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exemplo e experiencia, fanatismo e ideologia, felicidade ao alcançe?, Iasnia Poliana, Justiça social, poesia, prosa poética, Tolstoy
Ou Taustoy (como se pronuncia em russo)
No recente ciclo sobre literatura um descendente direto do escritor trouxe informações importantes.
Mas nada supera o pequeno filme documentário que foi projetado com raras imagens originais em que o escritor — já consagrado — aparece cavalgando com seu médico, ou passeando em sua congelante propriedade em Iásnia Poliana às cinco horas da manhã.
Tolstoy teve a sorte de nascer em uma família aristocrática e pode produzir literatura no conforto de uma vida material assegurada. Faz diferença. Toda diferença!
Mas o mais notável não foi nada disso.
O extraordinário foi ver Tolstoy — cuja literatura foi execrada pelo regime soviético — cercado pelos camponeses para os quais distribuia atenção e dinheiro.
Não quero idealizar, mas a justiça social com que Lev fazia caridade o aproxima das linhagems de justos que andam sumidos e cada vez mais ocultos.
Nesse sentido, o conde descendente daquele escritor concorda que sua visão de justiça social era antes de qualidade espiritual, vale dizer, Lev processava o humanamente possível, e toda revolução (se quisesse levar esse nome) teria que passar por essa via, renunciando não só às tentações autoritárias, mas incorporando uma outra causa à causa. Estabelecer um mundo menos desproporcional e a aquisição de cultura e sabedoria, ao mesmo tempo.
A propriedade em Iásnia Poliana foi duas vezes salva pelos camponeses: no início da revolução russa quando a turba inflamada veio incendiar a propriedade, camponeses da cidade defenderam a casa do escritor.
Depois foi a vez dos nazistas que depois de pilhar a residencia, tocaram fogo às vesperas da saída às pressas para nâo enfrentar o exército vermelho, e, mais uma vez, camponeses-bombeiros salvaram o lugar.
Vivemos tempos obscuros onde nada é o que parece ser, sem lugar para exemplos ou sujeitos que se destacam pela nobreza das ações. O otimismo escasso só poderá ser extraído das estranhezas e das atitudes pessoais. No declínio final da pós modernidade (e portanto da própria modernidade) serão experiencias e exemplos as únicas armas contra o fanatismo e as ideologias.
Tosltoy mostrou isso. Pelo menos tentou.