• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico-Writer and physician

Paulo Rosenbaum

Arquivos da Tag: judaísmo

Jacques Lacan: Joyce era louco? (Blog Estadão)

13 segunda-feira ago 2018

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa

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Brasa, Criatividade, Fluxo de consciência, Joyce era louco?, judaísmo, Lacan, linguagem, Palestra Literatura Rio de Janeiro, PUC RJ

 

James Joyce – Página Inicial de “Finnegans Wake” (1a edição 1939)

Encontro do BRASA (XIV – Congresso Internacional da Associação de Estudos Brasileiros no tema “Textualidades Judaicas na Literatura Brasileira – O Ofício do Escritor) Evento que foi realizado na PUC-RJ de 26 a 29 de julho de 2018. A organização ficou ao encargo das Professoras Lyslei Nascimento, Nancy Rosenchan e Regina Igel. Na mesa de depoimentos de escritores brasileiros da qual fiz parte, também participaram Leila Danziger, Ronaldo Wrobel. Luis Krausz, Fábio Weintraub e Lucius de Mello. A reflexão sobre o Shoah (Holocausto), o aculturamento, a assimilação, o processo criativo e o papel da memória nos vários autores analisados foram os temas centrais desta e das demais mesas. Agradecimento especial a Professora Berta Waldmann. Aqui transcrevo a terceira e última parte do conteúdo relacionado à minha participação como uma contribuição para que o diálogo seja ampliado e prossiga vivo.

Comentários e compartilhamentos serão muito bem-vindos.

Jacques Lacan: Joyce era louco?

O anti senso comum

Escrever também pressupõe o abandono das auto-evidencias. Isso é, romper com as expectativas emprestadas do senso comum. Tchekhov pregava como técnica para o conto deixar pontas abertas, pistas sem seguimento, indícios soltos sem perspectivas conclusivas. Isso significa mudar sistematicamente a perspectiva com o qual se constrói, por exemplo, a narrativa jornalística. Kundera em seu “Arte do Romance” explica “…a razão cartesiana corroía um após outro os valores herdados da Idade Média. Mas, no momento da vitória parcial da razão é o irracional puro (a força querendo apenas o seu querer) que se apossará do cenário do mundo, porque não haverá mais nenhum sistema de valores comumente admitido que possa lhes fazer obstáculo”

É neste vácuo e só neste nada hegemônico hiato que o criativo pode trazer uma contribuição inesperada.

Usar padrões de sua força criativa e imaginária (distintas, como veremos a seguir) é instrumentalizar recursos como a ansiedade e a angustia em uma direção. Se a literatura é um arte correlata da sublimação? Possivelmente sim. O texto é a garantia de que estamos atentos aos sinais do mundo, seus signos e significados, mas não submissos a ele. Essa distinção é vital para que o autor não se torna – ou seja reduzido – a ser um porta voz dos panfletos políticos de sua época.

O engajamento atual, que beira o ridículo, é um sinal de alerta para a literatura e suas jaulas ideológicas. Por mais que as pessoas que compõem a intelligentsia do momento desejem, elas não podem enquadrar toda oposição em categorias taxonômicas, geralmente desqualificadoras. Exemplo disso é a acima aludida hiper ideologização das ideias, a execração das tradições religiosas e até mesmo de qualquer tradição, o culto ao cotidiano como único tema digno de figurar na literatura. Isso exemplifica de certa forma a leva de autores que por mais oficinas literárias que façam e por mais apadrinhamentos políticos que tenham não conseguem produzir nada além de um conjunto de textos datados.

O Personagem

Apesar das críticas à ingenuidade dessa hipótese, sim, eles podem não ter vida autonomica, mas eis que os personagens exigem uma vida quase emancipada do autor, e isso está além de uma impressão vaga, trata-se de uma constatação empírica. Significa que o apartamento da literatura dela mesma exige que os escritores abandonem seus domicílios fixos e passem a migrar como ramblers. Neste sentido faria bem a todo personagem encarnar fragmentos do mito do “judeu errante”.

A força de um romance atual põe em evidencia portanto duas máximas: a história que corre paralela ao real, isso é a história que a história nunca pode registrar, pois é aquela que faz parte da chave inconsciente das micro histórias subjetivas individuais (e relacionais). Para esta não é suficiente fazer amplas varreduras enciclopédicas. A outra máxima, mas não menos importante, é a assunção de que os personagens – para adquirir uma existência fora do texto – precisam, de algum modo aniquilar/neutralizar as idiossincrasias do autor. Isso significa que há uma luta entre as características com o qual o autor tentar modelar seus personagens e a existência autodeterminada do personagem – que paradoxalmente não é externa – a qual exige uma vida independente, e de uma autoria única.

Despertar o senso de intriga é, necessariamente, atrair o leitor para uma armadilha benévola. Nem sempre o arrebatador é belo.  Sua raíz etimológica vem de arrepitare, roubar, resgatar, tomar à força. Ofertar a isca até o lugar mais apropriado para alcançar o destinatário final. Tomar de assalto o leitor. Isso pode – e frequentemente é – confundido com fazer concessões. Agradar o leitor, valha-me, é visto com desdém. Para além do valor estético da concessão, existem de fato aquelas lavras que rebaixam o nível do escritor ao invés de oferecer alguma ascese.

Insano Joyce

É sempre perturbadora a pergunta de Jacques Lacan: afinal “Joyce era louco?”

A depender de qual área psicológica se apropriasse da pergunta ela seria afirmativa. Mas, num sentido distinto daquele que o senso comum e a psiquiatria atribuem à loucura. Joyce emulava a loucura para escrever. Empresta sua pena à demanda errática (mas com rigoroso controle do timing) aos seus inquilinos provisórios. A transitória esquizofrenia auto-induzida de um escritor é a única razão para justificar sua liberdade. E, também, sua única motivação para a migração da energia psíquica à capacidade criativa, isto é, sua volição redirecionada à imaginação.

Usar padrões de sua força imaginária é também instrumentalizar recursos como a ansiedade e a angustia em uma direção. Seria a literatura uma arte correlata da sublimação? Para alguns possivelmente. O texto de ficção seria uma garantia de que estamos atentos aos sinais do mundo, seus signos e significados, mas não necessariamente submissos a ele. Essa distinção é vital para que o autor não seja reduzido a um porta voz dos panfletos políticos de sua época.

Exemplo claro disso é a execração das tradições religiosas, dos elementos místicos (que impregnam indiscriminadamente o dia a dia tanto do crente quanto do agnóstico), e até mesmo de qualquer tradição lato sensu. Eis que o culto ao cotidiano e dos problemas sociais tornaram-se os únicos temas dignos de figurar na literatura. Entretanto, só a hesitação produz conflito. E só a curiosidade intrusiva é capaz de construir a densidade que estrutura os enredos ficcionais. Tudo depende dela, mas não só dela, para tornar o romance um símbolo das ações do homem.

Um oficio que nesta já esgotada pós modernidade pede, implora, urge: o restabelecimento de sentidos, de preferencia, novíssimos.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/

 

 

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Livros Publicados:

10 quarta-feira jul 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Livros publicados

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A Verdade Lançada ao Solo, Angelina Jolie, antijudaismo, antisemitismo, assessoria, democracia, Israel, judaísmo, justiça, Literatura, livros, política

ROSENBAUM, P. . Verdade Lançada ao Solo. Rio de Janeiro: Record, 2010. 588p.;  Saiba mais: Editora Record

ROSENBAUM, P. ; LAMA, L.  FRANCO, P. P. . O Nome do Cuidado – “Care among us”. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009. v. . Saiba mais: Ateliê Editorial

ROSENBAUM, P. . Novíssima Medicina (ethos do Cuidado). 1. ed. São Paulo: Organon, 2008. v. 1. 224p . Saiba mais: Editora Organon

ROSENBAUM, P. . Entre Arte e ciência: Fundamentos Heremenêuticos da Medicina Homeopática. 1. ed. São Paulo: Hucitec, 2006. v. 1. 277p .

ROSENBAUM, P. . Homeopatia, Medicina sob medida. São Paulo: Publifolha, 2005. v. 01. 160p . Saiba mais: Publifolha

ROSENBAUM, P. . Medicina do Sujeito. Rio Janeiro: Luz Menescal, 2004. v. 01. 250p. Saiba mais: Organon

ROSENBAUM, P. (Org.) ; LUZ, M. T. (Org.) . Fundamentos de homeopatia para estudantes de medicina e de ciências da saúde . 1a. ed. São Paulo: Roca, 2002. v. 01. 462p .

ROSENBAUM, P. . Homeopatia:medicina interativa, história lógica da arte de cuidar. 1a. ed. Rio de Janeiro: Imago, 2000. v. 01. 194p . Saiba mais: Editora Imago

MURE, B. (Org.) ; ROSENBAUM, P. (Org.) . Patogenesia Brasileira. 1a. ed. São Paulo: Roca, 1999. v. 01. 410p .

ROSENBAUM, P. . Miasmas, saúde e enfermidade na prática clínica homeopática. 1a. ed. são Paulo: Roca, 1998. v. 01. 456p .

ROSENBAUM, P. . Perguntas e Respostas em Homeopatia. 2a. ed. São Paulo: Roca, 1996. v. 01. 140p .

ROSENBAUM, P. . Homeopatia e Vitalismo, um ensaio acerca da animação da vida. 1a. ed. São Paulo: Robe, 1996. v. 01. 205p .

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Para além do Ghetto

02 quinta-feira maio 2013

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antijudaismo, antisemitismo, Irã, Israel, judaísmo, justiça, revisionistas do holocausto, significado de justiça, utopia

Para Além do Ghetto

Para Além do Ghetto

Para além do Ghetto

Me chamo…meu nome não é relevante. O que importa é explicar porque tive que voltar. Esta é a terceira ou quarta vez. Geralmente venho com uma missão pontual, desta vez, múltipla. Nos últimos tempos lembro de ter visto artigos e comentários sobre nós, judeus que comandaram a luta contra os nazistas no episódio conhecido como “levante do Ghetto de Varsóvia”. Depois de tanto tempo, não sei bem se estou vivo ou não, a última coisa que lembro foi ter sido espetado no ombro esquerdo por uma baioneta e, se realmente estava morto, posso afirmar que dói. Muito.

Aqui também há burocracia mas tudo vai na velocidade da luz. Essa última viagem foi decidida quando percebemos que as palavras vêm sendo distorcidas. Seria bom informar a estas pessoas que mudam o sentido das palavras que a corrupção começa e termina pela linguagem.

Acompanho religiosamente os jornais e as críticas sobem até nós. Israel têm sido demonizado de todos os lados, sob a complacência de boa parte da mídia do mundo. Revivi as cenas de 1939. Na época sabíamos exatamente de onde provinham os patrocínios. Quem será que financia a campanha desta vez? Dizem que a culpa é dos próprios judeus (já ouvi ontem e anteontem) mas, pelo que li, ninguém aponta para a complexidade real do problema.

Dizem que a culpa é da direita. Mas nada mudou nas acusações e hoje o poder político pertence ao centro. Aqui em cima analisamos tudo e contamos com a máxima diversidade. Uma crença compartilhada, que virou unanimidade: todos aqui acreditam nos homens.

Outra coisa que chama a atenção é que andam dizendo que os judeus não precisam de uma nação: “eles se dispersaram pelo mundo”. É verdade e o exílio involuntário trouxe coisas positivas para nós e os povos com os quais convivemos. O pessoal da administração sempre fala disso com alegria. Isso não significa que um povo não tenha direito a uma terra.

Corrijam se eu estiver errado, mas a partilha feita em 1947 constituiu dois estados, um para nós, outro para os primos árabes. Qual é o problema então? Me sopram que assim que a divisão foi estabelecida os radicais nos atacaram. E isso se repetiu várias e várias vezes. Estou virando e revirando os jornais e parece que há mais de 60 anos as tentativas para encontrar a estrada da paz falharam. Não pode ser verdade. Quem sabota? Quando as duas partes mais interessadas só teriam a ganhar com paz e estabilidade, sim, alguém está sabotando!

A solução seria “paz em troca de terras”. Então fomos ao arquivo morto e revisamos tudo. Parece que um dos lados exige – está em sua constituição — que o Estado de Israel deixe de existir para começar a negociar. Até para nós, daqui do outro lado, há limites para o ceticismo. Trata-se de uma piada, não?

Depois, mais recentemente, o ditador da Pérsia afirma que o holocausto é uma invenção e duas a três vezes por semana solta frases como vamos “varrer Israel do mapa”. Agora quer a bomba atômica. Isso mexeu até com a cúpula aqui por cima. O pessoal ficou realmente aflito e a correria aumentou nos últimos tempos.

Quando decidimos pegar em armas em Varsóvia era para não morrer como mosquitos esmagados. Era uma situação limite. Uns poucos contra a massa que exigia nossa eliminação. Na escala de guerras justas (aqui é proibido usar esse termo) estaria entre as 10 primeiras. Sabíamos do extermínio em massa, deliberado, sistemático e impiedoso. Sim, aquilo era mesmo um genocídio. Mas qualificar o que está acontecendo entre israelenses e palestinos, usando a mesma palavra é uma imoralidade. Claro que daqui de cima nosso apoio aos patrícios não é incondicional. Não gosto de ver um povo como o meu, historicamente oprimido, fazer papel de opressor. Mas avisem para parar com esta bobagem de esquerda e direita. Eu, que já cantei a Internacional com a mão no peito posso garantir. É verdade que nós ainda temos o idealismo espiritual de esquerda, aquele que quer justiça social e fraternidade sem esquecer de Deus nem da paz. É que com ele tão por perto isso não é uma escolha, simplesmente acontece. Com o perdão da insinuação — pode pegar mal — vocês também vão experimentar. Posso confrontar as decisões e fazer objeções ao que está acontecendo por lá, mas há iletrados que estão usando equivalências entre nós e os nazistas. Merecem um belo puxão de orelha. Há limites até para os mortos. Falam que estamos “murando por dentro” o País. Minhas fontes dizem que foi uma medida provisória para se proteger dos ataques de gente que queria explodir qualquer um. Agora chamam isso de terror? Eu sei que fizemos das nossas contra os ingleses e quem usou isso como arma está errado, não importa quando nem onde. Aqui em cima a regra é clara e expressa pelo próprio Criador. Por ordens dele aqui não há propaganda, e ninguém doutrina ninguém. A única exceção são placas visíveis em todo lugar e em todos os idiomas: viva e deixe viver.

Eu já desci outras vezes. Uma delas foi para ver os alemães virem até a Rua de Mila e desmaiar quando se deram conta do que fizeram com nosso bairro em Varsóvia. Voltei para ver as máquinas e buldozeres dos poloneses demolirem nossas casas. As ruínas viraram pó. Uma das poucas vezes na vida que gritei em desespero, mas ninguém ouvia. Eles demoliram tudo. Ali morri mais uma vez. Precisávamos daquelas ruinas. A preocupação constante por aqui é com o futuro — não porque temos vontade de sofrer com as recordações, mas sim ficar mais alertas para o que está ao alcance de vocês evitar. Uma última mensagem que o povo daqui pede: que eu esclareça a palavra genocídio. É uma palavra que não existia em nossa época. Foi criada a partir de tudo que se viu durante a tentativa de nos exterminar embora outros povos também experimentaram. Um compatriota juntou a palavra genós (do grego tribo ou raça) e caedere (do latim, matar, assassinato).

Sinto, mas a administração solicita minha presença e aqui brincamos muito, menos com o tempo. É que Ele já se cansou de assistir o papelão que fazemos. Como a paciência dele é infinita torço para resolvermos já as brigas. Aqui estão todos de acordo com a exortação de ser um só povo. O consenso é de que isso só será possível quando reconhecermos o valor da pluralidade e a identidade de cada uma das tribos.

Sinceramente, M.I. I.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. Publicou “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed Record)

o link para a publicação no JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/05/02/para-alem-do-ghetto/

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Holocausto Subliminar

29 quinta-feira nov 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antiamericanismo, antijudaismo, antisemitismo, Democracia grega, hegemonia e monopólio do poder, Irã, Israel, judaísmo, justiça, liberdade, tribalismo

Holocausto Subliminar 

 

“O oráculo decreta o destino, o filósofo torce contra si mesmo, esperando que suas previsões fracassem”   

 

Em meio aos assuntos que dominaram a mídia nas últimas semanas está a aberta e escandalosa demonização de Israel: um eufemismo covarde para incluir judeus sem mencioná-los. Trata-se de um claro sinal de que há algo sistêmico em curso. A ONU fez a partilha da ex-colônia britânica e outorgou a dois povos, dois Estados. Como se trata de uma das regiões que mais mudou de mãos na história, não se deve olvidar o pesado passado colonial, que trai a confiança mútua entre as partes, ambas responsáveis pelo desperdício de preciosas possibilidades de acordo. A questão Palestina, portanto, é apenas a tecla da vez. Para alimentar preconceitos e ideologias, como Sartre escreveu, sempre se pode inventar algum álibi.  

 

Temos que encarar o recente cessar fogo como um epílogo de uma guerra bem maior, cujo enredo está entrelaçado com a crise econômica mundial, a explosão de violência e o holocausto subliminar.

Aos poucos, abandona-se, de lado a lado, a ênfase na solução por dois Estados. Na auto-armadilha bem montada, os bem pensantes criaram impasses para si mesmos: como exorcizar Israel e defender o Hamas ou o Hezbollah sem conceder espaço aos argumentos fundamentalistas? Há muito tempo, na palestina do sul, a luta do califado da retidão já não é só contra o Estado Hebreu. Há, portanto, uma espécie de estatuto moral duplo. Se, de um lado, há consenso que após o 11 de setembro a islamofobia seja inaceitável, de outro, a aversão aos judeus tem sido “naturalizada”, normatizada e regulamentada. A banalização é o primeiro passo ao conformismo. Basta espiar as redes sociais, as manchetes e o escandaloso aumento de ataques “espontâneos” contra judeus na Europa. Da construção lingüística, às imagens super exploradas, Israel vem figurando nos textos e nas charges como agressor, belicoso, hostil, quase uma entidade macabra. São conclamações ao ódio, retocadas como análise política imparcial. Não importa como se mova, para onde e com quem se mova estará, a priori, errado.

 

Uma campanha, sim, dessas publicitárias, que conta até com o apoio de nomes de peso, como intelectuais americanos, europeus e latino americanos. Eles emprestaram seus nomes a uma causa e compraram e foram comprados pela ideia de que um Estado Moderno, democrático, com população de 7.9 milhão de pessoas, multiétnico, incluindo quase 1.6 milhões de árabes-israelenses, pode ter seu direito à existência cassado. Não adianta espernear, evocar paranoia conspiratória ou bufar! É isso mesmo: estamos diante de um tentame de deslegitimização do Estado de Israel. Os doutores chegaram à conclusão que ele não merece mais respirar.

 

Como eutanásia e pena de morte são coisas sérias, caberia entender como alcançaram, depois de meia dúzia de cervejas, este brilhante veredicto. Só o inverno da razão explica como mentes iluminadas concebem execrar um Estado e como isso passou a ser não só aceitável, como politicamente correto.  

 

Por aqui, o governador do Rio Grande do Sul subsidiará um fórum para discutir a questão palestina. É mais que sintomático que não tenham convidado ninguém ligado à Israel. Todos fazem parte do time das convicções absolutas, das ideias acabadas, cabeças formatadinhas. E por que dariam voz à outra versão dos fatos? Mais um palanque para insuflar a demonização do outro lado. Aberrações que o centralismo partidário e o aparelhamento do Estado brasileiro tornaram possível. A proposta viola explicitamente os termos da constituição federal, que não só reconhece o direito à existência de Israel e da criação de um estado Palestino, como proíbe a incitação ao ódio religioso, étnico e racial. E, para satisfação dos que prezam guerra, tentam minar o convívio impar e pacífico que árabes e judeus têm por aqui. A esquerda senil, incluindo a ideológica diplomacia brasileira, vai sendo movida pelo dominante e pré-escolar sentimento de antiamericanismo.

 

Mais um bom exemplo de como monólogos podem ser travestidos de diálogos numa suposta democracia.

 

Sob a cegueira antissionista o mundo parece solidário com organizações que, enquanto escolhem deliberadamente civis como alvos, vestem gravatas e negociam com a diplomacia internacional. São neo-terroristas. Quem os apóia, incluindo os senhores catedráticos, deveria rezar à noite para que seus pedidos jamais sejam atendidos. O risco é acordar com pesadelos lembrando Foucault defendendo o aitolá Khoumeini. Diante desse irrefletido apoio o que será do Oriente Médio com o eventual triunfo do fundamentalismo? O quem nos espera com a aplicação literal das leis religiosas ao modo talibã? Como ficarão as democracias, os tribunais, os direitos das mulheres, das minorias, dos muçulmanos moderados, das comunidades cristãs? Como assistiremos a conversão à espada dos “infiéis” das outras etnias?

  

Na verdade, o que hoje incomoda nos judeus contemporâneos é não mais poder confundi-los com a aura de povo vitimizado pela história, os nômades apátridas, eternamente perseguidos e oprimidos. Agora há um país cujo vigor é, em si, a própria mensagem do “nunca mais”. O que hoje estimula o atavismo antissemita enraizado pelo mundo, é que diferentemente de todos os períodos nos últimos dois milênios, Israel existe e resiste militarmente a sua imediata eliminação, como propõem explicitamente em suas “cartas constitucionais” o regime iraniano e todas suas filiais, Hamas, Hezbollah, Jihad Islâmica e Al Quaeda. 

 

Sim, tudo mudou e pouco teve a ver com a primavera árabe. Se antes o acordo era varrer os párias que atrapalhavam o desenvolvimento europeu, agora o defeito intolerável nos judeus, simbolizados pelo Estado de Israel, é sua força, e, a missão, destruí-los primeiro simbolicamente, depois sua nação e, se possível, com o aval da indiferença do mundo, levar a cabo a solução final.

 

Não vai acontecer. O mais provável é que depois do inverno da razão, o tempo mude para dias mais amenos, com trovoadas e pancadas ocasionais, num novíssimo e refrescante verão do mundo.

 

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo”.

 

paulorosenbaum.wordpress.com

 

 

 

Para o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/29/holocausto-subliminar/
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/29/holocausto-subliminar/

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Convite para Palestra e Lançamento do livro A Verdade Lançada ao Solo – Rio de Janeiro, 29/03

08 terça-feira mar 2011

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Ensaio, judaísmo, Literatura, Palestra Literatura Rio de Janeiro, Verdade Lan, Verdade lançada ao solo

A Verdade Lançada ao solo - Lançamento do Livro e Palestra

Esta galeria contém 4 imagens.

  Ficção nacional | Romance | Filosofia             Estreia do médico e poeta Paulo Rosenbaum como romancista, A VERDADE LANÇADA …

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As Três partes (III)

02 domingo jan 2011

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Deus, judaísmo, livro

Além das partes articuladas a vitalidade não é só mais outro item a ser considerado. Ela é essencial na vida e no composto em que se transforma o texto uma vez que ele começa a viver como uma unidade. O livro tem uma natureza que transcende o autor porque — como as obras de arte e as missões individuais — deixam pegadas. Os rastreadores tentam segui-las enquanto ousamos interpretar.

Voltando ao texto do livro: a terceira parte foi a que tomou mais tempo. Primeiro  porque foi a que sofreu mais mudanças, não só como final. As mudanças vieram para tomar a hesitação e a tensão acumulada nas outras partes e despeja-las em final que surpreende. Surpreende pelo sinal aberto que tenta manter, e ao mesmo tempo mostrar que há um fechamento para as tres partes.

O aparecimento de Antiocus Apsev na trama dá o tom de perplexidade  ao texto. Ele ameaça a coerencia da parte II, ele é um desafio para o médico. O grego que vem trazer a mensagem vaga veicula uma duvida que só quem tiver persistencia resolverá. O oculto depende de empenho. O mistério, se existe, é para que ninguém fique completamente tranquilo, assim é que se muda a ilusão do conforto. Ninguém pode ficar indiferente ao que não domina.

A chamada é sempre indireta, fugidia, imperfeita, mas ela existe. Antiocus é um desafio ao médico e um desafio ao ceticismo como ideologia. A palavra que ele traz é um parametro indiciário, vale dizer uma evidencia indireta, de que o mundo transcendente não é ficção. Ele existe e tem pulso. Precisamos senti-lo.

Estes sinais acessórios através de que Deus fala emudece a descrença; ela se torna vazia.

Porque o que não sabemos excede tudo.

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Artigos Estadão

Artigos Jornal do Brasil

https://editoraperspectivablog.wordpress.com/2016/04/29/as-respostas-estao-no-subsolo/

Entrevista sobre o Livro

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