Censura sem fim
Para Ruy Mesquita
– O jornal está censurado?
– O termo é um pouco forte. Está sob monitoramento conteudístico.
– Ah! E o que vêm a ser isso?
– Verificaremos todos os dias se o Sr. não está mencionando o nome da pessoa que não deve ser mencionado. Nem fazer referências alusivas, veladas, simbólicas, metafóricas ou alegóricas a eles. Leremos de cabo a rabo buscando menções indiretas que possam identifica-los.
– Censura!
– Depende como o Sr. quer chamar. Censura era na ditadura. Chame de outro nome.
– Verrinário, exprobrador, inconcepto, todos eles se quiser.
– Vocês colocavam a receita de bolo e os Cantos dos Lusíadas. Era engenhoso e todo mundo sabia que a tesoura passou ali. Eu ainda era criança, mas meu pai me dizia o que era.
– E o Sr. não aprendeu nada com aquilo?
– Não é nada pessoal, sou só um funcionário. Faço o que é minha função.
– Censor! Você é um censor!
– O Sr. insiste nas palavras duras. Para que isso? É só uma proibição zinha.
– Uma ova, isso é censura e quem manda nessa porra sou eu!
– Gozamos de liberdade ampla geral e irrestrita.
– Só se for na tua casa.
– Calma Dr., eu só vim trazer o ofício.
– E lacrar a redação se ousarmos fazer menção aqueles dois. Tenho faro filho, começa assim mas isso vai longe.
– Pois é o que a lei determinou! Como disse não mando em nada, sou um cumpridor de ordens.
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