Paulo Rosenbaum

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O tão aspirado”nunca mais” (Blog Estadão)

28 segunda-feira jan 2019

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Aelia Capitolina, Boite Kiss, Brumadinho, Freud, google, holocausto, Leis de Nuremberg, Mariana, Nacional socialismo alemão

 

Já que podemos evocar a memória de acordo com nosso desejo, preferimos dispensar as tragédias, a morte e a destruição. Segundo os biólogos evolucionistas trata-se de uma adaptação. Não suportaríamos ter que conviver com o amontoado de frustrações, negativas, impedimentos, injustiças, o mal feito, o espúrio, o inacabado, a imperfeição, o desprezo, as circunstâncias constrangedoras, os desvios, a insuficiência, as urdiduras da perfídia, o triunfo da malignidade. Mas, e se um pouco de dor, de luto e de sofrimento funcionasse como um antídoto para toda essa mania?  E se conseguissemos nos colocar, no sentido de transferencia absoluta, no lugar do outro? E se ficássemos entregues — que seja uma vez ao ano — à memória dos mal sucedidos, dos perdedores, dos sofredores, da silente agonia dos sem voz, dos invisíveis?

Apontar e erigir monumentos às vitimas do mal feito é uma forma de fixar o insuportável em nossa tendencia à negação.

Um regime político pode exterminar de muitas formas, a mais eficaz contudo — e a história prova a tese — é através do populismo e do culto à personalidade. Exemplo atual é o perfil daqueles que nos prometeram justiça, igualdade de oportunidades e bem estar e, em apenas 13 anos, nos entregaram o País falido. Uma deseleição ocorre quando há mais deméritos no regime viciado do que méritos no rival. Foi apenas um espasmo de legítima defesa em meio à inércia, à falta de articulação, à inexistencia de oposição, e hoje, perplexos, nem nos perguntamos mais o que pensar daqueles que persistiriam no erro. Hoje representados por quem torce e milita contra. Evidentemente, para além da habitual desonestidade intelectual, trata-se de histeria anti-republicana, sobretudo guiada pelo velho e cansativo ranço ideológico.

O dia H é o dia da memória das vítimas do holocausto, mas poderia ser expandido para outras vítimas, igualmente criminosas, como as pessoas incineradas na Boite Kiss, nos arrastados em Mariana, em Brumadinho, em Teresópolis, em Angra, nas demais encostas abandonadas do Brasil, nos viadutos que despencam, nas passarelas precárias, nos trilhões sepultados em obras inexistentes. E, também, de todos os extermínios pequenos, médios ou grandes. Aqueles que confiam no Estado todo protetor ainda não sabem que há, bem aqui entre nós uma loucura muito particular: ela impede a compreensão do valor da vida. Nesta insanidade obnubiladora movida à matéria e arrogância está o germe do terror.

Não é só do terrorista comum, estes inimigos da humanidade, que preferem que a causa preceda a sobrevivência e o bem estar. Mas também, e principalmente, o usurpador, aquele que amadurece no trono e não quer mais larga-lo, dos tiranos que se escondem sob slogans e verbetes de ocasião. Se há culpa? Sim acumulada. Sim retida nos decretos. De vários partidos e instituições. Nos alvarás. Nas leis. Exato, assim como as leis raciais de Nuremberg, as vezes o crime tem chancela oficial, é do Governo que passa a usurpar o Estado.

Na Alemanha nacional socialista também foi assim. As legiões que acreditam em correntes ideológicas acima do pensar, da direita à esquerda, ainda existem. Geralmente são aqueles que prometem resgatar nações e promovem genocídios. Contam com o descaso, acreditam na amnésia induzida. Essa  é a estratégia que recriou o vergonhoso e pandemico antissemitismo de nossos dias. Apoiam-se no esquecimento e na prescrição. Sabem que a qualquer momento podem queimar livros, perseguir minorias, mas especialmente imaginam que o sufragio lhes da o direito de pulverizar a memória.  Em suas agendas já está registrado: “as manchetes se calam em três semanas”.  Mal sabem que a memória contém um compartimento secreto. A “segunda mente” na definição de Charcot. E ela é surpreendente, capaz de desaguar seu manancial quando menos se espera.

Freud em seu polêmico livro “Moisés e o Monoteísmo” conta que o que mais o impressionou no povo judeu era uma espécie de persistência quase irracional diante das adversidades. Cita o famoso caso de um dos sábios talmúdicos. Enquanto o Templo de Jerusalém ardia em chamas incinerado pelo exército romano, e quase um milhão de vidas haviam sido ceifadas pela espada, foi ter com o temível governador geral da Judeia que sonhava exterminar os judeus e fundar Aelia Capitolina. Vários tentaram dissuadi-lo da empreitada que poderia lhe custar  a vida. Inútil. Ele seguiu e foi para até o tirano pedir autorização para transferir seus estudos para um outro local. Ora, por que? Perguntava-se o intrigado médico. Seguir adiante. Alguns chamam de pragmatismo. Outros classificariam de estoicismo patológico. Porém, ao fim e ao cabo, poderia apenas simbolizar um apesar de tudo, apesar de todos: escolhe-se vida.

Pois esse espírito afirma que a humanidade pode seguir até um lugar onde cada um poderá ter tempo para se estudar, para sempre.

Quiça assim, e só assim, o tão aspirado “nunca mais” superará o mito do eterno retorno.

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Resenha Céu Subterrâneo – Lyslei Nascimento (Blog Estadão)

22 terça-feira nov 2016

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Adam Mondale, blog conto de noticia, céu subterrâneo, Freud, Hebron, Italo Calvino, Jerusalem, Lyslei Nascimento, Machpela, Ricardo Piglia, Romance brasileiro, Umberco Eco

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CéU SUBTERRâNEO

Uma resenha de Céu Subterrâneo por Lyslei Nascimento – (Publicado no Letras -Caderno C de Cultura e Literatura Judaica)

Paulo Rosenbaum

22 Novembro 2016 | 07h56

Escavar e ferir: escrita e arqueologia

  • Publicado no Letras – C de Cultura e Literatura Judaica

Lyslei Nascimento[1]

O romance Céu subterrâneo, 2016, de Paulo Rosenbaum, surge em um tempo em que o leitor já não cultiva o que não pode ser abreviado. A pressa e o senso de imediatismo dirigem o olhar, o passo e o pensamento do leitor contemporâneo em meio a imagens desconexas, cada vez menos inteligíveis e cada vez mais alienantes. No entanto, amante das grandes narrativas e do exercício crítico que entende a literatura como uma forma de conhecimento, o que pode ser constatado desde A verdade lançada ao solo, de 2010, o escritor não se intimida diante desse cenário. Seu romance, assim, apresenta um tema inquietante: tentar realizar uma síntese impossível do céu – as coisas do alto, como a espiritualidade – e as subterrâneas – não somente as coisas terrenas, é preciso ressaltar, mas aquelas que estariam abaixo do nível do chão, como a memória e a identidade. Dessa maneira, Rosenbaum inscreve-se numa poderosa tradição de romancistas como Umberto Eco e Salman Rushdie.

Esses escritores se esmeram em construir suas tramas a partir do que Italo Calvino chamou de hiperromance ou romance enciclopédico, ou seja, uma narrativa marcada pela tensão entre o peso e a leveza, a exatidão e a multiplicidade. Na contramão do desejo de brevidade, eles oferecem ao leitor uma narrativa densa, cheia de camadas e níveis, idas e vindas, jogos temporais e espaciais, intertextos sofisticados, buscas quase infinitas de duplos e fantasmagorias. O convite à leitura é, portanto, um desafio à viagem, à investigação.

Na trama de Rosenbaum, um escritor viaja para Israel em busca de si, de sua inscrição numa tradição da qual ele acredita ser “desafilhado”. Por isso, não é só um ponto de vista que é sugerido pela expressão paradoxal “céu subterrâneo”, mas também um jogo entre o fora e o dentro, a exclusão e a inclusão, que está sempre em perspectiva. O que se percebe, nesse sentido, é que a narrativa vai se adensando e um enigma precisa ser decifrado pelo personagem e também pelo leitor. Ambos se veem diante de um labirinto, com suas ruas e ruelas, falsas entradas e ilusórias saídas – tudo muito bem arquitetado para fazer perder tanto um quanto outro.

Decifrar ou ser devorado parece ser o que, irremediavelmente, impele o protagonista, “o estranho que se estranha”, para o que seria a sua busca pela verdade, pela resolução do que a ele, e ao leitor, se impõe como um problema, real ou psicológico. Inquérito e investigação, em construções análogas as de Edgar Alan Poe, inclusive com a concepção do amigo Assis Beiras, à moda de um Conan Doyle com o célebre parceiro de Sherlock Holmes, faz do personagem um Dr. Watson tropical e apontam para a narrativa de enigma que está sendo ali tramada.

Escavando e recordando, como queria Walter Benjamin, as referências à narrativa de enigma e de investigação policial não são gratuitas. Torna-se, assim, o narrador o investigador de si mesmo, de suas origens, e o leitor o seu cúmplice.

O que o personagem do romance Adam Mondale deseja em sua tentativa de desvendar um passado ancestral judaico e, é preciso dizer, coletivo? Desentranhar-se ou ali se inscrever, de forma singular? A sua busca de uma imagem da sepultura de Adão, o homem primordial, não é banal ou retórica, mas se dá a partir de leituras e releituras, de livros, de imagens, de tradições que vão desarmando interpretações cristalizadas e armando outras, mais precárias, porém sutis. Nesse sentido, o romance trata de coisas desaparecidas, ou soterradas, e das inexistentes, ou imaginárias.

A referência a um código pictórico, como “O Jardim das delícias terrenas”, 1503–1515, de Hieronymus Bosch, por exemplo, e fotográfico, como o negativo da Polaroide encontrado e seu correspondente holograma, são explorados no uso de um vocabulário ambíguo, deve ser tomado em vários sentidos. Desse modo, revelação, iluminação ou negativo são termos que podem ser levados às últimas consequências interpretativas. Assim, a fotografia, que poderia ser uma prova de realidade, e a busca que o narrador realiza, são postas em xeque, fazendo surgir sombras e delírios, criando dúvidas e minando as certezas totalitárias, inclusive do saber que está sendo disseminado. Tudo muito bem entretecido com reflexões pungentes sobre a escrita e os dilemas de um escritor na contemporaneidade.

Quase como um místico à deriva, ou um voyeur, numa irônica condição de sofrer de uma doença nos olhos, cuja “córnea é riscada”, prejudicando-lhe a visão perfeita, destaca-se o caráter de colecionador de câmeras e filmes antigos (marcando o que seria a modernidade em ruínas) e as múltiplas facetas do personagem como professor, psicólogo, fotógrafo e detetive (buscando apreender a fugidia condição do escritor pós-moderno). O texto aponta para o que, em certa medida, Ricardo Piglia afirmou sobre a escrita atual: o gênero policial, em todos os seus desdobramentos, é o grande gênero moderno que inunda o mundo contemporâneo. “Narra-se uma viagem ou um crime. Que outra coisa se pode narrar?”. Às vezes, as duas coisas, é preciso ressaltar. Sob essa dupla sentença, Piglia parece refletir sobre as estratégias de construção textual presentes no romance de Rosenbaum. Sobreposta à viagem a Israel, e, em Israel, a viagem a Hebron, além da busca pela imagem da fotografia que desvelaria o segredo, a metáfora da arqueologia traduz, de forma contundente, a investigação que o protagonista realiza de si e do outro, espelhando, com requinte, a estrutura narrativa do romance.

A partir de um negativo fotográfico encontrado na Caverna dos Patriarcas, a Gruta de Macpelá, o narrador sai a campo em investigação e leva com ele o leitor. O complexo, localizado na antiga cidade de Hebron, depois do Monte do Templo, é o segundo local mais sagrado para os judeus e venerado, também, por cristãos e muçulmanos. Todos esses fiéis, com algumas variações, afirmam que é o lugar onde foram enterrados os quatro casais bíblicos, daí o nome “Macpelá” ser uma referência à câmara de sepultamento de Adão e Eva; Abraão e Sara; Isaque e Rebeca, Jacó e Lea.

Também as cidades de Rosenbaum, tal qual as de Cidades invisíveis, de Calvino, aparecem especulares, refletidas, em dupla exposição, sendo atravessadas pelo narrador, com seu olhar avariado, diluindo as fronteiras, fazendo com que os limites sejam intercambiáveis. Jerusalém e Hebron prefigurariam, assim, espaços sagrados e profanos, espelhamentos de textos que são desfolhados ou revelados em suas entranhas a partir de referências ao campo semântico da fotografia, da arqueologia e da narrativa de enigma.

O passado, as ruínas, os restos mortais são iluminados pela escrita e pela investigação, como uma prova, no tempo presente, de algo que só chega a ser minimamente delineado. —“Prova? Você agora está escavando?”, pergunta a esposa de Adam. —“Estamos pesquisando”, ele responde. Destaco, nessa citação, que a pergunta se apresenta no singular, mas a resposta, apesar de só poder ser também nesse diapasão, porque não há, explicitamente, outra pessoa junto a Adam, acontece no plural. Essa configuração múltipla do personagem é dúbia e está explícita em suas muitas facetas, na complexa conformação de seus vários eus. Ou seja, esse personagem também se apresenta a partir de “camadas arqueológicas” da vida presente com as passadas, das relações conflituosas com a culturas e a tradição judaica, das angústias e influências de textos e imagens que percebeu, leu, escreveu ou fotografou.

Evidentemente que a ideia de duplo, presente desde o título do romance, tem, no nome do narrador, Adam, espelhando sua busca por Adão, e Macpelá, o nome da gruta que sugere o túmulo dos casais, além das cidades de Hebron e Jerusalém – com suas ruínas e reconstruções trazidas à luz, por escavações – na arqueologia, sua metáfora mais instigante. Sigmund Freud, por intermédio da comparação do passado de uma cidade com o passado psíquico, em O mal-estar na cultura, reflete sobre o que o leitor pode analogamente vislumbrar na busca de Adam em Céu subterrâneo. Em vez de Roma, a cidade que insurge e ressurge do passado é Hebron, fazendo falar, a um só tempo, as vozes da tradição – de um tempo imemorial e mítico, que parece estar soterrado no passado – com índices do moderno e da contemporaneidade, como a fotografia, a computação gráfica, o holograma.

Céu subterrâneo, em níveis e desníveis, em estratos, espelhamentos, conformações e deformações, anseia que o leitor o atravesse, pari passu com o narrador. A busca obsessiva de Adam “pelo negativo” de uma imagem que todos julgam perdida, no entanto, não é vã. O leitor deverá acompanhá-lo por cidades e grutas, da superfície para o interior, num espaço labiríntico. Sem esquecer, todavia, que escavar-se é, também, ferir-se, e que quanto mais profunda a incursão na memória ancestral, mais ele pode se elevar, para, na superfície, respirar e sobreviver.

ROSENBAUM, Paulo. Céu subterrâneo. São Paulo: Perspectiva, 2016. 254p.

[1] Professora de Literatura na Faculdade de Letras da UFMG.

 

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/uma-resenha-de-ceu-subterraneo-por-lyslei-nascimento-caderno-c-de-cultura-e-literatura-judaica/

 

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Devoradores de sentido (blog Estadão)

19 quarta-feira nov 2014

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa

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devoradores de sentido\, Freud, Montaigne

As vezes, é chegada a hora de admitir: temos que abandonar a busca de saídas. É que saídas são onerosas. Saídas são desgastantes. Já tivemos a quota de saídas heroicas, missionárias, messiânicas e totalizantes. Nada imobiliza mais do que tudo ou nada. Isso porque é mais provável que uma quimera anteceda uma solução. A democracia, assim como outros conceitos sofisticados apresenta couro grosso com telhado de cristal. Uma exigência mínima é que um governo assuma o ônus de governar. Sem isso, vivemos a corte grotesca com aval para desgostos. Há tanto para menear a cabeça e recusar que talvez nem seja mais o caso de acusar ou acumular ressentimentos.

Se é impossível colocar o senso comum no pódio é mais difícil que a filosofia dos neuroexperts deem conta da complexidade. Ela desconcerta. Vibra em cadeia. Bate na testa. Comanda um exército de erros de previsões. Desbanca os oráculos. Quebra a banca. Muda o tempo e desorienta para nos humilhar com suas inconstâncias e extravagâncias. O mundo tem menos guerras? Mata menos? A civilização avança? Para alivio de Freud o ancião mal estar na cultura, vem sendo, enfim, superado? Engraçado. Não é a sensação. As estatísticas precisam ouvir mais o sentido que os números. Da violência sectária do Oriente Médio, às incursões separatistas na Europa, dos flagelos contra a natureza às demandas crescentes de consumo, ficamos devendo. Eis que legiões de intelectuais validam o inescrupuloso. Estudantes de medicina, mimetizam, eles também, o exato oposto do cuidado. E o anti-cuidado não é só não cuidar, mas abuso, retrocesso, tortura e discurso justificacionista como técnicas de domínio.

Não faz sentido. Somos devedores de sentido. Nos tornamos devoradores de sentido. Não alcançamos mais sentido nos pequenos sentidos diários. Desprezamos um Montaigne por dia negando o seu “não te basta viver?”. Abominamos um Camus por semana, pois, de fato, o que significa ser feliz em meio à infelicidade coletiva? E quem no mundo de hoje autoriza digressões? Podemos nos dar ao luxo? Destas e de outras reflexões? Quando se percebe como cresce o húmus: totalitarismos, extremismos e califados. Nossas lágrimas são ladrões da dor. Vermelhas de intolerância. De rubras, foram às cinzas. Estamos, sem tirar nem por, no viés do mundo. Num interregno das passagens. Suspensos, não temos mais eixos e desandamos.

Agora nem se pode despejar mais nada nas costas das contradições do capitalismo. Trata-se de algo bem mais ordinário, em sua mais binária acepção. A esperança remanescente está na jactância do comum, no refluxo à vida privada, no calor de uma pequena infinitesimalidade de medida pessoal. Olhar e ver. Emprestar vozes. Somar pingos à tempestade. E ousar ser. Contra todas as revogações em contrário. Intensificar a ousadia quando te dizem que é perigoso. Quando a maioria já se rendeu. Manifestar-se quando todos já murcharam em suas rotinas. Esqueça quem só procura. Quem acha é quem tem a presunção do acerto, da vida não fracassada e da participação justa. E a honra de ter encontrado o que nunca imaginaria? Ninguém pode pedir que esqueçamos do mal feito, a crueldade, os perversos, e a violência ruidosa, mas vale recomendar: que não sejam tomados como a medida de todas as coisas. Aliás, de coisa nenhuma. Em desuso, a paz é o único ingrediente que neutraliza todos os outros.

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/devoradores-de-sentido/

Tags: Albert Camus, democracia e telhado de cristal, devoradores de sentido, Freud, Montaigne

Paulo Rosenbaum
rosenbau@usp.br

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