• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico

Paulo Rosenbaum

Arquivos da Tag: hegemonia e monopólio do poder

Regresso à obscuridade (blog Estadão)

18 domingo set 2016

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a prisão, blog conto de noticia, democracia, hegemonia e monopólio do poder, justiça, quem criou zoilo?, zelar pela reputação

Brasil

ZELAR PELA Reputação

Regresso à obscuridade

Paulo Rosenbaum

18 Setembro 2016 | 00h21

Repitam conosco:  os crimes  justificam os meios. Os meios explicam os fins. A finalidade perdoa o desvio. O desvio reafirma o heroico. A farsa atende a meta. A justiça muda toda norma. A verdade nunca será deles. A justiça é para todos, os outros. Nossa moral é única. Nossa ética hors concours, portanto, louvem-na ou deixem-nos em paz.

A profusão de frases de efeito caracterizava a República do Slogan, recém destronada.  Destronada, mas ainda não erradicada. O poder que muda de mãos é insuficiente para defenestrar longas impregnações. Falta analisar o aspecto bizarro do triunfo quase absoluto da propaganda. A especulação de que as instituições funcionam perfeitamente não bate com a velocidade com que tudo se esclarece até sua ampla resolução. Ou desvanecimento. A lentidão sempre favoreceu o facínora. Mais do que isso, entroniza, reifica, legitima. Isso explica que mesmo depois de tudo, pequenas multidões ainda sigam a histeria do partido. A exposição do choro em rede sensibilizou plateias. No modelo de marketing ilimitado ganha-se na base da persuasão. O convencimento pela razão se perde no coração dos condoídos. Tudo é pleonasmo que se estende por simulação. Um sentimentalismo dissoluto enterra toda análise. É dentro deste proto teatro que passamos a inverter tudo. O que nós, habitantes da terra dos desvios, precisamos sentir? A consciência estaria dada fôssemos nós vigilantes. Mas não somos exatamente atentos. Nossa seletividade é enganadora. Tendo repudiado direita e esquerda eu também me pego desejando a prisão, o castigo impiedoso, o bota fora exemplar. O objeto do desejo coletivo hoje é indiciamento,  justiçamento, reparação e, se possível, que eles experimentem algo análogo ao que vivenciamos. Reduzimos todas as expectativas ao desejo de prisão. Vibramos com tornozeleiras. Mas, ao mesmo tempo, o sentimento reflui à pena. O indulto para quem sofre. Mesmo aos marginais da República damos chance ao arrependimento. E então tudo se deforma no festival de gradações e atenuantes. É o momento no qual homens, até há pouco considerados inteligentes, submetem-se ao crivo da adulação ideológica. Narram a irrealidade de consensos inexistentes. A história conhece o discurso político com traços psicóticos, assim como seu poder de contágio. A inusitada novidade é a sobrevivência política de gente que cultivou a terra arrasada. De Porto Alegre à Araraquara eles podem ganhar novas imunidades com os álibis do voto popular. Quem passa por momentos mais infelizes, nós todos ou eles? Esta contabilidade do mal feito nunca terá precisão científica. Claro que nem se aproximará do espetáculo da contabilidade criativa azeitada na manteiga, e no virado ao fundo de pensão. Nunca houve golpe agudo. O golpe é outro e é crônico. Foi dado faz tempo quando a democracia, pensando ser representativa, passou a gestar lideranças “naturais” em laboratórios universitários, nas hierarquias intelectuais e em moitas canônicas. Caudilho nenhum nasce feito. Precisa primeiro da bênção dos que o antecederam. Depois, a chancela do segundo escalão dos bem pensantes penitentes. Que vieram de vários partidos. Todos convencidos de que sabem redimir como ninguém o povo sofrido. Depois foi necessário faze-lo ganhar projeção por terra e mar. Pulverizar a memória da sociedade com o expurgo de uma culpa que já durava meio milênio. E, por último, distribui-la, a culpa, nas telas e folhas impressas. Florestas inteiras derrubadas em manchetes favoráveis dedicadas ao líder. Milagre econômico herdado de um prólogo de civilidade. Ao libertador dos oprimidos foi oferecido, na bandeja da redenção, o País inteiro. Por fim eleito, apoio maciço e aprovação ímpar ao ícone das idoneidades máximas. O campeão da probidade.  A tese prometia: um trabalhador nato libertar-nos-ia do trabalho. E não é que foi um êxito absoluto? Com a palavra os 12 milhões de felizardos. Portanto, não basta repetir o surrado “deu no que deu”. Ao Supremo líder da seita e a todos os arquitetos do plano que, com esforço ativo ou passivo, direta ou indiretamente,  nos legaram estes intermináveis dias, só podemos desejar que tenham um bom regresso à obscuridade.

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Não é porque (blog Estadão)

07 terça-feira jun 2016

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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centralismo partidário, conto de notícia, decisões judiciais, democracia, hegemonia e monopólio do poder, justiça, não é porque, paulo rosenbaum, poesia, significado de justiça, utopia

Não é porque

Paulo Rosenbaum

07 junho 2016 | 12:19

Não é porque removemos o entulho que podemos aceitar tudo, não é porque fomos as ruas que nos submeteremos à qualquer faixa, não é porque o crime compensa que nos tornaremos cúmplices, não é porque o progressismo falhou que seremos adeptos do atraso, não é porque a vigilância está mais atenta que aceitaremos o Estado Policial, não é porque a contaminação é geral que a infecção é a mesma, não é porque estamos em casa que as ruas não podem reaparecer, não é porque quem deveria nos representar falha, que a representação faliu, não é porque estamos sem uma boia intacta que usaremos o penúltimo prego, não é porque eles tem foro privilegiado que a maioria merece injustiça, não é porque as indicações foram feitas que a contabilidade de favores pode persistir, não é porque o Poder nos insulta que precisamos recusar a governabilidade, não é porque eles são nacional-desenvolvimentistas que estão errados, não é porque persistem na seletividade dos alvos que aceitaremos tiro ao alvo, não é porque eles foram grampeados que todos nós recusaremos garantias de privacidade, não é porque elegemos heróis que nos cegaremos ao narcisismo, não é porque temos paciência que o inflamação não cresce, não é porque desejamos paz que abandonaremos os motins, não é porque empobrecemos que a dignidade passou a ser um luxo, não é porque perdemos a inocência que hostilizaremos a pureza, não é porque as prisões pululam que teremos equidade, não é porque estamos confusos que não reparamos nas cores, não é porque a corte é soberana que aceitaremos absolutismos, não é porque naturaliza-se a exceção que ela deixa de ser selvagem, não é porque falta civilidade que a cidadania está perdida, não é porque o outono se prolonga que o inverno será relapso, não é porque enxergamos a insanidade que perderemos a lucidez, não é porque estamos aflitos que cassarão nossa voz, não é porque a espiritualidade se desorganizou que submergiremos na matéria, não é porque tudo foi se concentrando que a distribuição será barrada, não é porque os bolsos da pessoa física não se encheram que usurpar o Estado deixou de ser hediondo, não é porque estamos quase paralisados que esgotamos a vitalidade, não é porque preferimos a tolerância que não seremos contundentes, não é porque quem obstaculiza a justiça é quem deveria promove-la que o delito prescreve, não é porque um timing se impôs que ele veio na hora certa, não é porque sou eu quem digo que todos os demais não possam sentir de forma semelhante, não é porque as crianças estão sem infância que nós temos o monopólio da maturidade, não é porque a anomia chegou que não precisamos de parâmetros, não é porque a justiça social se arrasta que ela não avança, não é porque a compassividade nos inunda que a parcialidade pode prevalecer, não é porque podemos entender as motivações dos perversos que eles devem ser tomados como vitimas, não é porque nossa passividade é ancestral que as paixões foram extintas.

E por que ainda estamos aqui, e não lá fora, para berrar não?

Não é porque

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Spleen político (Blog Estadão)

15 domingo maio 2016

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Livros publicados

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blog Estadão, céu subterrâneo, ficção, hegemonia e monopólio do poder, impeachment, literatura brasileira, retrocesso, significado de justiça, spleen político

Spleen político

Paulo Rosenbaum

15 maio 2016 | 18:19

Spleen – A Spongy gland above the kidney, supposed by the ancients to be the seat of anger and ill-humoured, melancholy in Skeat, W.W. Etymological Dictionary of the English Language. Oxford, 1882 

Num lugar distante, depois de uma intensa conflagração não violenta, que não era nem exceção nem golpe, uma epidemia de depressão assolou o País continental. Um tipo de distúrbio jamais detectado pela medicina. Reconhecendo a calamidade a Organização Mundial de Saúde classificou o fenômeno como “spleen político”. Como zumbis, pessoas e tribos sem filiação vagavam pelas ruas tentando encontrar algum código, pistas, de qualquer forma algum sistema de identidade que permitisse qualquer reagrupamento. Parecia impossível. Os grupos anti e a favor se insultavam mesmo tendo passado quase dois anos do embate que determinou a reclusão de boa parte da elite governante. As divisões eram perturbadoras. Havia gente contra e a favor da Cultura. Contra e a favor da Sociedade. Contra e a favor das Instituições. Sim à censura, contra e a favor da ditadura. O País chegou muito perto de ter o nível médio de inteligência rebaixado por uma agencia de classificação de risco psíquico.

As pessoas relatavam sintomas semelhantes e muitas sensações análogas. Um filósofo decidiu fazer o registro de suas entrevistas.  Os testes psicométricos informavam estranhos depoimentos:

— Qual é a sua sensação com a situação atual?

— É como ter tirado um peso enorme das costas, mas sem nenhum alivio.

Outras avaliavam o inverso:

— Agora sinto o peso sobre o qual as outras pessoas falavam. Ele migrou para mim.

— Elas se livraram de algo, que agora parece ter grudado na gente.

–Estou carregando um fardo estranho, só sei que não é meu.

Na análise da pesquisa, o comum entre elas é que os dois grupos, aparentemente antagônicos, não conseguiam enxergar saídas.

— O que sinto? Não consigo conversar com ninguém.

— A culpa é deles, as pessoas não conseguem mais conversar.

— Não quero falar com eles, o fanatismo é incurável.

— Eu me pergunto o que eles querem. Estão numa seita ou partido?

Na época, o coordenador das pesquisas, Terco Mora, arriscou um ensaio publicado em jornal de grande circulação:

“A falta de perspectiva se tornou tão intensa que o alivio por ter se livrado de uma tirania assemelhava-se ao de ter se livrado de uma patologia grave: ou seja mesmo livrando-se dela, sentimos que não houve ganho algum. Velhos clínicos discordariam, assim como no aforismo de Heráclito de Éfeso “ninguém entra duas vezes no mesmo rio”. Assim como nunca um corpo afetado por uma doença jamais tem restituição integral, a experiência de ter sido tiranizado e a redescoberta que só as ruas esvaziam palácios, marcará a memória coletiva. Apesar de muitos terem apostado na amnésia, prevejo que o País nunca mais será o mesmo. Para conservar sua feição essencial as Democracias precisam renunciar à toda tentação populista. Devíamos reconsiderar Descartes: Penso, logo não milito. Massas não costumam grudar umas às outras. Para unificar um País é preciso, antes, reduzirmo-nos às unidades.”

Antes da reviravolta, Terco foi preso e processado por um dos tribunais magnânimos. Viveu exilado em Fernando de Noronha, na época transformada em colônia penal. Anos depois da crise, foi reincorporado à Universidade. Promotor de diálogo, fundou o Ministério do Bem Estar, que presidiu até falecer. Os efeitos vieram depois, na forma de bônus imateriais. Sob sua gestão, o IDH do País teve inédito avanço e as transformações foram evidentes. Numa rara entrevista concedida para uma emissora de rádio de Brasília Terco resumiu o segredo que nos fez superar a atmosfera de spleen político:

— Suas pesquisas foram fundamentais para mudar o ambiente político, o Senhor poderia explicar qual é o mais importante indicador de felicidade?

— As relações entre as pessoas.

_____________________________________________________________________

Prezados amigos do blog e colegas jornalistas, convido todos para o lançamento do meu livro “Céu Subterrâneo” que acaba de ser editado pela editora Perspectiva. Trata-se de uma ficção escrita a partir de uma estadia em Israel e definido pela professora titular de literatura da USP Berta Waldmann, que assina a apresentação, como “Um Midrash brasileiro”. Também contei com a preciosa apresentação da Professora Lyslei Nascimento da UFMG que elaborou a orelha do livro. A lista de pessoas para agradecer é bastante extensa. Pretendo fazer isso pessoalmente. Então amigos, será dia 17/05 as 18:30 na livraria Cultura do Conjunto Nacional. Agradeço antecipadamente a quem puder vir, compartilhar e divulgar para outras pessoas. Um grande abraço, Paulo Rosenbaum

Convite - JPEG

 

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O dever de desobedecer (Blog Estadão)

25 quinta-feira fev 2016

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blog conto de noticia, blog Rosenbaum Estadão, centralismo partidário, democracia, hegemonia e monopólio do poder, justiça, o dever de desobedecer, significado de justiça

O dever de desobedecer

Paulo Rosenbaum

25 fevereiro 2016 | 01:01

Podemos dizer que estamos sujeitos. No sentido da sujeição, imposição, vale dizer, vivemos à revelia da cidadania. Não acho que se deva comemorar prisões, mas quando se trata deste mercador de ilusões, que através dos truques de marketing, astúcia predadora e conselhos perversos nos enfiou nessa enrascada, a justiça propicia alguma atmosfera de paz efêmera. No entanto, o maior delito não é bem aquele pelo qual ele e seus amigos estão sendo citados. O elemento mais sinistro deste magnífico crime foi usar sua capacidade para promover um estelionato transnacional, provavelmente sem precedentes na história política moderna. A criatividade pode sim ser maligna. Isso se encaixa perfeitamente no espírito de ausência que se espalhou pela sociedade de forma generalizada. A gravidade da situação onde o subsolo do País cede sem que ninguém pareça se alarmar, merece ser mensurada. Testemunhamos a indiferença. As catarses ainda consentidas pelo poder como a indignação virtual — entre apitos, panelas e hostilização pública selvagem — simplesmente não mexem com a estrutura modelada pelo erro, que continua relativamente intacta. Trata-se de um estoicismo induzido pela reiteração, pelo convicta prática de excedente de transgressões. Ou quem ainda não sabe que o Mensalão coexistiu com a Petrolão, que atua simultaneamente com os desvios dos Fundos de Pensão, que coincide com os empréstimos suspeitos do BNDES, que opera junto com os repasses fantasmagóricos para as ditaduras amigas.

Admita-se que o que os move é incompreensível para nós. Nós que achamos que usurpar o poder é bem mais grave do que ilícitos comuns. Nós que poderíamos até aceitar justificativas, jamais o cinismo. Nós que esperávamos zelo com o bem estar e com a coisa pública. Nenhuma política é feita por santos e rejeitar o moralismo puritano é tão importante quanto resistir ao Estado gangster. Mesmo porque a corrupção justifica o Estado policial, que justifica o poder que corrompe. Porém, enquanto estamos aqui discutindo a engrenagem que garantiu ao Partido o controle do Estado e de suas instituições, as verbas oriundas dos desvios continuaram a fluir e a subsidiar o projeto.

Regaram eleições, caprichos pessoais e pagaram apoios. Simplesmente ainda não estamos totalmente conscientes da temporalidade desse processo. Não é passado. Isso os coloca hoje, agora, neste instante, em pleno controle de praticamente todas as instâncias cívicas públicas, da cultura às mídias. No planalto viciado não há espaço para outros, o sol é um oligopólio para alinhados, uma matinê entre amigos, com ingresso grátis para todos afinados com o desejo de hegemonia. Como pode uma democracia se defender se os mecanismos que a salvaguardam estão nitidamente obstaculizados? A divisão não está mais entre democracia instável e autoritarismo, mas, com a independência dos poderes comprometida, a escolha se restringirá entre instabilidade passageira e anomia prolongada. Trair a sociedade não é mais um escândalo. Na incrível ausência patológica de auto critica, na positividade dogmática, na nostalgia de uma revolução que nunca procedeu, os defensores deste governo escolhem morte à capitulação. Sobreviver a ruína requer deixar-se levar pela queda: ainda que se sabia que preveniria fraturas graves, cair sem resistir é uma arte pouco frequentada. Muitos tentam compreender este fenômeno, mas suas raízes já excederam a racionalidade. O esforço poderia nos remeter ao campo da psicopatologia, mas nem esta consegue amparar uma tese sólida quando se trata da devoção com que os enganos são cultuados por aqui. Para eles admitir erros parece significar a derrocada da existência. Sacrificar a República no lugar de assumir a inépcia para governar pode ter se transformado num desporto, praticado ao ar livre, na delinquência solitária de um palácio, ou até mesmo dentro de uma cela. Podemos até arcar com as custas, mas o preço da liberdade deles não consegue mais garantir submissão. É quando desobedecer passa a ser dever.

Tags: blog conto de noticia, corrupção e Estado policial, criatividade e perversidade, Estado gangster, estoicismo, moralismo, o dever de desobedecer, o partido como Estado, república estóica, sociedade indiferente, usurpar o poder

As informações e opiniões expressas neste blog são de responsabilidade única do autor.

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Por uma cultura não perversa (blog estadão)

18 quinta-feira fev 2016

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blog conto de noticia, Blog Estadão Rosenbaum, conto de notícia, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, Por uma cultura não perversa, utopia, violencia

Por uma cultura não perversa

Paulo Rosenbaum

17 fevereiro 2016 | 21:09

Não é o caso de ser contra ou anti. É preciso assumir: uma cultura não perversa é um ponto fora da curva. Ou não estamos todos em um estado a beira da saturação? A  intolerância é uma arma escura. O perverso não é aquele que se defende ou ataca, tanto faz se governo ou oposição, mas é aquele que força a prerrogativa de uma razão desligada do mundo, alienada dos compromissos com o além do si mesmo. O perverso é aquele que, não contente em ser hegemônico, desqualifica o mundo, dobra a realidade, invade a imaginação e reifica o mito para infiltra-lo na cultura. E assim coagi-la a todo preço e custo.

Como afirmou Carl  Gustav Jung, não são os homens que estão doentes, os deuses e suas mitologias que ficaram dementes. A política é apenas a face aparente dessa deterioração. Não estamos ouvindo as formulações do senso comum despejadas nas redes e escoadas pelas ruas? Com paus, máscaras e pedras? Aquelas que acionam as mais inespecíficas condições genéricas, quando a única esperança recairia na reafirmação do sujeito, o único com potencia para resgatar a sociedade?

Sim, ouvimos tua indignação, toleramos a indelicadeza, ouvimos teu enojamento seletivo e, agora, é preciso confessar, só conseguiremos respirar sob outro diapasão. Só se vê modelos esgotados em repetições circulares. Múltiplos exauridos e descerrados. Numa sincronia apática é como se todos os originais tivessem ensurdecido ao mesmo tempo. Como se as novidades não pudessem mais circular. Mas a norma do relógio é disparar, à revelia de nossa desatenção. Por que permitir que nos arrastem através dos vingadores anônimos? Prefiro que refaçam suas próprias penas e, ao custo das consciências, ressarçam o que nos subtraíram. Numa democracia principiante, quando uma mentira lava a outra e não há mais forças emancipadas, poder-se-ia especular sobre a subsistência e até mesmo duvidar se testemunharemos ou não um futuro saudável.

Em nossa insuportável ingenuidade a separação dos poderes seria a garantia das liberdades individuais. Quem iria supor que um lacre gigante estabeleceria tremenda co-dependencia no lugar de autonomia?  Co-autoria no lugar da reafirmação de identidades e funções. As exceções não conseguem mais suprir a norma. E é essa mutação que vem submetendo a Republica a ponto de torna-la irreconhecível. É como se mudássemos para uma chave que já nada abre. E, uma vez escolhida, ninguém mais pudesse se arrepender por ter sufragado um projeto tão nocivo e abrangente. Curiosa essa exceção. Os criminosos podem merecer perdão, os acontecimentos do destino podem exigir reparo, e até um pequeno deslize na calçada pode resultar em ressarcimento pelo administrador do território. Mas o sistema parece já ter escolhido seu lado: prefere proteger o opressor à vítima. O Estado tornou-se perigosamente autosuficiente e descolado do suporte. A ponto de descartar seus súditos? Exagero? Um espírito subjacente pode até vir a ser e no final mudar tudo. Os indícios não são estes, pelo contrário, o que torna nossa desconfiança cada vez mais procedente. E se assim fizeram para desconstruir o mínimo já conquistado? E se orquestraram para desmanchar o apelo civilizatório? Não será agora, nem imediatamente, mas uma hora teremos que responder: se não queremos ser Kiev nem Caracas, será preciso algum espírito de antecipação, ou capitulação.

Tags: a perigosa autosuficiencia do Estado, Carl G. Jung, cultura e política, direito ao arrependimento, Kiev e Caracas, mitos dementes e homens doentes, Por uma cultura não perversa, separação de poderes

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O último whats (blog Estadão)

17 quinta-feira dez 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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blog conto de noticia, cerco branco, conto de notícia, democracia, Estado Democrático de Direito, Estado policial, golpe, hegemonia e monopólio do poder, Help, o último whats, significado de justiça

O último whats

Paulo Rosenbaum

17 dezembro 2015 | 19:13

-Leia isso aqui!

-“Help?”

-Isso, “help!”.

-Chegou quando?

-Meia noite!

-Estranho!

-Quem enviou?

-Sem remetente, sem destinatário.

-Exato, mensagem na garrafa. Milhões receberam.

-A outra chegou um segundo antes!

-“Embargo geral?”

-Essa!

-Por que escreveriam isso?

– Ah, você não imagina?

– Não faço a mínima.

-Eu te listo mil motivos em um minuto.

– Então conta

– Perdemos critério, esvaziamos o bom senso, estamos governados pelo senso comum, a elite sustenta o poder, estamos sob censura, o crime varou a carne, o sistema tolheu as escolhas individuais. A divisão virou guerra. Os dossiês, armas. As discussões, torcidas organizadas. A judicialização, indevida. Carência de justiça devida. Segredos de Estado. Estado democrático sob cerco. Estado com espectro policial. Você ou qualquer um não pediria ajuda?

— Imploraria.

–Foi até discreto, mas assim? Ao cosmos? Para alguém alhures? Ele é um daqueles que ainda acredita no Céu?.

–E você, não?

(silencio intimidador)

– Não?

– Evoco a quinta emenda.

– Isso não vale nada por aqui. Lembra? Aliás, essa Constituinte aqui não sei não.

— Então te digo que no que não acredito: nessa política, na esquerda retrógrada, direita obtusa, centro acéfalo.

— Vejo que você não enxerga mesmo. Não percebeu os símbolos na linguagem? Impedimento, bloqueio, intervenção, sigilo de justiça, controle da mídia, restrição, liminares, prisão domiciliar oficial, arbítrio, mordaça. Ninguém precisa decretar “somos um governo tirânico”, é auto evidente. Se não acredita, faça seu próprio levantamento. Te digo que é por ai.

— Certo, mas o mistério persiste: quem digitou “help”?

– E quem não o faria? É help mesmo! Socorro, acudam, alguém faça qualquer coisa.

– Você está insinuando o que? Uma inteligência artificial? Capaz de perceber a bagunça e ainda gritar “socorro”?

– E por que não? Fenômeno raro, já registrado antes. Assim como existe uma inteligência individual de cada órgão, existe uma espécie de organização autonômica desconhecida, que age à nossa revelia. Só se manifesta em momentos críticos para a humanidade e poucas vezes abaixo do Equador. Transmissões radiofônicas sem origem, impulsos eletromagnéticos que são próximos e ao mesmo tempo não localizáveis, é como se a radiação cósmica de fundo tivesse uma voz, que as vezes até digita.

-Você tá de brincadeira!

– Não brinco com coisa séria!

(Voz celeste embargada: – Céus)

– Você ouviu, ou vai se fingir de surdo.?

-Ouvi, mas tinha acabado de pingar 3 gotas de Rivotril

(voz celeste grave : – I rest my case) (tradutor automático: Para mim, deu)

– Essa eu ouvi.

(ruídos de tremor de dentes)

– To te falando!

(voz celeste : – Fui)

– Olha aqui, o whats voltou.

– Milagre!

– Mas embargaram só no Brasil?

– Parece que sim.

– Arábia Saudita?

– Não. Isso é coisa muito nossa. Em nenhum outro lugar na Terra fariam isso.

– O que não entendo é por que uma Inteligência desse porte pediria nossa ajuda?

– Filho, era uma expressão: torrou, excedeu todos os limites, de saco cheio. Entendeu? Nem Ele aguentou!

– Mas não era brasileiro?

-Se naturalizou argentino, ontem.

-Então é mesmo o fim.

– O País acabou.

(chega uma mensagem de texto paga: – O País nem começou. PS- Podem me acordar se surgirem novidades. PS2- Por via das dúvidas, o novo passaporte é provisório)

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/o-ultimo-whats/

 

Tags: blog conto de noticia, Estado democrático, Estado policial, help, inteligência artificial, juízes e o juizo, mensagem na garrafa, milagre, o país acabou?, o último whats, socorro

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Tabu, ou, o politicamente correto (Blog Estadão)

09 quinta-feira jul 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antiamericanismo, austeridade, boicote contra Israel, consensos, conto de notícia, crise grega, hegemonia e monopólio do poder, politicamente correto definição, tabu, tabu ou o politicamente correto

irrelevante

O politicamente correto pode conservar o nome, mas talvez não seja político, nem correto. Pouquíssimo dialógico, produz mais dissonâncias que aproximações. De obras de Monteiro Lobato banidas ou censuradas nas escolas por supostos trechos racistas até a cartilha subsidiada pelo MEC com erros crassos propositais para não criar “constrangimento” em quem têm dificuldades no uso da língua, o politicamente correto se transformou numa bandeira com um simbolismo inquietante.

Chegamos a um mais do que improvável paradoxo: o senso comum não tem muito mais para oferecer, enquanto uma enorme quantidade de percepções e pensamentos precisam ser coibidos em nome de uma espécie de consenso que é apenas uma suposição apriorística, um tabu.

Foi a recente frase do Nobel de medicina sobre as peculiaridades de trabalhar com mulheres em laboratórios que gerou outro quinhão histérico de litigantes. Mas, o curioso, é que não se trata de extrema suscetibilidade, mas, antes, de um ilícito subjetivo cometido contra um glossário fixo e predeterminado. A intolerância de gênero, se é que aquele Dr. realmente externou algo assim, não é só dele. As redes fervilharam com ataques, às vezes contra uma opinião insossa e irrelevante. Quando há algum mérito no que foi pronunciado o que valeria a pena discutir é a opinião, não se ela está ou não na lista de frases que podemos aceitar no concílio imaginário que demarca a fronteira entre correto e incorreto. Neste sentido, é a hipocrisia pactuada e um maniqueísmo primitivo, disfarçado de debate democrático, quem comanda o cenário. O mesmo se deu até pouquíssimo tempo quando se discutia se algum governante poderia sofrer impeachment, deveria renunciar ou se novas eleições mereceriam ser convocadas. Por sinal, o que importa se o ex-apresentador conhece ou desconhece o cantor morto?

A onda é ampla e infame, sobretudo preconceituosa. Exemplo recente está naqueles que recentemente aderiram à campanha de ex roqueiro do Pink Floyd, que, pretendendo isolar Israel, fez uso seletivo e arbitrário do conceito de discriminação étnica. É só mais uma amostra de pactos baseados em insuficiências e inconsistências. A velocidade das transmissões e retransmissões na web, confronta a reflexão. Acusações de superfície, vazamentos e insinuações caluniosas operam o mesmo estrago que fatos ou evidencias significativas. E assim, a sociedade vai caminhando com construção de estereótipos nocivos, contando com ampla e impressionante aceitação, impulsionada através das replicações acríticas nas redes sociais e na mídia. Ao largo da aceitação das diferenças, a onda de tabu endossa o racismo com destaque para o especialista: o partisã de boatos. Subordinar ideias à difamação ou reduzir alguém a nada em algumas horas, por uma frase, uma entrevista ou um pulso no Twitter, mostram a velocidade e denotam a pobreza cultural contemporânea.

São exatamente os mesmos que julgam terem construído consensos aqueles que mais se mostram violentos quando alguém trata de explicitar quão diferentes somos. Eis o supremo paradoxo: na linguagem politicamente correta as diferenças estão proibidas, e é a sua explicitação que dispara sinais eletrônicos que acionam o bullying tolerado. A luta de classes migrou, por caminhos inusitados, para um estranhamento mútuo das peculiaridades, de pessoas, grupos, nichos e raças. E a desinibição propagada através de perfis falsos, anonimato ou a certeza de impunidade, produzem legiões de franco atiradores digitais. Recrutar terroristas, convocar gente para qualquer tipo de ação nas ruas ou simplesmente entrar atacar e sair, tornou-se uma vulgarização pop. Às vezes, bem remunerada. Até a Grécia, em sua luta anti austeridade entrou na frequência. Uma coalizão de articulistas pelo mundo tentou mostrar como a luta grega é justa (politicamente correto) contra terríveis agentes capitalistas selvagens (politicamente incorretos), quando qualquer aluno mediano do segundo semestre da graduação de um curso de economia poderia nos contar algo mais interessante. Nas políticas de Estado não existem mocinhos, tampouco algozes. Neste sentido, o que o politicamente correto faz é sequestrar a discussão por um punhado de convicções anacrônicas e sustentadas pela manipulação eleitoral.

O ambicioso conceito de cidadania, amplamente evocado mas efetivamente inexistente no mundo prático, exige cimento mais consistente do que campanhas motivacionais, academias ideologicamente comprometidas ou governos com aspirações totalitárias. Exige, bem ao contrario do politicamente correto, um exame escrupuloso dos conteúdos da linguagem e suas mensagens: superar a imobilidade dos tabus.

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/tabu-ou-o-politicamente-correto/

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Sobras de uma era (blog Estadão)

30 domingo nov 2014

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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filosofia marxista, hegemonia e monopólio do poder, manobras da mídia, manobras do partido, Marx, Paul Ricoeur, sobras de uma era

Sobras de uma era

Paulo Rosenbaum

29 novembro 2014 | 21:03

racionalizacaomaracutaiaXX

O pleonasmo “sabiam ou não?” está no ar. E é assim que as manchetes ocultam os escândalos no lugar de coloca-los com a devida relevância. A perplexidade é artificial. Como assim “sabiam de tudo” se foram mentores de toda a coisa. Mas, e aqueles que, sem serem propriamente políticos, deram o aval teórico-intelectual para, usando o status quo, destrui-lo. Portanto, o que está jorrando das plataformas, não é, nunca foi um acaso, trata-se de um plano “working in progress“.  Como nenhuma tese se sustenta isoladamente, é necessário espremer o senso comum para extrair uma gota de contexto real.

Pois um grupo de cabeças pertencentes à mesma matriz acadêmica daquela que defendeu e justificou, da tribuna da Câmara Federal, o massacre da praça da paz celestial em Pequim. Da mesma estirpe que afirmara que os ataques as torres gêmeas eram a justa resposta do talibã ao imperialismo ianque. Da mesmíssima doutrina repetitiva e monotônica que recentemente publicou em jornais e blogs subsidiados que as acusações das corruptelas comandadas pelo partido eram manobras da mídia. A estratégia, bem sucedida até aqui, tem feito colar a tarja na boca dos discordantes. Tanto faz o impresso que vai na mordaça:  direita, burguesia, classe média reacionária, forças conservadoras, críticos fraudulentos, ideologias derrotadas e até mesmo a esquerda cooptada pelo capital.

Mas, o que é mais espantoso e perturbador é que ninguém conseguiu abordar com objetividade o papel silencioso-ativo destes núcleos intelectuais.  Que o silencio não nos engane. Estas forças dominam o pensamento nas universidades. Deram e continuam dando sustentação a esta vasta rede de relações de poder, também conhecida como lulopetismo. Na academia de tribos auto referentes jamais compreenderam a sutileza do filósofo Paul Ricoeur que, em nome da liberação da análise de qualquer hegemonia, solicitava “cruzar Marx, sem segui-lo, nem combate-lo”

 Agora, rompendo um silêncio que passou pelo negacionismo do mensalão, silencio seletivo frente aos escândalos, fracasso da economia do primeiro mandato de Dilma, a risível política externa alinhada com ditaduras, o recrudescimento da pobreza e sob o império da corrupção, um grupo, mais constrangido que verdadeiramente incomodado, lançou um manifesto pedindo coerência entre as propostas de campanha e as ações do executivo.

Durante a guerra fria CIA e KGB subsidiaram escritores e intelectuais para produzir as melhores e mais inspiradas versões de qual seria o regime político ideal e demonizar o adversário. No Brasil de nossos dias o subsidio é mais eclético e patrocina tanto os amigos como compadres ideológicos. Desloca uma tinta preta para quem faz propaganda do governo. A bolsa intelectual chega de várias formas, mas a mais engenhosa foi ter formado um time de pensamento hegemônico, clube onde só entra quem pensa igualzinho. É sob esta diversidade padrão que se respaldam, atribuem-se o que há de mais revolucionário em matéria de pensamento e ainda encontram tempo para difamar os desafetos.

Pois foi isso que sobrou de uma era, uma era em que essa gente era conhecida como “intelligentsia“.

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A arte de truncar diálogos

03 sábado maio 2014

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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A Verdade Lançada ao Solo, autocracia, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, liberdade, manipulação, significado de justiça, violencia

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Jornal do Brasil

Sábado, 3 de Maio de 2014

Coisas da Política

Hoje às 06h00

A arte de truncar diálogos

Paulo Rosenbaum  –  médico e escritor

Mais uma vez  a cultura do escândalo no país das acusações. Todos na retranca. Acusa-se governo, oposição, e as elites. Há muita gente atrasada, mas elas estão distribuídas em todas as classes sociais.  E o desperdício de energia só para saber se a CPI seria exclusiva da Petrobras? Enquanto tudo merece apuração, o que se vê são mais cortinas de fumaça. Parece que o jogo político vem se tornando completamente autorreferente. Sinal grave num país que tem urgências e contas improrrogáveis para acertar.

Nas ruas tardoanarquistas, piromaníacos revanchistas, guerrilhas saudosistas. Não estão, nunca estiveram propensos à disposição dialógica. Estão confortáveis com a simplificação: “bons e maus”.  Mas é claro: reforma política à la carte. Todos surdos para a sociedade berrando: chega! Ninguém mais pode levar a sério a língua solta, a fanfarronice, o gogó demagógico, o surto ideológico., o oportunismo marketológico. O culto à personalidade gera pelo menos um efeito colateral: figuras que se recusam a encarar que seu ciclo e tempo findaram. Talvez isso explique o desespero, o apelo à violência, o discurso hostil, o empirismo tosco.

Precisamos nos livrar da dívida permanente, aquela que  mantém pessoas reféns do Estado. A democracia foi projetada exatamente para que as pessoas se emancipem e não sejam subjugadas pelo poder abusivo. O Estado de Direito funciona para que a maioria e as minorias convivam, e sejam mutuamente protegidas. Vivemos em plena inversão: Estado mínimo nos interesses máximos, Estado máximo nas prioridades fúteis.

A ridícula polarização entre direita e esquerda é uma forma de não encarar os verdadeiros desafios da cidadania. Dividir a política entre conservadores e revolucionários é uma forma de condenar à invisibilidade todas as categorias intermediárias.

Para avaliar gente que quer os cargos políticos, dois critérios contam: criatividade e capacidade para apresentar soluções. A eleição bem que poderia decretar extintos autocratas e carismáticos persuasivos. Aquela turma que costuma eleger-se e aos seus protegidos, sem o menor tino prático para conduzir a administração.

A inadimplência do Estado para com a sociedade não é financeira, é moral.

Ninguém duvida que a redução para o embate ideológico puro é manobra anestésica. Acaba beneficiando o mal feito, os acordos lesivos aos interesses públicos, a condução equivocada na escolhas das verdadeiras necessidades.

Uma jovem democracia pode se submeter a tantas pressões sociais sem que as instituições tenham encontrado o ponto de solidez e amadurecimento necessárias para isso? Miremos outros exemplos pelo mundo.

É necessário romper a linha que trunca o debate político para além da nostalgia revolucionária e da imaturidade reacionária.

A agenda do país agradece.

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2014/05/03/a-arte-de-truncar-dialogos-2/

 

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Desfaçam-se, cabeças! – Blog Estadão

21 sexta-feira fev 2014

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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centralismo partidário, democracia, hegemonia e monopólio do poder, significado de justiça, totalitarismo, violencia

Conto de noticia
Conto de Notícia, Conto de Notícia, Paulo Rosenbaum
21.fevereiro.2014 11:30:05

Desfaçam-se, cabeças.

Na véspera de ato contra Copa, polícia e manifestantes reforçam tensão

Governo teme violência em protestos no Mundial e investe R$ 1,9 bilhão

O que mais se vê são opiniões consolidadas, cabeças feitas e gente convicta. A avalanche de palpites e a legião de juízes instantâneos se espalha pelo País empurrando o debate para a duvidosa sombra das certezas. Para que esperar até outubro se todos já sabem em quem vão despejar os votos? O hábito de acreditar em propaganda e na ridícula maquiagem, amplia a abolição do discernimento. No lugar de lançar dúvidas sobre os exemplos dos líderes, de indagar sobre a obsessão pelo consumo, de se inquietar por uma cultura guiada pela competição e orientada para insuflar conflitos, preferimos vereditos ditados pelo twitter.

Sob um discurso salvacionista a violência – na linguagem auto referente, na gesticulação ameaçadora, na assertividade agressiva, nos golpes sujos  — a violência continua sendo semeada desde o planalto e já germina selvagem na planície. Não é bom agouro quando o exército enfrenta a população.  No País e no continente latino americano os comandantes fingem defender a liberdade, enquanto cassam os direitos de expressão. Vozes discordantes passaram a representar traidores golpistas. Toda crítica perseguida para assegurar perpetuidade no poder. O jornalismo independente é apenas a última linha a ser suprimida da pauta.

Num movimento de inspiração absolutista, o establishment político que governa parece torcer contra as instituições. Faz força para emperrar o que já é sôfrego e ineficiente. Podemos nunca ter sido sérios, mas sabotagens dessa magnitude beirariam o incompreensível se não significassem a mais pura malandragem. Reparem, num estalo podemos virar fósseis. Basta uma imagem acusatória, uma calúnia, um dossiê subsidiado para que a tinta seque na cara do adversário.

Camus tinha o faro empírico e podia ser irritantemente preciso: quando não se tem caráter é necessário um método. Ainda que nossas tormentas não sejam as mesmas experimentadas por Hamlet nas tramoias do Reino, sempre soubemos os caminhos que levavam ao desfiladeiro. Chame-se do que quiser, pressentimento, intuição, presságio. A sensação pode ser impalpável, subjetiva e difusa e embora compartilhada nos corações, o consenso continua entalado nas nossas entranhas: há algo de muito podre na República.

http://blogs.estadao.com.br/conto-de-noticia/desfacam-se-cabecas-a-duvidosa-sombra-das-certezas/


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