A imperdoável perplexidade do Ocidente
(A paz é a recusa à barbárie)
Não, nós não estivemos implorando.
Estamos de joelhos, mas não por ti.
Nunca perante ti.
Doravante escolhemos quem nos forçara ao rebaixamento.
Nós não estamos implorando. Sabes por quê?
Dentro de nós, sobrou algo notável, uma indefinível percepção.
Mais do que isso, uma fagulha aguda e díspar.
Nem sei se deveríamos compartilha-la contigo.
Mas poderá visita-la, sempre que te lembrares da palavra chave.
Palavra-chave que nunca chegou a habitar tua boca.
Nós jamais imploraremos.
Porque temos um impulso que nos leva para bem além da razão.
Da tua razão.
Não capitulamos,
Nos confundimos com expressões que teus olhos não podem acessar.
E por isso, mas não só por isso, nos colocamos em frente dos teus blindados.
Enfrentamos tuas balas, artilharia, morteiros e fogo cruzado.
Há uma honra, inapreensível para ti
Inconcebível para aqueles que te rodeiam.
Ela significa um contraste absoluto com a hubris.
E, se voltarmos à vida, nela moraremos.
Nada a implorar
Eis uma honra que perdura nas sepulturas e nas ruas
Nas ruínas e nos campos minados.
Oito décadas atrás fomos soterrados com o lixo da história
Submersos nos resíduos que a Europa nos soprou.
Porém, como a paciência subterrânea das cigarras
Ressurgiremos de tempos em tempos, como fantasmas sem mordaças.
Não para te assombrar.
Mas para fazer soar um hino
Cuja frequência não alcanças.
Não estamos implorando
Diferentemente das tuas hostes, nem mesmo a vingança nos atrai.
Há quem reafirme o poder educador das guerras
Ou a importância da prudente neutralidade.
Nós? Já superamos essa ilusão.
Nossa união não é pela pátria geopolítica.
Não se organizou por conchavos, acordos ou concessões.
Acontece que há um.
Apenas um fanatismo louvável: aquele que tu não concebes.
Aquele que te atordoa, aquele que tua lógica não pode destrinchar.
Aquele que te traz vertigens, insônia e loucura.
Uma palavra que desloca os eixos da constância
Que supera os amanhas de erros antigos.
Tal palavra está grafada no ar, riscada nas encostas
Sulcada nas matas, flutuando na resina das marés
Os fanáticos por ela não temem chantagens.
Não imploramos
Soubemos contornar as perversões da linguagem.
Superamos tuas ameaças de nos apagar do mundo.
Compreendemos perfeitamente quem são teus aliados.
Aqueles que se beneficiam da autonomia ocidental.
Nossa visão está impregnada dessa atmosfera.
Somos rápidos e diáfanos
Teus misseis não nos perseguirão.
De forma milagrosa passam através de nós
Já que uma vez nos tornamos vapor.
Somos a fumaça residual dos que perderam.
Não há o que implorar.
Somos etéreos, sem peso e permanentes.
Nossa ubiquidade te incomoda?
Caso nos invoque, não saberás onde estamos
Estaremos no redemoinho que te gira?
Continuamos invisíveis aos teus binóculos?
Decerto notaremos os algozes ativos.
E discernimos o antivalor de cada um.
Não nos dobraremos
Sabemos que a história desperta abruptamente da letargia.
Pressentimos a anestesia daqueles que deveriam romper a neutralidade.
Desbotar a hipnose em favor da humanidade.
Faz tempo que nos arrancaram a ingenuidade
Conquistamos a malícia da resistência
Dentro dos porões blindados com coragem.
Lá dentro a epifania: a legitima defesa é tão sagrada
Como a própria vida
Muitos por ai não entenderam do que se trata
Jamais penetrarão no significado
Esqueçam da cortina de ferro
A perplexidade do Ocidente é a própria cortina da vergonha
É a fumaça temporária dos desonestos.
Das chuva de mentiras que enterram os civis
Enquanto deixam correr o marfim
Nihil agere
Jamais imploraremos
Sairemos na hora certa para irromper sobre e para além dos teus desvios.
Daqui em diante nenhum caminho será seguro.
Em nosso radar despontará um outro tipo de refinamento.
Ele capta ignomínias, registra a inércia camuflada de pacifismo colaboracionista
Grava o ruído das bombas de fragmentação.
Fotografa a covardia acobertada pelo tecnicismo militar.
Ah, queres saber de qual lado estamos?
Daqueles que nunca moveram um milímetro das trincheiras
Trata-se de uma batalha paralela
Do primitivo contra o sutil, da tirania contra a justiça.
Da escravidão para a emancipação dos autocratas
Sim, é nosso dever apontar dedos para os criminosos
Mesmo os protegidos por insígnias, distintivos e títulos.
Mesmo aqueles que nunca veremos as faces sombrias
Nada de implorar
Há uma qualidade oculta na obstinação,
Ela se revela na determinação
Se for preciso, contra os consensos,
Se for necessário, contra o senso comum
Frequentemente contra todos
Agora que tuas bombas subtraem o oxigênio
Sob o olhar melancólico do êxodo de pessoas comuns
Sob o silencio imoral dos aliados
Agora que o nunca mais se desfez na surpresa
Sabes?
Essa missiva estava destinada aos diplomatas assustados,
Agora dirijo-me diretamente à miséria que é tua consciência.
A paz é uma qualidade que só pode se consolidar sob o calor.
Só se forja na pressão do desafio
Só é possível sob a decência da união.
A inação torna-se impossível.
A paz é a recusa à barbárie.
É isso! O Planeta assiste, sentados em seus tronos, um povo perder, mais uma vez, o seu chão, as suas raízes, a sua história. E pensávamos que isso não teria mais lugar entre os homens… afinal, o mundo não se tornou tecnológico para que as pessoas se relacionem. Se comuniquem.se entendam… Nada, a humanidade continua na barbárie, usando mísseis e deixando pessoas ao caos da insanidade de alguns. Já li este livro! Muito triste!
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