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  • Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
  • A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
  • Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
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  • O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)

Paulo Rosenbaum

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O tão aspirado”nunca mais” (Blog Estadão)

28 segunda-feira jan 2019

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Aelia Capitolina, Boite Kiss, Brumadinho, Freud, google, holocausto, Leis de Nuremberg, Mariana, Nacional socialismo alemão

 

Já que podemos evocar a memória de acordo com nosso desejo, preferimos dispensar as tragédias, a morte e a destruição. Segundo os biólogos evolucionistas trata-se de uma adaptação. Não suportaríamos ter que conviver com o amontoado de frustrações, negativas, impedimentos, injustiças, o mal feito, o espúrio, o inacabado, a imperfeição, o desprezo, as circunstâncias constrangedoras, os desvios, a insuficiência, as urdiduras da perfídia, o triunfo da malignidade. Mas, e se um pouco de dor, de luto e de sofrimento funcionasse como um antídoto para toda essa mania?  E se conseguissemos nos colocar, no sentido de transferencia absoluta, no lugar do outro? E se ficássemos entregues — que seja uma vez ao ano — à memória dos mal sucedidos, dos perdedores, dos sofredores, da silente agonia dos sem voz, dos invisíveis?

Apontar e erigir monumentos às vitimas do mal feito é uma forma de fixar o insuportável em nossa tendencia à negação.

Um regime político pode exterminar de muitas formas, a mais eficaz contudo — e a história prova a tese — é através do populismo e do culto à personalidade. Exemplo atual é o perfil daqueles que nos prometeram justiça, igualdade de oportunidades e bem estar e, em apenas 13 anos, nos entregaram o País falido. Uma deseleição ocorre quando há mais deméritos no regime viciado do que méritos no rival. Foi apenas um espasmo de legítima defesa em meio à inércia, à falta de articulação, à inexistencia de oposição, e hoje, perplexos, nem nos perguntamos mais o que pensar daqueles que persistiriam no erro. Hoje representados por quem torce e milita contra. Evidentemente, para além da habitual desonestidade intelectual, trata-se de histeria anti-republicana, sobretudo guiada pelo velho e cansativo ranço ideológico.

O dia H é o dia da memória das vítimas do holocausto, mas poderia ser expandido para outras vítimas, igualmente criminosas, como as pessoas incineradas na Boite Kiss, nos arrastados em Mariana, em Brumadinho, em Teresópolis, em Angra, nas demais encostas abandonadas do Brasil, nos viadutos que despencam, nas passarelas precárias, nos trilhões sepultados em obras inexistentes. E, também, de todos os extermínios pequenos, médios ou grandes. Aqueles que confiam no Estado todo protetor ainda não sabem que há, bem aqui entre nós uma loucura muito particular: ela impede a compreensão do valor da vida. Nesta insanidade obnubiladora movida à matéria e arrogância está o germe do terror.

Não é só do terrorista comum, estes inimigos da humanidade, que preferem que a causa preceda a sobrevivência e o bem estar. Mas também, e principalmente, o usurpador, aquele que amadurece no trono e não quer mais larga-lo, dos tiranos que se escondem sob slogans e verbetes de ocasião. Se há culpa? Sim acumulada. Sim retida nos decretos. De vários partidos e instituições. Nos alvarás. Nas leis. Exato, assim como as leis raciais de Nuremberg, as vezes o crime tem chancela oficial, é do Governo que passa a usurpar o Estado.

Na Alemanha nacional socialista também foi assim. As legiões que acreditam em correntes ideológicas acima do pensar, da direita à esquerda, ainda existem. Geralmente são aqueles que prometem resgatar nações e promovem genocídios. Contam com o descaso, acreditam na amnésia induzida. Essa  é a estratégia que recriou o vergonhoso e pandemico antissemitismo de nossos dias. Apoiam-se no esquecimento e na prescrição. Sabem que a qualquer momento podem queimar livros, perseguir minorias, mas especialmente imaginam que o sufragio lhes da o direito de pulverizar a memória.  Em suas agendas já está registrado: “as manchetes se calam em três semanas”.  Mal sabem que a memória contém um compartimento secreto. A “segunda mente” na definição de Charcot. E ela é surpreendente, capaz de desaguar seu manancial quando menos se espera.

Freud em seu polêmico livro “Moisés e o Monoteísmo” conta que o que mais o impressionou no povo judeu era uma espécie de persistência quase irracional diante das adversidades. Cita o famoso caso de um dos sábios talmúdicos. Enquanto o Templo de Jerusalém ardia em chamas incinerado pelo exército romano, e quase um milhão de vidas haviam sido ceifadas pela espada, foi ter com o temível governador geral da Judeia que sonhava exterminar os judeus e fundar Aelia Capitolina. Vários tentaram dissuadi-lo da empreitada que poderia lhe custar  a vida. Inútil. Ele seguiu e foi para até o tirano pedir autorização para transferir seus estudos para um outro local. Ora, por que? Perguntava-se o intrigado médico. Seguir adiante. Alguns chamam de pragmatismo. Outros classificariam de estoicismo patológico. Porém, ao fim e ao cabo, poderia apenas simbolizar um apesar de tudo, apesar de todos: escolhe-se vida.

Pois esse espírito afirma que a humanidade pode seguir até um lugar onde cada um poderá ter tempo para se estudar, para sempre.

Quiça assim, e só assim, o tão aspirado “nunca mais” superará o mito do eterno retorno.

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A responsabilidade nasce dos sonhos.

22 quinta-feira nov 2012

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açao penal 470, anomia, antiamericanismo, antijudaismo, antisemitismo, arianos, autocracia, centralismo partidário, centros de pesquisas e pesquisadores independentes, ceticismo, consensos, corrupção genética, fascismo, governo de coalizão, hegemonia e monopólio do poder, Kadhafi, Leis de Nuremberg, livro marrom, livro verde, livro vermelho, manipulação da razão, Mao, mensalão, nazismo e marketing político, nazistas, prosa poética, significado de justiça, terceiro Reich, tribunais de exceção, utopia, virada humanista, Willian Butler Yeats

A responsabilidade nasce dos sonhos.

 

 Por que um dos julgamentos mais importantes da história contemporânea aconteceu em Nuremberg? E por que ao processo que envolveu os genocidas nazis foi selado sob o nome de “tribunal de exceção”? A cidade era uma escolha simbólica, e os fatos, sem paralelo na história contemporânea. Em 1935, naquele histórico sítio alemão, foram editadas as leis raciais e de “proteção do sangue” que inauguraram um dos períodos de sombra da humanidade. Sancionadas pelo chanceler eleito e pelos ministros do interior e da justiça a promulgação daquela legislação tornou-se prova de que a manipulação da razão pode tomar destinos equivocadíssimos, mesmo na democracia. Se esta razão vier escoltada por alguma ideologia então, é mesmo para tremer e esperar pelo pior, sempre! Dito e feito!

 

Se índios, negros e outras etnias não tem alma porque os respeitaríamos rezava o consenso dos juízes da Inquisição. Por que povos inferiores devem ter os mesmos direitos que brancos europeus civilizados, reafirmavam os higienistas. Medições de crânios, a chamada “craniometria” dos cientistas que trabalharam pela e para a ideologia nazista apresentaram suas “evidencias empíricas”: o encéfalo dos não arianos “era menos evoluído e tendia à degeneração”. Os arianos, “intrinsecamente superiores”, representavam a “raça pura, de ascendência sem vícios ou corrupção genética”. Era o apogeu político da eugenia, uma doutrina que embora encontrasse raízes pré-existentes nas ciências naturais, tomou corpo e se fortaleceu graças à causa organizada pelo terceiro Reich. Foi assim que profissionais liberais especialmente médicos, pequenos comerciantes, o grande capital e professores universitários da Alemanha começaram a achar que poderiam acertar as contas com a humilhação decorrente do tratado de Versalhes e se safar da crise econômica com hiperinflação do final nos anos 20.

 

Finalmente, os juízes se prestaram ao papel e começaram a definir novas regras para a sociedade alemã: judeus, ciganos, homossexuais, negros, doentes mentais, mestiços – e alguém se lembrou de incluir gente politicamente desviada – mereciam tratamento especial. O cólume desta arquitetura, todos sabem, resultou no maior drama da história ocidental e, provavelmente, o mais sistemático e sem paralelo massacre da história recente. 

 

A ideologia ariana forçou os cofres do Estado alemão a desembolsar milhões para divulgar e patrocinar a doutrina do Führer, e ali, muitos dizem, o berço da mentira como indústria e, portanto, do marketing político moderno. Centenas de milhões do opúsculo raivoso de Hitler circularam e não possuir um exemplar de “Mein Kampft” tomado como séria ofensa ao Estado. A palavra nazista originária de nazional sozialism – literalmente nacional socialista, diferentemente de matizes à direita e à esquerda do fascismo, comporta uma designação precisa. Trata-se de um termo em franca vulgarização, que tem evocado banalmente o mal genérico e universal. A linguagem não costuma trair. Hoje em dia, se bobear, qualquer porteiro mal educado, jornalista independente ou sujeito crítico corre o risco.

 

Quando o Estado, centralizado em poucas cabeças, obriga todos os outros a segui-las, e há obediência civil, está aberta uma trilha ao abismo. Na lista de aberrações, temos o livro vermelho de Mao, o livro verde de Khadafi, a obra marrom de Pol Pot, fora as outras tonalidades de muitos outros. O mínimo múltiplo comum é que todos eles se auto-intitulam salvadores; sim, claro, de si mesmos. Pois nascem, crescem e morrem com um só objetivo, narcísico, o culto à própria personalidade.

 

Pulo para o nada sóbrio relatório do diretório do partido governista acusando o STF de “tribunal de exceção” e comparando ambos, processo e julgamento, aos procedimentos nazistas. Dado o respaldo popular e apoio maciço aos juízes deixaram para emitir a nota depois das eleições. Professores universitários e jornalistas decanos emprestaram suas habilidades e estilos à causa, dando os retoques finais ao documento. É aqui que nos perguntamos se a isso chamam honestidade intelectual?

 

Bastou para a enxurrada de pseudo-artigos na web, e na grande, média e minúscula imprensa, classificando o julgamento da ação penal 470, “erro jurídico rotundo”. Depois espalharam rumores e insinuações gravíssimas contra a corte jurídica e o procurador geral da República. Além das calúnias, exageros retóricos e grotesca falta de acurácia terminológica esses dirigentes partidários ficaram devendo às novas gerações uma versão verossímil dos fatos.

 

Poderiam ter afirmado, por exemplo, que as penas foram desproporcionais, que as provas deveriam ser mais consistentes, e até esbravejar para discordar da decisão do tribunal. Aliás, ninguém duvidaria que fosse esse o papel do partido. Infelizmente, veio a imprecisão panfletária, a palavra de ordem, a conclamação das massas, o intransigente desrespeito à constituição. Já que uma virada humanista e um governo de coalização parecem alternativas impensáveis, o único e involuntário aspecto favorável da ação dos dirigentes do partido hegemônico talvez tenha sido acelerar sua decadência.

 

Os magnatas do poder podem estar se aposentando coletivamente. Que durmam bem e nem precisam mais mandar notícias. Não custa sonhar que nos novos postos de trabalho, gente mais crítica e mais disposta a ir além do sectarismo ranzinza, assuma responsabilidades e conceda nada além do que deveriam ser nossos direitos naturais: plena cidadania e direito à vida.

 

Viajei, sei que viajei! Mas, como escreveu o poeta irlandês Willian Butler Yeats, é nos sonhos que começa a responsabilidade.  

 

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)

 

paulorosenbaum.wordpress.com.br 

 

para o link do JB

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/22/a-responsabilidade-nasce-dos-sonhos/

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