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ética de monopólio, democracias mitomanas, extremistas, maieutica, monopsismo cultural, nepotismo cultural, novo populismo, polêmica irrelevante, politicamente correto e incorreto, significado de justiça, Socrates
24 domingo jul 2016
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27 quarta-feira maio 2015
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A Verdade Lançada ao Solo, conto de notícia, educar e doutrinar, eduquem-se rapazes, maieutica, Socrates
Eduquem-se rapazes!
Paulo Rosenbaum
27 maio 2015 | 14:58
– Então era só isso? Era esse o diagnóstico? A nova direita precisa se educar? Mas e quanto à velha esquerda, os patronos de sempre, o sistema político que não se recicla?
– Querido, você não compreendeu. Há tradição política tanto numa quanto noutra. Falo desta molecada que está perturbando, não entendem nada de política. Saem às ruas para tumultuar. Você observou que eles não tem uma liderança?
– Espere um pouco. Molecada? Quem são esses moleques?
– Esta rapaziada de classe média que marcha e fala bobagem, que querem fazer tudo na marra, sem negociação. Eles não têm estofo.
– Na marra? Sem negociação com a sociedade? Mas quem faz isso é o atual governo. Está falando do atual governo?
– Uff. Não, filho, falo destes manifestantes, bando de conservadores reacionários. Gente sem noção, subvers…deixa para lá.
– Eu fui na manifestação. Vi gente falando bobagens, mas a maioria pedia mudanças. Todas as classes estavam lá. Não era para, antes de tudo, analisar o fenômeno? Pois dois milhões expressaram seu descontentamento e sua desilusão. O partido exagerou, ou o senhor discorda?
(o professor virou de lado, com a boca reclinada, a língua empurrando o palato)
– Já vivi muito e tenho experiência para dizer que eles não sabem o que fazem. Depois que tudo isso passar, vão ver quem tinha razão. Só há uma verdade, nos últimos 13 anos vivemos uma revolução neste País, como nunca antes. Quem não percebe isso não merece ser ouvido. Os desvios fazem parte do processo. Vou além, quem não está gostando que caia fora. Ouvi dizer que Miami está com tarifas promocionais. Podemos seguir com a aula? Onde estávamos mesmo?
(o aluno levanta)
– Vamos ser doutrinados ou educados? O senhor não disse que a democracia é um jogo? Um jogo de forças, onde a luta justa era por oportunidades iguais? Sua aula é contraditória com sua postura pessoal. Vou ser honesto: não é a primeira vez que eu me sinto oprimido por ter uma opinião diferente da sua. E tem mais estudantes que se sentem assim. Desculpe a ousadia, mas o senhor extrapolou sua função. Se valorizo seu conhecimento, isso não significa que aceito ser persuadido por suas certezas. Como todo mundo aqui, vim para aprender, não ser doutrinado por suas convicções.
– Melhor se sentar e calar essa boca, rapaz.
– Por que?
– Vou chamar os seguranças.
– Isso é ser intelectual progressista? É isso uma democracia?
– Na minha sala mando eu.
– Estamos numa discussão acadêmica? Sua primeira aula foi sobre maiêutica, lembra? Sócrates e o método de indução de perguntas para desenvolver o raciocínio crítico?
– Não eram bem essas as perguntas. Saia da minha aula, agora! O senhor está expulso da discussão acadêmica.
– Esse foi o melhor aprendizado empírico que já tive sobre liberdade de expressão e respeito à diversidade de pensamento. Grato mestre.
(vaias e aplausos)
(aluno senta-se e lentamente começa a recolher seu material)
O professor sai da sala e grita do corredor:
– Seguranças, seguranças!!
http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/eduquem-se-rapazes/
08 quinta-feira nov 2012
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alcoolismo, anestesia psíquica, cidadania, civilização que não se pergunta, Democracia grega, drogadição, drogas, drogas ilegais, eleição e criatividade, era geral da indelicadeza, IDH, idiossicrasias, maieutica, método talmudico, medicalização da vida, sentido da criação, sociedade e sujeito, Socrates, taxas de suicídio, tratamento alcoolismo, tratamento drogas
A civilização que não se pergunta.
O genial sistema tutorial celebrizado por Sócrates, mas já presente em tradições mais ancestrais como no ensino talmúdico e em escolas orientais, jamais foi superado por nenhum outro método pedagógico. A maiêutica (do grego maieutikos – fazer nascer as ideias) é a arte de instigar o aluno a formular conceitos latentes e estabelecer conexões com a realidade mediante uma sequência dialética de questões. Desde então ela passaria a ser virtude mais interessante que dar as devidas respostas. Num mundo tensionado por imediatismos e pelo saber I-pédico, esta forma de raciocinar perdeu força. Estamos em falta com o professor ateniense especialmente, se considerarmos que esta forma de educar custou-lhe a vida.
Tem sido a praxe política tentar achar respostas antes de formular questões. Sem perguntas, as respostas nos fazem errar. Internações compulsórias decididas às pressas, blitzes contra drogas diante da pandemia que se instalou no país, o clamor nacional pela construção de mais hospitais, planos de seguro saúde oferecidos aos milhares. Tudo isso está acontecendo, sem que se discuta o que é saúde para a sociedade? Para que e para quem vivemos? De onde vem tamanha insatisfação?
O que fazendo com nossas vidas? Quais são e como as questões políticas nos afetam? Às vezes, vale dizer, muita vezes, a ponto de nos fazer adoecer. E para que sofremos tanto? Por que este ou aquele se sagrou vencedor? Apesar de viver numa comunidade, não construímos igualdade ou solidariedade. Não é só a violência cotidiana que impede que vivamos em paz, ainda que ela seja uma forma de cassação branca da cidadania, hoje instaurada em pleno vigor.
A dificuldade de encontrar o saudável torna nossas vidas isoladas e apartadas. O obstáculo encontra-se espalhado numa vida pulverizada, redigida pela matéria e pautada por necessidades dispensáveis. Assim como a especulação financeira do capitalismo acionário reduz as perspectivas de produção, a vida ganha menos valor quando não há pelo que lutar.
As maiores taxas de suicídio do mundo estão surpreendentemente localizadas nos países escandinavos, o mesmo sítio onde se concentra o maior índice de países com IDH elevado. O paradoxo está posto. O isolamento, a solidão e uma vida sem tribulações parecem nos levar ao tédio crônico, enquanto a insegurança, a instabilidade e a falta de perspectivas nos conduzem às portas da depressão. Para um e para outro, a solução pregada será majoritariamente medicinal, induzida por fármacos psicoativos legalizados, drogas ilegais ou o bom e velho álcool.
Os médicos e terapeutas são os elementos que recebem, no varejo, todas essas mazelas sociais. É lá que as pessoas se queixam, isso quando há tempo hábil para que os cuidados formulem frases inteiras. Aquilo que os políticos tentam saldar no atacado, entram como sujeitos únicos nos hospitais, nos ambulatórios, nas clínicas do SUS e nos consultórios privados. Nota-se uma espécie de praga psíquica generalizada que faz com que 70% dos clínicos gerais (dados de 2005) prescrevam psicofármacos com incrível regularidade.
Sempre fica uma ponta de dúvida se a humanidade enfim reconhece que caiu, e, deprimida, precisa ter suas demandas aplacadas por drogas.
Há qualquer originalidade nesta resposta?
Claro que em suas mais variadas formas, as substancias também cumprem seu papel social, ritualizador, catártico, relaxante. Como se vê, reiteradamente precisamos de analgesias psíquicas. É possível aceitar que a divisão entre drogas e ilícitas e ilícitas é arbitrária, mas será que a solução é liberar as ilícitas? Proibir as lícitas? Os estudos só são ambíguos e contraditórios para quem não sabe que absolutamente todos os fármacos e substâncias medicinais e alimentares deste planeta apresentam intrinsecamente, vantagens e desvantagens. Depende quem usa, para que usa, quanto usa. Precisamos saber quem é o sujeito, conhecer suas idiossincrasias, para só depois, talvez, saber por que requisita a carteirinha de usuário.
O ponto de inflexão aqui é que a medicina e as terapêuticas buscam – e na maior parte das vezes malogram – minimizar o sofrimento humano. E precisamos pensar se a sociedade, da forma como está sendo constituída, permite que sejamos. Que sejamos sujeitos. O problema central é tentar minimizar o sofrimento numa sociedade que o exalta. Ah não? O que achamos da ideia de matar um leão por dia? Como nos sentimos sob ameaça? O que significa viver, permanentemente, sob competição? Como reagimos ao deparar com tantas disparidades econômicas? E que tal, destreinados que estamos para a predação, a sensação compulsória de viver na selva?
A resposta só pode ser outra pergunta: como chegamos a isso?
Pois esta é uma civilização que não pode deixar que os cidadãos exerçam suas individualidades. A peste emocional circula tal qual uma doença altamente infecciosa. Sim, há um contágio metafórico, e ele não só existe como invade tanto quanto os microrganismos patogênicos mais perigosos. Essa é uma civilização que não se pergunta. Ela se ergue mesmo em cima de seres anônimos que não podem, nem querem mais se exercitar como sujeitos. Mas é claro que há um custo alto por tamanha impossibilidade ou renuncia. Quem não exerce a criatividade e sua própria arte paga.
Buscar um lugar ao sol, sair do anonimato, fazer circular nossas ideias, e contar com a benevolência da expressão, são as proteções viáveis na era geral da indelicadeza.
Mais do que nunca, precisamos da salvaguarda das artes para que a criação faça sentido. Ou não?
Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A verdade Lançada ao Solo” (Ed. Record)
Paulorosenbaum.wordpress.com
Para acessar link do JB
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/11/08/a-civilizacao-que-nao-se-pergunta/