sirens, or violins, your 74th anniversary of existence be like this!

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/os-horizontes-substitutos/

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Horizontes Substitutos – Mutação da linguagem III (Blog Estadão)

04 quarta-feira maio 2022

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Horizontes Substitutos – Mutação da linguagem III

Yon Hazikaron e Yon Haatzmaut

Paulo Rosenbaum

Ao contrário da pregação dos revisionistas o testemunho e as testemunhas são os únicos documentos irrefutáveis da história. Escutamos, aqui e agora,  desejando ou não, admitindo ou não, que a longa marcha da intolerância ainda tem sua voz garantida. Dentro e fora dos Estados Nacionais. Está nos indivíduos, encontra-se nas instituições. Uma das provas deste amarga repetição é a metáfora obsedante de teor anti judaico e anti sionista que vem tomando conta dos discursos e das narrativas.

Ora, agora para justificar uma operação evoca-se a proporção de “sangue judeu” do carrasco e suas equivalências. A máquina de propaganda inclui um gigantesco lapso de análise crítica por parte da mídia. E agora ousa culpabilizar a vítima pela agressão como confirmou o candidato em entrevista à uma revista americana outrora expressiva. Não se trata apenas do uso temerário da linguagem que vem assumindo contornos alarmantes. É torná-la o avesso do trabalho de construção da liberdade e da justiça. É a perversão dos significados e quiçá um crime contra a literatura decente. Não que ela deva tornar-se prescritiva, mas deveria abster-se de associar-se à perfídia ideológica e datada.

Parece persuadir a vida que erros assim vigorem como regras contra acertos de exceção. Indo adiante, a evocação maligna emitida por políticos e líderes ancora-se no medo. Assim tem sido quando exortam a demonização. Notícias que espalham-se nos mesmos ares comuns e com o mesmo vigor fantasmagórico. Insinua-se, como nos recentes ondas de pestilência, através de uma energia invisível e indecifrável, a despeito de ser constrangedoramente palpável. Encontra-se na intragável boca dos chanceleres do oriente e na didática pouco corajosa do ocidente. O ocidente cuja neutralidade ricocheteia nas vítimas para terminar alojada no colete à prova de solidariedade dos gabinetes decisórios. Que encontra na estratégica omissão as mesmas devastações das cidades abertas em guerras recentes.

Agora já aprendemos, todos. A linguagem é um berço selvagem. Que em tempos bélicos deixa apenas sulcos sem sentido. As acusações contra Israel costumam vir das generalizações, organizadas pela língua que trama e confunde. Apesar da polissemia artificial que o termo vem assumindo recentemente na boca do antissemitismo histórico, os verdadeiros nazistas e seus cúmplices ideológicos  ainda sabem instrumentaliza-lo como poucos. Eles vem como enxames erráticos para disseminar uma polinização fanática entre flores acríticas. “Vocês é que são nazistas” tornou-se uma espécie de slogan-álibi garantido para praticar as ações que tipificaram o III Reich.

Qual seria então o nosso horizonte substituto? Aquele que ainda, atônitos, não vimos. Aquele que substituirá as promessas de aniquilação por processos de integração. Nosso povo, vale dizer nenhum povo que não seja maioria aceitará doravante emendas relativas. Tampouco aceitará mortes injustificáveis. Não acatará imputações manipuladas. As vezes, o descanso semanal, o Shabat, não basta para pautar o descanso, nem o luto para treinar o sofrimento.

Nosso horizonte substituto? Ficar à deriva? Render-se à passagem de um tempo que não progride? Capitular diante do mar de injustiças e das calamidades previsíveis? Sem uma enorme carga de objeção ao volume de ataques, o futuro indicaria a repetição de uma tragédia de proporções da Shoah. E como devemos agir? Contemplativos?  Adotando a imperturbabilidade estoica? Sob um andar lento e majestoso deslizar entre os ladrilhos alaranjados de Jerusalém? Ou nas intermitências de uma fé que oscila entre o nascer e o por do sol? Entre um mar incognoscível que nunca será completamente atravessado?

O que me ofereces horizonte? Além de Nada, além das promessas de posteridade? De aceitação cordial de um destino não escolhido? Ou será mais um dos enigmas que ninguém ousa perscrutar? O que nos desvela horizonte? A calma inapropriada de dias sem sentido? Ou a certeza de que tudo não passa das mesmíssimas experiências com revezamento dos protagonistas?

O que pode nos dizer horizonte? Que somos um mero palco para tua atuação? Hoje as cinzas de uma mortalha desavisada chovem sobre nós. E não molha só os exauridos judeus  Meu pai estava na mesma tempestade. assim como todas as gerações ancestrais, e parecem reivindica-la.

Não se trata mais de um amanhã, o transe se impôs hoje, violento como só a invisibilidade pode proporcionar. A vulnerabilidade é uma sequela impertinente. O transe se impõe por uma ausência arbitrária, refém de uma peste.

Prevejo que não será um solo comum, ou uma vida de alegrias imotivadas. Antes, tu tecerás uma rede de amarras para criar a sensação de fim. Mas o que eles não contavam é com este pequeno imponderável. Não sabemos bem a quem pertence o horizonte. A nós, que sem a pretensão de alinhamentos estamos coesos?. Sei que não és oráculo, nem pode ou deves predizer o que nos falta.

E por isso suspeitamos que a fusão de horizontes não passe de uma quimera se o prumo não estiver disposto em solo plano. Um desfecho de ficção para quem esperava realidade. Por que então ainda nos acossa com esperança, horizonte? Com expectativas que jamais surgirão e com promessas traídas pela realidade?

Se pudesse arriscar responderia que nossa visão te incorporou sem entender bem o que significa o grande panorama. Aquele que nos retirará da vulgaridade do senso comum para nos mostrar um novíssimo pertencimento.

Sem partidos, sem fundamentos rígidos, num horizonte maleável que interponha sua coluna de proteção. Que simplesmente separa milagrosamente os tiranos dos justos.

Eleito, seria este o horizonte substituto: quem sabe assim conheceríamos o sentido esférico da palavra shalom?

Que sob sirenes, ou violinos, teu aniversário de 74 anos de existência seja assim!

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/os-horizontes-substitutos/

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Insignificâncias do mal (Blog Estadão)

29 sexta-feira abr 2022

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Paulo Rosenbaum

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Hannah Arendt, vista por sua criadora 

A Coragem moral de Hannah Arendt

‘Hannah Arendt’, o filme de Von Trotta

        

                 

Insignificâncias do mal

Dezenas de artigos, análises e conversas de rua depois, o filme de Margarethe Von Trotta sobre a filósofa Hannah Arendt, ainda não foi devidamente esmiuçado. O filme é cinematograficamente bom sob a presença cênica de Barbara Sukowa impecável no papel principal. O acerto está também na inserção de trechos originais dos debates que representaram uma das batalhas jurídicas essenciais para a compreensão do século XX. Mesmo assim, as vicissitudes superam as virtudes deste longa metragem.

A impressão que fica é que não se executou uma obra da sétima arte, mas defesa de tese com recursos filmográficos. A diretora e a roteirista, Pam Katz, parecem ter privilegiado um enfoque que, além de vez por outra lançar condenações veladas ao sionismo, buscaram expurgar a ansiedade de consciência…

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