• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

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Jacques Lacan: Joyce era louco? (Blog Estadão)

13 segunda-feira ago 2018

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa

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Brasa, Criatividade, Fluxo de consciência, Joyce era louco?, judaísmo, Lacan, linguagem, Palestra Literatura Rio de Janeiro, PUC RJ

 

James Joyce – Página Inicial de “Finnegans Wake” (1a edição 1939)

Encontro do BRASA (XIV – Congresso Internacional da Associação de Estudos Brasileiros no tema “Textualidades Judaicas na Literatura Brasileira – O Ofício do Escritor) Evento que foi realizado na PUC-RJ de 26 a 29 de julho de 2018. A organização ficou ao encargo das Professoras Lyslei Nascimento, Nancy Rosenchan e Regina Igel. Na mesa de depoimentos de escritores brasileiros da qual fiz parte, também participaram Leila Danziger, Ronaldo Wrobel. Luis Krausz, Fábio Weintraub e Lucius de Mello. A reflexão sobre o Shoah (Holocausto), o aculturamento, a assimilação, o processo criativo e o papel da memória nos vários autores analisados foram os temas centrais desta e das demais mesas. Agradecimento especial a Professora Berta Waldmann. Aqui transcrevo a terceira e última parte do conteúdo relacionado à minha participação como uma contribuição para que o diálogo seja ampliado e prossiga vivo.

Comentários e compartilhamentos serão muito bem-vindos.

Jacques Lacan: Joyce era louco?

O anti senso comum

Escrever também pressupõe o abandono das auto-evidencias. Isso é, romper com as expectativas emprestadas do senso comum. Tchekhov pregava como técnica para o conto deixar pontas abertas, pistas sem seguimento, indícios soltos sem perspectivas conclusivas. Isso significa mudar sistematicamente a perspectiva com o qual se constrói, por exemplo, a narrativa jornalística. Kundera em seu “Arte do Romance” explica “…a razão cartesiana corroía um após outro os valores herdados da Idade Média. Mas, no momento da vitória parcial da razão é o irracional puro (a força querendo apenas o seu querer) que se apossará do cenário do mundo, porque não haverá mais nenhum sistema de valores comumente admitido que possa lhes fazer obstáculo”

É neste vácuo e só neste nada hegemônico hiato que o criativo pode trazer uma contribuição inesperada.

Usar padrões de sua força criativa e imaginária (distintas, como veremos a seguir) é instrumentalizar recursos como a ansiedade e a angustia em uma direção. Se a literatura é um arte correlata da sublimação? Possivelmente sim. O texto é a garantia de que estamos atentos aos sinais do mundo, seus signos e significados, mas não submissos a ele. Essa distinção é vital para que o autor não se torna – ou seja reduzido – a ser um porta voz dos panfletos políticos de sua época.

O engajamento atual, que beira o ridículo, é um sinal de alerta para a literatura e suas jaulas ideológicas. Por mais que as pessoas que compõem a intelligentsia do momento desejem, elas não podem enquadrar toda oposição em categorias taxonômicas, geralmente desqualificadoras. Exemplo disso é a acima aludida hiper ideologização das ideias, a execração das tradições religiosas e até mesmo de qualquer tradição, o culto ao cotidiano como único tema digno de figurar na literatura. Isso exemplifica de certa forma a leva de autores que por mais oficinas literárias que façam e por mais apadrinhamentos políticos que tenham não conseguem produzir nada além de um conjunto de textos datados.

O Personagem

Apesar das críticas à ingenuidade dessa hipótese, sim, eles podem não ter vida autonomica, mas eis que os personagens exigem uma vida quase emancipada do autor, e isso está além de uma impressão vaga, trata-se de uma constatação empírica. Significa que o apartamento da literatura dela mesma exige que os escritores abandonem seus domicílios fixos e passem a migrar como ramblers. Neste sentido faria bem a todo personagem encarnar fragmentos do mito do “judeu errante”.

A força de um romance atual põe em evidencia portanto duas máximas: a história que corre paralela ao real, isso é a história que a história nunca pode registrar, pois é aquela que faz parte da chave inconsciente das micro histórias subjetivas individuais (e relacionais). Para esta não é suficiente fazer amplas varreduras enciclopédicas. A outra máxima, mas não menos importante, é a assunção de que os personagens – para adquirir uma existência fora do texto – precisam, de algum modo aniquilar/neutralizar as idiossincrasias do autor. Isso significa que há uma luta entre as características com o qual o autor tentar modelar seus personagens e a existência autodeterminada do personagem – que paradoxalmente não é externa – a qual exige uma vida independente, e de uma autoria única.

Despertar o senso de intriga é, necessariamente, atrair o leitor para uma armadilha benévola. Nem sempre o arrebatador é belo.  Sua raíz etimológica vem de arrepitare, roubar, resgatar, tomar à força. Ofertar a isca até o lugar mais apropriado para alcançar o destinatário final. Tomar de assalto o leitor. Isso pode – e frequentemente é – confundido com fazer concessões. Agradar o leitor, valha-me, é visto com desdém. Para além do valor estético da concessão, existem de fato aquelas lavras que rebaixam o nível do escritor ao invés de oferecer alguma ascese.

Insano Joyce

É sempre perturbadora a pergunta de Jacques Lacan: afinal “Joyce era louco?”

A depender de qual área psicológica se apropriasse da pergunta ela seria afirmativa. Mas, num sentido distinto daquele que o senso comum e a psiquiatria atribuem à loucura. Joyce emulava a loucura para escrever. Empresta sua pena à demanda errática (mas com rigoroso controle do timing) aos seus inquilinos provisórios. A transitória esquizofrenia auto-induzida de um escritor é a única razão para justificar sua liberdade. E, também, sua única motivação para a migração da energia psíquica à capacidade criativa, isto é, sua volição redirecionada à imaginação.

Usar padrões de sua força imaginária é também instrumentalizar recursos como a ansiedade e a angustia em uma direção. Seria a literatura uma arte correlata da sublimação? Para alguns possivelmente. O texto de ficção seria uma garantia de que estamos atentos aos sinais do mundo, seus signos e significados, mas não necessariamente submissos a ele. Essa distinção é vital para que o autor não seja reduzido a um porta voz dos panfletos políticos de sua época.

Exemplo claro disso é a execração das tradições religiosas, dos elementos místicos (que impregnam indiscriminadamente o dia a dia tanto do crente quanto do agnóstico), e até mesmo de qualquer tradição lato sensu. Eis que o culto ao cotidiano e dos problemas sociais tornaram-se os únicos temas dignos de figurar na literatura. Entretanto, só a hesitação produz conflito. E só a curiosidade intrusiva é capaz de construir a densidade que estrutura os enredos ficcionais. Tudo depende dela, mas não só dela, para tornar o romance um símbolo das ações do homem.

Um oficio que nesta já esgotada pós modernidade pede, implora, urge: o restabelecimento de sentidos, de preferencia, novíssimos.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/

 

 

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O discreto heroísmo dos independentes

04 quinta-feira out 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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andy warhol, Chavez, Clarin, Correa, Escuta Zé ninguém, heróis opressores, imprensa independente, imprensa subsidiada pelo estado, Kirchner, libertadores, libertadores românticos, linguagem, Monopólio de comunicação, silencio dos intelectuais, tempo real das redes, Wilhelm Reich

O discreto heroísmo dos independentes

O advento da democracia deveria ser uma festa onde escolheríamos aqueles destinados a ser frações das nossas vontades e desejos. Será?

O psicanalista Wilhelm Reich (1896-1957), mais um discípulo dissidente de Sigmund, escreveu “Escuta Zé Ninguém” um livro épico. Com uma linguagem accessível, o livro é uma aterrorizante seqüência de constatações sobre a realidade humana. Ele demonstra, com a sutileza de um guerreiro ensanguentado, que não temos jeito. A tendência política da maioria é escolher articulados heróis opressores que, em geral, se contrapõem aos autênticos libertadores românticos. Tomem o panorama eleitoral por testemunha e digam se o que foi grafado prescreveu!

A raiz da crise de autoridade e representação da contemporaneidade tem a ver com a percepção deste psicanalista. E o mundo eletrônico veio para embolar ainda mais o meio campo, já que o perfil dos heróis mudou radicalmente. O mito sempre se construiu na batuta do tempo, e eis uma escala que se modificou completamente. Com o alucinante tempo real das redes, os quinze minutos de fama de Andy Warhol se transformaram num pesadelo para as celebridades políticas. Foram todos condenados aos holofotes diuturnos. O púlpito caiu, junto com os palácios. O escancaramento da privacidade colocou todos, príncipes e pedestres, nús, e no mesmo recinto.

Na nuvem poluída de informação, trocas aleatórias das fontes, as imagens saltaram das telas para nos dominar. A intensidade é tão violenta e rápida que não seria surpresa que os pesquisadores do futuro constatassem epidemia de surtos psicóticos e distúrbios de comportamento induzidos pela simultaneidade de estímulos. Devidamente catalogada pelo Código Internacional de Doenças, a psicose midiática veio para ficar, e será instrumentalizada como o amado argumento dos regimes totalitários: o controle é saudável e a liberdade, nociva.

Mortos os heróis, o que hoje conta é o imediatismo com que conseguem se manter no alto da onda. Esqueçam trajetória, coerência e história pessoal e coloquem imagens fotogênicas, discurso padrão e capacidade de esquiva. Estão aí apresentadas as linhas gerais da nova moeda eleitoral.

Já que o executivo da Google foi em cana e o Jornal “O Estado De São Paulo” ainda encontra-se sob censura, vale levantar mais cedo para acompanhar os próximos capítulos da novela, que, desta vez, se passarão do lado de fora da rede Globo.

O governo argentino acaba de alavancar um pacote de leis contra o grupo editorial Clarin visando coibir aquilo que tem sido chamado de “monopólio de comunicação”. Vários analistas, intelectuais e toda oposição daquele Pais vem alertando para o significado inquietante do uso seletivo da justiça, com finalidade de controlar, se possível emudecer, as vozes criticas dos repórteres e articulistas que ali se manifestam.

Quando se conhece os detalhes da operação, enxerga-se que se trata de algo que supera muito o escândalo. O que está acontecendo com o vizinho do sul tem um nome bem menos charmoso: atentado contra a liberdade de expressão. Um governo popular e eleito tem direito de suprimir as liberdades civis? No entender do neopopismo da américa latina, sim! Não só o direito como um dever maior os chama.

Cabe ressaltar as dessemelhanças evidentes entre nós e los hermanos gringos, para além do futebol e qualidade do churrasco. Na Argentina os intelectuais andam, em sua maioria, escandalizados com o arrocho à liberdade. Ao modo deles gritam e esperneiam como podem.

Lá, há resistência crescente.

No caso brasileiro, o oposto. A exceção de cientistas sociais histriônicos coligados ao poder federal, insistindo na ridícula tese de golpe das elites, a maioria dos nossos intelectuais preferiu se omitir. Já passou da hora de encher as páginas apontando a Brasília atual como seguidora silenciosa do exemplo neo-peronista da dinastia Kirchner, inspirada por companheiros como Correa, Chavez e Evo.

A obsessão pelo controle da mídia é o primeiro mandamento, e mesmo a razão de ser, dos regimes autoritários, já que ela é o único e último respiro que sobrou à sociedade civil para denunciar abusos do poder. Para a sociedade, uma vez rebocado o oxigênio, resta submissão ou morte sob o dreno da imprensa subsidiada – e muito bem paga.

No fundo a raiz de tudo isso já estava lá, descrita por Reich. A mente autoritária “sabe melhor o que é bom para o povo” já que “nunca se fez tanto na história deste país”. Que se aplauda a diminuição das diferenças sociais com a mesma intensidade com que deveríamos vaiar as tentações totalitárias que governo e associados demonstram ter.

Pode ser que não haja imprensa completamente independente em lugar nenhum, mas se tem que haver um novo mito ele estará espalhado no discreto heroísmo das pessoas independentes. Elas é que sempre fizeram toda a diferença.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade lançada ao Solo”(Ed. Record)

Paulorosenbaum.wordpress.com

para fazre comentários acessar o link do JB
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/10/04/o-discreto-heroismo-dos-independentes/

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