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Um tema atravessa obcessivamente “A Verdade Lançada ao solo”. 

Atravessa, tanto na boca dos personagens como nos fatos históricos ali alocados. E o tema recorrente é a luta, sempre inconclusa, instável, obsedante, entre ceticismo e crença.

Não, isso não é um tratado teológico, muito menos libelo agnóstico. O que se discute no livro é o conflito entre imanência e transcendência. Pouco importa se o assunto está em desuso, se os críticos literários não sabem o que é uma coisa ou outra,  e menos ainda se não há interessados, pois eis assunto do qual não se escapa. Ninguém.

Cá ou lá estamos todos metidos nesse dilema. Mais que a dúvida existencial estamos todos imerssos num mundo anômico, com regras díspares, paralógicas, e apesar de intuirmos que deve estar quase tudo errado, fingimos que tudo vai indo.

Não, não vai.

Ah? Não esperava por isso? Está chateado? Não sabia que esse era um blog pessimista? Queria algo para ficar de bem com a vida?

Desculpe, mas não escrevo para ovelhas e os lobos estão mais interessados no site ao lado.  

Então vamos parar com o estoicismo e ir direto ao ponto?     

Yan era um crente que migrou ao ceticismo até ser trazido de volta em busca de um sentido transcendente. Buscar não significa sequer pisar na estrada, mas abertura para experimentar. E o faz não porque desejou, não escolheu isso (assim como nenhum de nós escolhe) mas foi tragado a isso, e, só para usar uma palavra destestável, foi engulido pelas evidências.

No mundo contemporâneo a experiência é a única ferramenta da alma. E a alma que quer, precisa abolir o senso comum, ir além das evidencias.

Yan, à guisa de um cientista honesto, sabe que mesmo que duvide não pode explicar quase nada. Deve se render às experiências que seu espirito pode ter.

Sibelius um cético que gostaria de acreditar em alguma coisa  depois da falência — avassaladora — de todas as ideologias e de qualquer fé no mundo institucional.  

Acreditar que a redenção virá de fora têm sido um grande problema para os homens. Não há salvador que dê conta da complexidade e da simultaneidade de problemas individuais. Não há igualmente teoria que dê respostas coletivas.  

Claro que, no livro, assim como na realidade, há não uma, mas várias tentativas de mútuo convencimento. Mas não estamos a fazer isso o tempo todo? Com idéias,  programas partidários, teorias e nos embates da vida quotidiana?

O que a dupla Yan e Sibelius percebe  é o ceticismo como premissa para a construção de alguma esperança. De qualquer esperança. Ela pode ser a crença, a fé, a religião. Mas ela pode ser também simplesmente o respeito aos que chegaram em algum lugar através das experiencias.

Pois, nesse mesmo dia, os consensos cairão por terra, porque só o sentido de cada sujeito terá valor e máximo valor.  

Esse será o dia da liberdade.

Mais uma vez utopia?

Pode ser. E por que não?