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  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
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  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

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Paulo Rosenbaum

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O mal e os dez réis de mel coado

08 quinta-feira ago 2013

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Eichmann, Hannah Arendt, justiça, nazismo, O Mal e os dez réis de mel coado, significado de justiça, Von Trotta

Se quisermos seguir uma linha de raciocínio persecutória, o filme “Hanna Arendt” de Margarethe Von Trotta confere fôlego extra e talvez aporte simpático involuntário para alimentar as teses revisionistas que despontam neste fim da pós-modernidade. Revisionismo que vai para bem além da contestação da numerologia dos mortos.

Von Trotta resolveu emprestar toda voz a um só lado da história, e ainda lhe ofereceu as palavras finais. Quase ao término a diretora deu enorme destaque ao discurso que a filósofa faz na universidade onde lecionava. Era o libelo de autodefesa contra os ataques que sofreu pelos EUA após a publicação dos artigos. Na cena ela é aplaudida efusivamente pela plateia de acadêmicos entorpecidos pelo seu brilhantismo intelectual. Proficiência insuficiente para sustentar as insinuações de que as vítimas desenvolveram cumplicidade com os carrascos.

Ora, sabe-se por depoimentos de sobreviventes como operavam as brigadas alemãs. Comandos da SS jugulavam de cara qualquer reação e promoviam o esvaziamento prévio de toda e qualquer autoridade. O totalitarismo nunca vem de supetão, ele se implementa em fogo lento e faz meticulosos testes empíricos para avaliar até onde a sociedade emudece. A dose do remédio foi gradualmente aplicado na própria Alemanha, primeiro com a promulgação das leis raciais de Nuremberg, depois com a declaração de ilegalidade, extinção e subsequentes assassinatos de todos os líderes políticos que não se curvassem à hegemonia do partido nazista.

Essa rotina foi quase redundante nos depoimentos daqueles que sobreviveram, conforme nos relata em detalhes o historiador Jacob Robinson. Além disso, o filme não faz uma única menção às centenas de episódios de resistência judaica — que resultou em levantes como a do Gueto de Varsóvia. Isso significa que uma das estratégias da arquitetura de domínio do nacional socialismo alemão era impor precisamente a acefalia.

Heidegger, considerado o maior filósofo do século 20, confessou ter enterrado seus escritos nazistas na Floresta Negra
Na cena em que a filósofa faz uma aula magna com a exposição de suas teorias, a diretora bem que tentou minimizar a defesa partisã enxertando contestações dos supostos detratores, ex-amigos de Arendt, que estavam presentes na plateia para testemunhar suas considerações. Um destes amigos, o intelectualmente mais consistente deles, era o sujeito que já havia sido previamente desqualificado lá pelo meio do filme. O marido de Arendt confidencia a ela que as críticas deste amigo eram “movidas pelo ciúme” e por ser a “pupila preferida” do famoso professor. Referia-se ao caso amoroso que sua cônjuge teve com Martin Heidegger, além de sua aluna predileta em Freiburg. Heidegger ocupou a reitoria da universidade e se filiou ao partido de Hitler. Numa retratação discreta, aquele que é por muitos considerado o maior filósofo do século 20 confessou ter enterrado seus escritos nazistas na Floresta Negra.

Seria Eichmann apenas um funcionário cioso com seus deveres hierárquicos, o parafuso inerme na azeitada engrenagem nazi? O que permanece indiscernível é o papel que coube a cada cidadão quando o país inteiro aclamava o mal. Neste caso, terá mesmo o mal um caráter tão desprezível?

Isso importa muito para a atualização das nossas experiências. Como pudemos nos render tão facilmente às autoridades, sejam elas membros do partido, intelectuais venerados pela inteligentzia, ou líderes com inaudito traquejo com as massas?

Só um estado coletivo de entorpecimento poderia explicar como opera um processo que se desenvolve às custas da abolição do pensar. Aprender a pensar criticamente é o oficio humano mais doloroso, solitário e estraga-prazeres que existe.

Mas, vez por outra, é a decência e não a inteligência que nos pede para resistir.

Coisas da Política – Jornal do Brasil

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Insignificâncias do mal

07 quarta-feira ago 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antijudaismo, antisemitismo, Hannah Arendt, hegemonia e monopólio do poder, Israel, justiça, mercado financeiro, nazistas, política, Von Trotta

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Dezenas de artigos, análises e conversas de rua depois, o filme de Margarethe Von Trotta sobre a filósofa Hannah Arendt, ainda não foi devidamente esmiuçado. O filme é cinematograficamente bom sob a presença cênica de Barbara Sukowa impecável no papel principal. O acerto está também na inserção de trechos originais dos debates que representaram uma das batalhas jurídicas essenciais para a compreensão do século XX. Mesmo assim, as vicissitudes superam as virtudes deste longa metragem.

A impressão que fica é que não se executou uma obra da sétima arte, mas defesa de tese com recursos filmográficos. A diretora e o roteirista, Pam Katz, parecem ter privilegiado um enfoque que, além de vez por outra lançar condenações veladas ao sionismo, buscaram expurgar a ansiedade de consciência que ainda paira sobre o papel coletivo dos alemães durante o III Reich

E se da arte não se deve esperar completude, pode-se sim exigir honestidade intelectual no trato das ideias.

Um dos mais comandantes do alto escalão nazista, Adolf Eichmann, foi capturado em Buenos Aires em 1960 pelo serviço secreto israelense. Ironicamente, quem casualmente o identificou na capital argentina foi um judeu alemão idoso e cego, ele mesmo vítima sobrevivente da juventude hitlerista. A pauta central do filme é o julgamento em Jerusalém do homem que teria arquitetado a “solução final” – o projeto de eliminação sistemática dos judeus europeus.

Determinada a defender as idéias contidas em seu “As Origens do Totalitarismo” a filósofa decidiu assistir o julgamento de Eichmann como correspondente do New York Times e redigiu artigos para publicação na revista New Yorker.

Para ela, toda cúpula nazista não era, necessariamente, composta por monstros, pervertidos ou aberrações da psicopatologia e o depoimento mecânico e sonso de Eichmann aos juízes israelenses pode ter ajudado a ludibria-la quanto à natureza de alguém, que em uma entrevista em 1957 a um ex-companheiro, já se definia como “um idealista”. Contrariamente às acusações da época, em momento algum Arendt o absolve, investe na relativização da grandiosidade autoral do criminoso. O teórico nazista era apenas um caso fortuito de mediocridade existencial, venial, sediço, frívolo, anódino, ridículo. Este tipo de insignificância era chamada nos séculos precedentes de dez réis de mel coado. Dessa perspectiva, o gerenciamento do mal poderia ser exercido por qualquer um contra qualquer um. A verdade empírica é de que não foi qualquer um nem contra qualquer um. O extermínio foi ditado por sujeitos contra outros sujeitos.

Ler mais no Blog do Estadão “Conto de Notícia”

http://blogs.estadao.com.br/conto-de-noticia/

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