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Adão, Amazônia, árvores, bioma, Boissier de Sauvages, conluio de raízes, conspiração vegetal, Lineu, Science magazine
Nada nem ninguém me convence de que não está em curso um movimento oculto, silencioso, ardiloso, e, em franca expansão. Encontra apoio e expressão nos subsolos das grandes cidades. Aos olhos do senso comum, qualquer epidemia suicida é inapreensível. Um conluio de raízes então, inconcebível. E nenhuma delas era a árvore do conhecimento original.
Dados publicados na revista Science em 2013 estimam que só a Amazônia ainda contenha 390 bilhões delas (http://www.sciencemag.org/content/342/6156/1243092.abstract?sid=f7b609f7-5f22-4e50-9aac-0d332efae19b). Porém estes organismos representam não só a origem do saber no desafio do Adão voluntarioso, como seus frutos já renderam poesia, literatura e arte. Para além do caule da madeira, árvores foram usadas como modelos por cientistas. A partir delas, Lineu e Boissier de Sauvages, classificaram plantas e doenças, respectivamente. Genealogia, organogramas e complexos esquemas de decisão também se inspiraram nelas.
Eis que um dos símbolos da vida, vai agora sendo escoado à uma razão sem sentido, do descuido ao desmatamento. Está no ar. Desde então o clima entre nós e elas vem mudando. Podem confessar, já não é mais mesma coisa. Perto de uma delas, andando ou dirigindo, suspeitas, medo, algum pânico. Não foi só porque ainda ontem uma delas tirou a vida do ocupante de um táxi. Nem pela floresta de 300 troncos arrancados das ruas e parques por tempestades instantâneas. Também não se trata de atribuir características mágicas, exaltar poderes anímicos dos vegetais, nem de repetir a irritante mania dos documentaristas de antropomorfizar a natureza. É normal que qualquer onda de paixão – amorosa ou destrutiva – nos empurre à perplexidade. Mas, quando se trata da última causa remanescente decente, a preservação do bioma, a auto imolação coletiva destes seres com 2 ou mais séculos, comovem muito mais.
As árvores conspiram de noite, e ninguém pode confirmar se a auto imolação é crise de melancolia ou um movimento contra a racionalização da estupidez.