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  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
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Paulo Rosenbaum

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Fisiopatologia da culpa e a elisão da linguagem (Blog Estadão)

08 sexta-feira jun 2018

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"1945" o filme, : antissemitismo, Aitolás financiam terrorismo, campos de extermínio na Polonia, Campos de extermínio nazistas, fisiopatologia da culpa, Grupo terrorista Hamás, Isarel e Gaza, Marx e "problema judaico", Psol um partido antissemita, revisonismo

É muito provável que quem viu o excelente filme “1945” (Hungria, 2017) ficou apreensivo nas poltronas e saiu com a sensação de ter vivenciado uma experiência única: acompanhar didaticamente as etapas de como opera a fisiopatologia da culpa. Sabe-se que cerca de 250.000 judeus foram mortos nos países do leste europeu depois que o nazismo já havia sido oficialmente derrotado. O filme — que se passa num pequeno vilarejo húngaro — mostra dois judeus vestidos em trajes tradicionais ortodoxos voltando de trem para o que seria sua cidade natal. Sua enigmática chegada agita a vila com apreensões e, mais uma vez, reacende-se — num conhecido e abjeto automatismo — o “problema judaico” como Marx gostava de se referir aquele que seria um elemento estranho e perturbador dentro de suas propostas ideológicas. É sempre assim com doutrinas e ideologias, quando alguém ou alguma coisa não cabe nela, classifique-a como “problema” e, quando ninguém estiver por perto, elimine-a.

Imagino que boa parte das pessoas gostaria de acreditar — por conforto ou omissão — que isso é passado e o antissemitismo é página virada. Pois não é. Não faltam exemplos atuais. Uma parte dos legisladores na Polônia resolveu aderir à estratégia revisionista em alta mundo afora. A novidade agora é abolir o passado ou renegá-lo (o que parece ser cada vez mais tentador quando se fundem caneta e poder) através da criminalização instrumental da linguagem. A partir de agora o uso de expressões como “polish death camps” ou “campos de extermínio poloneses” será rigorosamente punida.  Em recente sessão o parlamento polonês aprovou a resolução, que depois foi aprovada pelo senado, e agora apenas aguarda a sanção presidencial para entrar em vigor. O conteúdo poderia ser engraçado se não representasse um escárnio contra a história e um atentado à livre expressão. A lei em vias de ser aprovada: será crime passível de punição legal e pena que inclui a prisão por até 3 anos de detenção para quem, por exemplo, usar a expressão “campos de extermínio poloneses”. De fato, para sermos justos, os campos onde se naturalizou a chacina e a crueldade contra judeus e outras minorias, foram instalados pelos invasores alemães em território polonês. O que não se consegue explicar — e a justificação funcionaria como confissão — é por que 250.000 judeus encontraram a morte, a espoliação de bens e a expropriação de patrimônio bem depois que os nazistas foram derrotados. A solução imaginada aqui e acolá é apenas uma tentativa ineficiente de reverter a culpa pela conivência de uma parcela da população e governos à época da guerra. Mais eficaz seria mudar esta percepção expondo os horrores de toda forma de intolerância, mas as soluções fáceis e sinistras são as mais caras ao nosso tempo. Virou hábito retorcer os processos históricos, de fato é um dos vícios em nossa era.

O que vale notar é que fenômenos como este denotam — mais frequentes nas extremas esquerda e direita — algo para além do mero revisionismo. É a linguagem que entra em mutação para construir uma elisão instrumental da linguagem. E a armadilha não é só a proibição de narrativas incomodas. A legenda do clube associativo Psol-PT recém publicou uma nota que repudia a presença da comissão LGBT de Israel na parada Gay realizada em São Paulo, por sinal, o único País democrático do oriente médio e também o único que não discrimina esta comunidade. Enquanto isso, os arautos da probidade socialista exaltaram a delegação palestina onde os gays são rotineiramente esfolados vivos. Não é caso isolado, a estupidez política tomou proporções de pandemia e a desonestidade intelectual assumiu o comando naqueles que deveriam ser os grandes centros do saber.

O mesmo engano persistente na análise do acirramento atual entre Israel e as organizações que declararam abertamente em sua “carta”constitucional o desejos de exterminar aquele Estado. A estratégia adotada, e muito bem aplicada, por parte dos grupos terroristas, com destaque para o Hamás que oprime — diante dos olhos inertes do mundo — os cidadãos na faixa de Gaza. Usando táticas da chamada guerra assimétrica e financiado pelos aiatolás iranianos, monarquias árabes  e jihadistas mundiais eles buscam na imolação de sua população civil numa tática para fazer ressaltar a suposta “desproporção” de forças. Apesar de ser patente o desequilibro, nem de longe, ele tem sido transferido à ação. Existem vários relatórios — pouco divulgados por uma imprensa especializada na pré condenação do Estado judaico — que as forças de defesa de Israel têm um dos exércitos que mais se preocupa com a preservação da população civil.

Está acontecendo em tempo real, aqui e agora. Hoje mesmo que é o dia final do Ramadã, o mês de jejum dos islamistas, a população civil de Gaza está sendo “convocada” — a 100 dólares a cabeça — para ir até a cerca que separa os dois territórios para lançar pipas incendiárias, coquetéis molotovs e outros artefatos caseiros, porém mortais, contra a fronteira sul de Israel. A mídia tem se esmerado em cobrir o “lado mais fraco” esquecendo-se que Israel já devolveu Gaza aos palestinos há quase uma década além de fornecer água, combustível e energia aos seus habitantes, a despeito dos mísseis e morteiros que recebe em suas cidades, nos parques e nas escolas do sul do País. Enquanto isso boa parte da ajuda bilionária recebida é direcionada pelos dirigentes palestinos para táticas de guerrilha, compra de material bélico e construção de túneis para infiltrar terroristas Vale dizer, Israel pode cometer erros, mas entre eles nao está a despreocupação com o caráter e espírito humanista que fundou as bases sionista para o retorno dos judeus à sua terra ancestral.

O que se vê entretanto na linguagem escrita e falada — No Brasil e pelo mundo — sao as velhas e ressuscitadas acusações contra Israel e seus habitantes que sim, lembram a pregação sistemática contra os judeus durante o III Reich alemão. A testeira dos jornais e nas manchetes Israel figura como um vilão a priori, de qualquer forma, em todas as circunstâncias. É sob esta manipulação que vivemos, com o agravante de que isso é muito mais grave do que a mera adulteração das notícias: envolve um esgarçamento da linguagem. Um passo então, para tentar obter o monopólio do pensamento. Assim, a comunicação confessa, sob tortura, que a elisão linguística encontra-se de fato instalada no mainframe. Pois o que será que estes jornalistas e professores universitários aprenderam na graduação sobre o conflito israelo-palestino  senão uma doutrinação maniqueísta reiterada e nada reflexiva de que o Estado hebreu é o algoz e a eternas vítimas são os palestinos. Pois não é  que as “vítimas” escutaram as aulas magistrais e assimilaram a doutrina?

Hoje as lideranças terroristas perceberam que a propaganda de vitimização e falseamento de dados e imagens traz um saldo um pouco mais efetivo e é bem mais econômico do que providenciar a logística para os homens-bomba. A tática tem cobrado um alto preço para os judeus em Israel, mas também fora dele. O que o Ocidente ainda não detectou é o tamanho do arrastão que o aguarda. O preço impagável que essa mesma demonização gerará, como efeito-espelho — sobre as sociedades europeias como um todo. Se os refugiados merecem abrigo, o mesmo não se pode dizer dos jihadistas do Islã radical, que hoje gozam de tolerância excessiva dos países da União Europeia. No entanto, à portas fechadas,  já é possível perceber a insônia em Bruxelas e alguns começam a admitir o tamanho do equivoco em receber milhões sem criar uma estrutura econômica e social que os acolha. E principalmente a indulgência exagerada O excesso de civilidade com a barbárie pode ser um sintoma de falência da cultura, pois como escreveu Isaiah Berlin, “liberdade para os lobos significa morte para as ovelhas”.

Segundo a matéria publicada no NYT, a intenção dos legisladores é redirecionar a culpa que ainda pesa — justificadamente — sobre a Polônia durante a segunda guerra mundial e fazê-la recair, exclusivamente, sobre os nazistas alemães. Este escritor, descendente de judeus poloneses — cujo avô serviu o exército da Polônia  —  tem orgulho de ter ele mesmo uma parcela polonesa e sugere portanto que as autoridades locais abandonem ou reformulem o projeto.

A história já nos ensinou que a farsa, mesmo quando muito bem estruturada, acaba desmontada pela própria força dos eventos e, como um elástico super tensionado, quando não há mais nada artificial que o detenha, volta com violência à posição original, espirrando para longe toda impregnação manipulada. Há um bumerangue à deriva, e ele está vindo com força direto em nossa direção. Desta vez, não desviaremos.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/fisiopatologia-da-culpa-e-a-elisao-na-linguagem/

 

 

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Não reprisem Barbáries (Blog Estadão)

06 sábado jun 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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: antissemitismo, A Verdade Lançada ao Solo, Israel, Judeofobia, Leis raciais de Nuremberg, não reprisem barbáries, Universidade Federal de Santa Catarina, xenofobia

Não reprisem barbáries

Paulo Rosenbaum

05 junho 2015 | 13:20

barbariesantamariaXX

Merece ser lida com indignação a orientação contida no Memorando/Circular de número 02/2015, datado de 15 de maio de 2015 redigida pelo Reitor substituto da Universidade Federal de Santa Maria (RS) José Fernando Schlosser.  Junto com o documento que o antecede e assinado por três mãos, ele pede para ser informado da presença de discentes e/ou docentes israelenses no programa de pós graduação. Diz estar atendendo várias entidades representadas pelo “Comitê Santamarienense de Solidariedade ao Povo Palestino”.

Schlosser se perfila lado a lado aos mais rematados antissemitas da história, singularizando pessoas por sua origem. O ancestral ódio judeofóbico se instaura oficialmente em nossas faculdades pelas mãos deste indivíduo que, assim, em nome de minorias, supostamente, prejudicadas, advoga a xenofobia e toma a nuvem por Juno. Um real representante do universo acadêmico deveria defender as liberdades individuais e proteger seus pupilos em todas as circunstâncias, jamais promover segregação.

É evidente que seria preferível evitar concentrar a polêmica sobre um só nome. Porém foi pelas mãos do magnificentíssimo substituto que o manifesto federal mais recente na história de nossas instituições de ensino, abertamente judeofóbico, veio a público.

Claro que, mais uma vez, utiliza-se do desgastado álibi universal que pensa poder contornar o antissemitismo com a troca mágica de uma palavra por outra. O uso de “israelense” no lugar de “judeu” tem se tornado a marca de uma prática falsificadora na linguagem contemporânea. Se largamente usada, ainda é pouquíssimo denunciada, e menos ainda, acatada como o que realmente é: uma manobra semântica de disfarce para o preconceito judeofóbico.

Na verdade, por outros motivos e em contingencias históricas distintas, lembra uma das primeiras leis promulgadas em abril de 1933, que restringia o número e a atividade dos judeus em escolas e universidades alemãs. Como se sabe, a isso se seguiu a cassação, destituição e perseguição dos professores e alunos nas Universidades daquele País.

Um panfleto desta natureza seria compreensível como desculpa para iletrados e incultos, porém não deveria valer para quem chegou a conquistar qualquer título acadêmico como diz possuir o autor do referido libelo.

Parece ridículo, mas é necessário explicitar que solidariedade nenhuma, seja ao povo palestino, sírio, iraquiano ou ucraniano, justifica hostilizar, constranger, boicotar ou segregar povo de qualquer País, religião ou etnia. Oxalá que o reitor substituto estivesse isolado no protagonismo para reeditar perseguições que pensávamos superadas. Assim como os nazistas precisavam queimar livros para destruir o passado, a reflexão e o pensamento crítico, intelectuais e uma considerável quantidade de pessoas imagina que frente ao injusto, o ato de silenciar pode aceitar a classificação de neutralidade. O silencio tem uma carreira conhecida: se transforma em conivência, e, em rápida metamorfose, migrar para apoio tácito, é mera formalidade.

Para nossa perplexidade, há mais gente, supostamente esclarecida, que endossa essa discriminação. O que recentemente se ouviu de professores universitários é digno de perfilar entre as causas indefensáveis. O apoio à discriminação étnica macula muito mais do que a honra individual destes docentes, desabona a honestidade intelectual, último patrimônio do pensar. Ao acusar Israel de praticar um regime de apartheid e espalhar notícias deste tipo em redes sociais e em aulas magistrais estas caluniam um País e difamam um povo. Se demonizar um povo não é mais crime, o que seria?

É preciso reconhecer que essa versatilidade com as palavras obedeceu longo processo de amadurecimento. Entre nós, floresceu sob décadas de pregação de intolerância do lulopetismo, insuflada nos fóruns sociais da esquerda retrógrada — a direita truculenta, já suficientemente conhecida, não merece menção — que oportunamente eclipsa valores humanos fundamentais para defender causas. Em geral, uma ideologia, palavra de ordem ou fé sectária, que não podem ser contrariadas, não importa a aberração política que  impliquem.

Cria-se um ambiente no qual xenófobos, racistas e antissemitas ficam autorizados a escapar do armário e pregar suas diatribes. Para quem acha que tudo isso não passa de fantasia, basta lembrar do clima na franca e empolgante campanha de demonização de Israel na última guerra contra a milícia extremista Hamas.

Num mundo com superavit de paradoxos, alguém deveria ficar chocado com mais esta demonstração de decadência de nossas Universidades? Se não fossem por todos os outros motivos, pela infâmia. Para o que exatamente o Zoilo deseja ser informado de cidadãos israelenses do corpo discente e docente nas dependências da Universidade? A finalidade é clara ainda que inconfessável: expandir a propaganda de constrangimento. As guerras migram às propagandas, não é novidade. O fato novo aqui é a produção de um documento oficial que autoincrimina o professor pelo delito de racismo.

Se proibíssemos um habitante do País Z de vir e se quiséssemos impor sanções contra este sujeito em tempos de paz, teríamos que explicitar os motivos e fulanizar a escolha:  “Aquele sujeito prega intolerância”. “Este outro, defende a litigância entre povos”. “Este é um terrorista perigoso”.  Neste caso, vários de nossos políticos teriam que ser barrados ou banidos do ambiente acadêmico. Mas não se trata disso. Em seu ofício, o reitor e seus apoiadores suspeitam de qualquer habitante de Israel. Isto significa que todos eles merecem ser boicotados por serem israelenses ou judeus, o que, no fim e ao cabo, dá no mesmo e pouco importa. E o que dizer dos árabe-israelenses, drusos israelenses, cristãos israelenses, agnósticos e outras minorias fora do catálogo?

Considerando tudo, o inaceitável mesmo é o silencio da maioria. O silencio dos culpados significa a conivência maciça com uma segregação anunciada. Significa que estamos em terreno aberto e respaldado para a prática de arbitrariedades e generalizações inaceitáveis. Por que não realçar a paz e instigar o diálogo no lugar de bani-lo? Que tal um realce na inclusão? Que tal discutir o discutível e capinar a intolerância? Para aqueles que acham exagero o barulho que se faz em torno deste memorando, recomenda-se examinar melhor a história. Especialmente ênfase no estudo de períodos nos quais aparecem os primeiros indícios de legislação intolerante e discriminatória. Antes que nos submetamos à sua repetição é preciso começar a enxergar para além de uma historiografia superficial e baseada em boataria.

É nossa chance de prevenir a barbárie. Ou reprisa-la.

Escrito em coautoria com Floriano Pesaro

Tags: antissemitismo, apartheid, boicote, Gil e realce, Israel, judeofobia, judeofobia e antiisraelense, Leis raciais de Nuremberg, palestina, povo iraquiano, povo sírio, povo ucraniano, Show em Tel Aviv, Universidade Federal de Santa Maria, xenofobia

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Intolerância latente ( Blog Estadão)

13 quarta-feira ago 2014

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: antissemitismo, bias da mídia, diferença entre criticar Israel e ser antissemita, intolerancia latente, isaiah berlin, Israel, libelos de sangue, nazistas, terrorismo Hamás

Intolerância latente

Paulo Rosenbaum

quarta-feira 13/08/14

Antisemitism means “hating Jews more than is absolutely necessary. Antissemitismo significa: odiar judeus mais do que o absolutamente necessário. Isaiah Berlin Sou mais um que vai parodiar Tom Jobim, mas o refinado senso irônico de Isahiah Berlin não é mesmo para principiantes. Apresenta a eloquência dos que compreenderam que sempre haverá álibi para racionalizar a […]

Antisemitism means “hating Jews more than is absolutely necessary.

Antissemitismo significa: odiar judeus mais do que o absolutamente necessário.

Isaiah Berlin

Sou mais um que vai parodiar Tom Jobim, mas o refinado senso irônico de Isahiah Berlin não é mesmo para principiantes. Apresenta a eloquência dos que compreenderam que sempre haverá álibi para racionalizar a judeofobia. Alguns destes álibis são hilários, outros travestem a lógica com argumentos aparentemente plausíveis. Entre os diagnósticos instantâneos: “Estão vendo, é Gaza! É a direita no poder em Israel! A culpa é da política expansionista dos israelenses! O conflito não é ideológico, mas puramente político!”

Recente edição do “The Guardian” relatou em números, o aumento exponencial dos ataques antissemitas pelo mundo: só comparável ao período de ascenção dos nazistas ao poder. Só que isso foi em 2013. Evidentemente que a catarse de uma guerra acelera hostilidades latentes. Na semana passada, cemitérios pichados na Itália, turbas apedrejaram lojas de judeus em Marselha e Paris, e neonazistas se juntaram aos jihadistas e à extrema esquerda, para entoar conhecidos slogans antijudaicos em Berlin e Munique.

Em geral, as minorias são mais vulneráveis à intolerância como todos estamos testemunhando no impensável retrocesso da civilização no Iraque. Como ousam yazidis, cristãos, sufis, e outras tribos e etnias, subsistirem dentro de suas tradições, sem sucumbir à pressão do fundamentalismo que aspira ser dominante, e suprime as dissonâncias? Para além das escolhas religiosas, essa supressão é também cultural e simbólica. Se não, qual seria o motivo pelo qual os terroristas do Estado islâmico tenham se dado ao trabalho de destruir a tumba de Jonas dentro de uma mesquita histórica?

Cenário e alianças podem mudar dramaticamente. Nas palavras do ministro das relações exteriores da Arábia Saudita, o conflito agora não é mais entre árabes e israelenses. Judeus, assim como outras minorias, são alvos ancestrais desses sentimentos, especialmente sob maiorias controladas por tiranos. É quando o “ódio suficiente” referente à ironia de Berlin, sai do controle, o excedente escapa, e as intolerâncias podem explodir em paz.

Trata-se do velho pretexto infinito, do álibi universal, da licença poética para perseguir, que, subsiste, intacta, nos grotões da ignorância, nos porões inconscientes e sobretudo na linguagem. Dos libelos de sangue medievais – agora repetidos nas escolas infantis pelos terroristas do Hamás – ao affair Dreyfus, do arianismo aos campos de extermínio, os vagões podem ter mudado, trens e trilhos são, rigorosamente, os mesmos.

Por outro lado, não é razoável acusar quem critica Israel neste ou em outros conflitos, como necessariamente antissemita. Mas o viés persistente que aponta quem se defende como algoz, o bias da mídia, e o tom usado pela legião de juízes parciais, são ingredientes que acabam metamorfoseando a crítica martelante em ação antissemita involuntária.

A persistente tentativa de deslegitimar um Estado é o prenúncio para inviabilização do povo que o habita. No tabuleiro geopolítico do Oriente Médio é comum reputar o Estado hebreu como a única peça sobressalente. Entretanto, é fato que a maioria dos Estados nacionais só se agruparam como os conhecemos, durante o século XX. E por que com este País haveria de ser diferente? A difusão parcial dos eventos históricos pode ajudar a explicar, ainda que não justifique, boa parte da notória má vontade quando a pauta é Israel.

Tags: antissemitismo, bias da mídia, diferença entre criticar Israel e ser antissemita, intolerancia latente, isaiah berlin, Israel, libelos de sangue, nazistas, terrorismo Hamás

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