• Uma entrevista sobre Verdades e Solos
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
  • A inconcebível Jerusalém (Estadão)
  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico-Writer and physician

Paulo Rosenbaum

Arquivos de Categoria: Imprensa

Da Resistência do Gueto De Varsóvia

29 sexta-feira abr 2022

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Na Mídia

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Da Resistência do Gueto à Marcha da Vida

Paulo Rosenbaum

23 de abril de 2017 | 17h24

“Da Resistência do Gueto à Marcha da Vida”

Hoje, 19 de abril de 1943, consegui chegar até a rua de Mila, entrar e sair do bunker. A New Olimpik parecia estar vazia. Acabaram de decretar o esvaziamento do Gueto. Naquele momento já sabíamos o conteúdo do decreto e da ordem executiva: “extermínio completo”. Dos 450 mil iniciais restavam 35.000 pessoas. Mas, nas últimas horas, reinava uma estranha paz, nenhum soldado. Nenhum blindado. Apenas as ruínas de sempre, ofuscadas por uma ou outra rajada de fuzil e morteiros, ou, gritos fracos de fome e pedidos inúteis de ajuda. Sabia que a vingança estava à espreita. O comandante não aceitava e ficou incrédulo com a ideia de que um grupelho de miseráveis, famintos e sem recursos ousasse uma insurgência. Resistimos mais dias do que Paris e o exército polonês. Foram 27 contando hoje. Sorri sozinho pensando na cara de espanto da SS e o impacto da notícia em Berlim. Sentei apoiado no beco, entre as duas esquinas, e, pela primeira vez desde que começamos a resistir, deitei a pistola no chão. Resistir para que? Para que o massacre promova suas festas logo adiante? Foi quando o vi o pelotão nazista com um cordão de condenados. No meio da fila lá estava ele. Pequeno, com a boina quase caída. Com as mãos para cima olhava buscando algum tipo de pedagogia, sem imaginar que nenhum adulto poderia lhe oferecer resposta alguma. Neste caso garoto, respondi mentalmente, “existem mais perguntas do que respostas”.

Mentalizei algumas de suas perguntas “Como isso pode acontecer?” “É daqueles sonhos que sentimos alegria ao acordar?”

Eu me espremi contra o muro para não ser visto, esperando uma chance para uma última intervenção. Deveria agir? Preservar minha vida ou ser o herói que ninguém lembraria? As dúvidas diminuem muito quando você sabe que está condenado. Apenas aguardaria o embarque na estação daquelas pessoas e morreria levando um punhado de alemães comigo. Foi uma explosão que interrompeu minhas dúvidas. Acordei numa vala fora de Varsóvia e sobrevivi com a ajuda da resistência polonesa. Foi a última vez que vi aquele garoto de não mais do que 12 anos. Hoje, 74 anos depois, eu, como um dos poucos sobreviventes do evento que foi conhecido como “Levante do Gueto de Varsóvia” fui convidado a visitar o campo de concentração de Auschwitz. Sempre recusei vir, hoje não. Tinha preparado um discurso, mas, na hora, recitei uma poesia achada enfiada às pressas na parede de uma das casas do Gueto, presente de um amigo da resistência polonesa.

Com a tinta azul quase apagada em uma folha amarela, estava escrita em polonês e dizia o seguinte

“Varsóvia, 19 de abril de 1943

podemos sentir,

mesmo que nenhuma folha

voe, e passe para além destes portões.

a árvore central viverá,

pois não está suspensa

formou raízes nos asfaltos,

nas pedras e nas cidades

nas cabeças do mundo

nós voaremos como vento, ar, fumaça,

e iremos ter com o Alto

com a certeza de que mesmo

que silenciem diante de todas as perguntas

e mesmo no pó que tentaram nos transformar

a resposta, solene, será permanecer

eu ri,

e se me perguntassem por que

diria que eles nem imaginam nosso segredo,

a árvore da vida é mais teimosa

do que os campos da morte”

Hoje, neste dia no qual homenageamos as vítimas do holocausto venho aqui dar meu depoimento como um dos últimos sobreviventes vivos do holocausto. Quero convocar jovens de todo mundo, de todas as etnias, raças e religiões a visitar este lugar. Recentemente uma estudante de direito, que identificarei apenas como “MCM” que participou de uma visita à Auschwitz me enviou a seguinte mensagem emocionante, foi ela que me convenceu aceitar este convite:

“Tive a oportunidade de visitar Auschwitz quando tinha 16 anos. Fui a Auschwitz, fazendo parte de uma iniciativa de um grupo chamado Holocaust Educational Trust, que da a alguns jovens de toda a Inglaterra a oportunidade de fazer essa visita. O princípio do Holocaust Educational Trust, com o que eu concordo plenamente, é que ver não é como escutar; é mais. Durante a visita fomos ao Auschwitz I, e ao Auschwitz II. Primeiro, visitamos ao Auschwitz I, que é o campo original, e o menor dos dois, construído para prisioneiros políticos que é formado de 22 prédios  nos quais, hoje, pode se ver roupas; malas; brinquedos e cabelos cortados das vítimas. Depois fomos ao Auschwitz II, o maior campo de extermínio onde morreram mais de um milhão de pessoas em menos de 5 anos. Conhecer os fatos antes de ir já era inacreditável e horrível mas nunca eu achei que ia ver, sentir e entrar em contato com um evento histórico que me afetaria tanto como nessa visita. O impacto que essa visita teve sobre mim foi extraordinário. Primeiro porque foi educativo; me ensinou detalhes e me vez aprender de uma maneira que livros não ensinam. Segundo, e o que eu dou mais valor, foi que essa visita teve um impacto existencial e emocional.  Teve uma foto especificamente de duas meninas de não mais de 10/11 anos de idade; irmãs talvez. As duas me lembraram de mim e da minha irmã. Até hoje quando lembro disso, e mesmo escrevendo isso, lágrimas enchem os meus olhos porque não somos tão diferentes daqueles que morreram nos campos de concentração. A vida que aquelas pessoas viveram é algo que eu não consigo imaginar e uma realidade que depois da visita virou uma das mais difíceis de lembrar e uma importante experiência de vida. Hoje eu sou uma advogada, qualificada na Inglaterra. Devido às várias experiências da minha vida, incluindo essa visita a Auschwitz, uma das minhas metas profissionalmente e pessoalmente é ter certeza de que o que aconteceu em 1940 nos campos de concentração de Auschwitz nunca aconteça de novo. Eu sei que não é tão fácil assim mas eu acredito que abrir os olhos e não só saber os fatos mas entender o que a vida era para aqueles que sofreram e morreram ensina algo que livros não conseguem ensinar. Abrem os olhos aos pequenos atos que podemos fazer e ao que podemos prestar atenção para que isso não aconteça de novo. Mas não quer dizer que todos que foram comigo foram afetados da mesma maneira ou tem as mesmas metas que esta experiência inspirou em mim, mas mesmo assim tenho certeza que são pessoas que não veem o que aconteceu  entre 1940 e 1945 como um fato histórico apenas, mas sim como uma parte de todos nós como seres humanos ; algo que não só afeta aos que morreram mas aos que estão vivos hoje. O que aconteceu nos ensina e abre os nossos olhos para a nossa realidade de aqui e agora.”

Este depoimento da jovem adolescente brasileira resume muito a relevância deste tipo de iniciativa. Quem participa da “Marcha da Vida” adquire ao menos uma experiência: no final da caminhada temos a certeza de que juntos precisamos prestigiar este monumento à prevenção de “Amanhãs de erros antigos”.  A “Marcha da Vida” — um contraponto à Marcha da Morte promovida pelos nazistas — não é só um símbolo ativo do slogan “Nunca mais”, ela é a afirmação de que a vida pode ser sustentada mesmo contra todas as evidencias da razão. Não se enganem, o lugar é sinistro, é um sítio histórico e, ao mesmo tempo, um dos mais vergonhosos e dolorosos para a humanidade, Um campo de concentração não pode nos ajudar a dar qualquer resposta à perplexidade — por exemplo daquele garoto nunca identificado cuja face me assombra até hoje — apenas nos coloca bem ao lado dele para tentar acordar do sono que nos envenenou. Esta é a única homenagem possível à memória das vítimas do holocausto nazista.

No mundo todo escolas judaicas e não judaicas organizam anualmente viagens de estudantes para visitar este lugar. O “Holocaust Educational Trust” estimula e aceita qualquer pessoa que queira colaborar neste trabalho com doações ou trabalho voluntário. A ideia é que aqui no Brasil nasça uma iniciativa similar. Só há um objetivo geral:  estimular a tolerância e o convívio pacífico entre os povos. Fica a sugestão para aqueles que desejam colaborar subsidiando visitas de adolescentes ou adultos para esta viagem. Se há um objetivo específico? Sim, e só pode ser descoberto por cada um.

Tudo o que sabemos sobre:

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Language Mutation II – The Obsolescence of Deterrence ( Blog Estadão)

14 quinta-feira abr 2022

Posted by Paulo Rosenbaum in Imprensa

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Language Mutation II – The Obsolescence of Deterrence

My ancestors always feared revolutionary and counter-revolutionary events, in both events the Jews were blamed for the disruptive policies of the rulers’ incompetence and immodesty. And it always worked. As is well known, Nazism and Communism shared, in this respect, the same convictions, while one referred to the “final solution”, the other called it the “Jewish problem”. What the current war has uncovered is the false notion of stability. And reactivated hibernated ghosts through initiative magic. That is, the decision to act to do the unthinkable.

Russian troops broke every conceivable line in promoting the invasion of Ukraine. Under the myth of a daring leader and patriotic heroism, the president of the Russian Federation has reopened the surprise box of history which, in fact, was never closed. The illusion of control that the West imagined it possessed was suddenly dismantled, and as with every threat, the neurosis brought about a more stoic than effective response. On the other hand, the army spokesperson that, together with British and American allies, freed Europe from Adolf, proved to be a legitimate heir of the anecdotal Stalin-Ribentropp non-aggression pact that strung German National Socialism with Soviet socialism. While he continues to announce that one of the objectives is the denazification of a country whose president is a former Jewish comedian who responded to the multiple offers of exile by saying: “I don’t need a ride, I need ammunition”. By the way, the shirt with the iconic phrase is on sale on Amazon for $18.

My hypothesis differs from most analysts. There was never any Putin’s “miscalculation” or “gross underestimation of the inevitable reprisals” since the decision of the armed forces’ chief chief was never based on “calculations” but on a will to power guided by a fanatical nostalgia for an empire that was pulverized by its own vicissitudes. The idea was to intensify the latent conflict. Bring it into effect. Reassemble a new iron curtain this time lined with enriched uranium. Fight the final battle. Accusing the “decadent western enemy” of having done its thing does not ease the hellish advance on millions of civilian victims. The alleged threats that motivated the invasion are justificationist alibis. Alibis that have been carrying the mythomaniac thread of the post-Soviet regime. They are never without rationalizations whose support can be geopolitical or simply ideological. And it is these justifications that today lead them with a certain naturalness to the savagery in Bucha, the two ballistic missiles that exploded on civilians at the Kramatorsk train station, and who knows how many other indiscriminate, lethal, large-scale military campaigns.

The megalomaniac’s game with vast power is similar to that of a blackmailer. When you have warheads on invisible submarines, blackmail takes on eschatological dimensions. For this very reason they are subjects, or groups of people, who are totally refractory to the dissuasive argument. Perhaps, immune to any argument. The deterrent agenda may or may not work for people who have a clear demarcation line in the danger of individual or collective extinction. But what about conceptions based on distorted understandings?

Are tyrants — elected by popular vote or not — susceptible to the abstract idea that by resorting to the techniques of indiscriminate murder, they will be subject to proportional retaliation? Herbert Marcuse in his celebrated “Ideology of Industrial Society” wrote that nuclear weapons could paradoxically bring freedom from the healthy fear of mutual extermination. Well, Marcuse was wrong. He did not foresee that a delusional, petty, and above all autocratic caste of rulers could always come to power again. Always under unheard of elections, and, in some cases, without the risk of competition since in many regimes the polls are curious and/or the opposition is nothing more than a puppet of the situation. For them, it will never be possible to understand the refined and subjective concept of deterrence.

No, it’s not just the head of the Russian federation that suffers from these ailments, but several politicians of various hues. Therefore, it is incomprehensible the parsimony and indulgence with war crimes of those who identify the current Kremlin board with sympathy for having a “conservative” (sic) hue that would be fighting “against progressive forces” (sic) represented, for example, by the European Union. . Which also presents moral dilemmas. In Germany, in the event that Russian gas and oil are renounced, GDP will fall by 6% and recession will be inevitable in 2023. In other words, is it better to maintain the flow of the gas pipeline than to interrupt the Russian war machine? It is a very difficult calculation, but the result would be evident if compassion and intelligence were above economic reasons. So neither one nor the other. The origin of the revisionist Wladimir’s dreams, in his own words, is “to restore the grandeur of the Soviet empire” and his ambitions are “noble” in this war whose mission is to “liberate the Ukrainian people”. There is no bluff. In his moral system this makes perfect sense, which is why what he represents is so dangerous.

Former world chess champion, exiled Russian dissident Garry Kasparov said that, in fact, it will be necessary to denazify Europe: starting with the Russian leaders. The heartbreaking fact is that Nazism and its various strands that should have been buried in unmarked ditches along with their founders usually re-emerge, sometimes as an idea, word or ideology.

In addition to the mutation of language, the meanings of words remain in a trance. A trance that places us before an unprecedented rupture.

It won’t just be a reissue of Babel, it could be a long way from wasteland.

For a change, history could play a favorable trick on us.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/mutacao-da-linguagem-ii-a-obsolescencia-do-conceito-de-dissuasao/

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Navalhas Pendentes (portal da Glorinha Cohen)

Destacado

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa

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PRÉ-LANÇAMENTO DE “NAVALHAS PENDENTES”, O NOVO ROMANCE DE PAULO ROSENBAUM

Postado em 18 de setembro de 2021 Por admin FIQUE POR DENTRO, ROTATIVAS

“O romance Navalhas pendentes, de Paulo Rosenbaum, é, sobretudo, uma armadilha que, entre citações, ironias e referências intertextuais, arma e desarma a leitura. A trama põe em perspectiva a sanidade do narrador e a linearidade da história. Complô, ilusão e farsa fazem do enredo um labirinto e fazem multiplicar realidades instáveis ou fantasias existenciais de um protagonista que, aparentemente, não merece muita credibilidade. Desde o início, o leitor sabe que está pisando em solo movediço, afinal, amnésia é uma das palavras-chave que, intermitentes, funcionam como faróis precários no nevoeiro. O narrador, Homero Arp Montefiore, tal qual o seu homônimo grego, faz precipitar as certezas por um vórtice e, se Goya tinha razão e o sono/sonho da razão produz monstros, tanto um quanto o outro assombram o personagem com lâminas que se inscrevem na narrativa, como signos denunciadores. Sobre o herói e os crimes imputados ou cometidos por ele, pesam navalhas, facas, canivetes e outros fios mais sutis. Daí serem sempre pendentes tanto as ameaças e quanto as certezas. Nesse sentido, quando o personagem, revisor de textos e aprendiz de escritor, se corta com o gume de uma folha de papel, aguçam as lembranças do leitor estudos em vermelho, fisiologias da composição, punições para a inocência e mortes ao pé da letra. Uma gota de sangue sobre o papel não é rastro fácil de seguir. O narrador parece viver em um pesadelo, como nos enredos de Kafka, engendrado por um escritor que cria labirintos com inúmeras entradas e algumas saídas, todas inacessíveis. O leitor, como uma espécie de detetive que segue indícios, pistas e enigmas, por sua vez, se enovela numa história de crimes, facas e segredos.” – Lyslei Nascimento

“A Editora Filamentos faz parte do maior conglomerado
editorial do mundo. Desde que
foi absorvida pela gigante emergente KGF-
-Forster©️, viu suas vendas de livros dispararem.
Um de seus colaboradores, Homero Arp
Montefiore, ficou intrigado com a indústria de
best-sellers da editora, especialmente aqueles
assinados por um misterioso escritor chamado
Karel F. A curiosidade sobre a verdadeira
identidade desse autor tornou-se uma obsessão,
levando-o a uma investigação particular
sobre a vida do enigmático romancista. As
perturbadoras descobertas reveladas por
essa investigação tornaram-se cada vez mais
perigosas e, após determinado ponto, colocaram
sua vida em risco extremo. Acusado de
crimes que talvez não tenha cometido, ele se
torna um fugitivo empenhado em tentar provar
sua provável inocência. Se alguma chance
houver de isso acontecer, será descobrir a real
identidade de Karel F. e expor a conspiração
que subjaz a sua literatura.”

Berta Waldman

O autor, Paulo Rosenbaum, nasceu em São Paulo em 1959. É médico e escritor. Possui Mestrado em Medicina Preventiva, Doutorado em Ciências e Pós-doutorado em Medicina Preventiva pela USP, com mais de uma dezena de livros publicados na área. Escreve, regularmente, para o jornal Estado de São Paulo, no blog “Conto de notícia”. Roteirista e produtor de documentários, atuou como editor de revistas científicas no campo da saúde. É pesquisador na área de clínica médica, semiologia clínica, relação médico-paciente, prevenção e promoção da saúde e pesquisa de medicamentos. Além de ensaísta, é poeta, contista e romancista. Antes de Navalhas pendentes, publicou os romances: A verdade lançada ao solo (Record, 2010) e Céu subterrâneo (Perspectiva, 2016).

Para adquirir este livro em pré-lançamento a R$ 59,90, acesse: https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/navalhas-pendentes/embed/#?secret=J7MeWeBVAE

https://glorinhacohen.com.br/?p=58467

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O papelão antissemita do NYT (Estadão)

01 quarta-feira maio 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Na Mídia

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A charge antissemita publicada ontem pelo jornal norte New York Times é um divisor de águas em vários sentidos. Não somente pelo mau gosto, prerrogativa de escolhas estéticas equivocadas, mas pela provocação, o espírito que adora espalhar impensáveis malidiscências. Aprovado pela editoria, a insinuação grotesca retrata um dos vícios mais recorrentes que é universalizar a imagem do judeu como cão submisso à um presidente cego usando solidéu. Uma imagem que oscila entre a velhacaria e a manipulação.

Sim, o NYT já fez a autocritica. Sim, vieram os indevidos — pois trata-se da velha e indesculpável repetição dos dicurso de ódio travestido de coisa espirituosa progressista — pedidos de desculpas, mas depois da editoria ter aprovado a “charge” e a divulgado macicamente em mais de 100 países. Vale dizer, o perdão é tardio quando o gênio mefistotélico já deixou a garrafa. E ainda é possível ler comentários pouco iluministas classificando o recuo como obra do “lobbie judaico”, versão de antanho da orquestração de domínio do mundo. Pseudo argumento eclético usado conforme convém pela esquerda e pela direita.

O antitrumpismo e a mídia que o representa, numa espécie de associação à revelia com a extrema direita e a extrema esquerda (não muito distinto do que acontece entre nós) associa-se sem pudor à perseguição e à generalização para demonizar Israel e os judeus.

É de fato muito perturbador observar como tornou-se facil e confortável naturalizar a intolerância seletiva. Quando promovem-se campanhas desqualificadoras atacacando a associação entre minorias mais impunenemente criticáveis e os governos que acordaram e passaram a denunciar o clarísismo viés antissionista e portanto predominantemente antijudaico das mídias.

Pois sim, existem aquelas “minorias” como por exemplo o jihadismo islâmico que seguem quase intocáveis pelo estranho medo de incorrer na igualmente erronea generalizacão islamofóbica. Apenas imaginem a repercussão — e os desdobramentos de violência — se  chargistas e editores  escolhessem outros personagens para representar.

Como recentemente afirmou o filósofo judeu francês Alain Finkielkraut a propósito da perseguição sistemática que tem sofrido por parte da extrema esquerda:

“O engajamento vampiriza o jornalista”

E é muito mais do que isso, retira o sangue da informação decente. Trata-se de uma anemia covarde e que merece diuturna denuncia. Quem vai dando voz à cizania tem que assumir a responsabilidade: será condenado a recolher os cacos. Por sua vez, dentro de todo democrata ressentido há um sabotador. São aqueles que, por princípio. não aceitam o resultado de eleições livres a não ser que a vitória de seus preferidos esteja assegurada. Como os gregos não previram tudo, será necessário repensar e transformar a própria democracia.

Só haverá uma resposta à altura deste ato ignominioso como o que promoveu desta feita o NYT. O antes promotor de causas humanistas e intransigente defensor dos valores como justiça e equidade precisará descer da sua supremacia ideológica e da sempre infundada soberba intelectual para reaprender que a função jornalistica é nobre demais para “costurar” versões hostis para desqualificar oponentes. Muito menos promulga-las como se estivesse no escopo da ética e da decência defender causas corretas contra povos, governos ou instituições que lhes desagradem.

Algumas publicações nacionais e espanholas poderiam também pegar carona na reciclagem. Recentemente surgiu o curso “Dessensibilização catártica para jornalistas ressentidos: o segredo de como voltar a fazer um jornalismo não instrumental”. O curso começa em duas semanas e é semi presencial.

Obs- Ainda não há turma formada.

O papelão de almanaque do NYT

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Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)

14 domingo abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, céu subterrâneo, Imprensa, Livros publicados, Na Mídia

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Amós Oz

Escritor de deserto

(Do livro “Céu Subterrâneo” onde usei trechos da minha entrevista com Amós Oz realizada em Israel em 2013)

Para Amós Oz

…eu já tinha entrevistado algumas pessoas e, na noite anterior, graças à persistência em cima de sua agente literária em Londres, Amos Oz conversaria comigo por telefone, de sua casa no deserto, Arat, sul de Israel.

Se pudesse confessar, confirmaria que tinha a ingênua sensação de que se minha inteligência fosse reconhecida por algum notável, minha reputação na nova carreira estaria, se não garantida, pelo menos bem encaminhada. Originalmente planejei uma abordagem enfocando a militância política de Oz, mas um acordo prévio me inibiu e só conversariam sobre literatura.

Eu estava muito apreensivo, já que o telefone em Arad não atendia. Tentei novamente buscando novo código de área.

O telefone toca.

– Sim –, atende a voz grave de Amos.

Eu não sabia o quanto poderia avançar, mas me convenci de que estava fazendo seu trabalho.

Identifiquei-me e já fui perguntando diretamente, sem rodeios:

– Qual seu conselho para um escritor?

– Sim. Um, muito simples e breve: só escreva sobre aquilo que você conheça muito bem.

Foi então que repeti a sentença e Amos calou como se dando um desfecho abrupto.

Reagi:

– O que é conhecimento?

– É a imaginação.

– Conhecemos pela imaginação?

– Não sei, não sou mais filósofo. Mas a criatividade foi o que nos restou como instrumento de sondagem… não há mais nada.

– O que se pretende com a literatura, vale dizer, devemos pretender?

– Você diz, além de uma terapêutica involuntária? – Amos riu sem espontaneidade para prosseguir de mau humor provavelmente por ter achado a pergunta previsível:

– Não há finalidade, nada a ser aprendido ou ensinado. Apenas um sujeito doando suas impressões. Isso, doação de impressões. Meu compromisso não é esse, mas acho que até acabamos ajudando pessoas! O mundo precisa mais de literatura do que os escritores. Aliás, ninguém precisa dos escritores.

– Há uns anos você provocou seus leitores dizendo que precisávamos convidar a morte para sentar e conversar. Em qual contexto disse isso?

– Não era provocação! Devemos convidá-la para fazer as perguntas que faríamos a ela depois. Oz pigarreia para concluir.

– Depois?

– Quando já é tarde demais e já não poderemos ter o prazer de perguntar. Por que não antecipá-las e fazê-las enquanto ainda estamos aqui vivos?

– Quais perguntas?

– Mister Mondale, sei que o compreenderá, estou no meio de um texto desafiador. Como escritor, o senhor sabe do que falo.

“Poeta, não escritor.”

Assim terminou a entrevista.

______________________________________________________________

O que aprendi com Oz?

Que tudo é contagem regresssiva, e só o que importa é a exiguidade do tempo diante da uma gigantesca e interminável tarefa, a de contar histórias.

Até a pergunta chave para a morte merece ser suspensa quando se trata de usar a imaginação. E escrever.

Grato Amós.

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A teia e o enredo (Estadão)

13 sábado abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Na Mídia

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A teia e o enredo

A teia e o enredo

Paulo Rosenbaum

27 março 2016 | 10:27

“Nem sei mais se são os tempos ou os contra tempos. Sei que pago o preço, o preço do meu bem estar ter se fixado na contra mão de outros com excessivo poder. Processo histórico, preâmbulo revolucionário, estado estável insuportável? Estamos todos num só barco imaginando como e quando o mar nos dividirá. Mas, e se nos descobríssemos embarcações mais fortes daquelas à deriva? E se a constituição não fosse apenas um joguete hermenêutico nas bocas da corte? Não posso culpar ninguém. Minha decisão era só minha e atingiu um estado incontornável.  Mas há ou houve algum suporte coletivo que poderia ter evitado esse desfecho trágico? Até isso ficou para trás. Neste confinamento que já dura meses (nessa escuridão perdi a noção do tempo) essas são as últimas palavras de um juízo que, não tarda, será extinto, infelizmente pela violência, não da maioria que exigia ser emancipada, mas por força da truculência, da chantagem, do medo e das armas. Se alguém puder ter acesso a isso adiante afirmo que  não esmoreço, não esmorecerei. Se vou ser silenciado que seja diante deste protesto, cujo deslacre pertence ao futuro. Admito ter extrapolado limites em alguns momentos mas  ainda” (O bilhete termina abruptamente)

Esse bilhete manuscrito foi achado há apenas seis meses, enterrado na cela secreta número 13. Encontrado numa província ao Sul do Lago, deve ter sido escrito alguns dias antes da acusação de alta traição. Sua datação exata é imprecisa por conta dos incêndios que se seguiram aquilo que hoje conhecemos como o Verdadeiro Golpe. Na época, ainda era tática usada para confundir a opinião pública. Era prática comum daquela agremiação acusar de golpe as forças constitucionalistas, para, então aplicar sua própria modalidade de exceção. As forças da Usul e os blindados assumiram posições em vários estados da federação. Isso foi um pouco antes da caminhada dos 50 milhões, oficialmente a maior concentração pacifica de civis já registrada no planeta. No dia 08 de julho as tropas nacionais, em desavença, se viram frente a frente, contra e a favor do governo, já declarado ilegítimo por praticamente todas as instituições. A operação “Iludir-Frust” desencadeada pelo poder prestes a cair, foi marcada pelo silenciamento da mídia, suspensão dos direitos civis, e toque de recolher em cidades com mais de 100 mil habitantes. Ninguém respeitou. A ameaça de uma conflagração civil fratricida tornava-se eminente. No dia 09 de julho a ordem transmitida em castelhano e ouvida pelos dois lados para “bombardear las fuerzas contra-revolucionarias” deram o alerta e foram também desrespeitadas. Foi somente no dia 10 daquele mesmo julho, com o avanço de tanques e colunas de infantaria vinda das fronteiras do oeste e de cima que o exército de Trasio foi reunificado, e  ainda que salva de tiros e escaramuças tenham sido reportadas em várias localidades, assim como esporádicos choques entre civis, nenhuma gota de sangue foi derramada. Numa estranha e rápida reviravolta, menos de 36 horas a tropa, reunificada e a agressão externa foi rechaçada, e os invasores foram presos e escoltados para além dos limites da cordilheira.

Surpreende que tudo isso tenha chegado a este ponto e tenha acontecido numa escala e volume de desvios inimagináveis. Desde o fim da guerra fria não se testemunhava um Estado dominado por cúpula tão habilidosa na arte de deslegitimar a democracia. Tudo isso aconteceu um pouco antes dos anos 20. Trasio havia sido controlada por uma espécie de poder paralelo que instaurou políticas fiscais autodestrutivas. Praticamente todas as instituições precisaram ajoelhar-se diante do alcance e poder do Estado que prosperava sem oferecer praticamente nenhuma emancipação real — de renda ou autonomia — para seus súditos. Entretanto, como negócio privado dentro do Estado fora um plano considerado bem próximo da perfeição. Sem os acasos e imponderáveis que desfiaram a teia e o enredo, estima-se que talvez tivesse durado mais 50 anos.

Nesta primeira aula de História da Administração do século XXI, disciplina oferecida por esta Universidade em português e inglês, nosso objetivo não é o julgamento do passado, apenas oferecer elementos para interpretar o que realmente aconteceu em Trasio nos últimos 30 anos.

Sob um consenso nunca antes registrado na história contemporânea das nações, a caminhada teve inicio e apoio maciço. O governo, que já comemorava a vitória soube da reunificação das tropas e do avanço da FRP. O Poder foi sendo sitiado pelas multidões organizadas pela FRP (Forças da Resistência Pacifica) que fluíram de todas as regiões até a cidade de Ilia. Cercada, a cúpula tentou então destruir os documentos da “pasta L”, as mais graves evidências documentais, a essência do material incriminador. Em meio a situação ainda ouvia coros desestimulando a renuncia. Em seguida, a chefe, pessoalmente, tentou transporte junto às companhias de helicópteros. O objetivo de curtíssimo prazo era deixar o Altiplano para buscar exílio no País do meio, mas mesmo as embaixadas consideradas amigas foram instruídas a acionar suas secretarias eletrônicas. Como ninguém mais os atendesse, recorreram às milícias acampadas nos arredores do palácio quando se descobriu que as barracas já haviam sido abandonadas. Já que os motoristas e serviçais também haviam sumido, recorreram às bicicletas. Com disfarces improvisados chegaram até a Esplanada de Ilia, mas foram alcançados por populares antes de chegar ao aeroporto onde haviam combinado sequestrar um Boeing 727. Presos pelos civis foram entregues às tropas e seguiram diretamente para a província do Sul. Quando lá chegaram, com garantias de amplo direito de defesa, foram julgados e condenados por crimes contra a humanidade. A ex chefe saiu sob liberdade condicional em 2030 e alguns anos depois ainda tentou, em vão, se eleger vereadora de uma cidade pequena no extremo sul.O tal bilhete, perdido por quase 20 anos, e recém resgatado, ficou sob poder do novo Tribunal. Desde as reformas dos anos 30 que corrigiram quase todas as distorções ideológicas — do ensino à política —  foram inseridas importantes novas cláusulas para evitar a repetição de uma hegemonia quase perfeita que se instalou na distante República de Trasio. Radicais e populistas de direita e de esquerda foram varridos pelas urnas. Na nova constituição, itens pétreos foram instaladas como salvaguardas estritas contra qualquer tentativa de poder hegemônico. As instituições judiciárias agora poderiam se manter incólumes às pressões, e, protegidas de qualquer ativismo. Doravante, seriam eleitas a partir de listas elaboradas pelo próprio poder judiciário. O novíssimo congresso de Trasio também foi consequência direta daqueles dias turbulentos. Os empresários e suas mega corporações, então condenadas, tiveram que repatriar recursos e suas penas foram substituídas por serviços prestados ao Estado supervisionadas por comissões especiais eleitas pela sociedade. Com a reforma do sistema penal, prisões foram esvaziadas e a violência sofreu inédita diminuição. A infraestrutura que Trasio tem hoje, uma das mais eficientes do mundo, fora também um dividendo direto da ação dessa supervisão praticada por toda a sociedade. Com impostos diminutos, justos e descentralizados a sonegação passou a ser mínima. As disparidades sociais não apenas foram mitigadas como Trasio pulou à condição de 3a economia do mundo (e não a falsa sétima posição, alavancada por influencia do partido) com um planejamento original e completamente renovado.

O que eu acho? A renuncia poderia ter sido um último ato com alguma força e dignidade, e não de covardia. Imagino que vocês queiram saber o nome do autor do bilhete? Pois afirmo que hoje o nome não importa.  Depois de ser resgatado do cárcere de um porão na península próxima ao Lago Sudoeste, ele preferiu apartar-se da vida pública. Escolheu passar seus anos no convívio com a família ainda que seu nome continuasse por décadas na lista de prováveis candidatos à primeiro ministro. Nunca mais se ouviu falar do ex-chefe daquela República. Suspeita-se que, fugitivo, tenha conseguido deixar Trasio, e, sob uma plástica mal sucedida, mas suficientemente desfigurante, tenha vivido e morrido no anonimato numa distante província da Coreia do Norte.

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/a-teia-e-o-enredo/

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O que não vimos ? (Estadão)

13 sábado abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Na Mídia

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O que não vimosX

Não vimos barcos, nem velas

no horizonte, chão espesso,

nem piso, nem recomeço

Não vimos volta

 do exílio, iminente

as salvaguardas, fluídas

No isqueiro, imenso

Não vimos a censura,

de revista em revista

nos privar da leitura

Não vimos calçadas,

E, perdendo o átomo,

Miramos o concreto

a matéria, o minério

Não vimos tempestade, nem areia,

enquanto sonhos se revezavam,

as provas, robustas,

o tirano acuado

mas, no rito do impedimento

migramos de volta ao relento

Enxerguemos no tempo,

 dobra do espaço,

obliqua janela,

notável advento,

a indecifrável rota

que finda o tormento.

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O tão aspirado nunca mais. (Estadão)

13 sábado abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Na Mídia

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A Shoah, holocausto, Nunca mais

O tão aspirado “nunca mais”

Já que podemos evocar a memória de acordo com nosso desejo, preferimos dispensar as tragédias, a morte e a destruição. Segundo os biólogos evolucionistas trata-se de uma adaptação. Não suportaríamos ter que conviver com o amontoado de frustrações, negativas, impedimentos, injustiças, o mal feito, o espúrio, o inacabado, a imperfeição, o desprezo, as circunstâncias constrangedoras, os desvios, a insuficiência, as urdiduras da perfídia, o triunfo da malignidade. Mas, e se um pouco de dor, de luto e de sofrimento funcionasse como um antídoto para toda essa mania?  E se conseguissemos nos colocar, no sentido de transferencia absoluta, no lugar do outro? E se ficássemos entregues — que seja uma vez ao ano — à memória dos mal sucedidos, dos perdedores, dos sofredores, da silente agonia dos sem voz, dos invisíveis?

Apontar e erigir monumentos às vitimas do mal feito é uma forma de fixar o insuportável em nossa tendencia à negação.

Um regime político pode exterminar de muitas formas, a mais eficaz contudo — e a história prova a tese — é através do populismo e do culto à personalidade. Exemplo atual é o perfil daqueles que nos prometeram justiça, igualdade de oportunidades e bem estar e, em apenas 13 anos, nos entregaram o País falido. A deseleição ocorre quando há mais deméritos no oponente do que méritos no rival. Foi apenas um espasmo de legítima defesa em meio à inércia, à falta de articulação, à inexistencia de oposição, e hoje, perplexos, nem nos perguntamos mais o que pensar daqueles que persistiriam no erro. Hoje representados por quem torce e milita contra. Evidentemente, para além da habitual desonestidade intelectual, trata-se de histeria anti-republicana, sobretudo guiada pelo velho e cansativo ranço ideológico.

O dia H é o dia da memória das vítimas do holocausto, mas poderia ser expandido para outras vítimas, igualmente criminosas, como as pessoas incineradas na Boite Kiss, nos arrastados em Mariana, em Brumadinho, em Teresópolis, em Angra, nas demais encostas abandonadas do Brasil, nos viadutos que despencam, nas passarelas precárias, nos trilhões sepultados em obras inexistentes. E, também, de todos os extermínios pequenos, médios ou grandes. Aqueles que confiam no Estado todo protetor ainda não sabem que há, bem aqui entre nós uma loucura muito particular: ela impede a compreensão do valor da vida. Nesta insanidade obnubiladora movida à matéria e arrogância está o germe do terror.

Não é só do terrorista comum, estes inimigos da humanidade, que preferem que a causa preceda a sobrevivência e o bem estar. Mas também, e principalmente, o usurpador, aquele que amadurece no trono e não quer mais larga-lo, dos tiranos que se escondem sob slogans e verbetes de ocasião. Se há culpa? Sim acumulada. Sim retida nos decretos. De vários partidos e instituições. Nos alvarás. Nas leis. Exato, assim como as leis raciais de Nuremberg, as vezes o crime tem chancela oficial, é do Governo que passa a usurpar o Estado.

Na Alemanha nacional socialista também foi assim. As legiões que acreditam em correntes ideológicas acima do pensar, da direita à esquerda, ainda existem. Geralmente são aqueles que prometem resgatar nações e promovem genocídios. Contam com o descaso, acreditam na amnésia induzida. Apoiam-se no esquecimento e na prescrição. Sabem que a qualquer momento podem queimar livros, perseguir minorias, mas especialmente imaginam que o sufragio lhes da o direito de pulverizar a memória. Em suas agendas já está registrado: “as manchetes se calam em três semanas”.  Mal sabem que a memória contém um compartimento secreto. A “segunda mente” na definição de Charcot. E ela é surpreendente, capaz de desaguar seu manancial quando menos se espera.

Freud em seu polêmico livro “Moisés e o Monoteísmo” conta que o que mais o impressionou no povo judeu era uma espécie de persistência quase irracional diante das adversidades. Cita o famoso caso de um dos sábios talmúdicos. Enquanto o Templo de Jerusalém ardia em chamas incinerado pelo exército romano, e quase um milhão de vidas haviam sido ceifadas pela espada, foi ter com o temível governador geral da Judeia que sonhava exterminar os judeus e fundar Aelia Capitolina. Vários tentaram dissuadi-lo da empreitada que poderia lhe custar  a vida. Inúltil. Ele seguiu e foi para até o tirano pedir autorização para transferir seus estudos para um outro local. Ora, por que? Perguntava-se o intrigado médico. Seguir adiante. Alguns chamam de pragmatismo. Outros classificariam de estoicismo patológico. Porém, ao fim e ao cabo, poderia apenas simbolizar um apesar de tudo, apesar de todos, escolher-se vida.

Pois esse espírito afirma que a humanidade pode seguir até um lugar onde cada um poderá ter tempo para se estudar, para sempre.

Quiça assim, e só assim, o tão aspirado “nunca mais” superará o eterno retorno.

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Haverá outro código para a Medicina?(Estadão)

13 sábado abr 2019

Posted by Paulo Rosenbaum in Amazon, Artigos, Imprensa, Na Mídia, O outro código da Medicina (e book) homeopatia, Pesquisa médica

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medicina integrativa, Outro código da Medicina, Samuel Hahnemann

Haverá outro código para a Medicina ?*

10 de abril – data de nascimento de Samuel Hahnemann

O que é um código? Pode ser uma coleção metódica e sistemática de leis, uma coleção de regras sistemáticas de procedimento e conduta, ou um sistema de sinais secretos ou convencionais usados no comércio e na literatura. O título deste livro insinua que pode haver mais de uma compreensão para a medicina, pode haver mais de um código de procedimento e conduta para compreeender saúde e enfermidade. E um não exclue necessariamente o outro. Vários códigos podem conviver e ser simultâneamente usados, sem que um tenha supremacia sobre o outro.

O público que consome livros científicos conhece pouco de medicina preventiva e tem noções muito vagas sobre as medicinas integrativas.  O conceito popular é de que a prevenção não é solução e de que uma medicina menos invasiva como as técnicas das medicinas integrativas pairam aspectos polêmicos. A verdade é que a grande maioria deste público as conhecem apenas superficialmente. Poucos a conhecem como uma medicina que cuida de sujeitos. Outros, não têm a menor idéia de sua abrangente capacidade de atuação que vai dos doentes com patologias severas às pessoas com problemas clínicos sem diagnóstico definido. Enfim que a prevenção pode atuar no indefinível estado chamado de “mal estar”. Este “mal estar” (illness) indevidamente pouco valorizado, também é muito importante na medicina pois aparece muito antes de que a patologia (disease), a doença propriamente dita se organize e apareça na forma de sinais e sintomas. O que menos gente sabe ainda é que a homeopatia interfere em todas estas áreas levando em consideração também o estado de saúde.

E por que o grande público sabe tão pouco sobre ela ou a conhece de forma tão estereotipada?

A homeopatia por exemplo é uma medicina sobrevivente. As provas são sua longa permanência na adversidade e sua lenta, porém sustentada expansão. As referências são escassas em todo tipo de mídia, especialmente quanto aos seus aspectos efetivamente mais interessantes. A omissão crônica do verdadeiro alcance da homeopatia também explica e justifica sua baixa visibilidade.

A homeopatia pode ser definida como um sistema terapêutico de interferência médica baseada em similitude e observação clínica que usa a individualização dos sintomas como sua principal fonte de conhecimento. Trata-se de uma prática médica que ouve estórias, acolhe narrativas e interpreta biografias.Não é fortuito que estejam nascendo movimentos como “Medicina Baseada em Narrativas”, “Medicina sem Pressa”, “Medicina Baseada em Empatia”, “Hermenêutica Médica”

Em “Céu Subterrâneo”,  (romance publicado em 2016 pela editora Perspectiva) trago uma referencia da “História dos Animais” de Aristóteles. Numa determinada passagem ele escreve sobre a memória. Por um erro de interpretação conhecemos a famosa versão de que o homem seria racional em oposição aos animais que estariam descritos como irracionais. Para o filósofo no entanto, a verdadeira distinção seria outra, e está em outra passagem deste mesmo livro: o que nos diferencia dos outros animais não seria a possibilidade de raciocinar pois é evidente que os animais também o fazem. Para o pensador, a grande distinção estaria na capacidade humana para evocar a memória conforme sua vontade. E narra-la.

Cito isso para lembrar que Prof. Walter E. Maffei, importante pesquisador e neuropatologista brasileiro e um dos meus principais mestres. Maffei ilustrava uma de suas aulas na Faculdade de Medicina projetando imagens de gatos. Por que? Afirmava, com razão, que aqueles que tinham as predisposições alérgicas despertada por alguma idiossincrasia, poderiam apresenta-las apenas com a “lembrança” desta experiência. Não seria necessária a presença física de um gato, poderia bastar imaginar à exposição a algum alergeno que não estivesse presente para “excitar” instantaneamente um quadro alérgico. A lembrança de alguém que apresenta sensibilidade ao pelo deste animal poderia desencadear um início de manifestação alérgica. Esse exemplo evidencia pelos menos duas coisas, a incrível sensibilidade do psiquismo e o papel da memoria em nossa saúde.

Muitos aspectos permanecem misteriosos na clínica. Não é incomum que os pacientes desenvolvam estranhas e desconhecidas sensibilidades aos produtos farmaceuticos e alimentícios mais comuns. Ou sujeitos que sentem súbito mal estar quando terremotos estavam para ocorrer a milhares de quilometros dali. Sabemos que muitas pessoas tem perturbações cardio-circulatórias e respiratórias antes e durante os fenomenos climáticos. Existem vários relatos de pressentimentos e sintomas inexplicáveis que normalmente não seriam relevantes para uma aplicação da técnica de tratamento, mas extremamente importantes para compreensão da história clínica de alguns individuos.

Não se trata de um fenomeno religioso ou de uma mistificação. Temos que recordar que, para a genuína investigação científica sempre existirão mais perguntas do que respostas.

O homem não é mero contemplador, de seu habitat ou de seu sistema de tratamento médico. Como todo ser vivo pertence ao ecosistema. O tempo todo age sobre ele e ao mesmo tempo sofre múltiplas influências do meio no qual habita. A meteorobiologia, uma disciplina, nos ensina o poder das meiopragias sobre os seres. Quando aumentam as manchas solares ocorrem ciclos epidemicos de doenças na Terra, as influências climáticas, barométricas e da poluição atmosférica sobre os estados de saúde são clinicamente evidentes.

Também não é infrequente que médicos sejam pegos de surpresa com o que aprendem das experiencias pessoais dos pacientes, de suas sensibilidades e caracteristicas individuais. Estar atento a estes aspectos não se limita a quem pratica qualquer modalidade de terapeutica integrativa, mas a todos que se dedicam a tarefa de cuidar da saúde dos seres humanos e dos animais.

Costumamos dizer que não há mentira em clínica. O que um paciente sente não pode ser julgado no campo estrito da verdade ou da mentira. Para atestar se um sintoma é falso ou verdadeiro não basta fazer uma investigação clínica que confirme ou não a patologia. Todos os sintomas são, de uma forma ou de outra, verdadeiros, pois mesmo as fantasias, delírios e as interpretações fazem parte integrante dos problemas dos sujeitos enfermos.

Médicos, ou qualquer profissional das práticas de saúde precisam ser treinados para acolher o que cada pessoa percebe de anomalo ou estranho no funcionamento de seus órgãos e em sua própria vida. Tudo que o paciente informa deveria ser relevante para o medico cuidador, independentemente da correlação que este estabeleça com alguma enfermidade específica. Isso vale para o generalista e o especialista, para o clinico e o cirurgião.

No mundo todo cresce uma tendência cientifica: passa a ser cada vez mais importante individualizar as doenças. Como toda uma tradição médica vitalista pensava, includindo o próprio Samuel Hahnemann é preciso saber como cada doença impacta a saúde de cada pessoa, pois cada um tem uma forma particular de desenvolve-la e de voltar a ficar saudável. Esta diretriz, preocupação constante de muitos medicos vitalistas na história da medicina, pode fazer toda a diferença.

E não só nos resultados diretos, mas em todo processo de adoecimento, convalescença e recuperação. Como lidar com o desconforto? As vezes, um tratamento pode ser dolorido e provocar sofrimento. Para a pessoa enferma é muito importante a assistência, o suporte e a presença de quem cuida. Portanto um aspecto vital de qualquer tratamento é a qualidade do cuidado que o profissional dispensa ao enfermo.

Pode-se encontrar referencias bibliograficas sobre todas as reflexões e informações. Estas reflexões são fruto de décadas de observação e testemunhos da clínica médica nos últimos 30 anos. O presente texto que o leitor tem nas mãos, ou na tela, é uma condensação de um livro, hoje esgotado, que transformei em e-book sob o título “O outro código da medicina”.

As vezes as pessoas perguntam por que diante de sua eficácia e abrangência clinica — especialmente na atenção primária à saúde e na prevenção e tratamento das moléstias crônicas — como se explica que a homeopatia nunca tenha se universalizado como forma de atendimento? Há anos a Organização Mundial de Saúde recomenda as medicinas tradicionais. Uma publicação recente da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard[1] recomendou o uso de homeopatia nos sistemas de atenção primária à saúde. No Brasil, o SUS teve várias tentativas de ampliar o uso de práticas integrativas. Recentemente, a Suiça organizou uma consulta popular e a homeopatia finalmente entrou como opção terapeutica no sistema público de saúde. Sabe-se que ela já foi reintroduzida no curriculo de escolas de medicina nos EUA. Na Alemanha, além de popular, a homeopatia e as medicinas integrativas tem larga aceitação pelos medicos e também é usada por grande porcentagem de clínicos e especialistas como tratamento complementar. Entretanto o fato persiste: por que nunca conseguiram se universalizar como práticas médicas. Importante tentar responder por que.

São muitos fatores concorrendo simultâneamente. O primeiro e mais importante é a dificuldade para estabelecer núcleos de pesquisa que sejam financiados pelo Estado e independentes da pressão dos poderosos lobbies que comandam a indústria farmaceutica. Sem prover estes centros autonomos de pesquisa com recursos e capacidade política para determinar a prioridade das pesquisas todo avanço farmacotécnico em medicina fica sujeito à lógica dos dividendos das fábricas e sob o controle de oligopolios farmaco-industriais conforme sugeriu ainda no início do século XX o historiador da medicina Henri Sigerist. Não há nenhuma tese conspiratória ou anti-capitalista nesta observação, apenas elementar constatação de fatos. É importante reconhecer os muitos avanços das tecnologias médicas e o papel da indústria farmacêutica, ainda que isso não a transforme em um símbolo de benemerência. E é também justo que se pergunte: por que a indústria não investiria em um ramo tão promissor e potencialmente lucrativo como a de medicamentos homeopáticos que conta com centenas de milhões de consumidores?

Um dos problemas para os interesses mercantis na produção de medicamentos está no fato de que, por exemplo, as substâncias medicinais homeopáticas não têm patente, isso é, constituem um bem público. Trata-se portanto de um conjunto de medicamentos que foram incorporados ao patrimonio da humanidade, já que nenhuma indústria ou indivíduo detém os direitos de propriedade dessas substâncias. Isso significa que sobre estes fármacos não incidem royalties. Exatamente isso que você acaba de ler: nenhuma substância usada nos fármacos empregados na homeopatia possui domínio de patente. Isso explica seu relativo baixo custo. E também explica a quantidade desproporcional de ataques dirigidos contra ela e sua relativa incapacidade de responder a eles com pesquisas subsidiadas.

Evidentemente existem outras dificuldades: a natureza sectária de parte do establishment das medicinas integrativas. Numa compreensível atitude defensiva que emergiu contra as décadas de acusações de ineficácia das doses ultradiluídas, existe neste meio relutancia em fazer a autocrítica necessária para se antecipar e apontar suas próprias deficiências, lacunas e limites de atuação.

Existem praticantes que insistem numa lógica autosuficiente que clama para a medicina integrativa uma emancipação total das demais racionalidades. E também existem aqueles que aceitam abrir mão da teoria que organiza e confere alguma consistência teórica para o método. Porém para qualquer medicina de inspiração vitalista não se pode resumir os benefícios apenas ao “resultado clinico pontual”, e sim ao conunto de potenciais benefícios para a totalidade da pessoa enferma.

O dilema é compreensível: se por um lado ela se apresenta como uma outra lógica médica, por outro, ela precisa em parte assimilar-se à cultura científica corrente se quiser ser levada a sério. Isso significa que a medicina integrativa acaba falhando em se estabelecer, tanto na prática privada como no setor publico, pois não consegue nem evidenciar claramente sua performance clínica, nem se fazer entender pela linguagem contemporânea. Um impasse, que no caso específico da homeopatia, dura quase dois séculos.

O erro fundamental está numa certa recusa inconsciente destas correntes em aceitar que de uma forma ou de outra a única saída para que uma tese seja aceita nas sociedades contemporâneas é sua penetração na cultura através das pesquisas academicas e da discussão com a sociedade. Somente esse pertencimento à cultura garantiria a permanência de uma formulação sofisticada como é a proposta de uma terapeutica pautada no uso dos semelhantes.

Sofisticada, porque pretende, inclusive, retomar um assunto dos mais importantes, e, ao mesmo tempo uma das questões científicas mais negligenciadas da medicina: ainda são raras e escassas pesquisas sobre o como as pessoas se curam.

Notem que hoje já existem núcleos de pesquisa médica que discutem criticamente a validade dos protocolos padrões. O cálculo de risco para alguns procedimentos terapêuticos tem sofrido questionamentos. E uma boa parcela dos pesquisadores já leva cada vez mais a sério o fenomeno chamado superdiagnóstico[2].

As medicinas integrativas devem ser apresentadas não só como alternativas – com todas as suas conotações contra-culturais — mas como um processo que dialoga ao mesmo tempo com a ciências naturais como com as várias áreas das humanidades como a antropologia, filosofia e psicologia. Ao mesmo tempo, precisa ser mais enfática em sua proposta: estabelecer bases teóricas próprias para uma medicina do sujeito emancipada, por exemplo, das teorias psicanalíticas e das mistificações. Portanto, ela deveria ocupar o centro da discussão das ciências humanas com as ciências biológicas.

Temos tempo. Sejamos todos pacientes, a discussão está apenas começando.

[1]A Escola de Saúde Pública de Harvard e o Hospital Beth Israel, afiliado à Faculdade de Medicina de Harvard publicaram recentemente os resultados de um estudo conduzido por Michelle Dossett, MD, PhD e colaboradores incluindo o expert em placebo  Ted Kaptchuk, OMD onde concluem que os estudos conduzidos usando a homeopatia “sugerem potencial beneficio para a saúde publica como redução de uso desnecessário de antibioticoterapia, redução de custos para tratar de algumas doenças do trato respiratório melhora nas depressões relacionadas ao período do pós menopausa, melhora os resultados na saúde de indivíduos com moléstias crônicas e controle de doenças epidêmicas como por exemplo a epidemia de leptospirose em Cuba”

Homeopathy Use by US Adults: Results of a National Survey. Dossett ML, Davis RB, Kaptchuk TJ, Yeh GY. Homeopathy Use by US Adults: Results of a National Survey. Am J Public Health. 2016 Apr; 106(4):743-5.

*O outro Código da Medicina (e-book kindle)

[2] Overdiagnosed – cuja tradução poderia se aproximar de “superdiagnósticado”. Caracteriza-se em valorizar excessivamente os exames subsidiarios e atribuir importância exagerada aos disturbios clínicos que talvez não mercessem tratamento, pois seriam patologias inofensivas ou “amigáveis”. O custo orgânico e psiquico de determinados procedimentos terapêuticos são simplesmente elevados demais para os pacientes.

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Jacques Lacan: Joyce era louco? (Blog Estadão)

13 segunda-feira ago 2018

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa

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Brasa, Criatividade, Fluxo de consciência, Joyce era louco?, judaísmo, Lacan, linguagem, Palestra Literatura Rio de Janeiro, PUC RJ

 

James Joyce – Página Inicial de “Finnegans Wake” (1a edição 1939)

Encontro do BRASA (XIV – Congresso Internacional da Associação de Estudos Brasileiros no tema “Textualidades Judaicas na Literatura Brasileira – O Ofício do Escritor) Evento que foi realizado na PUC-RJ de 26 a 29 de julho de 2018. A organização ficou ao encargo das Professoras Lyslei Nascimento, Nancy Rosenchan e Regina Igel. Na mesa de depoimentos de escritores brasileiros da qual fiz parte, também participaram Leila Danziger, Ronaldo Wrobel. Luis Krausz, Fábio Weintraub e Lucius de Mello. A reflexão sobre o Shoah (Holocausto), o aculturamento, a assimilação, o processo criativo e o papel da memória nos vários autores analisados foram os temas centrais desta e das demais mesas. Agradecimento especial a Professora Berta Waldmann. Aqui transcrevo a terceira e última parte do conteúdo relacionado à minha participação como uma contribuição para que o diálogo seja ampliado e prossiga vivo.

Comentários e compartilhamentos serão muito bem-vindos.

Jacques Lacan: Joyce era louco?

O anti senso comum

Escrever também pressupõe o abandono das auto-evidencias. Isso é, romper com as expectativas emprestadas do senso comum. Tchekhov pregava como técnica para o conto deixar pontas abertas, pistas sem seguimento, indícios soltos sem perspectivas conclusivas. Isso significa mudar sistematicamente a perspectiva com o qual se constrói, por exemplo, a narrativa jornalística. Kundera em seu “Arte do Romance” explica “…a razão cartesiana corroía um após outro os valores herdados da Idade Média. Mas, no momento da vitória parcial da razão é o irracional puro (a força querendo apenas o seu querer) que se apossará do cenário do mundo, porque não haverá mais nenhum sistema de valores comumente admitido que possa lhes fazer obstáculo”

É neste vácuo e só neste nada hegemônico hiato que o criativo pode trazer uma contribuição inesperada.

Usar padrões de sua força criativa e imaginária (distintas, como veremos a seguir) é instrumentalizar recursos como a ansiedade e a angustia em uma direção. Se a literatura é um arte correlata da sublimação? Possivelmente sim. O texto é a garantia de que estamos atentos aos sinais do mundo, seus signos e significados, mas não submissos a ele. Essa distinção é vital para que o autor não se torna – ou seja reduzido – a ser um porta voz dos panfletos políticos de sua época.

O engajamento atual, que beira o ridículo, é um sinal de alerta para a literatura e suas jaulas ideológicas. Por mais que as pessoas que compõem a intelligentsia do momento desejem, elas não podem enquadrar toda oposição em categorias taxonômicas, geralmente desqualificadoras. Exemplo disso é a acima aludida hiper ideologização das ideias, a execração das tradições religiosas e até mesmo de qualquer tradição, o culto ao cotidiano como único tema digno de figurar na literatura. Isso exemplifica de certa forma a leva de autores que por mais oficinas literárias que façam e por mais apadrinhamentos políticos que tenham não conseguem produzir nada além de um conjunto de textos datados.

O Personagem

Apesar das críticas à ingenuidade dessa hipótese, sim, eles podem não ter vida autonomica, mas eis que os personagens exigem uma vida quase emancipada do autor, e isso está além de uma impressão vaga, trata-se de uma constatação empírica. Significa que o apartamento da literatura dela mesma exige que os escritores abandonem seus domicílios fixos e passem a migrar como ramblers. Neste sentido faria bem a todo personagem encarnar fragmentos do mito do “judeu errante”.

A força de um romance atual põe em evidencia portanto duas máximas: a história que corre paralela ao real, isso é a história que a história nunca pode registrar, pois é aquela que faz parte da chave inconsciente das micro histórias subjetivas individuais (e relacionais). Para esta não é suficiente fazer amplas varreduras enciclopédicas. A outra máxima, mas não menos importante, é a assunção de que os personagens – para adquirir uma existência fora do texto – precisam, de algum modo aniquilar/neutralizar as idiossincrasias do autor. Isso significa que há uma luta entre as características com o qual o autor tentar modelar seus personagens e a existência autodeterminada do personagem – que paradoxalmente não é externa – a qual exige uma vida independente, e de uma autoria única.

Despertar o senso de intriga é, necessariamente, atrair o leitor para uma armadilha benévola. Nem sempre o arrebatador é belo.  Sua raíz etimológica vem de arrepitare, roubar, resgatar, tomar à força. Ofertar a isca até o lugar mais apropriado para alcançar o destinatário final. Tomar de assalto o leitor. Isso pode – e frequentemente é – confundido com fazer concessões. Agradar o leitor, valha-me, é visto com desdém. Para além do valor estético da concessão, existem de fato aquelas lavras que rebaixam o nível do escritor ao invés de oferecer alguma ascese.

Insano Joyce

É sempre perturbadora a pergunta de Jacques Lacan: afinal “Joyce era louco?”

A depender de qual área psicológica se apropriasse da pergunta ela seria afirmativa. Mas, num sentido distinto daquele que o senso comum e a psiquiatria atribuem à loucura. Joyce emulava a loucura para escrever. Empresta sua pena à demanda errática (mas com rigoroso controle do timing) aos seus inquilinos provisórios. A transitória esquizofrenia auto-induzida de um escritor é a única razão para justificar sua liberdade. E, também, sua única motivação para a migração da energia psíquica à capacidade criativa, isto é, sua volição redirecionada à imaginação.

Usar padrões de sua força imaginária é também instrumentalizar recursos como a ansiedade e a angustia em uma direção. Seria a literatura uma arte correlata da sublimação? Para alguns possivelmente. O texto de ficção seria uma garantia de que estamos atentos aos sinais do mundo, seus signos e significados, mas não necessariamente submissos a ele. Essa distinção é vital para que o autor não seja reduzido a um porta voz dos panfletos políticos de sua época.

Exemplo claro disso é a execração das tradições religiosas, dos elementos místicos (que impregnam indiscriminadamente o dia a dia tanto do crente quanto do agnóstico), e até mesmo de qualquer tradição lato sensu. Eis que o culto ao cotidiano e dos problemas sociais tornaram-se os únicos temas dignos de figurar na literatura. Entretanto, só a hesitação produz conflito. E só a curiosidade intrusiva é capaz de construir a densidade que estrutura os enredos ficcionais. Tudo depende dela, mas não só dela, para tornar o romance um símbolo das ações do homem.

Um oficio que nesta já esgotada pós modernidade pede, implora, urge: o restabelecimento de sentidos, de preferencia, novíssimos.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/

 

 

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https://editoraperspectivablog.wordpress.com/2016/04/29/as-respostas-estao-no-subsolo/

Entrevista sobre o Livro

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