• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico

Paulo Rosenbaum

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A Mentalidade Preventivista (blog Estadão)

06 segunda-feira fev 2017

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Na Mídia, Pesquisa médica

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blog conto de noticia, boite kiss e a justiça, conto de notícia, filosofia, holocausto, Literatura, Mark Twain, medicina e acaso, mentalidade preventivista, tarda justiça

Era para ser um texto em homenagem ao aniversário desta cidade. Não deu. Pois lá se vão quatro anos do incêndio da boate Kiss e a tarda justiça ainda continua fazendo vítimas em série. Em homenagem às famílias, aos que não podem mais se defender da inépcia do Estado e para que — em algum futuro tremendamente remoto — tragédias anunciadas, disfarçadas de fatalidade, não voltem a ocorrer republico no blog, excepcionalmente, o texto “A Dor merece nosso Constrangimento”. Decerto que o imponderável, o imprognosticável,  a  incerteza e o absurdo são tanto perturbadores, como onipresentes na condição humana. Porém, isso não tem nada a ver com pane seca, falta de extintores, erros de cálculos em pontes e viadutos, falha na inteligência, justiça leniente, leis anacrônicas, cárceres inimagináveis, descaso com áreas de risco, e, finalmente, déficit de vigilância para cuidar que as instituições não sejam escravas das corporações.

Que a mentalidade preventivista se infiltre em quem governa. E, se não, — que as consequências desta falta crônica desabem sobre os omissos, mostrando que quem quer gozar do Poder, quem precisa do Poder, quem está obcecado por ele, tem a obrigação, moral ou criminal, pouco importa, de planejar e, sobretudo, a responsabilidade de antecipar acontecimentos.

 

A dor merece nosso constrangimento

 

Devo estar cultivando a insensibilidade, já que não me comoveu o choro nem a circunspeção dos políticos nos funerais. Além disso, temos que suportar o horroroso espetáculo dos apresentadores explorando a biografia das vítimas ou especialistas explicando como os alvéolos são destroçados pela inalação de fumaça. Nesse campo de batalha, só cabem urros, uivos, ritos de contrição. A dor merece nosso constrangimento.

São poucas ou muitas as palavras que podem descrever acuradamente o absurdo. Absurdo é pouco, estultilóquio, limitado, dislate, distante. Precisava de um vocábulo sem precedentes. Pois “galimatias” revela um glossário analógico apropriado para o desastre gaúcho: um acervo de heresias e incoerências disparatadas, coxia de desconchavos, parvoíce chapada, um amontoado de cacaborradas, aranzel, inépcia, chocarrice. Para contornar registros menos recomendáveis ao grande público, cada um deles pode indicar o repertório que se passa pelas nossas cabeças quando tragédias completamente evitáveis parecem inevitáveis.

A falta de decência não é só fazer as coisas sem pensar que outros podem se ferir ou sair lesados. Paira no ar um senso de desproporção, tocado pelo culto ao único mito invicto de nossa era: grana.

Há uma máxima que deveria vir instantaneamente à cabeça de qualquer um: “Tratarei todo filho como se fosse meu”. Passa longe do sentimento predominante. Que dizer dos donos do lugar e dos homens da segurança? Inicialmente, sem perceber a eminente tragédia, impediram pessoas de sair do inferno. Quais as regras a serem seguidas e quais merecem desobediência civil já?

Não sei quantos mais poderiam ter sido salvos da asfixia, da carbonização. Uma vida poupada teria feito toda diferença. Mas havia a barreira do execrável pedágio, a pirotecnia fora de lugar, o entupimento das salas, as formigas espremidas na armadilha.

Não vem ao caso apontar para a banda ou para os proprietários como alvos óbvios de punição e responsabilização criminal. Já que pais e mães tiveram seus futuros cassados, e as vítimas ardem na sombra, seria preferível acompanhar o que o poder público tem a dizer.

Em geral, fiscais são bons burocratas e, raramente, têm consciência de seu papel vital na prevenção dos desastres. Prevenção, lugar-comum, baixa visibilidade, antipopular, mas a única palavra-chave para não termos que ouvir a esfarrapada desculpa “fatalidade”. Isso não é um se, está acontecendo agora. Nas enchentes, na calamidade absoluta que é a segurança pública do país, na incapacidade organizacional para gerir o dia a dia das cidades. A verdade é que, se ainda vivemos ilesos, é por sorte e apesar do Estado. E não se trata de apontar para um único partido. Todos comungam deste mínimo múltiplo comum, a incapacidade de enxergar que toda matéria política caberia numa sentença: governo é para o povo. Submergidos no populismo ignorante, cosmético e estelionatário, quanto dinheiro ainda será arrecadado nas miríades de impostos pagos para fiscalizar e manter as bocas de lobo, as escolas, o passeio publico, a segurança, a defesa civil? E como isso será gasto? Não sabemos e ninguém sabe.

Mark Twain escreveu: “O governo é meramente um servo, meramente um servo temporário: não pode ser sua prerrogativa determinar o que está certo e o que está errado, e decidir quem é um patriota e quem não é. Sua função é obedecer a ordens, não originá-las”.

Só quando os administradores forem imputáveis e sentirem nos bolsos e na privação de liberdade que, se falharem em prevenir o prevenivel sofrerão consequências pesadas, talvez tenham mudanças efetivas no dislate que é o planejamento público no Brasil. Só quando a opinião pública exigir que as apurações não se limitem a dois ou três bodes expiatórios, mas, a quem, de fato, permitiu a vigência do absurdo. Talvez ai, calçados na educação solidária, o respeito aos cidadãos conquistará status de lei.

Na hora dos massacres, a solidariedade autêntica vem das pessoas desvinculadas do poder. Emerge pura da nossa emoção, premida pelo nada, esvaziada de sentido, e lapidada pela voz rouca do abandono. Um sobrevivente do incêndio descreveu “Vi o monte de corpos empilhados uns em cima dos outros, como os judeus no Holocausto”. Ainda que o cenário justifique a analogia, a outra semelhança é a gratuidade com que essas vidas foram incineradas.

Todos nós, civilizados desde o berço, podemos enxergar tragédias como inerentes à condição humana. Rachaduras na placa continental, asteroides, furacões e terremotos são eventos inevitáveis, às vezes inexoráveis. Crematórios, não. A dor merece nosso constrangimento, assim ao menos sofreremos todos juntos. Não entendo bem por que, mas parece que precisamos nos derreter para nos unirem.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record) e “Céu Subterrâneo” (Ed. Perspectiva)

paulorosenbaum.wordpress

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/a-mentalidade-preventivista/ ‎

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  • por uma mentalidade preventivista

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Não é porque (blog Estadão)

07 terça-feira jun 2016

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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centralismo partidário, conto de notícia, decisões judiciais, democracia, hegemonia e monopólio do poder, justiça, não é porque, paulo rosenbaum, poesia, significado de justiça, utopia

Não é porque

Paulo Rosenbaum

07 junho 2016 | 12:19

Não é porque removemos o entulho que podemos aceitar tudo, não é porque fomos as ruas que nos submeteremos à qualquer faixa, não é porque o crime compensa que nos tornaremos cúmplices, não é porque o progressismo falhou que seremos adeptos do atraso, não é porque a vigilância está mais atenta que aceitaremos o Estado Policial, não é porque a contaminação é geral que a infecção é a mesma, não é porque estamos em casa que as ruas não podem reaparecer, não é porque quem deveria nos representar falha, que a representação faliu, não é porque estamos sem uma boia intacta que usaremos o penúltimo prego, não é porque eles tem foro privilegiado que a maioria merece injustiça, não é porque as indicações foram feitas que a contabilidade de favores pode persistir, não é porque o Poder nos insulta que precisamos recusar a governabilidade, não é porque eles são nacional-desenvolvimentistas que estão errados, não é porque persistem na seletividade dos alvos que aceitaremos tiro ao alvo, não é porque eles foram grampeados que todos nós recusaremos garantias de privacidade, não é porque elegemos heróis que nos cegaremos ao narcisismo, não é porque temos paciência que o inflamação não cresce, não é porque desejamos paz que abandonaremos os motins, não é porque empobrecemos que a dignidade passou a ser um luxo, não é porque perdemos a inocência que hostilizaremos a pureza, não é porque as prisões pululam que teremos equidade, não é porque estamos confusos que não reparamos nas cores, não é porque a corte é soberana que aceitaremos absolutismos, não é porque naturaliza-se a exceção que ela deixa de ser selvagem, não é porque falta civilidade que a cidadania está perdida, não é porque o outono se prolonga que o inverno será relapso, não é porque enxergamos a insanidade que perderemos a lucidez, não é porque estamos aflitos que cassarão nossa voz, não é porque a espiritualidade se desorganizou que submergiremos na matéria, não é porque tudo foi se concentrando que a distribuição será barrada, não é porque os bolsos da pessoa física não se encheram que usurpar o Estado deixou de ser hediondo, não é porque estamos quase paralisados que esgotamos a vitalidade, não é porque preferimos a tolerância que não seremos contundentes, não é porque quem obstaculiza a justiça é quem deveria promove-la que o delito prescreve, não é porque um timing se impôs que ele veio na hora certa, não é porque sou eu quem digo que todos os demais não possam sentir de forma semelhante, não é porque as crianças estão sem infância que nós temos o monopólio da maturidade, não é porque a anomia chegou que não precisamos de parâmetros, não é porque a justiça social se arrasta que ela não avança, não é porque a compassividade nos inunda que a parcialidade pode prevalecer, não é porque podemos entender as motivações dos perversos que eles devem ser tomados como vitimas, não é porque nossa passividade é ancestral que as paixões foram extintas.

E por que ainda estamos aqui, e não lá fora, para berrar não?

Não é porque

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Por uma cultura não perversa (blog estadão)

18 quinta-feira fev 2016

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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blog conto de noticia, Blog Estadão Rosenbaum, conto de notícia, hegemonia e monopólio do poder, impunidade, Por uma cultura não perversa, utopia, violencia

Por uma cultura não perversa

Paulo Rosenbaum

17 fevereiro 2016 | 21:09

Não é o caso de ser contra ou anti. É preciso assumir: uma cultura não perversa é um ponto fora da curva. Ou não estamos todos em um estado a beira da saturação? A  intolerância é uma arma escura. O perverso não é aquele que se defende ou ataca, tanto faz se governo ou oposição, mas é aquele que força a prerrogativa de uma razão desligada do mundo, alienada dos compromissos com o além do si mesmo. O perverso é aquele que, não contente em ser hegemônico, desqualifica o mundo, dobra a realidade, invade a imaginação e reifica o mito para infiltra-lo na cultura. E assim coagi-la a todo preço e custo.

Como afirmou Carl  Gustav Jung, não são os homens que estão doentes, os deuses e suas mitologias que ficaram dementes. A política é apenas a face aparente dessa deterioração. Não estamos ouvindo as formulações do senso comum despejadas nas redes e escoadas pelas ruas? Com paus, máscaras e pedras? Aquelas que acionam as mais inespecíficas condições genéricas, quando a única esperança recairia na reafirmação do sujeito, o único com potencia para resgatar a sociedade?

Sim, ouvimos tua indignação, toleramos a indelicadeza, ouvimos teu enojamento seletivo e, agora, é preciso confessar, só conseguiremos respirar sob outro diapasão. Só se vê modelos esgotados em repetições circulares. Múltiplos exauridos e descerrados. Numa sincronia apática é como se todos os originais tivessem ensurdecido ao mesmo tempo. Como se as novidades não pudessem mais circular. Mas a norma do relógio é disparar, à revelia de nossa desatenção. Por que permitir que nos arrastem através dos vingadores anônimos? Prefiro que refaçam suas próprias penas e, ao custo das consciências, ressarçam o que nos subtraíram. Numa democracia principiante, quando uma mentira lava a outra e não há mais forças emancipadas, poder-se-ia especular sobre a subsistência e até mesmo duvidar se testemunharemos ou não um futuro saudável.

Em nossa insuportável ingenuidade a separação dos poderes seria a garantia das liberdades individuais. Quem iria supor que um lacre gigante estabeleceria tremenda co-dependencia no lugar de autonomia?  Co-autoria no lugar da reafirmação de identidades e funções. As exceções não conseguem mais suprir a norma. E é essa mutação que vem submetendo a Republica a ponto de torna-la irreconhecível. É como se mudássemos para uma chave que já nada abre. E, uma vez escolhida, ninguém mais pudesse se arrepender por ter sufragado um projeto tão nocivo e abrangente. Curiosa essa exceção. Os criminosos podem merecer perdão, os acontecimentos do destino podem exigir reparo, e até um pequeno deslize na calçada pode resultar em ressarcimento pelo administrador do território. Mas o sistema parece já ter escolhido seu lado: prefere proteger o opressor à vítima. O Estado tornou-se perigosamente autosuficiente e descolado do suporte. A ponto de descartar seus súditos? Exagero? Um espírito subjacente pode até vir a ser e no final mudar tudo. Os indícios não são estes, pelo contrário, o que torna nossa desconfiança cada vez mais procedente. E se assim fizeram para desconstruir o mínimo já conquistado? E se orquestraram para desmanchar o apelo civilizatório? Não será agora, nem imediatamente, mas uma hora teremos que responder: se não queremos ser Kiev nem Caracas, será preciso algum espírito de antecipação, ou capitulação.

Tags: a perigosa autosuficiencia do Estado, Carl G. Jung, cultura e política, direito ao arrependimento, Kiev e Caracas, mitos dementes e homens doentes, Por uma cultura não perversa, separação de poderes

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O último whats (blog Estadão)

17 quinta-feira dez 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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blog conto de noticia, cerco branco, conto de notícia, democracia, Estado Democrático de Direito, Estado policial, golpe, hegemonia e monopólio do poder, Help, o último whats, significado de justiça

O último whats

Paulo Rosenbaum

17 dezembro 2015 | 19:13

-Leia isso aqui!

-“Help?”

-Isso, “help!”.

-Chegou quando?

-Meia noite!

-Estranho!

-Quem enviou?

-Sem remetente, sem destinatário.

-Exato, mensagem na garrafa. Milhões receberam.

-A outra chegou um segundo antes!

-“Embargo geral?”

-Essa!

-Por que escreveriam isso?

– Ah, você não imagina?

– Não faço a mínima.

-Eu te listo mil motivos em um minuto.

– Então conta

– Perdemos critério, esvaziamos o bom senso, estamos governados pelo senso comum, a elite sustenta o poder, estamos sob censura, o crime varou a carne, o sistema tolheu as escolhas individuais. A divisão virou guerra. Os dossiês, armas. As discussões, torcidas organizadas. A judicialização, indevida. Carência de justiça devida. Segredos de Estado. Estado democrático sob cerco. Estado com espectro policial. Você ou qualquer um não pediria ajuda?

— Imploraria.

–Foi até discreto, mas assim? Ao cosmos? Para alguém alhures? Ele é um daqueles que ainda acredita no Céu?.

–E você, não?

(silencio intimidador)

– Não?

– Evoco a quinta emenda.

– Isso não vale nada por aqui. Lembra? Aliás, essa Constituinte aqui não sei não.

— Então te digo que no que não acredito: nessa política, na esquerda retrógrada, direita obtusa, centro acéfalo.

— Vejo que você não enxerga mesmo. Não percebeu os símbolos na linguagem? Impedimento, bloqueio, intervenção, sigilo de justiça, controle da mídia, restrição, liminares, prisão domiciliar oficial, arbítrio, mordaça. Ninguém precisa decretar “somos um governo tirânico”, é auto evidente. Se não acredita, faça seu próprio levantamento. Te digo que é por ai.

— Certo, mas o mistério persiste: quem digitou “help”?

– E quem não o faria? É help mesmo! Socorro, acudam, alguém faça qualquer coisa.

– Você está insinuando o que? Uma inteligência artificial? Capaz de perceber a bagunça e ainda gritar “socorro”?

– E por que não? Fenômeno raro, já registrado antes. Assim como existe uma inteligência individual de cada órgão, existe uma espécie de organização autonômica desconhecida, que age à nossa revelia. Só se manifesta em momentos críticos para a humanidade e poucas vezes abaixo do Equador. Transmissões radiofônicas sem origem, impulsos eletromagnéticos que são próximos e ao mesmo tempo não localizáveis, é como se a radiação cósmica de fundo tivesse uma voz, que as vezes até digita.

-Você tá de brincadeira!

– Não brinco com coisa séria!

(Voz celeste embargada: – Céus)

– Você ouviu, ou vai se fingir de surdo.?

-Ouvi, mas tinha acabado de pingar 3 gotas de Rivotril

(voz celeste grave : – I rest my case) (tradutor automático: Para mim, deu)

– Essa eu ouvi.

(ruídos de tremor de dentes)

– To te falando!

(voz celeste : – Fui)

– Olha aqui, o whats voltou.

– Milagre!

– Mas embargaram só no Brasil?

– Parece que sim.

– Arábia Saudita?

– Não. Isso é coisa muito nossa. Em nenhum outro lugar na Terra fariam isso.

– O que não entendo é por que uma Inteligência desse porte pediria nossa ajuda?

– Filho, era uma expressão: torrou, excedeu todos os limites, de saco cheio. Entendeu? Nem Ele aguentou!

– Mas não era brasileiro?

-Se naturalizou argentino, ontem.

-Então é mesmo o fim.

– O País acabou.

(chega uma mensagem de texto paga: – O País nem começou. PS- Podem me acordar se surgirem novidades. PS2- Por via das dúvidas, o novo passaporte é provisório)

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/o-ultimo-whats/

 

Tags: blog conto de noticia, Estado democrático, Estado policial, help, inteligência artificial, juízes e o juizo, mensagem na garrafa, milagre, o país acabou?, o último whats, socorro

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Códigos da paz (blog Estadão)

22 domingo nov 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa

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antonio Houaiss, blog estdão Rosenbaum, códigos da paz, Chomsky, conto de notícia, corrupção dos alfabetos, Hamas e Hezbollah, Isis, linguagem e terror, multisectarismo, Pulsão de morte, Stephan Zweig, terrorismo, Umberto Eco

Códigos de paz

Paulo Rosenbaum

20 novembro 2015 | 21:08

O que fazer quando se enfrenta um inimigo que rejeita a paz, porque sabe o que ela significa? Segundo Antonio Houaiss em seu “Sugestões para uma política da língua” de 1960, das 3.000 línguas que se falavam no planeta (sem contabilizar os dialetos), 2.800 estavam em crise de existência. No buffer literário estão representadas apenas quarenta destas línguas, e, somente pouco mais de vinte faladas por mais de dez milhões de indivíduos. Entre os complexos conscientes e inconscientes dos homens que regulam a busca pela deposição das armas ou a disposição bellatrix, estão os significados das palavras com suas cargas inatas. Então, como nos entenderemos?

A paz é um ardil, álibi para moderar impulsos, um alimento que ninguém aceitou. O grande significado da paz, ainda ignoto, não pode ser compartilhado. Não é silencio, concórdia, tranquilidade, ou “ai dos vencidos”. O que a paz não traz, as bombas suprem. Para formar tréguas é preciso coexistir senão na língua, na linguagem. O multiculturalismo, que deveria significar distensão e convívio, transformou-se em multisectarismo. Depois de quase oito décadas distantes do fim da segunda guerra mundial, de Paris a Nairobi, de Beirute a Jerusalém, testemunhamos a corrupção dos alfabetos. Vale dizer, uma degeneração dos códigos. Numa corrosão que alcança a cultura, as redes eletrônicas multiplicaram dialetos e tribos. Os países estão inertes e imersos em seus próprios interesses. Os Estados já estão perguntando para seus habitantes: liberdade ou segurança? Muitas democracias, reféns do populismo (mesmo aquele involuntário pois, ao fim e ao cabo, o que vale é voto na urna) estão ficando paralisadas por contradições cada mais complexas.

O gesso que agora imobiliza o continente europeu tem características especiais. O sonho da união vai se configurando pesadelo, pois é preciso bem mais do que liberdade alfandegária e de circulação para fundir princípios, como sugeriu Stephan Zweig em seu texto “Da unidade espiritual da Europa”. Há uma análise mais ousada do que a superficialidade das teorias conspiratórias de Chomsky: o terror pode estar sendo legitimado sob a manipulação política do medo. Os especialistas afirmam ainda que as comunas terroristas ocuparam o lugar de administrações ausentes — sob um modo operacional similar aos morros cariocas e outros bolsões de violência. Numa aparente contradição, enquanto jihadistas queimam infiéis e massacram civis, crianças ou adultos, ao mesmo tempo  subsidiam  tratamentos médicos caros para pessoas doentes e funcionam sob os auspícios das lideranças tribais, que, em troca, lhes dão sustentação moral e  esconderijo em suas casas e lugares públicos em caso de chuva de mísseis. Os grupos terroristas do Daesch ao Hezbollah, do Hamas ao Boko Haram, suprem lacunas do poder. Além disso, analogamente aos vendedores eletrônicos de fé, oferecem uma saída remunerada à transcendência. O ocidente prefere não constatar um outro gap psicológico óbvio: a crise de sentido das sociedades materialistas. A esquerda, por sua vez , desconsidera a “fome de significado” para atribuir toda responsabilidade à marginalização socioeconômica. O apelo pop dos terroristas é evidente. O falecido playboy belga jihadista, em sua Toyota top de linha, já avisava, sorrindo, que enquanto os outros fazem frete com mercadorias, eles arrastam infiéis. Não, não há nada de islâmico em trucidar para purificar. Mas chega ao limite da psicose a negação com que os líderes mundiais tentam ocultar o caráter jihadista que vem inspirando massacres. Incluindo modalidades “produção independente”, como o esfaqueamento de judeus em Israel e a epidemia de franco atiradores pelo mundo. Quando Umberto Eco teve a coragem de nomear o Isis como o “novo nazismo” uma parcela de progressistas pulou das cadeiras para acusar o escritor de parcialismo e reacionário.

As democracias vem quebrando suas regras e princípios para obter, em troca, alguma governabilidade. Foi assim que o crime organizado se avizinhou do terrorismo para, enfim, aglutinarem-se num tandem bélico.  É óbvio que o Ocidente, mesmo ameaçado, não corre o risco que os escatologistas apregoam. Ainda que tempos obscuros estejam de volta, melhor aceita-los do que nega-los. Velhos inimigos precisam superar diferenças e voltar a aceitar que, com um inimigo comum à espreita, a união será inevitável. Assim como assumir que existem inimigos públicos da humanidade e impor-lhes algum código de paz, de preferência, que contenha tolerância e liberdade. Ninguém saira sozinho dessa enrascada e nem mesmo há garantia de que um consenso provisório terá êxito. É sempre importante lembrar que a pulsão de morte que alimenta fanáticos costuma ter curso errático.

 

 

 

 

 

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/linguagem-e-codigos-de-paz/#

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Legalidade

16 quinta-feira jul 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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acordo nuclear com Irã, Aiatolás, Blog Estadão Rosenbaum, conto de notícia, CPI da Petrobrás, Jogo Perigoso, Legalidade

A legalidade

legitimidadeXXX

Quem ouviu  soube. O que se passou nos últimos dias é mais que simbólico. Aqui na CPI, Viena ou Atenas. A legalidade transformou-se numa embarcação que não pode mais ancorar. Isso durará mais do que o previsto. Enquanto as velas se distribuírem pelas marés, enquanto estivermos à deriva, enquanto a agitação exceder a orientação, enquanto a carta náutica modular a dissipação, enquanto a tormenta for maior do que os ventos, enquanto a vida ameaçar o consenso, enquanto a decisão de um, solapar o combinado com tantos outros. O compartilhado à muitas mãos. Blefe rima com esquece. Legalismo não pode ser  oratória, nem persuasão stricto senso. A legalidade se transformou num conjunto de regras. Ainda bem. Mas é igualmente impossível esquecer que há uma legalidade sem credibilidade. Se há excesso ou déficit, ambas fabricam distorções progressivas e insanáveis.  O que esta em questão na governança é bem mais do que o jogo perigoso num jogo de futebol. A falta costuma ser evidente. Já jogo perigoso é a intenção deletéria, cuja penalidade é feita com cobrança livre indireta. O legalismo não pode disfarçar nem a falta grave, nem o jogo perigoso. Ou tergiversar não é uma outra forma de obstruir a justiça?

A legalidade é contra o senso comum. Não pode emergir da criatividade, da engenhosidade, do desejo de fazer justiça a qualquer preço.

O Estadista não pode achar, nem por um minuto, que seus êxitos se devem à retórica. Todo triunfo de um líder, deveria ser, por natureza, essencialmente coletivo e não populista. Ou com tudo pelo qual estamos passando alguém ainda acha que deveríamos preferir quem argumenta melhor aquele que emana confiança? Acordos podem ser costurados na base da verificação, mas confiar continua sendo  essencial. Se ainda estiver por aí, a história será o juiz no caso do acordo nuclear. Mas não importam esforços diplomáticos de adiamento, ou a misericordiosa paciência dos aitolás: há jurisprudência histórica suficiente para demonstrar que acordos mal traçados são muito mais nocivos que um status quo incerto, mas que preserve a vigilância e o alerta do mundo.

Aqui ou na Europa, extremas, direita e esquerda, abjuram posturas de centro. Preferem convicções à dúvida. Fieis aos pressupostos, devotos da ideologia, escolheram não pensar para se alinhar. Se as motivações são claras, as consequências, imprevisíveis. A imposição de qualquer revolução é um novo status quo, o qual os extremos partilham intencional ou involuntariamente. Quanto pior, mais generalizado, mais embaralhado, mais fácil manipular.

Fica claro que existe mais de uma forma de romper com a ordem regimental ou readequá-la. Melar operação e ajeitar a votação são sinônimos. Consequências diretas das rupturas anteriores, onde o culto à personalidade sempre vale mais do que as Instituições. Entrar para a história é mais cobiçável que promover justiça. Quem vibra com exceções são os mesmos que as abjuram. São tentativas de sacrificar o diálogo pela imposição adocicada de opiniões e gentilezas. A acusação de seletividade vale para qualquer lado, apenas que o objeto selecionado continua valendo. Não pode ser apagado por quem, à contra ordem, quer anular um pelo outro. Doa a quem doer, não era esse o slogan?

Séculos foram necessários para que que conquistássemos o estado laico e mais uma eternidade para que a academia não fosse apenas uma plateia de doutrinados acríticos. Conquistas que, lentamente, definham no esteio do desprezo pelas culturas e tradições. Um fordismo afoito tomou conta dos procedimentos políticos e uma animação suspensa vigora no mundo. Nessa, uma linha de montagem onde todos carimbam automaticamente, contra ou a favor.

Ninguém confunde política com partidarismo numa terra onde todos deslizam juntos. Porém, para infortúnio de muitos, a figura chamada “escala” subsiste. Há um “quanto” para qualquer sociedade e essa enormidade de malefícios acaba de chegar aos destinatários; só o remetente ainda não se deu conta que já foi.

Tags: acordo nuclear, aitolás, Blog Estadão Rosenbaum, conto de notícia, CPI da Petrobrás, jogo perigoso e falta, legalidade, legalismo, tergiversar e obstrução à justiça

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Tabu, ou, o politicamente correto (Blog Estadão)

09 quinta-feira jul 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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antiamericanismo, austeridade, boicote contra Israel, consensos, conto de notícia, crise grega, hegemonia e monopólio do poder, politicamente correto definição, tabu, tabu ou o politicamente correto

irrelevante

O politicamente correto pode conservar o nome, mas talvez não seja político, nem correto. Pouquíssimo dialógico, produz mais dissonâncias que aproximações. De obras de Monteiro Lobato banidas ou censuradas nas escolas por supostos trechos racistas até a cartilha subsidiada pelo MEC com erros crassos propositais para não criar “constrangimento” em quem têm dificuldades no uso da língua, o politicamente correto se transformou numa bandeira com um simbolismo inquietante.

Chegamos a um mais do que improvável paradoxo: o senso comum não tem muito mais para oferecer, enquanto uma enorme quantidade de percepções e pensamentos precisam ser coibidos em nome de uma espécie de consenso que é apenas uma suposição apriorística, um tabu.

Foi a recente frase do Nobel de medicina sobre as peculiaridades de trabalhar com mulheres em laboratórios que gerou outro quinhão histérico de litigantes. Mas, o curioso, é que não se trata de extrema suscetibilidade, mas, antes, de um ilícito subjetivo cometido contra um glossário fixo e predeterminado. A intolerância de gênero, se é que aquele Dr. realmente externou algo assim, não é só dele. As redes fervilharam com ataques, às vezes contra uma opinião insossa e irrelevante. Quando há algum mérito no que foi pronunciado o que valeria a pena discutir é a opinião, não se ela está ou não na lista de frases que podemos aceitar no concílio imaginário que demarca a fronteira entre correto e incorreto. Neste sentido, é a hipocrisia pactuada e um maniqueísmo primitivo, disfarçado de debate democrático, quem comanda o cenário. O mesmo se deu até pouquíssimo tempo quando se discutia se algum governante poderia sofrer impeachment, deveria renunciar ou se novas eleições mereceriam ser convocadas. Por sinal, o que importa se o ex-apresentador conhece ou desconhece o cantor morto?

A onda é ampla e infame, sobretudo preconceituosa. Exemplo recente está naqueles que recentemente aderiram à campanha de ex roqueiro do Pink Floyd, que, pretendendo isolar Israel, fez uso seletivo e arbitrário do conceito de discriminação étnica. É só mais uma amostra de pactos baseados em insuficiências e inconsistências. A velocidade das transmissões e retransmissões na web, confronta a reflexão. Acusações de superfície, vazamentos e insinuações caluniosas operam o mesmo estrago que fatos ou evidencias significativas. E assim, a sociedade vai caminhando com construção de estereótipos nocivos, contando com ampla e impressionante aceitação, impulsionada através das replicações acríticas nas redes sociais e na mídia. Ao largo da aceitação das diferenças, a onda de tabu endossa o racismo com destaque para o especialista: o partisã de boatos. Subordinar ideias à difamação ou reduzir alguém a nada em algumas horas, por uma frase, uma entrevista ou um pulso no Twitter, mostram a velocidade e denotam a pobreza cultural contemporânea.

São exatamente os mesmos que julgam terem construído consensos aqueles que mais se mostram violentos quando alguém trata de explicitar quão diferentes somos. Eis o supremo paradoxo: na linguagem politicamente correta as diferenças estão proibidas, e é a sua explicitação que dispara sinais eletrônicos que acionam o bullying tolerado. A luta de classes migrou, por caminhos inusitados, para um estranhamento mútuo das peculiaridades, de pessoas, grupos, nichos e raças. E a desinibição propagada através de perfis falsos, anonimato ou a certeza de impunidade, produzem legiões de franco atiradores digitais. Recrutar terroristas, convocar gente para qualquer tipo de ação nas ruas ou simplesmente entrar atacar e sair, tornou-se uma vulgarização pop. Às vezes, bem remunerada. Até a Grécia, em sua luta anti austeridade entrou na frequência. Uma coalizão de articulistas pelo mundo tentou mostrar como a luta grega é justa (politicamente correto) contra terríveis agentes capitalistas selvagens (politicamente incorretos), quando qualquer aluno mediano do segundo semestre da graduação de um curso de economia poderia nos contar algo mais interessante. Nas políticas de Estado não existem mocinhos, tampouco algozes. Neste sentido, o que o politicamente correto faz é sequestrar a discussão por um punhado de convicções anacrônicas e sustentadas pela manipulação eleitoral.

O ambicioso conceito de cidadania, amplamente evocado mas efetivamente inexistente no mundo prático, exige cimento mais consistente do que campanhas motivacionais, academias ideologicamente comprometidas ou governos com aspirações totalitárias. Exige, bem ao contrario do politicamente correto, um exame escrupuloso dos conteúdos da linguagem e suas mensagens: superar a imobilidade dos tabus.

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/tabu-ou-o-politicamente-correto/

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87% (blog Estadão)

02 quinta-feira jul 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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conto de notícia, Pt e Psdb, redução da maioridade penal

Não recomendo. Foi torturante, mas tive que ver. A votação de ontem terminou de madrugada. Hoje a tortura mental, impassível, prossegue na TV Câmara. O problema central ainda é a manipulação montada na linguagem. Trata-se de um técnica que se expandiu pela nação. Independentemente da análise do resultado, pois anteontem o ministro não interferiu na votação da redução da maioridade, insinuando que a votação abarrotaria presídios já abarrotados?. O representante do psol não vaticinou lá pelas 23:17 que se o “estado não protege, não pode punir”? E o outro não complementou com “sou solidário com as vítimas, tanto quanto às vitimas que cometeram estes crimes”? E, enfim, mais alguma voz da base: “lembrem-se, nem sempre o povo sabe escolher o que é justo”, involuntária alusão à famosa frase de Pelé durante a ditadura de que o “povo não está preparado para votar”. O que se nota é que a discussão que se arrasta desde 1993 não é só anacrônica e inoportuna, ela é, no fundo, recheada pela disputa entre dois partidos.

Sob o calor do clamor dos 87% a favor da redução da maioridade e sob a sombra dos míseros 9% de aprovação da presidente, a discussão — que acusava o tempo todo o senso comum como mau conselheiro em matérias legislativas — não passou exatamente de exposição de sensos comuns e chavões revestidos de estatísticas contraditórias. Chamava a atenção a pobreza absoluta do debate argumental, que se limitava a “se aqui estivéssemos”, “se a educação prevalecesse”, se “o governo fosse outro”. A inoperância nostálgica induziu uma paralisia crônica. Aparando os figurinos, a dicotomia entre PT e PSDB parece ter determinado ao parlamento a aniquilação de requisitos básicos para formular leis, tais como racionalidade e estudo.

Ainda assim, o partido do poder têm sido o grande responsável pela obstrução de tudo que se refere à modernização dos costumes. Durante décadas obstruiu a atualização do ECA, suprimiu o orçamento da segurança pública, relegou a educação à undécima prioridade. O partido, que sempre se perdeu no timing, paga pela inércia, e, sobretudo, pelo oportunismo. Quanto às “manobras” prova apenas uma fração do veneno que semeou. Agora, em pleno incêndio, resolveu dialogar e se mostra artificialmente indignado sob o lema cabotino “por que tanto ódio?”. Ódio é uma coisa, desejo furioso por justiça é outra.

Percebe-se que o parlamento não está de fato interessado nos temas que afligem os jovens, nem em esmiuçar as raízes da guerra civil ou examinar formas de controle da violência. A impressão que dá é que os dogmas, sob desfile de cláusulas pétreas, tenham que ser repetidos à exaustão para que eles mesmos se convençam de que sabem sobre o que estão falando. No final, consegui formular um voto heterodoxo: a favor do aumento da maioridade mental, mas só para cinismos hediondos.

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/87/

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Por uma vírgula (blog Estadão)

24 quarta-feira jun 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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a pele é nossa, conto de notícia, controle da mídia, frases inesquecíveis, por uma vírgula, totalitarismo

virgula

Aby Warburg escreveu que Deus está nos detalhes. De fato, exemplos históricos demonstram como uma simples vírgula pode mudar o mundo.

A presidente acabou de dizer, em referencia às críticas tecidas na sede do Instituto :

“Todo mundo pode criticar, ainda mais Lula” .

Na teoria conspiratória da decomposição de textos podemos ficar com uma interessante coleção de interpretações em meio à implosão sintática:

Todo mundo pode criticar ainda mais Lula.

Neste caso, extirpada a vírgula, a presidente estaria devolvendo a deselegância sofrida e liberando partidários e a militância arrependida para criticar seu mentor.

Ainda mais Lula!

Aqui, para além da vírgula. Estaríamos diante da invocação subliminar de que se tudo der certo e a esquiva continuar boa, podemos aguardar, para 2018, por mais um ciclo fresco de promessas longas, procrastinação, falta de rumo e muita, mas muita conversa fiada.

Todo mundo pode criticar.

Neste caso, seria uma espécie de refluxo da tentação autoritária do velho projeto de “controle da mídia” e, de quebra uma cutucada em seu mentor, lembrando, com ternura, o episódio de quase expulsão daquele jornalista, um norte americano, (só podia ser)  que ousou falar poucas e boas do ex presidente.

Mas no hall do museu das frases épicas da sala batizada como “Nunca antes” não se pode deixar de analisar a frase do ex presidente que ecoou naquele mesmo dia. A frase é, como de praxe, notoriamente banal. Mereceu entretanto uma placa que agora figura no panteão de entrada da impressionante sede. O motivo de tal reverencia é o mesmo que mitificou tantas personalidades: disfarçada de simplória, simulacro de desabafo, a máxima foi tomada como surto de clarividência política:

 “Nós temos de definir se queremos salvar nossa pele e nossos cargos ou se queremos salvar nosso projeto”

     Pela manhã, a placa deste sincero monumento de reavaliação de princípios amanheceu pichada:

 Cargos e projetos, amigo, já deu, a pele é nossa. 

Nota do Editor- Por razões gráficas, a posição das vírgulas desta pichação pode ser livremente modificada.

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/por-uma-virgula/

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O Curador (blog Estadão)

12 sexta-feira jun 2015

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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aparelhamento da literatura, aparelho curador, concursos literários 2015, conto de notícia, feira literária 2015, o curador, perfídia

O Curador

Paulo Rosenbaum

11 junho 2015 | 12:07

retrogradoUU

–Sente-se!

–Obrigado, falamos de pé mesmo. Um aspecto chamou muito nossa atenção em seu parecer. Na justificativa para  a decisão, o que significa ter aparecido numa só linha: “retrógrado”?

–O oposto da evolução, retrocesso, regressão, marcha à ré? Ficou claro?

–Conciso ele é. Queremos saber como elaborou veredito tão embasado.

–Vocês estão conscientes que é irrevogável, não? Cá entre nós: o que ele fala me incomoda. não incomoda vocês?

– Queremos ouvir exemplos.

–Nossa opinião política, por exemplo, é oposta a dele. Este autor escreve naquele outro jornal, e ele seleciona os assuntos sobre os quais escreve.

– E a Senhora não? Com quais obras dele está familiarizada?

– Queridos. Adotamos outro critério. Ler, ler, isso é coisa do passado. Não é mais necessário. A palavra chave hoje é “quem”. Só precisamos ver onde você escreve, os temas e quem compartilha, e dali já sacamos todo perfil.

–Teu parecer foi dado sem análise?

– Haja! Acabei de explicitar a nova metodologia!

– Estamos nos referindo à análise de conteúdo. Lembra do último concurso de literatura?

–Combinamos não tocar nesse assunto.

– Estamos escolhendo ou vetando sem examinar o conteúdo?

– Chame de faro literário, intuição clínica. Bato o olho, e, de cara, já vejo se é alguém que faz sentido ou vai me atrapalhar a feira.

– Atrapalhar? Mas não era uma mesa com debate? Pluralidade de ideias? Abertura ao contraditório?

– Amor, isso aqui não é o Supremo. Quero nomes consagrados, que garanta público, precisamos de mídia e consistência.

–Consistência e unanimidade?

–É gente que está do lado certo da história, pessoas do partido, pessoal que converge

– Convergir lembrou aqueles coros que recitavam monólogos

– Além disso, ouvi falar que ele é conservador.

–Só porque gosta de pickles?

(Risos)

–Hilário. Vão querer encrenca? Também sei engrossar. É ele ou eu. Faço curadoria dinâmica, aquela que bem entendo, estamos conversados?

–Perfeitamente. Critérios claros, princípios equânimes e plena exposição dos conflitos de interesse.

– Vocês podem se retirar, e tenham todos um bom dia. O último apague a luz, por gentileza,

A Comissão sai e chega a enxaqueca violenta. De dentro do silêncio pulsátil e obscuro exclama: “vou aparelhar mesmo, bando de moralistas, udenistas de ocasião”. “Deixa estar. Aproveito o Congresso de hoje a tarde para denunciar essa perseguição”.

Tags: aparelhando, concursos literários, curadoria, feiras literárias, o aparelho curador, o curador

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