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  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico-Writer and physician

Paulo Rosenbaum

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Da Resistência do Gueto De Varsóvia

Destacado

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Da Resistência do Gueto à Marcha da Vida

Paulo Rosenbaum

23 de abril de 2017 | 17h24

“Da Resistência do Gueto à Marcha da Vida”

Hoje, 19 de abril de 1943, consegui chegar até a rua de Mila, entrar e sair do bunker. A New Olimpik parecia estar vazia. Acabaram de decretar o esvaziamento do Gueto. Naquele momento já sabíamos o conteúdo do decreto e da ordem executiva: “extermínio completo”. Dos 450 mil iniciais restavam 35.000 pessoas. Mas, nas últimas horas, reinava uma estranha paz, nenhum soldado. Nenhum blindado. Apenas as ruínas de sempre, ofuscadas por uma ou outra rajada de fuzil e morteiros, ou, gritos fracos de fome e pedidos inúteis de ajuda. Sabia que a vingança estava à espreita. O comandante não aceitava e ficou incrédulo com a ideia de que um grupelho de miseráveis, famintos e sem recursos ousasse uma insurgência. Resistimos mais dias do que Paris e o exército polonês. Foram 27 contando hoje. Sorri sozinho pensando na cara de espanto da SS e o impacto da notícia em Berlim. Sentei apoiado no beco, entre as duas esquinas, e, pela primeira vez desde que começamos a resistir, deitei a pistola no chão. Resistir para que? Para que o massacre promova suas festas logo adiante? Foi quando o vi o pelotão nazista com um cordão de condenados. No meio da fila lá estava ele. Pequeno, com a boina quase caída. Com as mãos para cima olhava buscando algum tipo de pedagogia, sem imaginar que nenhum adulto poderia lhe oferecer resposta alguma. Neste caso garoto, respondi mentalmente, “existem mais perguntas do que respostas”.

Mentalizei algumas de suas perguntas “Como isso pode acontecer?” “É daqueles sonhos que sentimos alegria ao acordar?”

Eu me espremi contra o muro para não ser visto, esperando uma chance para uma última intervenção. Deveria agir? Preservar minha vida ou ser o herói que ninguém lembraria? As dúvidas diminuem muito quando você sabe que está condenado. Apenas aguardaria o embarque na estação daquelas pessoas e morreria levando um punhado de alemães comigo. Foi uma explosão que interrompeu minhas dúvidas. Acordei numa vala fora de Varsóvia e sobrevivi com a ajuda da resistência polonesa. Foi a última vez que vi aquele garoto de não mais do que 12 anos. Hoje, 74 anos depois, eu, como um dos poucos sobreviventes do evento que foi conhecido como “Levante do Gueto de Varsóvia” fui convidado a visitar o campo de concentração de Auschwitz. Sempre recusei vir, hoje não. Tinha preparado um discurso, mas, na hora, recitei uma poesia achada enfiada às pressas na parede de uma das casas do Gueto, presente de um amigo da resistência polonesa.

Com a tinta azul quase apagada em uma folha amarela, estava escrita em polonês e dizia o seguinte

“Varsóvia, 19 de abril de 1943

podemos sentir,

mesmo que nenhuma folha

voe, e passe para além destes portões.

a árvore central viverá,

pois não está suspensa

formou raízes nos asfaltos,

nas pedras e nas cidades

nas cabeças do mundo

nós voaremos como vento, ar, fumaça,

e iremos ter com o Alto

com a certeza de que mesmo

que silenciem diante de todas as perguntas

e mesmo no pó que tentaram nos transformar

a resposta, solene, será permanecer

eu ri,

e se me perguntassem por que

diria que eles nem imaginam nosso segredo,

a árvore da vida é mais teimosa

do que os campos da morte”

Hoje, neste dia no qual homenageamos as vítimas do holocausto venho aqui dar meu depoimento como um dos últimos sobreviventes vivos do holocausto. Quero convocar jovens de todo mundo, de todas as etnias, raças e religiões a visitar este lugar. Recentemente uma estudante de direito, que identificarei apenas como “MCM” que participou de uma visita à Auschwitz me enviou a seguinte mensagem emocionante, foi ela que me convenceu aceitar este convite:

“Tive a oportunidade de visitar Auschwitz quando tinha 16 anos. Fui a Auschwitz, fazendo parte de uma iniciativa de um grupo chamado Holocaust Educational Trust, que da a alguns jovens de toda a Inglaterra a oportunidade de fazer essa visita. O princípio do Holocaust Educational Trust, com o que eu concordo plenamente, é que ver não é como escutar; é mais. Durante a visita fomos ao Auschwitz I, e ao Auschwitz II. Primeiro, visitamos ao Auschwitz I, que é o campo original, e o menor dos dois, construído para prisioneiros políticos que é formado de 22 prédios  nos quais, hoje, pode se ver roupas; malas; brinquedos e cabelos cortados das vítimas. Depois fomos ao Auschwitz II, o maior campo de extermínio onde morreram mais de um milhão de pessoas em menos de 5 anos. Conhecer os fatos antes de ir já era inacreditável e horrível mas nunca eu achei que ia ver, sentir e entrar em contato com um evento histórico que me afetaria tanto como nessa visita. O impacto que essa visita teve sobre mim foi extraordinário. Primeiro porque foi educativo; me ensinou detalhes e me vez aprender de uma maneira que livros não ensinam. Segundo, e o que eu dou mais valor, foi que essa visita teve um impacto existencial e emocional.  Teve uma foto especificamente de duas meninas de não mais de 10/11 anos de idade; irmãs talvez. As duas me lembraram de mim e da minha irmã. Até hoje quando lembro disso, e mesmo escrevendo isso, lágrimas enchem os meus olhos porque não somos tão diferentes daqueles que morreram nos campos de concentração. A vida que aquelas pessoas viveram é algo que eu não consigo imaginar e uma realidade que depois da visita virou uma das mais difíceis de lembrar e uma importante experiência de vida. Hoje eu sou uma advogada, qualificada na Inglaterra. Devido às várias experiências da minha vida, incluindo essa visita a Auschwitz, uma das minhas metas profissionalmente e pessoalmente é ter certeza de que o que aconteceu em 1940 nos campos de concentração de Auschwitz nunca aconteça de novo. Eu sei que não é tão fácil assim mas eu acredito que abrir os olhos e não só saber os fatos mas entender o que a vida era para aqueles que sofreram e morreram ensina algo que livros não conseguem ensinar. Abrem os olhos aos pequenos atos que podemos fazer e ao que podemos prestar atenção para que isso não aconteça de novo. Mas não quer dizer que todos que foram comigo foram afetados da mesma maneira ou tem as mesmas metas que esta experiência inspirou em mim, mas mesmo assim tenho certeza que são pessoas que não veem o que aconteceu  entre 1940 e 1945 como um fato histórico apenas, mas sim como uma parte de todos nós como seres humanos ; algo que não só afeta aos que morreram mas aos que estão vivos hoje. O que aconteceu nos ensina e abre os nossos olhos para a nossa realidade de aqui e agora.”

Este depoimento da jovem adolescente brasileira resume muito a relevância deste tipo de iniciativa. Quem participa da “Marcha da Vida” adquire ao menos uma experiência: no final da caminhada temos a certeza de que juntos precisamos prestigiar este monumento à prevenção de “Amanhãs de erros antigos”.  A “Marcha da Vida” — um contraponto à Marcha da Morte promovida pelos nazistas — não é só um símbolo ativo do slogan “Nunca mais”, ela é a afirmação de que a vida pode ser sustentada mesmo contra todas as evidencias da razão. Não se enganem, o lugar é sinistro, é um sítio histórico e, ao mesmo tempo, um dos mais vergonhosos e dolorosos para a humanidade, Um campo de concentração não pode nos ajudar a dar qualquer resposta à perplexidade — por exemplo daquele garoto nunca identificado cuja face me assombra até hoje — apenas nos coloca bem ao lado dele para tentar acordar do sono que nos envenenou. Esta é a única homenagem possível à memória das vítimas do holocausto nazista.

No mundo todo escolas judaicas e não judaicas organizam anualmente viagens de estudantes para visitar este lugar. O “Holocaust Educational Trust” estimula e aceita qualquer pessoa que queira colaborar neste trabalho com doações ou trabalho voluntário. A ideia é que aqui no Brasil nasça uma iniciativa similar. Só há um objetivo geral:  estimular a tolerância e o convívio pacífico entre os povos. Fica a sugestão para aqueles que desejam colaborar subsidiando visitas de adolescentes ou adultos para esta viagem. Se há um objetivo específico? Sim, e só pode ser descoberto por cada um.

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Episteme Issue – Blog Estadão

Destacado

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Na Mídia, Pesquisa médica, Prática clínica

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Episteme issue.

Paulo Rosenbaum, PhD.

Master in Preventive Medicine, Doctor of Science from USP

“Life is the set of factors that resist death”

Bichat, 1829

“The usual substantialist intuition is, in a
certain way, contradicted by the existence of homeopathy. In fact, in its formative, that is to say in its pure form, substantialist intuition claims that a substance acts proportionally to its mass, at least up to a certain limit. It is admitted that there are light doses, the excess of which produces disturbances. But it is not easy to admit the effectiveness of extreme dilutions administered by homeopaths. As long as the medical substance is considered as a quantitative reality, it is not easy to understand a substantial action that occurs, in some way, in inverse ratio of quantity.”

Gaston Bachelard – Dialectics of Duration

Homeopathy, and therefore all integrative medicines, has been ostensibly questioned. Would they be unscientific practices? Do they have a research program or not? Do they show empirical results from a clinical point of view? Are they plausible from a biological point of view?

For all this has been discussed in the media with a single catch: the monopoly of a shrill voice. For some years now, the microbiologist who heads the entity “Questão de Ciência” has been raising these and other questions. Some with some relevance. However, in his recent column in the newspaper “O Globo” he proved to be erratic and made a serious mistake. The bias of scientific prejudgment: it peremptorily answers all the questions it raises. Now, this is simply incompatible with reflection, especially for critical thinking, as one of the central characteristics of epistemology is well known.

Immersed in the anachronism of a typical dispute that goes back to the 19th century in the 21st century, it resurrects a polemic that we believed had overcome. Would it lack the fundamental intellectual opening: the possibility that its hypothesis is wrong? After all, as everyone should know, good scientific practice presents doubt and curiosity as essential. Science often has more questions than answers.

Dynamic processes of illness and healing

Life is inherent in vital processes. What defines the processes are some characteristics: every process is dynamic. Processes are made up of non-linear sequences of events. The process tends to produce normativity, but there is often a good deal of unpredictability until it comes to an end. If health is, as Aristotle wanted, an unstable equilibrium, it requires that the scientist or those who study biological processes dedicate themselves to the study of rhythms, also called the analysis of organic rhythm, and pay attention to vital phenomena.

This is what integrative medicines propose. Not only homeopathy with its supposedly enigmatic infinitesimal doses, but also the clinical interferences that are not limited exclusively by the field of biochemistry, but must be complemented by studies of biophysics, bioelectromagnetic fields, the information that subsists in ultra-molecular solutions ( Buck -balls or fullerenes ), and finally on the rapport effect resulting from the doctor-patient relationship. Here’s another excerpt from Gaston Bachelard:

“Moreover, there is nothing to prevent a homeopathic substance, having
taken the form of pure vibration, from being reconstituted in the form of substance. substances would perhaps quite simply trigger natural biological vibrations. It would also be explained that the ultra-diluted dose is preserved
more
fully than a massive dose because it can be restored.
it loses less easily than gross
and inert matter.”

Anyone who reduces homeopathy to minimal doses is wrong, it adopts another system of understanding and evaluating symptoms. Extends the healing criteria. It considers that each one has a personal way of convalescing and regaining lost health. So also concludes the Nobel Prize in medicine and discoverer of the AIDS virus, Luc Montaigner, who was surprised by the findings when he investigated the action of ultra-molecular drugs.

Ultra-molecular doses

If science still does not have the means to test such substances and elucidate them, this does not mean that they “are nothing” (sic) as the microbiologist and her team have categorically stated to resigned journalists, but only that the detection of these substances still requires a study that explains the phenomena induced in vivo (in living beings) and in vitro (in laboratory studies).

This means that there is evidence of the phenomenon even without a consensual and formal explanation that justifies it. Scientific skepticism is desirable and healthy, as long as the spirit of inquiry is not clouded by convictions that mimic dogmas. Axioms and prejudices that perniciously replace intellectual objectivity.

And it seems that the smartest response to suffering may not be just progressive doses of psychotropic drugs. It should be added that it is still not understood exactly how practices such as Yoga, psychotherapeutic techniques, meditation, massage therapy work, but they produce undeniably favorable results for many people who resort to them.

Drug experimenters in this pathogenic process (one of the elements of the hard core of the episteme), reveal their symptoms by anticipating – in modified physiological states – their nosological predispositions. So what happens? We anticipate our pathological potential. We organize our preconceived nosological potential more quickly and efficiently. We can observe these phenomena using one of the most consistent tools in the episteme that guides the methodology: the so-called pathogenesis (experimentation of ultra-diluted medicinal substances). Many are probably unaware of these elements when they are willing to judge what to make of homeopathic practice. It is surprising how many insist on not taking into account these phenomena that may have reproducibility. Here is an experiment, easy to demonstrate with double or triple blind crossover. And it remains accessible to anyone, from hardened skeptics to fanatical enthusiasts.

Let those who think with horror of experiments not be terrified, because the induction of symptoms can happen with any traditional medicine and with any non-iatrogenic vicissitudes. And it is essential to remember the empiricist origin of medicine. Not forgetting to mention that there are only 10 drugs with 1A certification (that is, with proof of very high efficacy) according to the most recent scientific papers.

Health and illness: a medicine situated between art and science

Situated between art and science, is the medicine of the subject – a medicine of the specifically human – a viable proposal as an effective clinical care?

It is from this perspective that the issues of health and illness should be addressed. As the epistemologist Karl Rothschuld explained, medicine is and always will be “operative science”, that is, it will always demand some artistic skill from the one who applies it – in the “artisanal” sense – because it cannot be reduced to pure science. Each integrative medicine adopts an interpretive system that is not limited to a special pharmacology.

If Hippocrates, the inventor of scientific medicine for having invented clinical history, a legacy that continues to this day – also known as the “Hippocratic school” – still has something to offer modern humans, it is that the health-disease binomial needs be understood within a context: the ananke physeos . Some epistemologists opt for the term translated “need of nature”. Now, why would illness be necessary? If pathology is a necessity of nature, it must serve something, that is to say, have a biological purpose. It has a meaning. It is not a matter of defending a teleology of diseases, but of verifying that it exists. Thus, we live in a battle between genomic and phenotypic patterns and the interference of the environment. All in almost random combinations that pressure us throughout our existences . Preserving health and preventing illness derive from these combinations.

At this point in contemporary history the main question should be: “ Is there a future for the medicine of the subject?” Probably the greatest contribution of medicine with a vitalist tradition to medicine.

Giving a new meaning to the tradition of integrative medicine, heir to a less mechanical conception of the subject, is to put it in contact with the main currents of contemporary thought, from epidemiology to philosophy, creating the opportunity for this medicine to be understood by current thinkers. . And have equal opportunity to be taught in health science schools with the same status as standard knowledge.

It could be summarized as follows: health — as Hans G. Gadamer thought is a mystery — pathology is not. In other words, the probabilistic chances of losing self-regulating homeostasis must be infinitely greater than maintaining health. There is an enigma whose elucidation is precisely the role of the researcher, who, in order to be successful, must be open to the counterintuitive, that is, to find proof of his hypothetical test (thesis) as well as unexpected and even contradictory answers to his initial assumptions.

Intuitive methods in nature and shock organ deviation

Organisms such as small rodents usually know they need artificial fever and bury themselves in hot sand when affected by infectious processes to better fight them. The inevitable question would be: how do they know they are sick and what do they need to overcome it? How do they know what they need to recover? In humans, other curious phenomena such as “pica”: the violent desire to ingest normally inedible products: earth in those suffering from iron deficiency anemia, hardened paint shell for those who have calcium deficiency, burnt wood or animal bones for other vitamin deficiencies or minerals.

Phenomena that can only be understood through the moment and clinical experience. An anguished subject with phobic neurosis migrates from the anxiety drive to a certain well-being when he becomes feverish, or while developing a sinus disease. Aspects that become more evident when an exonerative function, — one that aims to produce and eliminate secretions — is in progress. Clinicians can better understand and evaluate such processes than researchers for two reasons: because they are directly linked to the individual history of each patient and because they have a more systemic and integrated view of nature’s cycles.

The neuropathologist Prof. Walter E. Maffei stated that, in his vast clinical experience and in the autopsies he conducted, he had never seen a single chronic mental patient in a psychiatric hospital present a case of bronchial pneumonia as a cause of death . This is apparently counterintuitive, as he himself emphasized when he was the clinical director of Juqueri for more than five decades. Malnourished people usually have lung pathology as the end point of their existence, but this seemed not to be the case when it came to the chronically mentally ill. The pathologist relied on the old but very pertinent “shock organ bypass” theory. When a disease “migrates” from an anatomical region or organ system to a more superficial one, producing relief for the patient.

For this reason, even certain concepts and clinical approaches cannot be reduced to laboratory results or searched only by Magnetic Nuclear Resonance images. This does not mean that they are not verifiable clinical phenomena, only that we still do not have the tools to fully understand them. If only 1% of the funds earmarked for research could be made available to investigate the mechanism of action of infinitesimal drugs and other experimental drugs, we might have a different picture. And then we could decide the impact that the adoption or rejection of these therapies would have as a preventive policy and resources for health.

We must admit the complexity in order to reach a consensus on which field medicine should embrace to care and cure, especially when it comes to the aforementioned primary health care. The inevitable question: how can we still be deceived by evidence that is limited to the control of pathologies without taking into account the subjective and general substrate of sick patients? To use an expression from Edgar Morin, the complexity often hailed or evoked as a solution is much more – as I emphasized before – a problem concept than a solution concept.

The ethical rescue of the subject

The evidence must also be produced in the ontological turn of modernity, which is in the ethical rescue of the subject. That is, there are other conceptual dignities in science that are not limited to quantitative clinical trials. Studies such as quality of life health questionnaires, psychometric tests, assessment of people’s well-being are as relevant as the degree of efficiency of drugs on nosological entities.

This would be the relevant discussion, whether for advocates or critics of integrative practices. Without it, in fact, everything that escapes the mainstream of standard science , looks like nonsense or Manichean objection/praise. On the other hand, it is not up to those who practice these therapies to do the same with the reversed sign: surrender to the partisan defense, enunciate the therapeutic monopoly, crystallize the accumulated knowledge as a lifetime monument.

The return of the generalist and the resumption of primary health care

So what is the best way to evaluate the effectiveness of the clinic practiced by homeopathy and other forms of integrative medicine? Firstly, to identify the referential system that guides semiology, in this case aimed at justifying a medicine that must include the subject. To show that it makes sense to seek to capture the biological, affective and mental aspects of “being a sufferer”. Not only detecting characteristic and unique traits in each sick person, but capturing the context and circumstances that mutually elucidate mind-middle-body-drugs. This set would already show that it is a phenotechnic. Which only makes sense if the subject is reinserted into another system of medical notation, without competing and never dispensing with other approaches to contemporary medicine. Incorporate all available techno-scientific procedures with rationality, but at the same time refuse the arbitrary separation imposed by the excess of specialties.

Each disease follows a different course and presents itself differently in each person and there is already very concrete evidence in this regard. Medicine should not expunge the subjective state as a legitimate objective of its intervention, or delegate it to specialists. And at the height of scientism it was imagined that the status of pathology could be confined exclusively to somatic injury. But the clamor for more comprehensive care persisted. Experts are needed, but generalists need to be a priority. It was in spite of people’s needs that the division between mind and body split the medical art. And its reunification would be the regeneration and rescue of the general practitioner and the family doctor.

Thus, the subject from the perspective of medical anthropology will approach psychotherapeutic practices if it includes the figure of the doctor, that is, they are trained in a more generous anamnesis and understand the transference, in the expression and construction of language, narratives and their Meanings.

The suspicion that the pathology contains or is contained in a dysfunctional substrate with mental distress remains a challenge for even the most scientistic of clinicians. Substrate that needs to be embraced and not expunged as “pseudoscience” or “unscientific” (sic). This deserves the utmost attention for those who dedicate themselves to a serious investigation that goes beyond the stands of common sense. It can no longer be ignored by any attentive clinician. By anyone who understands science in a broader dimension than reductionism insists on extolling.

Illness, malaise, suffering, quality of life and beyond psychopharmacology

I quote the famous definition of the French physician, founders of histology, Xavier Bichat “life is the set of factors that resist death” (Bichat, 1829). But there is also the following possible development: life is born under the sign of mortality, a tension that remains active and accompanies us until our last days.

Getting sick is not just the existence of malaise, but also not recognizing the co-authorship of the symptoms; or simply to attribute the pathology to some exclusively exogenous agent. After all, being an agent of oneself means immediately recovering the horizon of self-care and increasing the acuity of attention to life. The health-disease process is, even in the opinion of some, a struggle. Struggle between health and illness and, therefore, between life and death and even resignation and ambition.

This means more or less the following: can we say that suffering is disease? We may or may not call this destructive ancestral force a miasma, a virus, a half-plague, or any other name. If suffering is inherent to gender, what are the limits for considering it a disease? What if we understand suffering not as a penitential state, but as a more or less important inability to dedicate oneself to self-care?

Pathologies are not, in Lain Entraldo’s understanding, “localized”, they are not limited to a single place. When well investigated, one can see how they permeate the entire economy of the subject. They are ingrained along with other symptoms that may be older or more recent. In other words, despite appearances, the disease is always systemic. First the illness (illness) and then the disease itself (disease) To dismantle it, therefore, it is necessary to see the complete map of the affected organism, as well as the environmental circumstances.

Anguish can be beneficial, as well as depression, as long as it is recreating or regenerating. It can be a melancholy trait to the point of being just another item in the vast existential load. But it can determine the course of pathology.

One of the central questions of medicine has been underestimated and seems purposefully absent from many contemporary epistemological discussions. The advance of technoscience in the production of pharmaceutical ingredients has brought impressive advances in the areas of immunizations, prostheses and orthoses, rehabilitation, associated with the growing – and welcome – sophistication of diagnostics. These advances, however, simultaneously produced a harmful side effect: overdiagnosis. Just as it wrongly displaced almost all issues related to mental suffering and the individualization of symptoms from medicine. Having said that, we ask how can medical practices re-incorporate and deal with the subjectivity of each patient?

As a rule, the solution has been to refer these patients to the systematic use of psychotropic drugs. But the solution may not lie in training general practitioners to administer psychiatric drugs. The reference to the euphemism called “re-humanization of medicine” may be in taking another approach, such as, for example, rescuing an anthropological perspective for medicine regardless of the medical method adopted.

Instead of therapeutic tournaments or media histrionics these would be the issues that really interest society.

I invite readers to this reflection: it is not an opinion, it is a question of episteme.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/a-insubstantialidade-eo-nada-questao-de-episteme/

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Mure, o visionário que nos trouxe a homeopatia – Blog Estadão (publicado originalmente no Jornal da Tarde)

21 domingo nov 2021

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Livros publicados, Na Mídia, O outro código da Medicina (e book) homeopatia, Pesquisa médica, Prática clínica

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Mure, o visionário que nos trouxe a homeopatia
Dr Paulo Rosenbaum

Em novembro de 1840 desembarcava no Rio de Janeiro o médico francês Benoît Mure, que se tornaria o introdutor da homeopatia no Brasil, chegando a dispor de sua fortuna pessoal para difundir a medicina e direcioná-la para o tratamento de escravos e de “excluídos pela sociedade”

Ao contrário do que muitos acreditam, a homeopatia tem uma longa história política e institucional neste país. Passou por várias fases de ascensão e queda e neste fim de século parece estar recobrando seu fôlego. A homeopatia foi oficialmente introduzida no Brasil por um discípulo direto de Samuel Hahnemann, o francês Benoît Jules Mure.

Benoît Mure (1809-1858) é um importante personagem na história da medicina brasileira especialmente no contexto da homeopatia. Deixou influências e as repercussões de seu trabalho continuam.

Mure chegou ao país depois de realizar uma peregrinação na Europa, aonde difundiu e divulgou os princípios da então nova arte médica. Palermo (na Sicília), Paris, Cairo e Malta estiveram em seu roteiro de propaganda homeopática.

Quando desembarcou no Rio de Janeiro a bordo da barca francesa Eole em novembro de 1840, Mure estava com 31 anos de idade e repleto de projetos visionários. Sua história repete a de muitos outros: recuperava-se de uma tuberculose pulmonar que o acometeu quando esteve sob o tratamento homeopático ministrado por Sebastião Des Guidi, discípulo de Hahnemann e introdutor da homeopatia na França. Filho de um rico burguês de Lyon, Mure formou-se em medicina em Montpellier (um reduto da medicina vitalista).

Este tratamento bem-sucedido, sucedeu outro sem êxito, levado adiante por um dos mais famosos médicos da França no início do século XIX, o clínico Magendie.

No entanto, vemos que os ímpetos científicos de Mure são intensos demais para serem apenas os frutos de uma gratidão pela medicina que o salvou de um quadro tuberculoso. Mure encontra a lógica – como o médico e naturalista alemão Constantine Hering já havia feito – e captura o método de Hahnemann, isto é o que particulariza sua preferência pela homeopatia.

O introdutor da homeopatia no Brasil, influenciado pelas idéias de Fourier e Jacotot, resolve fundar em Santa Catarina uma colônia societária falansteriana, na península formada pelo Rio São Francisco, denominada de Colônia do Sahy.

Um plano ao imperador

Conforme os registros coletados por Galhardo, sabe-se que em 18 de setembro de 1841 foram apresentados ao imperador os colonos societários franceses, juntamente com Mure. Esta colônia foi o propósito inicial da vinda de Mure, que era o representante oficial da Union Industrielle de Paris (Mure, 1999). Mure foi apresentado ao imperador para expor seu plano de ação:

“Venho, em nome de todas as classes sofredoras que aspiram em França a mudar de posição, pedir a vossa majestade os meios de gozar, debaixo de um governo tutelar, do fruto legítimo de seu trabalho.” (Mure apud. Galhardo, 1928: 280).

Compreende-se, a partir desta atitude militante de Mure, sua luta ulterior, quando incorporou a seu projeto de expansão da homeopatia o tratamento dos escravos e dos socialmente excluídos do Brasil imperial. Neste contexto compreendem-se também as mobilizações política mais recentes, quando homeopatas engajaram-se nas lutas políticas e sociais do país.

Segundo o homeopata e historiador da homeopatia Galhardo, coube a um deles, Antonio Ildefonso Gomes, a redação do primeiro documento brasileiro dirigido ao Congresso Nacional, solicitando, por escrito, a restrição da escravidão. Terá sido Benoît Mure quem funda a Escola de Homeopatia do Rio de Janeiro, em 1844, embrião do futuro Instituto Hahnemanniano do Brasil, oficialmente fundado em 1859.

O médico francês era um utopista, um incorformado, e sobretudo um sujeito dotado de uma invencível tenacidade. Trata-se daqueles que acreditam que o desenvolvimento científico só é de fato evolução quando há progresso ético simultâneo. Daí compreende-se porque ocupava um substancial espaço no contexto sócio-científico do Brasil de 1840.

Medicina social

Mure tenta devolver a vitalidade ao pensamento médico do recente império brasileiro. Faz preleções pelo futuro da arte médica, é prosélito de uma medicina social mais ativa, passa a defender significados e propósitos de sua particular concepção dos objetivos da saúde pública.

Contra uma prática exclusora ele inclui em seu projeto o tratamento dos escravos e das classes sociais sem acesso à medicina da Corte. De fato, a homeopatia foi, durante todo período de escravidão, a única medicina usada pelos escravos, uma vez que reunia duas qualidades indispensáveis: baixo custo e eficiência.

Há uma curiosa mistura nas propostas de Mure: o socialismo está sempre atrelado à passionalidade religiosa. Mas é precisamente esta característica que o coloca numa lista muito particular do gênero humano: trata-se daquele tipo de sujeito incansável. Ele era um ideólogo obstinado e perspicaz e sabia, como a socióloga e professora do Instituto de Medicina Social da UERJ Madel Luz mostrou, da necessidade de apoio político e aval acadêmico para conseguir bases mais estáveis para a homeopatia.

Então, Mure mobiliza-se para alcançar este apoio pressionando instituições, fazendo contatos políticos e buscando por vários meios um estatuto mais respeitável para o saber homeopático.

Seu objetivo era conseguir um parecer favorável da academia médica para a então nova escola médica. Consegue o reconhecimento, mas a um preço muito alto, já que o recurso midiático que usou como palanque para o apoio político também serviu de base para os ataques subsequentes. Uma verdadeira guerra se estabelece nos grandes jornais da época, especialmente no Diário do Comércio e a homeopatia vira uma polêmica nacional.

Coube ao médico brasileiro Duque Estrada ser o primeiro a aplicar, em alguns casos específicos, a homeopatia no Brasil. (Galhardo 1928, 275). Sob sua liderança, publica-se um panfleto popular para fixar nos postes do Rio de Janeiro e São Paulo com a finalidade de conter a pandemia de cólera.

Duque Estrada defende o tratamento homeopático para conter a epidemia de febre amarela e escreve para a Câmara dos Deputados propondo uma subvenção de 100 contos de reis destinada à criação de uma enfermaria para tratamento homeopático.

“O senador Vasconcelos votou na abolição da medicina oficial, toda a liberdade deve ser dada ao médico para curar pelo sistema de sua escolha” (Carvalho, 1857: 9).

A colônia societária do Sahy não vingou. Mas Mure vislumbra a difusão da homeopatia como uma perspectiva não menos nobre e a implementa em vários estados.

Ele e seus colaboradores, fazem verdadeiros planejamentos de marketing: pensam em expandir a propaganda a outros estados através de emissários, e em 1847 é instalada a Sociedade Homeopathica Bahiana, Filial do Instituto Homeopático do Brasil.

Fortuna pessoal

No final de 1847 também inaugura-se um Hospital Homeopático, sob a presidência de Duque Estrada. Vários consultórios populares eram abertos tanto no Rio de Janeiro como em Salvador. Os recursos para tudo isto, ao menos inicialmente, parecem ter vindo da fortuna pessoal que Mure trouxe para o País como herança.

Os consultórios gratuitos foram criados pelos homeopatas em 1843 e vendo seu sucesso junto à população e o aumento da adesão popular ao tratamento a Academia Imperial de Medicina, também resolve abri-los em 1848.

Já com a saúde abalada, ao que parece devido à reativação de sua tuberculose pulmonar, e tendo já pedido a exoneração do cargo de diretor que ocupava na Escola Homeopática do Brasil, Mure despede-se do Brasil, de onde parte em abril de 1848. Vicente Martins assumiu a Escola Homeopática e a reestruturou dando-lhe uma corpo curricular mais arrojado.

Depois da partida de Mure – que falece no Cairo, dez anos mais tarde, em 1858 –, observa-se o surgimento de novas organizações homeopáticas: “Sociedade Hahnemanniana”, “Academia Médico-Homeopática”, assim como cresce o número de publicações clássicas e originais. Impulsionados e subsidiados pelo Instituto Homeopático do Brasil, é a vez de outros estados receberem mais informações sobre a homeopatia;

No contexto sócio-histórico da primeira metade do século 19, o que os homeopatas pioneiros, incluindo Mure e seus colaboradores, fizeram pela difusão da homeopatia neste país, com seus erros e acertos, só pode ser definido, sem exageros apologéticos, como um trabalho excepcional. Por isto seu trabalho teórico é de uma importância insubstituível, tanto no entendimento da situação político-institucional atual e pregressa da homeopatia brasileira, assim como da própria prática clínica de hoje.

Mas é através de sua obra empírica/experimental que seu projeto adquiriu dimensão mundial. Mure, em seu “Patogenesia Brasileira e Doutrina da Escola Médica do Rio de Janeiro”, dirige e compila uma série de 39 patogenesias (experimentos metódicos de substâncias medicamentosas) com substâncias obtidas, selecionadas e preparadas segundo a farmacotécnica homeopática, em um período histórico cujas dificuldades científicas eram literalmente descomunais. Edições de seu livro aparecem em 1853 (Estados Unidos) e 1859 (Espanha).

Uma opção natural para a medicina

O mundo científico já havia reconhecido de forma especialmente generosa os trabalhos dos viajantes e naturalistas que catalogaram (científica e iconograficamente) a exuberante flora e fauna deste país. É o caso dos médicos holandeses Piso e Marcgrave (integrantes da comitiva de Maurício de Nassau), de Saint-Hilaire, dos botânicos Spix e Martius e de pesquisadores menos famosos do século XIX como Freire Alemão, Velloso, Almeida Pinto, Caminhoá e Peckolt.

Agora que nos aproximamos dos 500 anos do descobrimento, seria importante promover resgates e rever ícones. Faltou reconhecer ao trabalho de Mure, especialmente pelo estudo da fauna e da flora do País. Além disto o autor vai muito além de uma catalogação farmacodinâmica/farmacognósica. Não se detém em fazer uma mera recompilação dos efeitos medicinais ou de indicações terapêuticas das substâncias obtidas das fontes da medicina indígena e popular, muito comuns nos tratados dos botanistas. Ele conduz, dirige e coordena a apresentação de medicamentos, muitos inéditos, acreditando na prodigalidade de uma natureza generosa que oferece meios curativos geograficamente próximos dos povos que deles os necessitam.

Apresenta listagens de sintomas obtidos através da experiência metódica. Faz isto usando as recomendações hahnemanianas quando adota os critérios de uma Higantropharmacologia (estudo dos efeitos das substâncias medicinais sobre o homem) quando são registradas as observações dos efeitos – objetivos e subjetivos — sobre a totalidade.

O trabalho experimental organizado por Mure não é somente ainda apropriado para subsídios de pesquisa histórica, e mesmo instrumento terapêutico, como de fato representou um incomum marco na preservação da biodiversidade. Isto em uma época na qual tais preocupações eram virtualmente inexistentes. Diríamos então que o trabalho deste idealista é provocador, original e acima de tudo dos mais modernos se considerarmos que há um boom de pesquisas atuais buscando novas substâncias medicinais nas florestas tropicais, investigação que o Instituto Homeopático do Brasil já conduzia desde 1843.

Pode-se observar em “Patogenesia Brasileira”, o esforço do trabalho experimental de Mure e João Vicente Martins (assim como outros colaboradores), o esforço de uma geração comprometida com a busca criativa de novas visibilidades para a medicina, os sujeitos e até para o próprio modelo social. Visionários que, como eles, dispuseram-se a achar as substâncias medicinais, a ir à pesquisa de campo e organizar uma matéria médica brasileira com elementos obtidos dos reinos da natureza, muitos deles ignorados (ou apenas catalogados) por outros ilustres viajantes

Paulo Rosenbaum, especial para o JT

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O papelão antissemita do NYT (Estadão)

01 quarta-feira maio 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Na Mídia

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A charge antissemita publicada ontem pelo jornal norte New York Times é um divisor de águas em vários sentidos. Não somente pelo mau gosto, prerrogativa de escolhas estéticas equivocadas, mas pela provocação, o espírito que adora espalhar impensáveis malidiscências. Aprovado pela editoria, a insinuação grotesca retrata um dos vícios mais recorrentes que é universalizar a imagem do judeu como cão submisso à um presidente cego usando solidéu. Uma imagem que oscila entre a velhacaria e a manipulação.

Sim, o NYT já fez a autocritica. Sim, vieram os indevidos — pois trata-se da velha e indesculpável repetição dos dicurso de ódio travestido de coisa espirituosa progressista — pedidos de desculpas, mas depois da editoria ter aprovado a “charge” e a divulgado macicamente em mais de 100 países. Vale dizer, o perdão é tardio quando o gênio mefistotélico já deixou a garrafa. E ainda é possível ler comentários pouco iluministas classificando o recuo como obra do “lobbie judaico”, versão de antanho da orquestração de domínio do mundo. Pseudo argumento eclético usado conforme convém pela esquerda e pela direita.

O antitrumpismo e a mídia que o representa, numa espécie de associação à revelia com a extrema direita e a extrema esquerda (não muito distinto do que acontece entre nós) associa-se sem pudor à perseguição e à generalização para demonizar Israel e os judeus.

É de fato muito perturbador observar como tornou-se facil e confortável naturalizar a intolerância seletiva. Quando promovem-se campanhas desqualificadoras atacacando a associação entre minorias mais impunenemente criticáveis e os governos que acordaram e passaram a denunciar o clarísismo viés antissionista e portanto predominantemente antijudaico das mídias.

Pois sim, existem aquelas “minorias” como por exemplo o jihadismo islâmico que seguem quase intocáveis pelo estranho medo de incorrer na igualmente erronea generalizacão islamofóbica. Apenas imaginem a repercussão — e os desdobramentos de violência — se  chargistas e editores  escolhessem outros personagens para representar.

Como recentemente afirmou o filósofo judeu francês Alain Finkielkraut a propósito da perseguição sistemática que tem sofrido por parte da extrema esquerda:

“O engajamento vampiriza o jornalista”

E é muito mais do que isso, retira o sangue da informação decente. Trata-se de uma anemia covarde e que merece diuturna denuncia. Quem vai dando voz à cizania tem que assumir a responsabilidade: será condenado a recolher os cacos. Por sua vez, dentro de todo democrata ressentido há um sabotador. São aqueles que, por princípio. não aceitam o resultado de eleições livres a não ser que a vitória de seus preferidos esteja assegurada. Como os gregos não previram tudo, será necessário repensar e transformar a própria democracia.

Só haverá uma resposta à altura deste ato ignominioso como o que promoveu desta feita o NYT. O antes promotor de causas humanistas e intransigente defensor dos valores como justiça e equidade precisará descer da sua supremacia ideológica e da sempre infundada soberba intelectual para reaprender que a função jornalistica é nobre demais para “costurar” versões hostis para desqualificar oponentes. Muito menos promulga-las como se estivesse no escopo da ética e da decência defender causas corretas contra povos, governos ou instituições que lhes desagradem.

Algumas publicações nacionais e espanholas poderiam também pegar carona na reciclagem. Recentemente surgiu o curso “Dessensibilização catártica para jornalistas ressentidos: o segredo de como voltar a fazer um jornalismo não instrumental”. O curso começa em duas semanas e é semi presencial.

Obs- Ainda não há turma formada.

O papelão de almanaque do NYT

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Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)

14 domingo abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, céu subterrâneo, Imprensa, Livros publicados, Na Mídia

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Amós Oz

Escritor de deserto

(Do livro “Céu Subterrâneo” onde usei trechos da minha entrevista com Amós Oz realizada em Israel em 2013)

Para Amós Oz

…eu já tinha entrevistado algumas pessoas e, na noite anterior, graças à persistência em cima de sua agente literária em Londres, Amos Oz conversaria comigo por telefone, de sua casa no deserto, Arat, sul de Israel.

Se pudesse confessar, confirmaria que tinha a ingênua sensação de que se minha inteligência fosse reconhecida por algum notável, minha reputação na nova carreira estaria, se não garantida, pelo menos bem encaminhada. Originalmente planejei uma abordagem enfocando a militância política de Oz, mas um acordo prévio me inibiu e só conversariam sobre literatura.

Eu estava muito apreensivo, já que o telefone em Arad não atendia. Tentei novamente buscando novo código de área.

O telefone toca.

– Sim –, atende a voz grave de Amos.

Eu não sabia o quanto poderia avançar, mas me convenci de que estava fazendo seu trabalho.

Identifiquei-me e já fui perguntando diretamente, sem rodeios:

– Qual seu conselho para um escritor?

– Sim. Um, muito simples e breve: só escreva sobre aquilo que você conheça muito bem.

Foi então que repeti a sentença e Amos calou como se dando um desfecho abrupto.

Reagi:

– O que é conhecimento?

– É a imaginação.

– Conhecemos pela imaginação?

– Não sei, não sou mais filósofo. Mas a criatividade foi o que nos restou como instrumento de sondagem… não há mais nada.

– O que se pretende com a literatura, vale dizer, devemos pretender?

– Você diz, além de uma terapêutica involuntária? – Amos riu sem espontaneidade para prosseguir de mau humor provavelmente por ter achado a pergunta previsível:

– Não há finalidade, nada a ser aprendido ou ensinado. Apenas um sujeito doando suas impressões. Isso, doação de impressões. Meu compromisso não é esse, mas acho que até acabamos ajudando pessoas! O mundo precisa mais de literatura do que os escritores. Aliás, ninguém precisa dos escritores.

– Há uns anos você provocou seus leitores dizendo que precisávamos convidar a morte para sentar e conversar. Em qual contexto disse isso?

– Não era provocação! Devemos convidá-la para fazer as perguntas que faríamos a ela depois. Oz pigarreia para concluir.

– Depois?

– Quando já é tarde demais e já não poderemos ter o prazer de perguntar. Por que não antecipá-las e fazê-las enquanto ainda estamos aqui vivos?

– Quais perguntas?

– Mister Mondale, sei que o compreenderá, estou no meio de um texto desafiador. Como escritor, o senhor sabe do que falo.

“Poeta, não escritor.”

Assim terminou a entrevista.

______________________________________________________________

O que aprendi com Oz?

Que tudo é contagem regresssiva, e só o que importa é a exiguidade do tempo diante da uma gigantesca e interminável tarefa, a de contar histórias.

Até a pergunta chave para a morte merece ser suspensa quando se trata de usar a imaginação. E escrever.

Grato Amós.

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A teia e o enredo (Estadão)

13 sábado abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Na Mídia

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A teia e o enredo

A teia e o enredo

Paulo Rosenbaum

27 março 2016 | 10:27

“Nem sei mais se são os tempos ou os contra tempos. Sei que pago o preço, o preço do meu bem estar ter se fixado na contra mão de outros com excessivo poder. Processo histórico, preâmbulo revolucionário, estado estável insuportável? Estamos todos num só barco imaginando como e quando o mar nos dividirá. Mas, e se nos descobríssemos embarcações mais fortes daquelas à deriva? E se a constituição não fosse apenas um joguete hermenêutico nas bocas da corte? Não posso culpar ninguém. Minha decisão era só minha e atingiu um estado incontornável.  Mas há ou houve algum suporte coletivo que poderia ter evitado esse desfecho trágico? Até isso ficou para trás. Neste confinamento que já dura meses (nessa escuridão perdi a noção do tempo) essas são as últimas palavras de um juízo que, não tarda, será extinto, infelizmente pela violência, não da maioria que exigia ser emancipada, mas por força da truculência, da chantagem, do medo e das armas. Se alguém puder ter acesso a isso adiante afirmo que  não esmoreço, não esmorecerei. Se vou ser silenciado que seja diante deste protesto, cujo deslacre pertence ao futuro. Admito ter extrapolado limites em alguns momentos mas  ainda” (O bilhete termina abruptamente)

Esse bilhete manuscrito foi achado há apenas seis meses, enterrado na cela secreta número 13. Encontrado numa província ao Sul do Lago, deve ter sido escrito alguns dias antes da acusação de alta traição. Sua datação exata é imprecisa por conta dos incêndios que se seguiram aquilo que hoje conhecemos como o Verdadeiro Golpe. Na época, ainda era tática usada para confundir a opinião pública. Era prática comum daquela agremiação acusar de golpe as forças constitucionalistas, para, então aplicar sua própria modalidade de exceção. As forças da Usul e os blindados assumiram posições em vários estados da federação. Isso foi um pouco antes da caminhada dos 50 milhões, oficialmente a maior concentração pacifica de civis já registrada no planeta. No dia 08 de julho as tropas nacionais, em desavença, se viram frente a frente, contra e a favor do governo, já declarado ilegítimo por praticamente todas as instituições. A operação “Iludir-Frust” desencadeada pelo poder prestes a cair, foi marcada pelo silenciamento da mídia, suspensão dos direitos civis, e toque de recolher em cidades com mais de 100 mil habitantes. Ninguém respeitou. A ameaça de uma conflagração civil fratricida tornava-se eminente. No dia 09 de julho a ordem transmitida em castelhano e ouvida pelos dois lados para “bombardear las fuerzas contra-revolucionarias” deram o alerta e foram também desrespeitadas. Foi somente no dia 10 daquele mesmo julho, com o avanço de tanques e colunas de infantaria vinda das fronteiras do oeste e de cima que o exército de Trasio foi reunificado, e  ainda que salva de tiros e escaramuças tenham sido reportadas em várias localidades, assim como esporádicos choques entre civis, nenhuma gota de sangue foi derramada. Numa estranha e rápida reviravolta, menos de 36 horas a tropa, reunificada e a agressão externa foi rechaçada, e os invasores foram presos e escoltados para além dos limites da cordilheira.

Surpreende que tudo isso tenha chegado a este ponto e tenha acontecido numa escala e volume de desvios inimagináveis. Desde o fim da guerra fria não se testemunhava um Estado dominado por cúpula tão habilidosa na arte de deslegitimar a democracia. Tudo isso aconteceu um pouco antes dos anos 20. Trasio havia sido controlada por uma espécie de poder paralelo que instaurou políticas fiscais autodestrutivas. Praticamente todas as instituições precisaram ajoelhar-se diante do alcance e poder do Estado que prosperava sem oferecer praticamente nenhuma emancipação real — de renda ou autonomia — para seus súditos. Entretanto, como negócio privado dentro do Estado fora um plano considerado bem próximo da perfeição. Sem os acasos e imponderáveis que desfiaram a teia e o enredo, estima-se que talvez tivesse durado mais 50 anos.

Nesta primeira aula de História da Administração do século XXI, disciplina oferecida por esta Universidade em português e inglês, nosso objetivo não é o julgamento do passado, apenas oferecer elementos para interpretar o que realmente aconteceu em Trasio nos últimos 30 anos.

Sob um consenso nunca antes registrado na história contemporânea das nações, a caminhada teve inicio e apoio maciço. O governo, que já comemorava a vitória soube da reunificação das tropas e do avanço da FRP. O Poder foi sendo sitiado pelas multidões organizadas pela FRP (Forças da Resistência Pacifica) que fluíram de todas as regiões até a cidade de Ilia. Cercada, a cúpula tentou então destruir os documentos da “pasta L”, as mais graves evidências documentais, a essência do material incriminador. Em meio a situação ainda ouvia coros desestimulando a renuncia. Em seguida, a chefe, pessoalmente, tentou transporte junto às companhias de helicópteros. O objetivo de curtíssimo prazo era deixar o Altiplano para buscar exílio no País do meio, mas mesmo as embaixadas consideradas amigas foram instruídas a acionar suas secretarias eletrônicas. Como ninguém mais os atendesse, recorreram às milícias acampadas nos arredores do palácio quando se descobriu que as barracas já haviam sido abandonadas. Já que os motoristas e serviçais também haviam sumido, recorreram às bicicletas. Com disfarces improvisados chegaram até a Esplanada de Ilia, mas foram alcançados por populares antes de chegar ao aeroporto onde haviam combinado sequestrar um Boeing 727. Presos pelos civis foram entregues às tropas e seguiram diretamente para a província do Sul. Quando lá chegaram, com garantias de amplo direito de defesa, foram julgados e condenados por crimes contra a humanidade. A ex chefe saiu sob liberdade condicional em 2030 e alguns anos depois ainda tentou, em vão, se eleger vereadora de uma cidade pequena no extremo sul.O tal bilhete, perdido por quase 20 anos, e recém resgatado, ficou sob poder do novo Tribunal. Desde as reformas dos anos 30 que corrigiram quase todas as distorções ideológicas — do ensino à política —  foram inseridas importantes novas cláusulas para evitar a repetição de uma hegemonia quase perfeita que se instalou na distante República de Trasio. Radicais e populistas de direita e de esquerda foram varridos pelas urnas. Na nova constituição, itens pétreos foram instaladas como salvaguardas estritas contra qualquer tentativa de poder hegemônico. As instituições judiciárias agora poderiam se manter incólumes às pressões, e, protegidas de qualquer ativismo. Doravante, seriam eleitas a partir de listas elaboradas pelo próprio poder judiciário. O novíssimo congresso de Trasio também foi consequência direta daqueles dias turbulentos. Os empresários e suas mega corporações, então condenadas, tiveram que repatriar recursos e suas penas foram substituídas por serviços prestados ao Estado supervisionadas por comissões especiais eleitas pela sociedade. Com a reforma do sistema penal, prisões foram esvaziadas e a violência sofreu inédita diminuição. A infraestrutura que Trasio tem hoje, uma das mais eficientes do mundo, fora também um dividendo direto da ação dessa supervisão praticada por toda a sociedade. Com impostos diminutos, justos e descentralizados a sonegação passou a ser mínima. As disparidades sociais não apenas foram mitigadas como Trasio pulou à condição de 3a economia do mundo (e não a falsa sétima posição, alavancada por influencia do partido) com um planejamento original e completamente renovado.

O que eu acho? A renuncia poderia ter sido um último ato com alguma força e dignidade, e não de covardia. Imagino que vocês queiram saber o nome do autor do bilhete? Pois afirmo que hoje o nome não importa.  Depois de ser resgatado do cárcere de um porão na península próxima ao Lago Sudoeste, ele preferiu apartar-se da vida pública. Escolheu passar seus anos no convívio com a família ainda que seu nome continuasse por décadas na lista de prováveis candidatos à primeiro ministro. Nunca mais se ouviu falar do ex-chefe daquela República. Suspeita-se que, fugitivo, tenha conseguido deixar Trasio, e, sob uma plástica mal sucedida, mas suficientemente desfigurante, tenha vivido e morrido no anonimato numa distante província da Coreia do Norte.

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/a-teia-e-o-enredo/

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As respostas estão no subsolo (Estadão)

13 sábado abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, céu subterrâneo, Livros publicados, Na Mídia

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céu subterrâneo, Editora Perspectiva

AS RESPOSTAS ESTÃO NO SUBSOLO

Novo romance de Paulo Rosenbaum promete entregar respostas e mistérios da origem comum aos seres humanos. Elas não estão no céu que nos protege, mas no subterrâneo que nos sustenta.

Em Céu Subterrâneo, novo romance de Paulo Rosenbaum, a sensação labiríntica de risco e desconcerto infiltram-se pelas páginas e dominam a saga de Adam Mondale, colecionador de câmeras antigas, possuidor de uma córnea defectiva, aspirante a escritor e judeu laico. Em sua personalidade plural e interesse particular, Mondale é regido pelos mistérios que envolvem um antigo e irrecuperável negativo fotográfico, que carrega em si o insuperável da condição humana.

 

Ao receber uma bolsa literária, Adam Mondale embarca no último vôo noturno para Jerusalém, a fim de desvendar os mistérios de um antigo negativo fotográfico. Através de linguagem simples e envolvente, Céu Subterrâneo propõe uma visão crítica das sociedades atuais, divididas entre a exigência de uma racionalidade laica e o apelo da tradição, inclusive religiosa. De formação acadêmica laica, Rosenbaum apresenta em forma de romance, um texto que se equilibra entre ensaio e declaração de princípios, no eterno jogo entre razão, subconsciente e valores sociais.

 

Desci do carro cheio de pressentimentos. Um cheiro me acompanhava na descida. Estava impregnado, mas não sabia se vinha do motorista, da rua, de um incenso ou de uma especiaria esmagada no chão. Saí do carro me arrastando instável e cheio de malas, mochila e sacolas. Sozinho, parei para olhar a viatura branca se distanciando na madrugada. O trajeto já indicava temperaturas de inverno, mas tudo só se confirmou quando parei para respirar fundo. Aquela noite gélida, escura, tinha textura. Do céu roxo gotejava aquilo que os ingleses chamam de freezing rain, gotas intermitentes que transitam entre chuva, neve e garoa. Temi pela região deserta, pelo rigor mortis da quadra, pelo esconderijo do apartamento.
“Qual prédio?”
Minha residência parecia abandonada. Só uma janela acesa no terceiro piso num prédio de quatro andares.
“Ops. Mas aluguei um apartamento no oitavo andar!”
Em todo caso, ignorei o desconforto e caminhei em direção ao here arrastando a mala.
Chamou minha atenção o letreiro de jade do muro que parecia uma lápide do século XIX.
“Montefiore Testemunhals”
Tomei coragem e entrei na viela, desequilibrado pelo piso de pedras irregulares.
Fixei-me então nas calçadas com aqueles blocos enormes: as mãos do arquiteto Herodes estavam por toda parte. A escuridão esfumaçada da neblina retinha o toque noir. Uma sensação às costas indicava que eu estava sendo seguido de perto. De vez em quando eu olhava para trás, mas não surpreendia ninguém.

https://editoraperspectivablog.wordpress.com/2016/04/29/as-respostas-estao-no-subsolo/

http://www.editoraperspectiva.com.br/index.php?apg=cat&npr=1094&uid=05062016145628176070148200

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Os horizontes do justo (Estadão)

13 sábado abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Na Mídia

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Benoni, justiça, O Intermediário, significado de justiça, tzadik

Os horizontes do justo

Paulo Rosenbaum

04 julho 2016 | 11:56

Discordo, e não é só para contrariar o bom humor com que o notável Mario Vargas Lhosa finalizou sua coluna neste Estadão sobre os justos de Israel. Pelo que se vem falando sobre os dilemas contemporâneos de Israel — implicitamente ligado ao shoah e ao destino do povo judeu — o leitor corre o risco de imaginar que tudo pode ser condensado aquele único horizonte. Opressor contra vítima. Dominador e dominado. Segregador e segregado. Destarte, o mais estranho tem sido observar a redução de um conceito muito caro à humanidade — como é o caso do “justo de Israel” — ao guerreiro que se autodenuncia, o combatente que recusa a violência ou o homem que renega, por questões morais, toda hostilidade cometida por sua própria tribo. Justo tem sua raiz na palavra hebraica tzadik que por sua vez deriva da palavra tzedaká, cuja tradução apenas aproximada seria “caridade”. A estas características seria bom acrescentar outras, talvez mais relevantes, decerto mais próximas do conceito original. Ao menos estabelecer uma equivalência analógica. Há um conceito ampliado do justo de Israel,  pois há também o justo das Nações: é aquele que se aproxima da santidade. Aqui tomada menos em sua conotação transcendente, mas como sujeito que consegue atingir um estágio de conhecimento e separação que  o habilita a estabelecer um julgamento quase perfeito. São tão poucos e raros aqueles que logram alcançar este patamar que a axiologia foi obrigada a criar a categoria de “intermediário”. Uma espécie de pessoa que, incessantemente, busca a justiça — abarcando também o bastardizado conceito de “justiça social” — mas que, muito provavelmente, não a alcançará. Ao menos através de um modo acabado e idealizado.  Já o justo, de acordo com os critérios da hermenêutica é aquele que atinge o grau máximo de discernimento. Grau que nem sem sempre está de acordo com o que anuncia o senso comum. Esta é uma peculiaridade muito própria do justo; estar oculto e ser minoria entre as minorias. Por sua vez, o justo, quando chamado manifesta-se por inteiro, a contrapelo, enquanto outros preferem esconder-se na maré do senso comum. Nesta acepção, o justo sempre buscará a paz, sem no entanto desfazer-se do direito à existência e, principalmente, sem renunciar à autodefesa. O justo também não é nem um traidor nem alguém que se dispõe à autoimolação. De que valeria um justo sacrificar-se ofendendo as próprias balizas éticas? Um equânime que serviria apenas para o endosso de uma violência que não se cala? Israel não é um mar de rosas, muito menos um lugar perfeito. Se a opressão não é justiça, ceifar a vida de inocentes com ataques terroristas menos ainda. Se a ocupação é condenável e uma política colonialista um pesadelo, a resposta jamais será a prescrição de esfaqueamentos aleatórios. Há uma importante distorção na análise da desproporção. Disputas territoriais e questões étnicas tem sido cooptadas como uma causa que vitimiza apenas um lado. O supostamente mais fraco e indefeso. A tragédia, e ela existe, é sempre bilateral. Teorias socio-psicologicas se esforçam para explicar a preferência pelos fracos e indefesos contra a potencia que subjuga. Mas, uma vez conhecidas, eles não pode servir para endossar o álibi da demonização branca de toda uma sociedade. Há uma critica que oculta, sob o manto do discurso da igualdade, um viés repleto de preconceitos. Se o sionismo demanda ressignificação, isso nada tem a ver com as acusações genéricas e pouco fundamentadas que vem dominando a intelligentsia internacional e fomentando a irresponsavelmente a globalização da judeofobia. O discernimento e a honestidade intelectual exigem colocar as coisas nos seus devidos lugares. Uma delas é separar os elementos para analise impedindo a aglutinação que generaliza uma condição particular. Só um Estado com altíssimo grau de consciência permitiria que militares insatisfeitos deponham contra este mesmo Estado, e ainda sejam protegidos em seus direitos pela Suprema Corte, ainda que com algum grau de censura. Deste modo, o “justo de Israel” pode nem mesmo ser uma pessoa. Não sendo uma personalidade, o justo não deve estar onde se supõe que esteja. Pode estar encarnado numa entidade abstrata, numa consciência com grande impacto na realidade. Pode estar exatamente na natureza ímpar de um País que permite que todos, incluindo jornalistas e ex-militares insatisfeitos, possam se expressar. Isso é justo. Mais do que justo.

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/os-horizontes-do-justo/#

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Derrota na cultura do êxito (Estadão)

13 sábado abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Na Mídia

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Cultura do êxito, Jogos olimpicos

Admito que fui ver uma sessão de aletismo dos jogos olímpicos. Precisava testemunhar e sobretudo arriscar uma interpretação para um fascinio o qual a princípio me sensibiliza mais pela perplexidade que pelo encantamento. Um aspecto que merece atenção neste revival repaginado do antigo ritualismo grego: quais as finalidades e significados destas reuniões?. Supremacia do corpo? Filosofia da superação? Bem nessa fase no qual os aspectos esteticos convencionais, os critérios eticos e a propria cultura apolinea estão oscilantes ou sob suspeita?

Destarte, o mais incrível e não menos determinante, parece ser a imaginação dos atletas. Observem como as moças  do salto em altura simulam os voos antes do impulso para superar marcas improváveis. Os nadadores encaram as raias das piscinas como imas unidirecionais. Os lançadores antecipam a rota e as vibracoes do disco e do martelo. Aa esgrimistas cogitam esquivas radicais e estocadas clarividentes. Os lutadores derrubam oponentes, muito antes do desenrolar da contenda. As tenistas empurram mentalmente a bola em linhas diagonais ou paralelas em simulações permanentes. Frequentemente.  balançam as cabecas para torcer ou intuir trajetórias possiveis, fazem gestos repetitivos, obedecem suas superstições, emulam confiança, sonham com o palanque absoluto.

E quanto a derrota? É preciso analisar o símbolo e sua fisiologia. É fundamental penetrar na fenomenologia para bem além da representação dos estados nacionais e do aparente pretexto para exeecitar o assim chamado espírito olimpico. Ninguém mais pode aderir incondicionalmente ao ideário de que o que importa é competir independentemente do resultado. A dor e a humilhação, o esforco invencivel, o suor que marca a exaustão este conjunto de trabalho e esforço impõem-se como simbolos majoritários. O orgulho e a hubris reservados para uma minúscula elite da apreciação de herois hipertrofiados, ultra-habilidosos, ou talentos que viram da resistência psico- fisica.

Essas categorias jà estão auto consagradas na cultura do êxito. O que realmente interessa esmiuçar é o valor inverso. O perdedor. Aquele que se contunde. A derrota é que é o grande tabu, A desonra reservada aos sofredores  sem medalhas que serão ultrapassados.  Aqueles que superados ,fracassam. A competição que esmaga os que foram menos treinados e financiados. Ou aqueles que encontram-se dopados para alavancar propagandas politico comerciais. Decerto existe algo mais grave e me limito a mencionar :a naturalização do conceito de que , para alguns, não haverá equidade.  Como foram os casos testemunhei, isolados, mas contundentes. Um atleta negro foi ofendido,  um judoca egípcio recusou-se dar a mão ao seu adversário judeu. O constrangedor silêncio do COI significa que alguns podem ser discriminados sem maiores consequencias para a honra do esporte e em benefício dos patrocinadores.

Todos sabem que o esporte profissional tem um lado obscuro, mas o que interessa mesmo é o apelo à perfeição o triunfo indiscriminado da performance.

Ainda assim quem poderá negar que é belo, notável e admirável.? A duvida não é outra? Será bom? Uma prioridade? Os músculos exatos, a massa magra, a oxigenação extra podem não significar exatamwnte o que o senso comum imagina. Como já previa Hipócrates (aforismo 3, primeira seção) os maratonistas ou hiperatletas, por exemplo, estão mais sujeitos à morte súbita que os não atletas. Aforismo comprovado só muito recentemente pela medicina contemporânea

Performances e records não valem saúde, nem super treinamento significa neccessariamente boa forma e longevidade. Mesmo assim, e apesar de tudo, quem controla nosso potencial de envolvimento? O saldo final vai contra a intuição. Permanecemos emocionados com essa vertigem coletiva hipnótica chamada Olimpíada

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/derrota-na-cultura-do-exito/

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Interditada (Estadão)

13 sábado abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Livros publicados, Na Mídia

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A Pele que nos divide- Diáforas Continentais, poesia

Interditada

Paulo Rosenbaum

14 novembro 2014 | 12:49

vozvozXX

Tua voz,

tua voz

não será auditada

Tua voz,

sem vez

Tua voz,

sem voto,

Tua voz,

 ouvida adiante

Tua voz,

junto ao ruído do cometa,

Tua voz,

não mais te pertence

Tua voz,

que era a nossa

Tua voz,

tão calada

Tua voz,

que pedia liberdade,

acaba de ser interditada.

Tags: censura, controle da mídia, Controle dos jornais, poesia

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