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  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
  • Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
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  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

~ Escritor e Médico-Writer and physician

Paulo Rosenbaum

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A Mentalidade Preventivista (blog Estadão)

06 segunda-feira fev 2017

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa, Na Mídia, Pesquisa médica

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blog conto de noticia, boite kiss e a justiça, conto de notícia, filosofia, holocausto, Literatura, Mark Twain, medicina e acaso, mentalidade preventivista, tarda justiça

Era para ser um texto em homenagem ao aniversário desta cidade. Não deu. Pois lá se vão quatro anos do incêndio da boate Kiss e a tarda justiça ainda continua fazendo vítimas em série. Em homenagem às famílias, aos que não podem mais se defender da inépcia do Estado e para que — em algum futuro tremendamente remoto — tragédias anunciadas, disfarçadas de fatalidade, não voltem a ocorrer republico no blog, excepcionalmente, o texto “A Dor merece nosso Constrangimento”. Decerto que o imponderável, o imprognosticável,  a  incerteza e o absurdo são tanto perturbadores, como onipresentes na condição humana. Porém, isso não tem nada a ver com pane seca, falta de extintores, erros de cálculos em pontes e viadutos, falha na inteligência, justiça leniente, leis anacrônicas, cárceres inimagináveis, descaso com áreas de risco, e, finalmente, déficit de vigilância para cuidar que as instituições não sejam escravas das corporações.

Que a mentalidade preventivista se infiltre em quem governa. E, se não, — que as consequências desta falta crônica desabem sobre os omissos, mostrando que quem quer gozar do Poder, quem precisa do Poder, quem está obcecado por ele, tem a obrigação, moral ou criminal, pouco importa, de planejar e, sobretudo, a responsabilidade de antecipar acontecimentos.

 

A dor merece nosso constrangimento

 

Devo estar cultivando a insensibilidade, já que não me comoveu o choro nem a circunspeção dos políticos nos funerais. Além disso, temos que suportar o horroroso espetáculo dos apresentadores explorando a biografia das vítimas ou especialistas explicando como os alvéolos são destroçados pela inalação de fumaça. Nesse campo de batalha, só cabem urros, uivos, ritos de contrição. A dor merece nosso constrangimento.

São poucas ou muitas as palavras que podem descrever acuradamente o absurdo. Absurdo é pouco, estultilóquio, limitado, dislate, distante. Precisava de um vocábulo sem precedentes. Pois “galimatias” revela um glossário analógico apropriado para o desastre gaúcho: um acervo de heresias e incoerências disparatadas, coxia de desconchavos, parvoíce chapada, um amontoado de cacaborradas, aranzel, inépcia, chocarrice. Para contornar registros menos recomendáveis ao grande público, cada um deles pode indicar o repertório que se passa pelas nossas cabeças quando tragédias completamente evitáveis parecem inevitáveis.

A falta de decência não é só fazer as coisas sem pensar que outros podem se ferir ou sair lesados. Paira no ar um senso de desproporção, tocado pelo culto ao único mito invicto de nossa era: grana.

Há uma máxima que deveria vir instantaneamente à cabeça de qualquer um: “Tratarei todo filho como se fosse meu”. Passa longe do sentimento predominante. Que dizer dos donos do lugar e dos homens da segurança? Inicialmente, sem perceber a eminente tragédia, impediram pessoas de sair do inferno. Quais as regras a serem seguidas e quais merecem desobediência civil já?

Não sei quantos mais poderiam ter sido salvos da asfixia, da carbonização. Uma vida poupada teria feito toda diferença. Mas havia a barreira do execrável pedágio, a pirotecnia fora de lugar, o entupimento das salas, as formigas espremidas na armadilha.

Não vem ao caso apontar para a banda ou para os proprietários como alvos óbvios de punição e responsabilização criminal. Já que pais e mães tiveram seus futuros cassados, e as vítimas ardem na sombra, seria preferível acompanhar o que o poder público tem a dizer.

Em geral, fiscais são bons burocratas e, raramente, têm consciência de seu papel vital na prevenção dos desastres. Prevenção, lugar-comum, baixa visibilidade, antipopular, mas a única palavra-chave para não termos que ouvir a esfarrapada desculpa “fatalidade”. Isso não é um se, está acontecendo agora. Nas enchentes, na calamidade absoluta que é a segurança pública do país, na incapacidade organizacional para gerir o dia a dia das cidades. A verdade é que, se ainda vivemos ilesos, é por sorte e apesar do Estado. E não se trata de apontar para um único partido. Todos comungam deste mínimo múltiplo comum, a incapacidade de enxergar que toda matéria política caberia numa sentença: governo é para o povo. Submergidos no populismo ignorante, cosmético e estelionatário, quanto dinheiro ainda será arrecadado nas miríades de impostos pagos para fiscalizar e manter as bocas de lobo, as escolas, o passeio publico, a segurança, a defesa civil? E como isso será gasto? Não sabemos e ninguém sabe.

Mark Twain escreveu: “O governo é meramente um servo, meramente um servo temporário: não pode ser sua prerrogativa determinar o que está certo e o que está errado, e decidir quem é um patriota e quem não é. Sua função é obedecer a ordens, não originá-las”.

Só quando os administradores forem imputáveis e sentirem nos bolsos e na privação de liberdade que, se falharem em prevenir o prevenivel sofrerão consequências pesadas, talvez tenham mudanças efetivas no dislate que é o planejamento público no Brasil. Só quando a opinião pública exigir que as apurações não se limitem a dois ou três bodes expiatórios, mas, a quem, de fato, permitiu a vigência do absurdo. Talvez ai, calçados na educação solidária, o respeito aos cidadãos conquistará status de lei.

Na hora dos massacres, a solidariedade autêntica vem das pessoas desvinculadas do poder. Emerge pura da nossa emoção, premida pelo nada, esvaziada de sentido, e lapidada pela voz rouca do abandono. Um sobrevivente do incêndio descreveu “Vi o monte de corpos empilhados uns em cima dos outros, como os judeus no Holocausto”. Ainda que o cenário justifique a analogia, a outra semelhança é a gratuidade com que essas vidas foram incineradas.

Todos nós, civilizados desde o berço, podemos enxergar tragédias como inerentes à condição humana. Rachaduras na placa continental, asteroides, furacões e terremotos são eventos inevitáveis, às vezes inexoráveis. Crematórios, não. A dor merece nosso constrangimento, assim ao menos sofreremos todos juntos. Não entendo bem por que, mas parece que precisamos nos derreter para nos unirem.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record) e “Céu Subterrâneo” (Ed. Perspectiva)

paulorosenbaum.wordpress

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/a-mentalidade-preventivista/ ‎

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  • por uma mentalidade preventivista

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Ética? Vê se se enxerga!

11 quinta-feira out 2012

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Aristóteles, Últimas Notícias, ética, Comportamento, definição de ética, Eleições 2012, ethos, filosofia, hegemonia e monopólio do poder, mensalão, moralidade pública, morubixaba, recall, Reflexões, significado de justiça, voto distrital

Ética? Vê se se enxerga!
Segundo os dicionários de filosofia “ética” significa “ciência que tem por objeto a apreciação que se aplica na distinção entre o bem e o mal”. Como há confusão de um dicionário para outro, recorri a Aristóteles e cheguei ao que mais se aproxima duma visão contextualizada: “ação que os homens exercem uns sobre os outros”. A palavra grega ethiqké, na raiz etimológica, estudo da moral. Deriva da palavra ethos, que significa “caráter ou ética”. Contudo, é bom que se saiba que ela nunca foi um ingrediente natural, e, por isso, diz-se que a ethiké arete (a virtude ética) se conquista pelo hábito.

Fomos criados com cegueira seletiva, aquela que interdita o reconhecimento dos nossos próprios preconceitos. Os outros, claro, é que não tem ética. Aliás, também só outros têm ideologias, ideias fixas e vícios.

Em miúdos, é licito roubar para doar aqueles que precisam mais do que nós? É ético encarcerar um famélico que para prover sua família, surrupia pão? É perfeitamente legal, mas será justo que um bando de partidos loteie cargos públicos para se perpetuar no controle? Está de acordo com a moralidade pública que a administração, seja lá qual for, finja respeitar a opinião pública para, na sequencia da votação ungi-la com pacotes que trazem arrocho, inflação e impostos? É ético que qualquer um trate a coisa pública como coisa sua, ainda que o termo mais apropriado seja cosa nostra? É compatível com a moral num pais com pacto federativo, que a coalização governante esprema, com retenção de verbas, as unidades federadas que não rezarem na sua cartilha? Faz sentido uma política baseada no ódio?

O gabarito com as respostas ainda não saiu.

O fato é que é difícil cumprir as exigências para ser ético, é preciso cultivar um refinado senso de decência. Já que ninguém se regenera lá dentro, o homem público deveria, a priori, ser honesto. A verdade é que a moral e, particularmente, a moralidade pública nunca teve os alicerces tão relativizados.

A palavra pula fácil da boca, ela é a bandeira, mas também o lugar onde os acusadores se enrolam. Bastardeada, a ética virou mote e agora a moda é bater no peito e dizer que nunca se locupletou, não recebeu denúncia e é sujeito exemplar. Está claro que a esquerda perdeu o rumo – a direita nunca o teve, mas também nunca disse que tinha — e ética passou a ser sinônimo de “fazer bem feito” independente das alianças e apropriações indevidas que se fez e se faz da coisa pública.

E quem fiscaliza os abusos? Decerto não será a recém demissionária comissão de ética da presidência da república. Há dois caminhos, aquele em curso, vale dizer, o que exige progressiva judicialização da política. Ou, o outro, exigir mais dos mecanismos democráticos como, por exemplo instituir “recall”, voto distrital, rediscutir a proporcionalidade no parlamento.

Sem novos ares o interesse em escolher representantes esmorece. Fez com que mais de 25 milhões de pessoas anulassem ou se abstivessem nesta última eleição. Fenômeno subestimado pelos analistas profissionais, mas talvez exatamente ai, a mensagem mais contundente do último pleito: estamos todos de saco cheio da mesmice, da farsa, da caretice, da farra. Não se trata de sacar nomes novos do colete como é a praxe do morubixaba que conta com a conivência e aplausos dos idólatras.

Estivemos por um fio de distância da hegemonia absoluta, e as instituições, reagindo à desconstrução, recuperaram a voz. Alentador, mas vamos controlar as ilusões. Só o fortalecimento da opinião pública, maior vigilância sobre o poder e uma mídia insubmissa, pode nos ajudar no longo aprendizado que é o treino do discernimento.

Provavelmente, a dimensão mais importante de toda essa discussão não esteja em julgar o mundo ou resgatar valores. Voltando para Aristóteles: afinal qual tipo de ação estamos exercendo uns sobre os outros?

Talvez haja uma premissa: ser ético é poder se enxergar!

Paulo Rosenbaum é médico e escritor, é autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

paulorosenbaum.wordpress.com

Para acessar o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/10/11/etica-ve-se-se-enxerga/

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