O livro originalmente deveria ser em três tomos. Foi conversando com as editoras Luciana Villas Boas e Magda Tebet que ficou claro para mim: não faria sentido os três tomos como livros separados. Mas talvez para isso precisaríamos de uma costura, foi o que imaginei.

Incomodava saber que a tal “costura”  envolvesse algum artificialismo, uma ação cosmética que, de algum modo, preparasse o livro para ser um só. Mas, em meio a uma das suas 109.729 palavras deparo com a consistência. Estava tudo ali, já arranjado. O livro não precisava ser dividido em tomos (apesar do medo, ainda presente, de que os leitores possam fugir de um livro com 588 páginas). Mas ali estava: ele era um só desde o início.

Como o livro se inicia com uma jornada épica de Zult Talb  — junto com as referencias históricas e das idas e vindas no tempo —  sua desenvoltura depende muito desta primeira parte.  Mas não completamente. Como já disse em algum outro post do blog, um amigo chamou minha atenção ao me contar que começou da parte II.  Mesmo tendo sentido necessidade de voltar à parte I, para poder penetrar melhor no texto.

A segunda parte  que narra a Balada que Yan e Sibelius — junto com os pactos implícitos e explícitos da jornada e rumo ao alto de uma montanha alpina — servem como guia condutor para que o leitor possa entender (calma, mais ao final) porque um corte de quase duas gerações foi necessário. Para muito além da relação médico-paciente, desenvolvem uma amizade rara, dessas que não se vê mais por ai. São, vale dizer, tornam-se confidentes. Um pacto masculino que reafirmará seu padrão em várias ocasiões dentro dos diálogos. Em situações de risco as conversas podem ficar mais nítidas. Mas o que vão descobrir não serão só surpresas, nem  solidariedade. Na trilha dos sobreviventes há muita angustia, e principalmente, testes. Estes testes involuntários que o contingente (há mesmo contingencias?)  prega nas pessoas, respondendo no aparecimento dos imprevistos. E então a amizade, os valores e principalmente as crenças individuais são confrontadas numa tensão exagerada. A pergunta — que se via falsamente resolvidas nas palavras da modernidade e repisadas como refrões pelo mundo contemporâneo que afinal era mais afirmação que indagação — “a aspiração à transcendencia está morta?”  não só não foi respondida como é uma das teses que foram ressucitadas depois que o fim das ideologias políticas enxergou que o colapso sobreveria. Logo.

Depois : mais partes um, dois e três.